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quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Acabo de ler "El camino del libertario de Javier Milei" de Juan Fernando (lido em espanhol/Parte 2 FINAL)



Nome:

El camino del libertario de Javier Milei



Autor:

Juan Fernando Suazo Irachez

 

Como o artigo era muito pequeno, apresentando tão somente três páginas, resolvi fragmentar menos a análise do artigo. Não se preocupem, não pulei parte alguma e, como sempre, exporei o essencial.


Javier Milei, ao estudar economia, chegou a algumas conclusões:

1. As economias que possuem maior intervenção do estado crescem menos;

2. A não intervenção do estado na economia é melhor para a assignação de recursos;

3. A coerção sobre a propriedade atrapalha o desenvolvimento do país.


Outras conclusões se juntariam a essas, mas a principal é: o melhoramento, o crescimento econômico e o avance da economia de um país se devem a acumulação capitalista. Para tal, deve-se fortalecer os seguintes critérios:

  • Mercados Livres;
  • Propriedade Privada;
  • Competência;
  • Divisão de Trabalho;
  • Cooperação Social.

Para Javier Milei, o capitalismo não é economicamente favorável. O capitalismo também é ética e moralmente superior ao socialismo. Só no capitalismo o indivíduo poderia se desenvolver plenamente, visto que no socialismo o indivíduo não pode se superar. Tal razão é decorrente do sistema coletivista imposto em (alguns) países socialistas em que o fim coletivo está sempre acima do fim individual, onde todos se perdem numa pulsão gregária.

domingo, 5 de janeiro de 2025

Acabo de ler "El camino del libertario de Javier Milei" de Juan Fernando (lido em espanhol/Parte 1)

 


Nome:

El camino del libertario de Javier Milei


Autor:

Juan Fernando Suazo Irachez


A Argentina é um país maravilhoso. Sua história, seus conflitos, a proximade que tem para nós brasileiros. Tudo isso é marcante e não passamos alheios aos seus problemas. O que acontece na Argentina, ressoa dentro de nós. Seja por empatia, seja pela correlação da cadeia de eventos que nos conectam.


Javier Milei é um outsider. Sua carreira começa com uma dura crítica a política dos K. Os argentinos estavam muito cansados da economia altamente inflacionária e difícil de controlar. Para todos, a inflação destruía as suas vidas. Seja pela diminuição do seu poder de compra, seja pela incapacidade de prever os rumos econômicos do país.


O interesse de Javier Milei pela economia começa durante uma crise inflacionária do país. Ali ele começou a sentir uma revolta que, por um impulso, levou ele a tentar compreender os problemas do país e a natureza econômica desses problemas. Nesse sentido, podemos especular um certo ranço – perfeitamente justificável – para com a inflação que tanto empobreceu e destruiu a vida dos argentinos.


Creio que Javier Milei é um produto histórico. A sua voz é um ataque contra uma política que era posta no seu país. Um reação natural, por assim dizer. Quando uma política vai muito para um lado, o outro lado passa a ser desejado.

segunda-feira, 8 de julho de 2024

Acabo de ler "DICTADURAS MILITARES Y LAS VISIONES DE FUTURO" de Gabriela Gomes (lido em espanhol/Parte 4 Final)

 


Um Estado é uma visão de um projeto e a realização de um espírito. A ausência de um projeto dificilmente levará a unidade nacional. Logo se faz necessário que a nação tenha um identificação coletiva baseada no cumprimento duma missão civilizada.


Quando os militares assumiram o poder do Chile, quiseram refundar a sociedade e até mesmo a sua mentalidade. A sociedade chilena era vista pelos militares como extremamente estatista, o que a deixa suscetível a mentalidade socialista. Os militares trataram logo de implementar medidas de descentralização, diminuição do gasto público e diminuição do Estado, deixando a iniciativa privada ser o principal motor econômico. Na Argentina, o projeto refundacional deixaria a cargo da iniciativa privada tudo que não ferisse a assim chamada segurança nacional.


