quarta-feira, 30 de julho de 2025

Acabo de ler "Teoria Geral do Estado e Ciência Política" de Cláudio e Alvaro (Parte 1)

 

Nome:

Teoria Geral do Estado e Ciência Política


Autores:

Cláudio de Cicco;

Álvaro de Azevedo Gonzaga


O direito apresenta várias divisões e escolas. Como sou relativamente novo nessa área, creio que vocês poderam acompanhar o meu progresso com o tempo.  As anotações, tal como tudo nesse blog, apresentaram caráter diverso, fragmentário e complementar, tentando traduzir o debate de forma diversa e plural.


Pelo caráter fragmentário e complementar das análises do blog, além da internalização e expressão de múltiplas escolas de pensamento, esperem que o que não foi tratado minuciosamente em uma análise apareça em outra análise.


Resolvi trazer esse livro de forma fragmentada, em forma de análise serial, para facilitar e aumentar o conteúdo do blog.


São Tomás de Aquino dividia o Direito em três áreas:

- Lei Eterna: que se confunde com a própria vontade de Deus;

- Lei Natural: acessível a razão humana;

- Lei Positiva: emanada pelo Estado.


O Direito também apresenta um contexto histórico-cultural:

- Natureza = Antigos;

- Deus criador = Medievais;

- Razão = Modernos;

- Dignidade da pessoa humana = Contemporâneos.


O positivismo jurídico é a escola que considera apenas a existência do Direito Positivo. Ela vê no Direito Natural um valor moral e não jurídico. A palavra "Positivo" vem do latim (positum) e significa o que é posto ou o que se impõe. Esse Direito Positivo pode ser encontrado em:

- Leis;

- Decretos;

- Tratados internacionais;

- Decisões jurídicas.


Diferença entre Direito Privado e Direito Público:

- Direito Privado: relações entre indivíduos, pessoas e/ou pessoas jurídicas;

- Direito Público: relação da sociedade política em si mesma e em suas interações com os indivíduos.


O Direito Público é dividido em duas áreas, o Direito Público Interno e o Direito Público Externo.

- Direito Público Interno:

  • União;
  • Estados;
  • Municípios;
  • Empresas públicas;
  • Autarquias;
  • Sociedade de Economia Mista.

- Direito Público Externo: 

  • Governos estrangeiros;
  • Organizações estrangeiras de qualquer natureza que tenham constituído, dirijam ou tenham investido em funções públicas.


terça-feira, 29 de julho de 2025

Acabo de ler "The Dark Enlightenment" de Nick Land (lido em Inglês/Parte 7)

 


Nome:

The Dark Enlightenment


Autor:

Nick Land


Nesse capítulo, há a continuidade da descrição psicológica e social da forma que age a direita e a esquerda. Além disso, há um estabelecimento de causas históricos e a forma de atuação dos dois grupos dentro do contexto americano.


Um dos eventos que continuam a ser mencionados é o racismo e a fundação dos Estados Unidos da América. O racismo não é hm evento acidental, mas parte da estrutura mesma da criação dos Estados Unidos. Para corrigir tal condição, identidades raciais são catalogadas, o crime de ódio é detectado, remédios sociais são dispostos, as análises impactam estudos, há o uso da discriminação positiva, a tomada de ações afirmativas e a promoção da diversidade. Tudo isso é realizado pela esquerda enquanto a direita é ainda incapaz de apresentar uma solução sintética.


Nick Land apresenta as razões da esquerda ser mais bem sucedida intelectualmente do que a direita. Em primeiro lugar, a dialética e a política são o mesmo. A direita, por sua vocação anti-dialética, apresenta-se como antipolítica. Não por acaso, a vantagem intelectual que a esquerda vem apresentado é cada vez maior. Além disso, a ausência de unidade na direita também pesa.


A direita vem apresentado uma dificuldade enorme em adentrar nas agendas das ciências humanas modernas. Fora isso, a integração ao debate público muitas vezes move ao lado esquerdo do espectro. Há uma fundamental futilidade no conservadorismo mainstream, ele não se encaixa e é incapaz de apresentar soluções intelectualmente robustas para os problemas dos nossos tempos.


O conservadorismo é incapaz do trabalho dialético, logo é incapaz de compreender as simultâneas contradições e o poder da inconsistência. O problema que essa incapacidade carrega é que política é em si mesma dialética, a política é em si mesma composta por simultâneas contradições e pelo poder inconsistente.


A resolução da direita para os problemas políticos não é a unidade articulada e sintética, mas o separamento. Em vez de uma unidade resolutiva, apresenta-se a pluralidade irresoluta, a separação dos poderes, o federalismo, a proliferação de políticas, a localização do poder, a diversidade de sistemas de governo, uma abertura econômica e tecnológica, o individualismo. Em outras palavras, a fragmentariedade e a anti-unificação. Isso é anti-dialético e anti-sintetizante.

domingo, 27 de julho de 2025

Acabo de ler "The Dark Enlightenment" de Nick Land (lido em Inglês/Parte 6)

 


Nome:

The Dark Enlightenment


Autor:

Nick Land


A dialética é a unidade dos opostos. No marxismo, comentado por Nick Land, há uma prévia antecipação da natureza das condições materiais e o avanço das contradições sociais. A superestrutura, por assim dizer, é a plataforma da dominação social. Nessa plataforma, podem ser encontrados: a dialética da reconstrução, a articulação do antagonismo, a polarização, a estruturação binária e a reversão.


A Catedral, comentada anteriormente, em suas diversas estruturas (acadêmica, midiática, nas artes, na saturação política) apresenta uma crítica social e um caminho igualitário numa lógica teleológica. Internalizando a ideia marxista de prever as condições materiais e o avanço das contradições sociais. A Catedral é identificada como progressista.


Nick Land nota diferenças sociais na esquerda e na direita. A esquerda segue uma lógica: mais dialética é mais política, mais política é mais progresso, mais progresso é mais migração social para a esquerda. A direita, por outro lado, apresenta outra lógica: menos dialética, menos argumentação, menos subdivisões e uma condução política descoordenada. A direita se refugia na economia e na sociedade civil — aqui poderíamos sugerir que, na esquerda, sociedade e Estado tornam-se basicamente o mesmo.


A direita tende a uma ideia de liberdade negativa, de uma sociedade livre e não-argumentativa: que cada qual, em sua propriedade, decida o que quer fazer sem ter que conversar com o outro.  Essa tendência da direita (faça os seus próprios assuntos), pode ser como uma depressão, uma regressão e uma despolitização quando analisada pela lente progressista.


