Mostrando postagens com marcador bruxaria. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador bruxaria. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Acabo de ler "Harry Potter e as Relíquias da Morte" de J. K. Rowling

 



Toda jornada tem seu fim, embora essa possa se tornar eterna no meu coração e no de muitos. Pelas minhas contas, li todos os livros em PDF, juntando todas as páginas de todos os livros: foram 2.260 páginas. Não me arrependo de nenhuma maneira por nenhuma delas, rejubilo-me.

“E o conhecimento dele permaneceu lamentavelmente incompleto, Harry! Aquilo a que Voldemort não dá valor ele não se dá sequer o trabalho de compreender. De elfos domésticos e contos infantis, amor, lealdade e inocência, Voldemort não entende nada. Nadinha. Que todos tenham um poder que supere o dele, um poder que supere o alcance da magia, é uma verdade que ele jamais compreendeu"
"É uma coisa curiosa, Harry, mas talvez os que têm maior talento para o poder sejam os que nunca o buscaram"
"Você é o verdadeiro senhor da Morte, porque o verdadeiro senhor não busca fugir da morte. Ele aceita que deve morrer, e compreende que há coisas piores, muito piores do que a morte no mundo dos viventes"
Dumbledore

A maior lição que temos de extrair de Harry Potter é a de que o amor é o maior poder. O amor anula a contradição, e por Voldemort não compreender o amor: fragmentava-se tolamente em itens amaldiçoados. Voldemort temia a morte, era temeroso e supersticioso. Seu medo se tornou em mal e quando a morte lhe sobreveio, a sua figura no outro mundo não era a de uma pessoa completa, mas a de uma criança deformada. Já que Voldemort nunca cresceu, estagnou em seu medo e criou uma longa crença narcisista sobre si mesmo, sem jamais compreender-se.

Por outro lado, Harry Potter nunca se julgou digno. Nunca desejou um poder imenso. E por não desejar: nunca se fragmentou em atos tolos. Quando se entregava a algo, era verdadeiro. Era de fato livre. Não estava aqui ou ali, onde estava é onde estava. As suas ações não se perdiam em multifacetagens diabólicos. Por amar, por aceitar a morte, era mais poderoso que Voldemort: aceitar que a vida é o que é leva ao melhor encaminhamento vocativo da vida. Ao aceitar a morte, aceita-se que se deve viver integralmente, de forma sã. O poder do amor é a união do sujeito no todo. Nenhum tirano compreenderia.

sábado, 5 de fevereiro de 2022

Acabo de ler "Harry Potter e o Enigma do Príncipe" de J. K. Rowling

 



"– E como é que se divide a alma? – Bem – respondeu Slughorn, constrangido –, você precisa compreender que a alma deve permanecer intocada e una. A divisão é um ato de violação, é contra a natureza."
"Contudo, se encaixava perfeitamente: com a passagem do tempo, Lorde Voldemort parecia ter se tornado menos humano, e as transformações que ele sofrera só me pareciam explicáveis se sua alma estivesse mutilada além da esfera do que chamaríamos de maldade normal...”

O livro nos introduz mais a vida de Voldemort. Não só de forma meramente biográfica, mas ao modus pensandi do icônico vilão que, para atingir a imortalidade, maculou a própria alma. Há também o fascínio pelo mal que atraí Harry a magia das trevas pelo Príncipe Mestiço - (spoiler) que, mais tarde, descobre-se que nada mais é que o próprio Snape. De qualquer forma, a relação com o Snape é ambígua: Harry conheceu e o admirou sem saber que estava a receber um conteúdo de um professor que ele próprio odiava. A relação com Snape (spoiler) é ambígua: admira-o sem saber que é ele, sabe que ele foi responsável por revelar a profecia que levou à morte dos seus pais e é o próprio Snape que mata Dumbledore. Todas essas ações carregam substancialiadade a obra, enriquecendo os personagens e dando um peso realístico dificilmente realizável em obras de menor peso.

O discurso sobre o "um e o múltiplo" me encantou, sobretudo quando se fala da divisibilidade da alma que é a sua corrupção em caráter maior. A divisão da alma, da psiquê, do espírito ou como quer se ouse chamar, é um absurdo trágico. O ser dividido é inautêntico e sofredor. É um ser que está sempre em parte, sofrendo pela mutilação de seu ser que nunca encontra paz. Tal assunto é encontrado na mais alta filosofia, teologia e, igualmente, na literatura e na mística. Nesse livro, vê-se a mística em Harry Potter, duma forma nunca dantes vista dentro do mundo de nosso querido bruxo. E o poder do amor (ou seria "Amor"?) é visto como o equilíbrio desejável, a união do ser consigo mesmo e o laço verdadeiro, o verdadeiro poder: não se pode unir pelo medo, o medo só consegue pressionar com força em determinado tempo e um dia esse mesmo aspecto tensional o arrefece. Logo há ilusão de poder, poder esse que será destruído por sua natureza corrupta e inatural. Não se pode perpetuar a corrupção, já que ela é de aspecto degradante. Onde não há liberdade, há uma gravidade que só pode ser respondida com outro jogo gravitacional de relações, relações essas marcadas pelo o que há de mais baixo.