Essas iniciativas demonstram o desprezo dos tecnocratas ante ao povo. Isto é, eles creem que o povo não pode governar por si mesmo. Antes disso, o povo deve se elevar a tal ponto que chegue ao desenvolvimento cultural compatível com o nível de um tecnocrata. Essa inferiorização separa o restante da sociedade dos tecnocratas, supostamente portadores de uma visão superior e responsáveis pelos rumos do país. O que não é outra coisa que escravidão política.


Na futurologia argentina, se planejou um desenvolvimento agroindustrial, em que haveria uma implementação de uma modernização industrial. Assim acreditavam que teriam um valor agregado. Além disso, acreditavam que só com o desenvolvimento de uma mentalidade científica-tecnológica seria possível que a Argentina se tornasse uma nação moderna. Graças a isso, investiram também na cibernética, seja no campo da educação (preparando as pessoas para o ano 2000), seja na própria indústria. Computação e informática também foram preocupações do regime chileno, visto que elas se tornariam os motores do desenvolvimento em tempos posteriores.


Olhando hoje, não vemos nem o Chile e nem a Argentina como nações desenvolvidas e capazes de fazer frente aos EUA e Europa – além de, é claro, a China. Apesar de várias boas intenções dos tecnocratas, creio que não foram completamente exitosos em suas intenções. Será que o custo política, social e cultural foi adequado? Promoveu-se a escravização política de sociedades inteiras na promessa de um "futuro melhor" em que essas duas nações seriam equiparáveis a Europa e Estados Unidos, mas se entregou duas nações dependentes e que não tiveram suas prometidas elevações.

quarta-feira, 26 de junho de 2024

Acabo de ler "DICTADURAS MILITARES Y LAS VISIONES DE FUTURO" de Gabriela Gomes (lido em espanhol/Parte 1)

 


Chile e Argentina passaram por períodos turbulentos. Esses períodos foram propiciados pelo ambiente inóspito e radicalizado da "Guerra Fria". Para combater a possibilidade duma "revolução comunista", muitos países latino-americanos sofreram golpes militares que propunham uma visão oposta ao regime socialista em vigor na União Soviética. Esse também é o caso do Chile e da Argentina.


No Chile e na Argentina houve a criação da "Doutrina da Segurança Nacional", essa doutrina com tinha uma tentativa de criação de uma "futurologia". Essa "arte" criaria um ambiente propício para uma nação estável e não sujeita a instabilidades em períodos posteriores. Isto é, criaria um ambiente de uma nação que tem estabilidade contínua e não é ameaçada pelas forças do tempo. Essa ideia da criação de um "futuro melhor" norteou as políticas tomadas pelos regimes que então se instalaram e forneceram bases para a sua autolegitimidade.


A ideia de criar uma "nova legalidade" em que os regimes instalados conduziriam pedagogicamente o povo para que esse amadurecesse e pudesse tomar decisões por conta própria não é um capítulo recente da história. Projetos refundacionistas onde o poder é concentrado nas mãos de poucos e esse poucos conduzem o desenvolvimento nacional são capítulos recorrentes na história da humanidade. A questão está na "legitimidade" conquistada através dessa narrativa: a ideia central de que o poder pararia temporariamente nas mãos de tecnocratas iluminados que desenvolveriam o Estado, o povo e a própria infraestrutura em prol dum futuro em que o próprio povo fosse capaz de tomar essas decisões por conta própria.


É evidente que mesmo com isso em mente não havia uma precisão completa nesse arranjo. Os autores desses movimentos não tinham uma unidade doutrinal precisa. Alguns eram mais ligados a ideia de um Estado mais centralizado e dirigente, outros defendiam a iniciativa privada como principal motor da atividade econômica. É evidente que, sobre esse aspecto, existiram lutas internas antes do "programa" ser instalado nesses dois países.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Acabo de ler "España en los diarios de mi vejez" de Ernesto Sabato (lido em espanhol)

 


Os escritos de Ernesto Sabato são fascinantes. Ele é um grande pensador latino-americano e adentra no ringue com um dos maiores ensaístas do século XX. Sua obra, entretanto, também é marcada pelo tom lírico de sua escrita e pela utilização de múltiplas disciplinas para a criação conteudística.