No mundo de hoje, apesar de todos os esforços da direita para que o mundo se tornasse mais individualista, existe a dialética entusiasmada. Onde tudo é dramatizado. Existe uma rede de jornalistas, de legisladores, de juízes, de ativistas comunitários e de agentes revolucionários a transformarem a televisão e a internet em um grande drama em que todos os atos humanos serão analisados.


Nessa transformação do mundo em um Reality Show Hegeliano, contradições sociais são antecipadas, casos antagônicos são articulados e a resolução institucional é esperada. É dessa forma que a Catedral transmite sua mensagem e se conecta com o povo.

sábado, 26 de julho de 2025

Novo Weblivro do Medium

 


Funk Buda:

https://medium.com/@cadaverminimal/list/ba695f314465


Em primeiro lugar, agradeço a quantidade de visualizações no webantilivro Harmonia da Dissonância. Ele foi um dos livros que escrevi no Medium que mais foram lidos. Embora eu possa dizer que a polêmica precedeu a compreensão da obra. O que eu posso dizer é: não ganhei nenhum centavo, apenas uma esquerda me acusando de ser de direita e uma direta me acusando de ser de esquerda — o que não é uma grande novidade para mim.


Trabalhar em um projeto tão parcamente compreendido, por um tempo tão longo para algo nem tão pretencioso, foi divertido. A Harmonia da Dissonância era sobre a utilização de Inteligências Artificiais, Arquétipos da Manipulação e da Engenharia Social, cultura channer e debate público brasileiro. Abarcava uma série de assuntos e tentava exprimir isso com algumas doses de humor e sátira. 


O livro foi "projetado" para ter múltiplos caminhos. Se existiu um lado que serviu para satirizar o debate, também existiu o lado que servia para apresentar algumas críticas sociais. Além disso, as técnicas apresentadas, quando juntadas lado-a-lado com uma IA, possibilitavam — e ainda possibilitam — uma análise não só da cultura channer, como também um meio de enxergar a história, a sociedade e a política.


Creio que graças a essa fusão de IA e livro gerou um desentendimento num redditeiro que veio aqui dizer que todos os textos — escritos desde 2021 — eram gerados por IA. Foram mais de 30 textos, então resolvi desativar temporariamente todos os comentários. Desde já, aviso que eu nunca usei IA em nenhum texto desse blogspot, a não ser naquele em que eu trollo redditeiros dizendo que odiar IAs não fará com que eles vendam a sua "arte". Se bem que, nos dias de hoje, o redditeiro acredita profundamente que qualquer texto com mais de três linhas foi escrito por uma IA.


De qualquer forma, eu deixo aqui um devido esclarecimento: o nicho desse blog é underground, o nicho do Medium também é underground. O Blogspot se concentra em copiar o estilo intelectual e o pensamento de quem está sendo analisado — pouco importando a linha política — e o Medium se concentra em textos/weblivros com diferentes estilos de escrita e visões artísticas.


Eu não escrevo visando compreensão ou aumento de número de leitores, e é exatamente por isso que nunca publiquei algum conteúdo pago. Eu não espero ser compreendido e amado. Eu não espero que as pessoas gostam do que escrevo. Eu apenas escrevo pois gosto de escrever. É isso e tão somente isso. Então não exija que eu me ajoelhe diante de um grupo ou uma ideia, isso jamais acontecerá.


O meu novo weblivro é um escrito que mistura o estilo acadêmico com o estilo de wikis satíricas. Ele visa se afastar muito do debate mainstream e de ser, dalguma maneira, engraçado. Eu sei que pelo fato dele ser "hostil" a esquerda e a direita, ele terá pouquíssimos leitores. E tudo bem. Para mim, escrever é me aliviar dos sentimentos que carrego e não uma forma de ascensão social. Não escrevo nada para obter lucro — seja social, seja financeiro.


Após eu me formar em filosofia e depois me pós-graduar em neuropsicanálise clínica, anuncio-vos que adentro em minha terceira faculdade, vou cursar Direito. Muito em breve, trarei análises a respeito disso.


Encerro dizendo que sou um sujeito solitário, disfuncional e de poucos leitores. Só em ocasiões extremamente raras alguém conversa comigo sobre os meus escritos. Nem a minha família lê o que eu escrevo. Porém tenho um enorme benefício: sou um escritor que é sincero e que pode ter liberdade intelectual — mesmo que eu sofra com as angústias das minhas dúvidas e com o isolamento social. Espero continuar sendo esse eterno Cadáver Minimal que vos escreve.


Muito obrigado a todos!

sexta-feira, 25 de julho de 2025

Acabo de ler "The Dark Enlightenment" de Nick Land (lido em Inglês/Parte 5)

 


Nome:

The Dark Enlightenment


Autor:

Nick Land


Muitas palavras são ditas dentro do debate público: sociedade fechada, sociedade aberta, sociedade cosmopolita e sociedade civilizada. Usualmente atribuímos a nós, os ocidentais, todos os méritos e as glórias de ter uma sociedade aberta. Esse quadro, embora falso, tem um efeito propagandístico excelente.


O mundo ocidental, apesar de toda a propaganda, é um local onde barbarismo foi extremamente normalizado. Há toda uma retórica política e um incentivo econômico a disfuncionalidade, sem nenhum avanço para o impulso ao autodesenvolvimento. No Ocidente, a civilização colapsou fundamentalmente.


Existe um colapso, cada vez maior, das áreas urbanas — esse colapso se dá sobretudo nos Estados Unidos. A desintegração da urbanidade, da civilização urbana, é uma expressão geográfica de um problema social ocidental. Se em países asiáticos as regiões urbanas crescem e prosperam, no Ocidente há um retorno ao campo acompanhado pela suburbanização da área urbana. Há um cansaço do ocidental diante dos enormes centros de concentração de gente.


Os problemas raciais não cessaram de existir. Muito pelo contrário desigualdades históricas continuam persistindo. Porém há uma incapacidade de resolver esse problema. Não há uma síntese que comporte uma solução dialética e que resulte num apaziguamento das relações raciais. Muito pelo contrário, cresce o fantasioso nacionalismo tribal. Porém agora vemos várias sessões de nacionalismo tribal (o de esquerda, o de direita, o do branco, o do negro) emergindo e se solidificando na esfera do discurso — neotribalismo ou neofeudalismo, qual a possibilidade histórica do amanhã?


