domingo, 30 de junho de 2024

Acabo de ler "8chan, a Twitter-Fossil" de Susana Gómez Larrañaga (lido em inglês/Parte 2)

 


Nome completo do artigo: 8chan, a Twitter-Fossil: A post-digital genealogy of digital toxicity


Existe a possibilidade de traçar genealogia que explique o surgimento e a expansão da toxicidade da internet contemporânea. Essa tentativa de compreensão da causa é de importância vital para o funcionamento da sociedade, visto que a toxicidade virtual tem efeitos sócio-colaterais e impacta na vida de pessoas do mundo inteiro. Se, por exemplo, temos nas democracias a noção de que a informação assegura um voto "mais consciente" e a desinformação um voto "menos consciente" garantir a segurança da informação e achar meios de coibir a desinformação é uma pauta existencial para a perpetuidade da própria democracia. Grupos virtuais virulentos – além de grupos reais que se utilizam do espaço virtual – buscam alterar informações no objetivo de adquirirem alguma vantagem, muitas vezes empregando falsas narrativas que aumentam a possibilidade de uma conjuntura mais favorável aos seus anseios. A desinformação não é só criada por pessoas incultas, mas também por pessoas má-intencionadas que visam debilitar a funcionalidade dos organismos informacionais.


Hoje em dia, é fato notório que a desinformação promovida por certos grupos visa uma disrupção social deliberada. Essa disrupção social tem um impacto sócio-político considerável. Além disso, existe toda uma espécie de criação de um ambiente tóxico que se expande para fora do mundo virtual e vai de encontro a concretude do dia a dia. Os frequentes ataques terroristas, vindos de portadores de ideias de extrema-direita, levam a um questionamento constante acerca da liberdade. Até qual ponto existe legitimidade nas alegações de que devemos ter uma "liberdade de expressão absoluta"?  Até qual ponto existe legitimidade nas alegações de que estão "cerceando a multiplicidade dialógica para impor uma ideologia absoluta e totalitária"? O que são pontos de vista distintos e o que são visões perversas de mundo? Na democracia, quando uma visão deve ser possível dentro da estrutura de um debate democrático e quando ela deve ser abolida por ser prejudicial e perigosa para a própria existência da democracia? Aliás, qual a efetiva possibilidade desses grupos que visam uma maior segurança digital terem o velado objetivo de criminalizar seus adversários políticos mais tênues enquanto atacam os mais notórios? Em outras palavras, seria possível criminalizar Roger Scruton criminalizando Hitler? Além disso, qual a possibilidade de todo aparato construído nessas trincheiras de enfrentamento serem utilizadas pelo grupo que é estudado pelos acadêmicos e pesquisadores contra os próprios acadêmicos e pesquisadores? Existe a possibilidade do feitiço virar contra o feiticeiro. Todas essas questões são demasiadamente complexas e talvez levem centenas de anos para serem respondidas com clareza.


Para além das questões dos impactos sociais e políticos, deve-se questionar a influência psicológica na esfera individual dos frequentadores desses fóruns undergrounds. Eles estão habituados a algo fechado e a narrativização constante de tudo que está em sua volta. O psiquismo deles é muito semelhante ao psiquismo de um membro de seita. Se assim o é, deve-se pensar nos "espólios de guerra" e igualmente nas influências que o fizeram estar tão dispostos a frequentarem locais tão tóxicos. Ou seja, quais foram as experiências existenciais antecedentes a eles se tornarem partidários orgânicos dessas redes.

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