Ernesto foi um intelectual altamente combativo e erudito. Capaz de prosear sobre os mais diversos assuntos como se estivesse num passeio. Não lhe eram incomuns temas como ciências exatas, humanas, sociais ou artísticas. Até o terreno da psicologia e biologia lhe eram comuns.


Nesse livro, estamos na fase adulta desse grande homem. Percebe-se que nesse período existe um tom mais sereno no escrever, o que é particularmente distinto do tom mais beligerante usado "Uno y el Universo". No livro anteriormente analisado, permanece a crença na ciência e na técnica. Aqui existe o conhecimento de que a ciência e a técnica são boas, mas devem ser utilizadas de modo humanisticamente responsável.


Há também o fato de que Ernesto também comenta assuntos menos abstratos e mais ligados à vida cotidiana. Coisa que lhe seria bastante estranha quando era mais novo. O que demonstra uma apreciação mas multifacetada da vida e menos ligada às altas abstrações da vida acadêmica/intelectual.


De fato, como o livro em si demonstra e pelos discursos apresentados por admiradores da obra sabatiana, Ernesto é um grande pensador e não poderia ser ignorado sem que se perca substancial parte do pensamento latino-americano e mundial. Visto que a obra de Ernesto não é só muito apreciada na América Latina, como em todo o mundo.

quarta-feira, 27 de março de 2024

Acabo de ler "Uno y el Universo" de Ernesto Sabato (lido em espanhol)

 



A leitura de Ernesto Sabato vem sido duma grande preciosidade em minha vida. Ernesto, junto a Ortega, apresentou-me a língua hispânica na potencialidade de sua beleza imortal. Os dois, Ortega e Ernesto, apresentam um espanhol estilisticamente rico e bastante poetizado. Engana-se quem crê que suas colocações intelectuais não sejam equivalentes: os livros deles são belos e conceitualmente ricos.


Ernesto trabalha numa via bastante difícil: precisa passar toda uma densidade conceitual, algo intelectualmente difícil, ao mesmo tempo que precisa desenvolver a beleza artística de quem usa a língua em si mesma como arte, algo artisticamente difícil. Sua obra, ao mesclar as duas, traduz-se num equilíbrio formidável que poucos intelectuais poderiam levar cabo.


Essa é uma obra bastante diversa. Sua abordagem traz uma série de assuntos que são tratados em textos que variam de tamanho e não há uma unidade estrutural plena e sistematizada. Ainda assim, a leitura e a compreensão não são minimamente prejudicadas pela natureza conjuntiva da obra. O que demonstra, mais uma vez, a grandeza desse gigante argentino.


A obra mesclará diversos assuntos: epistemologia, filosofia, história, surrealismo, política, teologia, poesia, crítica literária, etc. E o formato, absolutamente variável, traz um quê de humor refinado, de apologética, de polemismo, de prosa. Uma variação densa que dificilmente passaria despercebida.


Mesmo que exista, nessa versão, uma nota introdutória do autor dizendo que ele mudou de crença, não se pode negar que esse pequeno livro é bastante bem escrito e bem pensado. Revela já o estilo de um autor que se revelou a cada dia mais fantástico e de estatura universal.

segunda-feira, 25 de março de 2024

Acabo de ler "La resistencia" de Ernesto Sabato (lido em espanhol)

 



Existe uma beleza indescritível na obra de Ernesto Sábato. E essa é a capacidade com que ele argumenta com erudição, mas suas formas conteudísticas não param exclusivamente na eruditividade, elas vão facilmente para uma grande poética que demonstra o gênio criativo dum grande autor. O uso do espanhol por Ernesto, sem se perder na contumaz objetividade acadêmica, demonstra que ele além de acadêmico é um artista das palavras.