Por outro lado, as pessoas discordam cada vez mais. Estão, na verdade, cada vez mais isoladas e antagônicas em posicionamentos viscerais. Discordam do desenvolvimento urbano, das escolhas escolares, do porte de arma, da forma de segurança, do sistema de encarceramento, da política, da distribuição social. Enquanto isso, a principal função do conservadorismo moderno é ser humilhado e a principal função do liberalismo moderno é ser o proponente neopuritano da verdade espiritual.  Mesmo com os progressistas e os conservadores discordando cada vez mais, há ainda um ponto em comum: o abandono da esperança.


quarta-feira, 23 de julho de 2025

Acabo de ler "ANTI-AMERICANISME?" de Alain de Benoist (lido em francês)

 

Nome:

ANTI-AMERICANISME ?


Autor:

Alain de Benoist


Os Estados Unidos surgiram no novo mundo graças a imigração europeia. Em parte, ele foi visto como o regenerador da humanidade e, ao mesmo tempo, como a Nova Jerusalém. Em outra parte, como um modelo de república universal e portador dum destino manifesto. Era disso que surgia a Doutrina Monroe.


Conforme essas ideias iam crescendo, dando luz ao excepcionalismo americano, acreditava-se cada vez mais na validação universal do americanismo e esse modo de vida deveria ser imposto por toda a Terra. Desse unilateralismo messiânico, surgia o hegemonismo.


Os Estados Unidos tiveram que confrontar em seu caminho a União Soviética. Essa força antagônica e de ideias solidamente opostas. Após isso, houve finalmente a tão sonhada universalização americana. Os Estados Unidos surgiram triunfantes, logo após a guerra fria, como força principal. Seu modelo técnico-financeiro ressoava lado a lado com a dominação planetária do capital.


Hoje em dia, os Estados Unidos são a principal força de desestabilização do mundo e também são a principal razão da brutalização internacional. É evidente que a perda da hegemonia é um dos fatores, mas o universalismo americano e a imposição desse também são fatores principais.

terça-feira, 22 de julho de 2025

Acabo de ler "The Dark Enlightenment" de Nick Land (lido em Inglês/Parte 4)

 

Nome:

The Dark Enlightenment


Autor:

Nick Land


Nick Land é um excelente comentador da obra de Mencius Moldbug. A ligação entre os dois é sempre colocada dentro desse livro, visto que Nick Land o cita o tempo inteiro. O que demonstra algum grau de proximidade e respeito.


O interessante é notar que, apesar do que dizem os intelectuais de esquerda, Mencius Moldbug não é um supremacista branco e tampouco um antissemita. Algo que eu vi muitas pessoas, sobretudo as de esquerda, associarem a ele.


A questão tratada nessa parte do livro é o universalismo, uma das crenças que compõem a fé e a doutrina democrática-igualitária moderna. Também há a questão do nacionalismo branco, no qual Mencius Moldbug afirma categoricamente não fazer parte. Embora existam também outros assuntos na estrutura desse capítulo.


A Catedral, comentada na análise anterior, apresenta-se com um mandato divino para afirmação da sua fé, uma fé que ela julga ser autoevidente e autoconfirmada — embora ela reprima qualquer questionamento a essa mesma fé. É interessante observar que a Catedral aparece com a social-democracia e uma economia cada vez mais corporativista, com uma tendência evidentemente de terceira posição e que tem uma semelhança com o fascismo, ao mesmo tempo que aparece atacando os neofascistas. Os neofascistas se correlacionam com a questão do nacionalismo branco — visto que muitos neofascistas são nacionalistas brancos.


Ao mesmo tempo que o nacionalismo branco vai crescendo na parte norte do planeta graças as imigrações em massa e as políticas ilustradas do multiculturalismo, cresce uma guerra ao politicamente incorreto — imagine quando eles descobrirem que existe uma esquerda politicamente incorreta (a alt-lefty) que vem surgindo. Essa guerra ao politicamente incorreto é fruto de uma inquisição de natureza quase religiosa, visto que o progressismo moderna é uma laicização de ideias religiosas. Essa guerra gera um aumento da database, ao mesmo tempo em que a sanha paranoica e conspiracional leva a um fechamento intelectual em que ver nuances dentro do debate — sobretudo quando essas nuances se dão em distintos grupos de direita — se torna cada vez mais difícil.

Acabo de ler "L'IDEE D'EMPIRE" de Alain de Benoist (lido em francês)

 


Nome:
L'IDEE D'EMPIRE


Autor:


Alain de Benoist


Nesse artigo, Alain de Benoist fala sobre a questão da unidade política. Aqui trata questões sobre nação, pátria e império. A questão não é só o sentido etmológico de cada palavra, mas também a correlação de cada palavra como uma forma de organização política estrutural.




A questão central apresentada é: qual a diferença entre a nação e o império? É apenas uma questão de nome ou está na própria estruturação política que cada uma assume? Qual é o melhor modelo para a Europa?




Em primeiro lugar, é preciso explicar certos termos. A nação vem do "de natio" que quer dizer "de nascença". Já a pátria vem dos pais. Império vem do sentido de comandar. Cada qual apresenta um significado distinto, mas a configuração histórica que cada uma apresentou é mais reveladora que a simples menção dos seus nomes.




O império é um princípio ou uma ideia espiritual ou política-jurídica. Ele não se resume a ideia uma mera função material ou de ser uma entidade geográfica. Ele é a pujança de um comando, uma pujança espiritual. O império unifica num sentido superior, sem suprimir a diversidade e a cultura, sem destruir etnicamente o seu povo. O princípio imperial permite a multiplicidade de diversos elementos, visto que possui um princípio superior que é anterior a essa diferenciação. O império é mais uma harmonia cósmica do que uma entidade meramente política. Um império pode até mesmo aceitar diferenças jurídicas.




A nação, por outro lado, tem uma tendência a centralização e homogeneização, a unidade territorial também deve ser acompanhada com a uniformidade das normas jurídicas. Usualmente isso termina com a dissolução ou o esvaziamento das estruturas intermediárias.



Alain de Benoist crê numa ideia de império europeu, visto que uma nação européria seria a dissolução das identidades de múltiplos povos em prol duma homogeneidade. Um federalismo imperial seria mais próprio a forma da Europa.



sexta-feira, 18 de julho de 2025

Acabo de ler "DEMOCRATIE REPRESENTATIVE ET DEMOCRATIE PARTICIPATIVE" de Alain de Benoist (lido em francês)

 


Nome:

DEMOCRATIE REPRESENTATIVE ET DEMOCRATIE PARTICIPATIVE


Autor:

Alain de Benoist


Nesse texto, Alain de Benoist dá uma verdadeira aula sobre os diferentes tipos de democracia e defende a democracia direta. Alain de Benoist compreende a democracia representativa como a democracia liberal ou a democracia burguesa.


