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terça-feira, 2 de abril de 2024

Acabo de ler "Apontamentos bibliográficos sobre jogos teatrais no Brasil" de Alexandre Mate

 



O teatro é uma arte de subversão. Em todos os períodos históricos em que regras moralizantes, vindas das elites dominantes, foram postas para cercear a arte teatral, essa se viu privada de sua potência e, de modo inequívoco, tornou-se falha e desvirtuada.


A questão teatral é diferente de outras, existem três estados:

1- Jogo-Educação:

A primeira premissa que nos surge é a radicalidade divergente do método teatral. Seu método se dá muito pelo lúdico, como se estivesse num jogo.

2- Reflexão por Imaginação e Simulação Vivencial:

O teatro reflete por meio de exercícios que treinam a musculatura da imaginação. E é por meio dela que os estudantes vão, pouco a pouco, se reimaginando e se reinterpretando.

3- Provocação pelo Imaginário:

Aquele que se depara com uma narrativa utiliza sua própria memória e vida para refletir as questões existenciais que a obra apresenta. Logo a sua reflexão parte da sua emoção só para depois atingir a razão.


O ato teatral é, em si mesmo, uma postura subversiva. É subversivo em seu método educacional, atacando aqueles metódicos da rigorosidade objetiva que separam a emoção, o eu, o subjetivo. É subversivo na forma com que promove a reflexão, visto que sua reflexão parte de uma brincadeira e adentra em simulações existenciais. É subversivo na forma com que atinge o leitor, visto que o leva a refletir por meio de seu imaginário e coração. Tudo isso demonstra que o teatro está sempre numa posição distinta, de choque, de não-lugar.


O teatro é algo que vai sempre além. É algo que ultrapassa. Algo que esmaga as concepções dos outros intelectuais. Algo que ataca vertical e horizontalmente a tudo que está na sociedade. Rindo enquanto é sério. Chorando enquanto é feliz. Essa é a postura do teatro, é a postura da quebra paradigmática enquanto posição paradigmática.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Acabo de ler "Psicologia Aplicada de Freud - Considerações Finais"

 



Chegamos finalmente na análise do capítulo final. Optei por fazer uma análise em forma de série para testar um formato mais expansivo de análise. Um formato em que fosse possível ter "textos maiores" no diminuto espaço que essa plataforma permite. Para tal, selecionei alguns livros em que se poderia aplicar tal formato de "análise em série". (Pretendo fazer outras).


Neste capítulo, somos apresentados a conclusão do que chegou a ser a obra de Freud. Quais seriam as mudanças paradigmáticas apresentadas pela conjunção de sua obra. E, certamente, Freud realmente foi propulsor duma revolução paradigmática em vários campos devido a sua mudança de fontes.


Até no tempo de Freud, a psicologia - além de outras áreas do conhecimento humano - eram reflexos do pensar teológico. A principal mudança que Freud promove é uma psicologia baseada não em fundamentos sobrenaturais, bíblicos ou religiosos. Tal troca foi de fundamental importância para o desenvolvimento da psicologia moderna, não só dela como também de outras partes do conhecimento humano.


Freud também trouxe um olhar mais aprofundado na sexualidade. Tema muito essencial e pouco estudado. O que o colocou numa série de polêmicas devido a mentalidade pouco dialógica da época. Essa também foi uma contribuição de Freud.


Outra, a que mais me encanta, é a noção de que muito de nós nos escapa. E que devemos estudar metodologicamente a nós mesmos para que não sejamos controlados pelas nossas parcelas inconscientes. Esse entendimento possibilita um desenvolvimento rumo à maturidade e maior integração unitária de nossa consciência. 


Esse livro é bastante simples, porém coeso e apresenta uma série de informações que podem levar o leitor ter um olhar mais próximo da psicanálise e, quem sabe, tornar-se um dia um psicanalista.

terça-feira, 8 de novembro de 2022

Acabo de ler "Freud para Historiadores (pág 1 a 51)" de Peter Gay

 



O avanço da historiografia depende, tal como doutras áreas, duma amplitude de espírito aberto a outros paradigmas, a outros pontos que, dalguma maneira, entrelaçam-se num salto de qualidade e quantidade epistêmica. Peter Gay apontará, e com bastante razão, a necessidade de ajuda da psicologia, em particular da psicanálise, como disciplina de caráter auxiliar.

A missão do historiador, a análise do espaço-tempo em que ele se insere e propõe-se a resolver, coloca-o numa problemática em que ele terá que desenvolver necessariamente uma maestria em outras áreas do conhecimento. Sem isso, perder-se-á na incompletude que delimitará contingencialmente seu trabalho de forma a torná-lo ineficaz. O historiador precisa, para tal, deixar de ser apenas um psicólogo informal que não domina muito bem o campo de estudo da alma humana.

No estudo das causas que movem o agir humano esconde-se um enigma que, quando não resolvido, obscurece a própria capacidade de inteligir o espírito do tempo. Esse é, de forma espetacular, sempre antigo e sempre contemporâneo: as razões espiritualmente moventes dos corações humanos e nas transfigurações que as ideias, contidas em cada peito, tomam.

Não basta, para Peter Gay, dizer a proporcionalidade objetiva que uma ideia se dá em dada escala de realidade. É preciso saber a razão, a causa, a explicação de como o fenômeno tomou forma no coração de cada agente histórico. Para tal, é preciso ir além do "simples" historicizar. É preciso que se seja capaz de, com arte, perscrutar as sutilezas da psiquê humana.

Creio que, mesmo os opositores mais hostis da psicanálise, acreditarão que a psicologia é uma excelente disciplina auxiliar para fim de tamanha magnitude. Por tal razão, o livro permanece atualíssimo nas questões que levanta e nas soluções interdisciplinares que elenca.