Neste livro, vemos um Ernesto bastante pessimista para com o mundo em que vive. Se questionando sobre a megalomania estatizante, a massificação do homem, a ausência de sentido e, de igual modo, a capacidade do mundo sobreviver a exploração exaustiva de recursos naturais. O cenário, bastante catastrófico e desumanizador, apresenta um mundo corroído pela ausência de sentido existencial.


A linha de pensamento poderia ser facilmente conectada com a percepção de Viktor Frankl e, igualmente, de Ortega y Gasset. Sendo que Frankl diagnosticou melhor a ausência de sentido atual e Ortega y Gasset diagnosticou exemplarmente o fenômeno do homem massa. Todavia a chave da questão política - quadro ambiental e agigantamento do Estado - são bem observados por Ernesto.


Ora, é evidente que o trabalho de Ernesto teria uma conexão, também profunda, com George Orwell: este também era cético para com o socialismo estatista de seus dias. Todavia há um diálogo com a espiritualidade teológica da libertação dos dias de hoje, muito ligada à ecologia, como vemos em Leonardo Boff.


Existe uma possibilidade monstruosa de conexões na obra de Ernesto. Ela se revela bem ampla, bem complexa e, portanto, bastante rica em possibilidades dialógicas. Sua leitura também é bastante agradável. Como sempre, mais um excelente livro lido.

quarta-feira, 20 de março de 2024

Acabo de ler "Hombres y Engrenajes" de Ernesto Sabato (lido em espanhol)


 


"Pero así como la máquina empezó a liberarse del hombre y a enfrentarse a él, convirtiéndose en un monstruo anónimo y ajeno al alma humana, la ciencia se fue convirtiendo en un frígido y deshumanizado laberinto de símbolos. Ciencia y máquina fueron alejándose hacia un olimpo matemático, dejando solo y desamparado al hombre que les había dado vida"

(Ernesto Sábato)


Esse livro é, certamente, portador duma brilhante mensagem e, ao mesmo tempo, duma liricidade no uso da língua de Cervantes. O conteúdo ensaístico casa perfeitamente com a capacidade de gerar bons efeitos poéticos por meio da escrita. Além disso, a mensagem em si vem recheada duma erudição inabalável que só homens como Ernesto Sábato sabem ter. Certamente esse livro entra como uma das melhores leituras do ano.


Digo-vos que existe uma grande questão: falido o projeto socialista e tendo o mundo nas mãos do imperativo ideológico da forma econômica do capitalismo, que sobra de nós? As mensagens sociais que venho visto, longe de serem de apoio ao capitalismo e estrita observância a ele, são a negação cabal do domínio capitalista e a esperança de que, ao menos alguma hora, uma afronta surja e ataque os sonhos burgueses que atordoa vários de nós.


O homem está hoje, mais do que todos os tempos, dominado. Tornou-se apenas um escravo das estruturas que ajudou a construir. E agora se lida com um mundo vazio, sendo apenas um dado numérico diante dum grande oceano de nada. E ao se olhar como mera formação estatística se revolta e crê, crê firmemente numa aurora que deixará toda essa porcaria tecnocrática no chão e trará, reacionária e revolucionariamente, o retorno de seu Self.


Acreditamos, apesar de tudo, num devir dum mundo melhor. E nossas lágrimas preenchem o chão enquanto nos vemos sistematicamente explorados por um mundo corrupto, por um sistema doente e por uma horda de homens que na desumanidade de cada dia se desumanizam em coro harmônico com essa mesma desumanidade.

sábado, 16 de março de 2024

Acabo de ler "Antes del Fin" de Ernesto Sabato (lido em espanhol)

 


Ernesto Sábato é um dos maiores intelectuais da história da Argentina. Esse livro é escrito como uma forma de atenuar a dor dos jovens que lhe mandavam cartas. E também como uma forma de autobiografia antes de morrer. Um testemunho corajoso de um homem que superou várias decepções e manteve a sua consciência individual apesar de tudo que se sucedesse.