Para ilustrar o caso, os defensores da democracia representativa são Locke e Hobbes. Em Locke, a delegação do poder é parcial, resguarda-se as liberdades individuais. Em Hobbes, a delegação do poder é total. O defensor da democracia direta ou orgânica é Rousseau, para Rousseau a democracia é antagonista de regime representativo. Toda representação representa uma dissolução ou abdicação do poder democrático e da soberania popular.


No regime democrático, a identidade dos governados é a dos governantes, a vontade popular é a lei, há a igualdade substancial dos cidadãos, todos são membros de uma mesma unidade política e observa-se a vontade geral da nação. Essa descrição parece ser abstrata pois está longe da realidade vivencial das pessoas do mundo em que vivemos. Falamos muito da política, mas estamos virginalmente longe dela.


O que temos hoje, nas democracias liberais, é um déficit democrático e uma crise de representatividade (gerada pela lógica mesma da democracia liberal). Ao mesmo tempo, a classe política se tornou uma oligarquia com interesses próprios e indiferente aos fins específicos da atividade política (o de servir aos interesses orgânicos da população). 


Ao mesmo tempo, cresce-se a fala a respeito da legalidade do sistema. As regras jurídicas formais são reforçadas pelo seu mero aspecto legal e/ou formal. O fim específico da atividade política — servir ao interesse orgânico da população — é completamente ignorado. As instituições devem ser respeitadas para existirem por si mesmas, pouco importando se cumpram a sua devida especificação e correlação com os anseios populares. Aparece a legitimidade pela legitimidade, onde cada instituição é respeitável por si mesma pouco importando se ela cumpre a sua devida funcionalidade. A funcionalidade de uma instituição, num país verdadeiramente democrático, não é ditada tão somente pelo seu aspecto legal, visto que é a vontade popular que modifica e controla o seu funcionamento, podendo modificar e controlar até mesmo o seu aspecto legal.


A democracia, quando substancial, correlaciona-se com quatro fatores intrinsecamente correlacionados:

1. A vontade geral;

2. Constituição;

3. As leis;

4.  Servir ao bem comum.

Todavia adiciona-se um fato: a constituição, as leis e o serviço ao bem comum são determinados e modificados pela vontade geral.


A democracia liberal e/ou representativa vem apresentado vários defeitos.  Esses defeitos são de natureza inerente a própria democracia liberal e/ou representativa, mas também gerados em parte pela situação do mundo moderno. Vivemos num mundo de constante mundialização, de transnacionalização, de desintegração das ideologias da modernidade e em que a legalidade institucional vem se tornado um mero simulacro. Os poderes políticos se direcionam para a mundialização e transnacionalização sem se importar com os anseios do próprio povo.


A democracia de base, ou a democracia orgânica, apresenta-se como uma solução: ela aumenta a iniciativa pública e a responsabilidade para com a coisa pública (espírito republicano). A democracia de base ou orgânica pertence a um povo republicano, e um povo republicano é consciente e soberano. Ele pode se manifestar a favor ou contra, dar ou recusar consentimento.


Atualmente, vivemos num mundo com um sistema político liberal. E o sistema político liberal estimula indiretamente uma apatia política, uma abstenção da vontade em prol de gestores, de experts e de técnicos. O que é, em si mesmo, desejável para elites que querem governar sem a anuência e sem a perturbação do povo, visto que atualmente elas não se veem como parte dele.


Alain Benoist apresenta uma possibilidade de resolução de conflitos: a democracia participativa, direta. Visto que participação é um ato individual de um cidadão como membro de uma coletividade populacional. O pertencimento justifica a cidadania, a cidadania justifica a participação.



quinta-feira, 17 de julho de 2025

Acabo de ler "The Case Against Democracy" de Mencius Moldbug (lido em inglês)

 


Nome:

The Case Against Democracy: Ten Red Pills


Autor:

Mencius Moldbug


Vendo o interesse contínuo na Nova Direita Cultural e no Iluminismo Sombrio, apesar desses movimentos serem de linhas distintas ou opostas — a Nova Direita Cultural é anticapitalista e o Iluminismo Sombrio é pró-capitalismo —, resolvi aqui fazer breves comentários a respeito de um escrito de Mencius Moldbug.


Mencius Moldbug começa a sua argumentação falando sobre diferentes quadros históricos. Se estivéssemos num período medieval, por exemplo, cresceríamos pensando na universalidade do catolicismo. Como vivemos num período histórico pró-democracia, vivemos inseridos em todo um universo democrático e para nós a democracia representa tudo. A democracia não é só o que habitamos, mas é também o que respiramos e também é o que acreditamos ser desejável.


Há séculos atrás, poderíamos ser educados para ser católicos. Nossos professores seriam católicos. Nossos livros seriam católicos. Nosso debate público seria católico. Hoje em dia, nós somos educados para sermos democratas. Nossos professores são democratas. Nossos livros são pró-democracia. E nosso debate público é democrata. Adendo: aplico aqui a palavra "democrata" como defensor da democracia e não como adepto do Partido Democrata.


Mencius Moldbug constrói dez argumentos centrais para refutar o debate público ocidental contemporâneo (chamados de redpill). Dos quais tento traduzir de forma razoavelmente essencial:


1- É o Estado de Direito que é responsável presente estado de paz, prosperidade e liberdade, não a democracia;


2- Liberdade e lei não são a mesma coisa que democracia;


3- Fascismo e comunismo são democracias unipartidárias;


4- O Estado é apenas outra gigantesca corporação;


5- O poder no ocidente é ditado pelos funcionários permanentes do Estado;


6- O Estado consiste em todos aqueles que possuem interesses alinhados com o próprio Estado;


7- Os políticos de direita são um fenômeno político clássico. Eles possuem pouco poder e são inofensivos. Suas aventuras no exterior são destrutivas, mas eles são uma inescapável consequência da própria democracia;


8- Democracia é política. E uma burocracia apolítica exercendo o poder seria melhor do que a democracia;


9- O governo ocidental moderno está mais próximo do regime quase-democrático do FDR do que do liberalismo clássico;


10- A burocracia do Estado funciona bem, mesmo estando degradada. O sistema moderno depende da educação e da mídia (para condicionar). E o sistema financeiro moderno é um erro e pode colapsar.


quarta-feira, 16 de julho de 2025

Acabo de ler "L’ACTUALITE DE CARL SCHMITT" de Alain de Benoist (lido em francês)

 


Nome:
L’ACTUALITE DE CARL SCHMITT

Autor:
Alain de Benoist

Nunca pensei que juntaria dois dos intelectuais mais polêmicos de todos os tempos numa mesma análise. E creio que os leitores usuais do blog também não. Porém como é da natureza desse blog analisar os mais diversos intelectuais, pouco importando qual seja o seu posicionamento ou a agradabilidade dele no debate público contemporâneo, lá vamos nos aventurar de novo. Como aumentou muito o número de visualizações do blog, recomendo que leiam o Agnosticismo Metodológico para compreender que o mecanismo de análise desse blog é o de tentar simular o pensamento da obra e do autor que está sendo analisado.