"o último e maior de seus protetores morrera, e ele estava mais sozinho do que jamais estivera"

Esse livro é de suma importância para Harry Potter. Nele, ele se torna adulto. O mundo protegido por seu padrinho, pai, mãe e até mesmo Dumbledore entrou em colapso. Nas ruínas, ele terá que agora em diante buscar a própria solução, não mais como um menino, mas como um homem legítimo dentro de sua responsabilidade em ação humana. Nisso está a compreensão do livro: o rito de passagem da adolescência para a vida adulta em que se tem que se lutar para conseguir o que se quer. É por isso que esse livro é um dos mais bonitos da franquia, embora recheado duma morte nada agradável. Morte essa de alta significação: o tempo de ser protegido e ter o risco atenuado passou, agora é necessário ser adulto e arcar com as consequências de uma teia embaralhada de alta complexidade irresoluta.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Acabo de ler "Harry Potter e a Ordem da Fênix" de J. K. Rowling




Esse livro apresenta um tamanho maior que o seu anterior, o que torna surpreendente a evolução da autora como um todo, já que ela evolui e muito a sua capacidade narrativa e de construção de universo literário. E é sempre incrível ver como as peças se encaixam nos livros de nosso bruxo predileto.


Apesar de alguns dizerem que é um prólogo ou preparamento aos outros livros, não posso concordar com essa frase e tenho lá as minhas razões. Creio que cada produto cultural apresenta um processo que é diferente, já que a intencionalidade não é a mesma. É preciso ver além daquilo que é demonstrado no corpo total da obra, analisando ela em seu conjunto e em sua parte. A parte reflete o produto total, porém deve também ser analisada por si mesma.


Nesse livro, vemos um Harry mais sentimental e preocupado com as consequências de suas ações. Ele vai, aos poucos, tomando maior consciência de si e revisando seus atos em uma postura autocrítica, sobretudo no final da obra. A relação com os outros personagens igualmente aumenta em substância. Os personagens ganham peso psíquico, histórico e atitudinal. Com a história ganhando cada vez mais complexidade, sentimo-nos satisfeitos com o desenrolar da trama, embora não possamos nos sentir tão felizes com o desenrolar das ações inconsequentes de Harry - ele é adolescente, isso pesa ao seu favor. O que se pode esperar é um desenvolvimento posterior, já que ele se depara (spoiler) com a morte de seu padrinho e terá que arcar com essa responsabilidade.


O que temos nesse livro é: alta densidade política, os sentimentos que são desenvolvidos e a própria caracterização de um mundo cheio de perigo. Tudo isso é de suma importância para o desenvolvimento de cada personagem, já que tudo se torna cada vez mais sério e toda ação termina em consequências trágicas ou dificilmente contornáveis. Harry tem que se desenvolver mesmo que seja à força e começa a entender melhor que o mundo não é tão colorido e que o heroísmo tem um preço que foge do pacote fechado de "felizes para sempre". Termino o livro com a boa sensação de que me deparo com uma obra cada vez mais adulta.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Acabo de ler "Harry Potter e o Cálice de Fogo" de J. K. Rowling

 



    "– Se eu achasse que poderia ajudá-lo – disse Dumbledore brandamente –, mergulhar você em um sono encantado e permitir que adiasse o momento em que terá de pensar no que aconteceu esta noite, eu faria isso. Mas sei que não posso. Amortecer a dor por algum tempo apenas a tornará pior quando você finalmente a sentir"

Dumbledore 


    Uma das grandes razões de muitos detestarem Harry é a sua pouca aptidão mágica quando comparado a outros personagens que chegaram até inventar magias. Harry é mal considerado se terem vista Snape ou o próprio Dumbledore, ou sua amiga Hermione. Só que o poder não basta, a ação moral no mundo vale mais do que bastante poder, já que bastante poder na mão de alguém que não é idôneo leva a um uso trágico desse mesmo poder. A ação moral de Harry vale mais do que mil e quinhentas magias de Voldemort. O protagonismo de Harry é ser idôneo e reto, isso faz ele "valer" mais do que os outros.

    Algo que é dito pelo Dumbledore na "Câmara Secreta": "São as nossas escolhas, Harry, que revelam o que realmente somos, muito mais do que as nossas qualidades".


    Nesse livro, vemos o mundo de Harry cada vez mais adulto. A complexidade galopa de ritmo conforme a história avança e já era esperado que o quarto livro fosse mais adulto e detalhado que os livros anteriores. Esse papel é rigorosamente exercido e a trama é tão boa e os eventos se enquadram de tal forma que parecem até mesmo um roteiro policial. As conexões demonstram a inteligência da autora que é capaz de fazer engendrar pequenos detalhes num corpo cada vez mais bem estruturado. Poder-se-ia dizer-se que há uma sofisticação cada vez mais interessante e que não tira em nada o gosto da leitura, pelo contrário: dá mais gosto ao leitor.