De experiência bastante diversa, Ernesto Sábato sabia sobre arte, ciências exatas e humanas. Foi um literato e, também, um filósofo. Manteve contato com vários intelectuais importantes. Estudou de forma aproximada autores anarquistas e comunistas (de índole marxista). Também teve um período de conversão ao marxismo, porém se afastou do movimento graças a rigorosidade dogmática que esse apresentava.


Ernesto fala-nos da decepção que tem para com o mundo pós-guerra fria. Não que acreditasse na monstruosidade totalitária que se tornou o regime soviético, mas sim que o mundo que surgiu após o fim da União Soviética não era aquilo que foi prometido e sim algo bastante inumano, irresponsável e até destrutível.


A destruição dos recursos naturais, o perigo nuclear, a exploração de massas inteiras de pessoas, a quantidade gigantesca de pessoas morrendo de fome, o contingente populacional de excluídos. Como permanecer otimista nesse mundo? Ou o mundo muda, num radicalismo humanizante, ou morremos todos.


Ernesto, por fim, deixa-nos com a consciência de que temos um mundo a cuidar e um fluxo de ações irresponsáveis a impedir. Isto é, temos que impedir certas ações e mudar de rumo. Sem perder nossa fé utópica na construção dum mundo melhor. No fim, o "fim da história" é uma ilusão propagandisticamente criada para que nos calemos. 

quinta-feira, 7 de março de 2024

Acabo de ler "El Túnel" de Ernesto Sábato (lido em espanhol)

 



"había un solo túnel, oscuro y solitario: el mío, el túnel en que había transcurrido mi infancia, mi juventud, toda mi vida"


Juan Pablo é um homem que a tudo vê de forma obscurecida. Seus pensamentos, infinitos e variados, impedem-lhe de enxergar algo que vá além de sua subjetividade. É como se existisse, em sua percepção, uma espécie de sobrecarga mental que o próprio pensamento impedisse a percepção do mundo ao redor. Um pensamento atropela o outro, a sua ansiedade marca páginas e páginas do livro, projetando psicologicamente a angústia do personagem no cenário.


Imagine que um livro seja projetado psicologicamente: nada escapa à sobrecarga psíquica do protagonista. E o leitor, lendo o livro, se vê ficando sem ar. É tanta ansiedade, é tanto detalhamento neurótico, é tanto pensamento atrás de pensamento que nem o leitor e nem o personagem central conseguem ter sossego. A leitura do livro pode ser descrita numa única fala que traduz todo esse passeio mental: asfixiante.


Não posso negar que me sinto semelhante ao protagonista da obra: toda essa incompreensão, toda essa neurose, todo esse desprezo pela maioria, toda essa capacidade de sentir por não se integrar e, além disso, a própria noção de que há uma barreira mental, projetada pelo próprio protagonista, entre o ser e o mundo. Tudo isso não me é estranho, é até mesmo comum.


Essa leitura, a não ser em excepcional caso, adentrará como uma das melhores leituras do ano. Eu certamente me apaixonei pela forma que Ernesto Sábato escreve. Vejo aqui um homem brilhante que usa o espanhol com a grandeza dum mestre.

segunda-feira, 19 de junho de 2023

Acabo de ler "El Sonido Primordial" de Luis Alberto Spinetta (lido em espanhol)

 



No pódio dos cantores de rock da Argentina, encontram-se três homens: Gustavo Cerati, Luis Alberto Spinetta e Charly Garcia. Homens dotados de capacidade ímpar e renomados por destreza e talento.


Ler um livro do Luis é, para mim, prazer e descoberta. Conhecer o outro lado de uma obra de um músico genial é sempre edificante, sobretudo quando se trata de um grande homem. E neste livro vemos a história da música comentada por um grande músico.


Com uma atenção especial voltada ao quebrador de normas chamado John Cage, nada escapa ao nosso arguto pensador. O começo da música, Gustav Mahler, Beethoven, Stravinsky, canto gregoriano. É um universo sintetizado em forma de livreto.