A premissa inicial de Alain de Benoist é a de que existe um aumento de número de traduções da obra de Carl Schmitt e elas vêm se espalhado no mundo inteiro. O que demonstra a atualidade do pensamento de Carl. E essa vitalidade da obra de Carl Schmitt se correlaciona com os seguintes fatos:

1. O desenvolvimento do terrorismo;
2. O aumento das legislações de exceção para combater esse fenômeno;
3. A evolução da guerra;
4. A transformação radical da ordem internacional.

O que vem levado ao fenômeno crescente do terrorismo é a mundialização. Esse fenômeno é encarado como desterritorialização dos territórios. A mundialização é vista como uma ameaça existencial e/ou de ordem ontológica a múltiplos povos e grupos. É nesse contexto que as palavras de Schmitt parecem ressoar bem.

A ordem mundial, constituída pela hegemonia americana, mas fortemente eurocêntrica, adquire certas características especiais no pensamento de Carl Schmitt. Nele há um partidário que tem uma certa conexão com a terra em que está. O partidário é compreendido como telúrico (ligado à terra). A mundialização opõe-se ao telúrico ao dissolver os seus valores em prol de um modelo global.


É compreendendo a guerra dos partidários que podemos compreender as configurações do terrorismo. O terrorista é um combatente irregular e oposto a legalidade. O fenômeno terrorista encontra um fenômeno antecedente, dentro da conjuntura da guerra fria, que era o da guerrilha e do guerrilheiro (que também se opunha a uma legalidade tida por injusta). Seja o terrorista, seja o guerrilheiro, os dois são praticantes da irregularidade e possuem um engajamento político intensificado.

Como os Estados vêm respondido às atividades terroristas? Adotando meios de exceção. O contra-terrorismo transforma a exceção numa norma, visto normaliza-a. A sociedade aberta torna-se gradualmente em uma sociedade de vigilância. A natureza imprevisível vai servindo de munição teórica para o aumento progressivo do Estado de exceção.

É nessa conjuntura que podemos ver a precisão terminológica se dissolvendo nessas palavras: regular-irregular, legal-ilegal, terrorismo-contra-terrorismo. Sanções econômicas aparecem o tempo inteiro e o bombardeamento das populações civis já não são uma grande novidade, mas mais uma exceção que aparece junto a uma série de outras exceções.

Ao mesmo tempo em que isso ocorre, há a instrumentalização de um discurso moralizante, o inimigo é tido como diabólico, como criminoso, como a figura do próprio mal, como um inimigo da humanidade. Tudo isso é feito para justificar uma ordem internacional comandada pelos Estados Unidos e caráter eurocêntrico.

O conflito moderno também apresenta um caráter ontológico. São duas existenciais arquétipicas que se confrontam. Uma de ordem telúrica (atada à terra) e outra de ordem atlântica (atada ao mar). Zygmund Bauman já falava da modernidade líquida, o que se questiona é se essa modernidade líquida é um fenômeno ocidental ou de caráter universal. Se ela for de caráter universal, os oponentes dela são meros reacionários fugindo do inevitável. Se ela for de caráter ocidental, a aplicação geral desse fenômeno é apenas um ato de tirania política disfarçado de universalidade.

Hoje em dia temos várias figuras apresentando um caráter partidário e a possibilidade de uma guerra partidária. Elas defendem uma legalidade alternativa (oposta ao que aplicado) ao mesmo tempo em que apresentam um engajamento político intenso. Todavia há mais uma questão: a existência política de um povo não está diretamente ligada a uma identidade substancial e a política não é um reflexo dessa mesma identidade substancial? Se sim, a mundialização orquestrada e entendida como uma dissolução geral de identidades é, por si mesma, imoral. Se sim, a mundialização orquestrada e entidade como uma dissolução geral de identidades é, por si mesma, uma ameaça ontológica a todas as nações do mundo.

Tudo isso esbarra na ordem unipolar americana. E, mais uma vez, esbarra no pensamento de Carl Schmitt. Entramos na questão da ordem multipolar contra o universalismo liberal. Entramos no drama do universum contra o pluriversus. Entramos no mar em sua liquicidade se opondo a terra em sua firmeza. 

Acabo de ler "L'Hégémonisme Américain" de Alain de Benoist (lido em francês)

 



Nome:

L’HEGEMONISME AMERICAIN: ou le sens réel de la guerre contre l’Irak


Autor:

Alain de Benoist


Após ter começado a fazer análises de textos e livros em espanhol, comecei a fazer análises de textos e livros em inglês. Hoje inicio uma nova era desse blog: passo a analisar conteúdo escrito em francês. Como vi que Alain de Benoist chamava muita atenção, sendo chamado de "marxista de direita" ou "gramsciano de direita", resolvi trazê-lo para cá. Assim mantendo a tradição de abrir o debate público para autores pouco conhecidos ou explorados.


Os Estados Unidos após terem vencido a União Soviética na guerra fria, começaram a pensar e a implementar a universalização do seu modelo para o mundo. Essa universalização do modelo americano pode ser chamada de globalização neoliberal. Durante esse período — o texto foi escrito em 2003, atualmente vemos um declínio dos Estados Unidos e questionamentos a respeito do modelo neoliberal —, os Estados Unidos enfrentaram um mundo caoticamente instável, imprevisível, incontrolável e também marcado não só pela globalização do neoliberalismo, como pela globalização dos problemas.


Alain de Benoist fala sobre a vocação universalista de toda ideologia. Toda ideologia quer se impor como modelo universal. A universalização é um período de remodelamento do mundo em prol de um modelo específico. É evidente que se a União Soviética tivesse ganhado a guerra fria, a universalização do modelo de socialismo soviético — existem outros socialismos — seria a mais plausível. Como os Estados Unidos ganhou a guerra fria, existiu um período de remodelamento do mundo. Em alguns lugares, foi um processo mais pacífico. Em outros, mais turbulento.