Qual a distância entre o som e o silêncio? O que veio antes? Qual a fluência do tempo na música? A precisa metragem assume papel especial aqui. Essas questões sondam o livro. Tudo é tratado de forma de ligeira, porém ainda assim encantadora.

quarta-feira, 17 de maio de 2023

Acabo de ler "Autobiografía" de Jorge Luis Borges (lido em espanhol)

 



"Ya no considero inalcanzable la felicidad como me sucedía hace tiempo. Ahora sé que puede ocurrir en cualquier momento, pero nunca hay que buscarla"


Li esse livro pensando que, tendo-o como primeiro, seria capaz de aproximar-me mais do autor. O fato é que esse grande escritor tem uma história fantástica e é um dos maiores pensadores latino-americanos do século XX.


Jorge cresceu cercado de livros, com o contato com a língua inglesa e espanhola. Também desenvolveu contato com outras línguas através de seu percurso vivencial. Sendo um homem de altíssima erudição, tem uma obra riquíssima e que quebra todos os padrões anteriormente estabelecidos, tornou-se um autor paradigmático, visto que sua obra revolucionou a prática literária.


Um dos detalhes mais dolorosos foi o desenvolvimento gradual de sua cegueira. Essa cegueira é como um legado de sua família, afetando também seu pai, avô e bisavô. Ficou cego bem cedo, aos 55 anos de idade. Porém ele já sabia que um dia ficaria cego, o legado familiar não lhe deixava dúvida.


Este livro conta uma história de um homem fantástico. É um verdadeiro compilado de toda uma história de andanças, de amadurecimento, de intelectualidade, de múltiplas e inúmeras facetas e ângulos. O conteúdo é riquíssimo e ao mesmo tempo encantador.

sábado, 15 de abril de 2023

Acabo de ler "História Mínima de Uruguay" de Gerardo Caetano (lido em espanhol)

 



O Uruguai é um país que vive entre dois países que lutam pela hegemonia do processo civilizacional latino-americano. Estes são: Brasil e Argentina. Países que, querendo ou não, gozam de estatura elevada ao redor da América Latina e sempre serão olhados com olhos mais admiráveis, curiosos ou, também, com uma marca de desprezo. Vê-se, nestes dois, algo de subimperialismo.


O Uruguai sempre teve que dividir a sua atenção nestes dois. Os uruguaios já se consideraram argentinos orientais e, igualmente, já pertencerem ao Império do Brasil (como a província Cisplatina). Ao adotar submissão, foi tido como covarde ou simplesmente congruente. Uma ação de um país entre duas potências regionais só pode ser uma: neutralidade. Aliar-se a Argentina ou ao Brasil provocaria uma reação a quem ele não se aliou. Situação que seria complicada para ele.


Todos os países detêm uma história e nenhum povo é menos digno de ser nacionalista que outro. O amor pela sua pátria não é ditado por seu tamanho, porém pelas ações concretas que ele faz historicamente e criam um senso de eu plural. Este país, diminuto em comparação a Argentina e ao Brasil, sempre se destacou pela sua diferencialidade processual e, por vezes, pela similitude com os processos regionais que imperavam na região.


Os uruguaios não se veem como menores, veem-se simplesmente como uruguaios. Orgulhosos, também, de seus processos históricos. Um de seus lemas é "nadie es más que nadie", ninguém é maior que ninguém: uma sociedade hiperintegrada e pronta para um processo de eu plural maior que de outros países latino-americanos. Também é o país que sempre está um passo a frente nas colocações mais necessárias socioculturais. Todavia é, igualmente, um país que sofre pela ausência de pensamento estratégico e adequação ao tempo econômico e tecnológico do momento.


O Uruguai é um país amável e de uma história fantástica. Não é tão diminuto quanto falam e merece mais apreço e consideração por toda a América Latina. Um belo e emocionante livro, diga-se de passagem.

terça-feira, 28 de março de 2023

Acabo de ler "El Futuro Bibliotecario" de Roberto Casazza (lido em espanhol)

 



A ideia de que o bibliotecário seja apenas um conservador dos livros que a sua biblioteca contém e um aquisitor dos livros que a sua biblioteca terá reduz, em muito, a própria magnificência do dever vocacional do bibliotecário. Um dever que transcende a mera conservação, catalogação, disposição e aquisição de livros.