Os Estados Unidos da América poderia ter optado por um regime de equilíbrio de poderes, mas optou pela simples hegemonia. O mundo poderia ter sido mais pacífico se fosse multipolar. Em vez disso, os Estados Unidos se proclamou e foi encarado como líder do mundo civilizado e chefe do mundo livre. Copiá-lo era o mesmo que se tornar civilizado e parte do mundo livre.


Essa condição gerou um neoimperialismo, um imperialismo de justificação do modelo unipolar. Esse modelo deveria ser seguido e o mundo deveria ser moldado conforme a vontade dos Estados Unidos da América. A remodelagem do mundo, às vezes vinda com tentativas de balcanização, era justificada pela noção de que os Estados Unidos estava lutando contra o mal e a barbárie. A doutrina neoimperialista, criada pelos neoconservadores, apresentou paralelos com o destino manifesto.


Enquanto os Estados Unidos realizavam o seu papel messiânico no mundo, o déficit comercial americano ia subindo e a desindustrialização ia se tornando cada vez mais grave. As ofensivas neoimperialistas, justificadas por neoconservadores, tornavam-se uma dispendiosa aventura na qual os Estados Unidos voltavam-se para o mundo e esqueciam-se de si mesmos: desindustrializando-se e aumentando o seu déficit comercial.

terça-feira, 15 de julho de 2025

AVISO IMPORTANTE!

Não sei o que ocorreu, mas estou vendo aqui que estou com mais de mil visualizações em um único dia. Para uma pessoa normal, isso seria motivo de alegria, mas para mim causa uma certa suspeita. Visto que da última vez que isso ocorreu, alguém tinha enviado ameaças no meu nome.


Antes de ler qualquer análise, entre nessa leitura preliminar:

https://cadaverminimal.blogspot.com/2021/10/agnosticismo-metodologico-ou-da.html

(O método de leitura e interpretação desse blog é uma tentativa de simulação do pensamento da obra que é analisada).


Caso alguém tenha mais uma vez cometido um crime no meu nome, vejam do último anúncio público no Instagram:

https://www.instagram.com/p/DKVSSIrviqO/?igsh=MWtnMGNtaHZrcmlxMg==


Caso tenham entrado aqui por simples curiosidade, espero que apreciem o blog e obtenham algo de útil.


Estou relançando textos!

Olá, caros leitores, atualmente estou desenvolvendo um projeto de relançar os meus textos em inglês no Medium. Para isso, desenvolvi dois projetos: os clássicos e a magolosofia.

Como a magolosofia é o meu mais recente trabalho intelectual, resolvi trazer a parte essencial dela em inglês:

https://medium.com/@cadaverminimal/list/7ae7c49acf72

Em relação aos textos clássicos, você pode (re)lê-los aqui:

https://medium.com/@cadaverminimal/list/6768ad762081




sábado, 12 de julho de 2025

Acabo de ler "The Dark Enlightenment" de Nick Land (lido em Inglês/Parte 3)

 



Nome:

The Dark Enlightenment;


Autor:

Nick Land.


Existe um caráter inconscientemente religioso na intelectualidade moderna. Nick Land e Mencius Moldbug falam sobre isso, mas Eric Voegelin falou antes. A maioria dos intelectuais modernos têm fé no Zeitgeist. A maioria dos intelectuais modernos têm fé no progresso e na agenda social progressista. E há um acompanhamento claro disso com o neopuritanismo laicizado dos nossos tempos.


Quando falamos da religiosidade progressista e da fé contemporânea, vemos, por exemplo, a a palavra mágica tolerância aparecer magicamente. A tolerância é um princípio universalmente afirmado pela moderna fé democrática. A igualdade, que sempre aparece lado a lado da tolerância, é considerada um modelo moral ideal.


Nick Land e Mencius Moldbug brincam com a possibilidade do progressismo da esquerda ser meramente reacionário. E eles fazem uma analogia bastante interessante. Quando falamos de evolucionismo, as espécies menos adaptadas são retiradas. No progressismo, as pessoas menos adaptadas são mantidas por lei por causa da moralidade. O que soa irônico, os maiores defensores da teoria da evolução são os maiores negadores dela dentro da prática política. Não punir o mal adaptado e recompensá-lo através de políticas públicas são curiosamente chamados de "entusiasmo evangélico neopuritano".


Nick Land e Mencius Moldbug argumentam que existe uma compensação política para a incompetência econômica. Existe, no mundo de hoje, um mecanismo cultural automático que advoga pela disfuncionalidade, visto que vê em toda desigualdade uma injustiça. E para corrigir essa injustiça há um apelo para políticas sociais que favoreçam politicamente pessoas que foram economicamente inaptas. O Estado altruísta é pai dos direitos positivos e tudo o que é subsidiado é promovido.


A busca por traduzir a igualdade em todos os campos em questão de empregabilidade, sucesso e reconhecimento pode construir, pouco a pouco, um totalitarismo leve. Visto que é preciso colocar uma regulamentação que inspecione todos os campos, garantindo que exista uma aplicação universal dentro do território em que a religião progressista é aplicada. O Estado passa a estar acima de tudo e todos para garantir a aplicabilidade das teses progressistas. Quanto mais igualdade for requerida, maior a rigorosidade da atuação do Estado para realizar essa agenda.


Aqui nos deparamos com o termo "Catedral". Cabe aqui explicá-lo para o leitor. O termo "Catedral" é usado pelos neorreacionários da seguinte maneira: (I). um sistema dominante; (II). com um aspecto de auto-reinforço da ideologia progressista; (III). composto pela academia, pela mídia, pelas ONGs, pelas corporações e pelas burocracias do Estado; (IV). com uma autoridade quase religiosa. A Catedral representa tudo isso ao mesmo tempo.


Como a Catedral é uma organização quase religiosa ou inconscientemente religiosa, ela não aceita e não tolera heresias (intolerância contra os intolerantes). É por isso que, por exemplo, o "ódio" é inconscientemente percebido como uma intenção herege contra os dogmas da moderna Catedral. O ódio é um crime/heresia contra a Catedral em si mesma. O ódio é visto como uma recusa, o ódio vai contra o guiamento espiritual da Catedral moderna. O ódio é um desafio contra o destino que foi religiosamente desenhado pela Catedral para o mundo.

terça-feira, 8 de julho de 2025

Acabo de ler "QAnon: Radical Opinion versus Radical Action" de Sophia e Clark (lido em Inglês)

 



Nome:

QAnon: Radical Opinion versus Radical Action


Autores:

 Sophia Moskalenko;

Clark McCauley.


Essa pesquisa, embora pequena, é bastante útil para quem estuda a obra de QAnon. Um fato bastante interessante é esse: os fóruns de QAnon são fóruns que criam coletivamente os mitos. O projeto qanonista é um projeto coletivo.


Eles analisam a radicalização com base em dois triângulos. Um meio de classificar o topo (extremismo) e o menor grau de engajamento. O que é um sistema interessante.


Triângulo 1:

- Obrigação moral pessoal;

- Justificação;

- Simpatizantes;

- Neutros.


Triângulo 2:

- Terroristas;

- Radicais;

- Ativistas;

- Inertes.


Há a questão que a pesquisa apresenta: seria a visão radical alinhada com a ação radical? Historicamente existem diferentes padrões na Janela de Overton e algo que é radical pode se tornar mainstream.


Creio que vale a pena os leitores darem uma olhada.

domingo, 6 de julho de 2025

Acabo de ler "It's time to embrace memetic warfare" de Jeff Giesea (lido em inglês)

 


Nome:

IT’S TIME TO EMBRACE MEMETIC WARFARE


Autor:

Jeff Giesea


Trolls são um problema em todos os casos? Talvez não. O estudo de Jeff Giesea apresenta uma nova forma de ver a arte da trollagem. A trollagem pode ser empregada, pela própria OTAN, para destruir o apelo e a moral de um inimigo comum. No mundo de hoje, a trollagem é uma arte que pode ser extremamente útil na comunicação estratégica.


Pensando acerca da "guerra memética" e da "guerra em guerrilha", podemos ver um desdobramento interessante. Visto que a guerra memética pode muito bem assumir a forma de uma guerrilha virtual. Os trolls da internet assumem um papel interessante e armificado nessa forma de jogatina de guerra ou guerra gamificada, podendo ser extremamente úteis se cooptados ou se suas técnicas forem empregadas.


Podemos dizer que as trolls farms, na lógica da guerra memética, apresentam uma visão extremamente potencial em períodos decisivos (como nas eleições). É uma forma de manifestar e conduzir um debate público, alterando as percepções, de modo que a guerra informacional seja conduzida de forma vantajosa para aquele que deter a melhor forma de armificar a informação dentro da lógica da guerra informacional. 


Quanto mais alguém estudar sobre a guerra memética, mais alguém é capaz de utilizar isso de forma estratégica e coordenada, levando um aumento de eficiência no emprego das técnicas. O inimigo-alvo pode ser destroçado, interrompido e subvertido pela lógica da guerra memética.

sexta-feira, 4 de julho de 2025

Acabo de ler "Hauntological Warfare" de Roy Uptain (lido em inglês)

 


Nome:

Hauntological Warfare: Explorations in Propaganda, Influence Campaigns, and Online Affect


Autor:

Roy Uptain


"Hauntological Warfare" poderia ser traduzido como uma guerra fantasmalogical. O artigo trata da forma com que a sociedade ressuscita símbolos do passado para utilização narrativa no presente. Há uma conexão entre passado, presente e futuro que se influenciam narrativamente, moldando a percepção e o agir humano.


Atualmente uma das principais questões da contemporaneidade é a opacidade da informação que é massivamente compartilhada, gerando redes e mais redes de feedback, além da incapacidade cada vez maior diferenciar propaganda, vigilância e guerra psicológica. Existe, além disso, uma mistura e uma conexão cada vez maior entre o soft power e o hard power: o algoritmo, o conteúdo, a manipulação afetiva e a amnésia histórica se misturam tenebrosamente.


A sociedade americana vem entrado no chão "realismo das pyops". Eles perceberam que são alvo constante de massivas propagandas e vigilância. A paranoia e a desinformação não são apenas mais ferramentas estratégicas, mas também condições ambientais.


Não muito estranhamente, vários sites são observados realizando estranhos movimentos. Eles utilizam uma estratégia subversiva que mescla metanarrativas, mitologias culturais e conspirações políticas para consolidar uma mensagem. Fantasmas do passado e hipóteses do futuro aparecem lado a lado para influenciar o presente. Enquanto isso, armificam medos e fobias para criar narrativas e contra-narrativas.


Creio que para nós, brasileiros, é de suma importância pensar acerca de uma crescente atmosfera semelhante em nosso cenário.

Acabo de ler "Classifying Russian PSYOPS and countermeasures" de Teodora-Ioana (lido em inglês)

 



Nome:

CLASSIFYING RUSSIAN PSYOPS AND COUNTERMEASURES: IMPLICATIONS FOR EUROPEAN SECURITY


Autora:

Teodora-Ioana MORARU


As guerras modernas apresentam uma amplificação radical da dimensão psicológica, informacional e do cyber-espaço. Ter uma competição estratégica no campo informacional é de suma importância. O controle da percepção e a influência cognitiva ditam enormemente os ritmos da guerra.


A era em que vivemos apresenta uma massificação da mídia e um ampliamento contínuo das plataformas de comunicação digital. Tudo isso impacta diretamente na percepção pública e influencia nas decisões políticas. O uso da informação, quando concretamente aplicado, pode levar a desestabilização do adversário.


Uma boa psyop faz a utilização dos vieses de confirmação. Isto é, do público para qual se dirige a operação psicológica. Uma psyop contém um arcabouço estruturado, é sistematicamente implementada e requer aprovação a um nível estratégico. Além disso, possui um objetivo de longo prazo.


A autora traçou uma diferença entre as operações psicológicas russas e ucranianas. As  duas nações tentaram controlar o espaço de batalha psicológico. A Rússia focou a sua operação psicológica no recrutamento, na intimidação e na mobilização das massas. A Ucrânia, por sua vez, tentou acabar com a coesão militar russa, destruir a moral do seu adversário e ampliar a resistência doméstica.

quinta-feira, 3 de julho de 2025

Acabo de ler "The Dark Enlightenment" de Nick Land (lido em Inglês/Parte 2)

 


Nome:

The Dark Enlightenment 


Autor:

Nick Land


O que é a democracia? Além de ser uma palavra muito dita, é uma das principais representantes do dogma moderno. A democracia aparece em nossas ciências sociais como acompanhante do sucesso e do progresso material — embora isso seja provavelmente uma correlação falsa. Estamos numa certa espécie de correlação automática quando pensamos em democracia. Por exemplo: (I) monarquia = ruim; (II) república = bom. Mas o que queremos dizer quando dizemos democracia? Talvez a gente nem mais lembre a resposta.


Grande parte dos intelectuais modernos correlacionam automaticamente o pensamento democrático com o anticapitalismo, não só no Brasil, como no exterior. Como dito anteriormente, muitos pensadores liberais e libertários, mais à direita do espectro político, já não veem a democracia como um regime em que se enquadra a liberdade.


Os Pais Fundadores, nos Estados Unidos, apresentavam uma suspeita enorme em relação a democracia. Viam-na como uma tirania da maioria. E, por tal razão, reduziram o seu poder com a ideia de representatividade. Assim freiando a possibilidade de se emergir uma tirania organizada pelo ódio das massas.


Não é muito estranho correlacionar a democracia moderna com um regime em que a população e as suas lideranças, de tempos em tempos, esquecem-se das consequências dos seus atos. Para se manter o poder, em última instância, faz-se necessário uma utilização de mecanismos populistas — o que por sua vez leva a uma destruição financeira. Também não é muito estranho vermos, no sistema democrático moderno, mega projetos de engenharia social e o poder legislativo de abolir a realidade através de pergaminhos burocráticos.


Com tudo isso, não é estranho que muitos intelectuais venham pensado num novo design. Se o poder representativo esmaga a hipótese de uma democracia direta, é possível tecnicalizar a escolha dos representantes através de um mecanismo ao qual podemos chamar de democracia vertical: nesse quadro, alguém só poderia ser eleito representante se cumprisse determinados requisitos. Nick Land, não falou dessa possibilidade, portanto vamos ignorá-la e deixar para uma outra análise.


Questionar a democracia, em nosso tempo, é algo que soa como uma heresia. O pessimismo corrói o cérebro de alguns e outros dão voos otimistas pensando em radicalizar a democracia. Conjectura-se que a democracia é um vírus memético, nobremente acompanhada da hegemonia progressista, do secularismo militante e de todo clero moderno. Os itens da fé moderna acompanham o homem moderno sem que ele saiba que preenchem o seu pensamento em forma de uma fé inquestionável. E questionar isso é um crime-pensar.


De fato, uma das questões que o Ocidente se deparará constantemente é a ideia de que a democracia moderna está falhando. A questão de como resolver isso é que uma incógnita. Alguns apostam na melhora da educação, outros pensam numa democracia vertical, outros falam sobre democracia direta, outros pensam na abolição da democracia. A questão persiste.

Acabo de ler "MAGA: The Covert Call for Colonialism's Come Back" de Janga (lido em Inglês)

 


Nome:

MAKE AMERICA GREAT AGAIN (MAGA): THE

COVERT CALL FOR COLONIALISM'S COMEBACK 


Autor:

Janga Bussaja


Quando o movimento MAGA ia se delineando, algumas propostas iam se estabelecendo retoricamente. Dentre elas, as principais eram: protecionismo econômico, restrição de imigração, retorno aos valores americanos tradicionais. Todas essas promessas eram emaranhadas por uma visão mística e nostálgica do passado americano.


Essa visão mística e nostálgica tinha como referência uma visão da hegemonia americana. Uma visão que acompanhava a ideia de que os Estados Unidos estava em decadência e que a segurança econômica não era mais uma garantia. O que havia no passado? Os Estados Unidos eram fortes, o papel da religião era garantido na esfera pública, a visão de mundo era provavelmente estável. Além disso, o papel de cada americano era pré-configurado e inquestionável: raça, etnia e condição socioeconômica cumpriam os seus deveres.


Não muito estranhamente, a retórica de Trump conecta-se com o supremacismo branco, com o fundamentalismo cristão e com a decadência dos políticos do establishment — dentre os quais os antigos conservadores do Partido Republicano. O movimento MAGA encontrou um sólido apoio na nova mídia americana. Breibart News e Fox News tornaram-se uma referência midiática pro movimento.


O movimento MAGA não é um ponto fora da curva da história dos Estados Unidos. Ele possui raízes históricas no próprio período de colonização. Os Estados Unidos foram fundados com base na exploração e subjugamento dos povos nativos e no comércio transatlântico de escravos negros. Um sistema de opressão e desigualdade cresceu lado a lado com a história americana — não fora, mas dentro. A destruição e marginalização do povo indígena ocorria também, lado a lado, com a importação e escravização do povo negro.


Na parte discursiva e narrativa, construía-se uma racionalização: o discurso da superioridade racial branca ao lado da superioridade cultural, o racismo científico acompanhado e brindado pelo mito da superioridade branca. Tudo isso criava um ambiente propício pro racismo sistêmico. Esse passado dos Estados Unidos reverbera até hoje na mentalidade do povo americano.


O movimento MAGA tem uma retórica que contempla uma elite corrupta e um virtuoso povo. Sua identidade é baseada num fervor nacionalista e práticas de exclusão. Um passado mitológico estabiliza e dá uma noção de prosperidade que os Estados Unidos há muito tempo não contempla. Existe também a demonização de grupos marginalizados, como pessoas de cor e imigrantes. Um cenário complexo e um prato cheio para análise.

Acabo de ler "Transmedia storytelling and memetic warfare" de Roman e Dariya (lido em inglês)

 



Nome:

Transmedia storytelling and memetic warfare: Ukraine’s wartime public diplomacy


Autores:

Roman Horbyk;

Dariya Orlova.


Num mundo onde temos várias ou múltiplas visões de mundo, a narrativa — quando poderosa e eficiente — é uma das armas centrais na estratégia comunicacional. Nessa guerra que ocorre na Ucrânia e na Rússia, isso vem sido particularmente bem demonstrado.


Na guerra que presentemente vemos, vimos um país que era visto como dividido e corrupto surgir com a imagem épica de país unificado, de um pequeno Davi enfrentando o Golias. Enquanto os russos preparavam o foreshadowing (um elemento narrativa que insere o próximo passo antecipadamente), Zelensky já sabia a importância de uma boa narrativa.


Nessa guerra, as imagens meméticas que iam se construindo e delineando substituiam toda área cinzenta do debate. A complexidade do debate é, até agora, substituída por um robusto, mas simplificante, exercício de storytelling. O jornalismo é feito de arma e não de mecanismo informacional — isso não é uma novidade, mas na era da guerra de quinta geração, isso vai aos extremos.


Creio que no tempo moderno, a grande lição é compreender a centralidade narrativa, como ela impacta os vieses cognitivos e como ela impacta diferentes grupos religiosos, étnicos e políticos. Podemos correr o risco de estarmos sendo feitos de tolos por diferentes lados.