A formação do bibliotecário trazer em seu seio uma postura dialética e simbiótica em que esteja, em paralelo e em harmonia, a capacidade técnica consubstanciada por uma ampla formação humanística e erudita. O bibliotecário tem o dever ser, ao mesmo tempo, uma pessoa fortemente embasada pela técnica e pela capacidade de diferenciar "compreensão" de mero "acúmulo informacional". Isto é, cabe ao bibliotecário a capacidade de selecionar as obras pelo seu rigor qualitativo além do aspecto meramente quantitativo.


As bibliotecas sempre foram portadoras duma missão e dum legado: (I) de transmitir, democratizar e ampliar, o acesso aos bens culturais civilizacionais; (II) serem pontos de encontro dialógicos e epicentros de saber cultivado. Muito de nosso desenvolvimento civilizacional se deve as contínuas lutas de bibliotecários em transmitir e disponibilizar as melhores obras a disposição dos intelectuais, ao povo e, também, aos futuros intelectuais que surgem com o contato com a cultura literária.


Tal posição de elevada importância não perderá seu papel protagônico mesmo com a digitalização, cada vez mais acentuada, do acesso aos bens culturais. Mudanças serão feitas, porém o bibliotecário é um educador que, com maestria elevadíssima, conduz o fio da boa comunicação ao receptor que por ela será elevado ao universo cultural. Esse importante papel requer uma formação não só técnica, requer uma formação radicalmente humanista. Essa é a postura que o autor desse livro explana eficazmente bem.

segunda-feira, 27 de março de 2023

Acabo de ler "Primer Tiempo" de Mauricio Macri (lido em espanhol)

 



A Argentina é um país pouco previsível institucionalmente, atributo que lhe outorga pouca credibilidade mundial. Para piorar, a maioria dos governos se perdeu numa retórica chauvinista e, infelizmente, numa condução política isolacionista que, pouco a pouco, minou suas capacidades de realização enquanto nação. Esse tipo encadeamento atitudinal não é só frequente na história da Argentina, mas de grande parte dos países latino-americanos.


A tarefa de modernizar esse país coube a Macri, porém se notou muito a incapacidade de promover reformas estruturais graças ao legado burocrático peronista que de tudo fez para levar ao estancamento de ações gestionárias mais modernas e condizentes com o século XXI. Por todos os lados, setores gigantescos da sociedade estavam habituados com um modelo de economia politizada, onde pesa mais a camaradagem política do que uma gestão eficiente e ligada as necessidades mais prementes.


A economia politizada criava uma série de empecilhos a concorrência e tornava os empresários pouco atentos ao desenvolvimento exteriores e ao aumento da produtividade. Com empresas pouco competitivas, exigiam mais e mais proteção estatal em vez de melhorarem suas práticas. Esse tipo de comportamento paralítico também foi encontrado em todos os tipos de setores.


Mauricio Macri queria ir contra isso e tornar a gestão estatal, e sua relação com a sociedade, mais dinâmica, moderna e eficiente. Aqui não farei apontamentos de sua família com o Estado, visto que sei pouco sobre ela e, igualmente, as alegações de Macri são pouco credíveis pois vêm dum homem que teria como intuito óbvio de proteger a família.


O Estado como principal suporte ao desenvolvimento, não é um mal em si se esse processo não incorre numa retroalimentação simbiótica de debilidades Estado-sociedade. A necessidade de contrapartidas e priorização de eficiência, cumprimento de metas e "abordagem tecnocrata" pesam em muito nesse contexto.


O entendimento que o Macri passa após toda a sua experiência como chefe de Estado contribuem em muito para se compreender a Argentina enquanto nação e a leitura do livro não é recusável.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Acabo de ler "El Pacto Menem-Kirchner" de Juan Gasparini (lido em espanhol)

 



O que ligaria o governo Menem com o governo Kirchner? Ambos são, notoriamente, autodeclaradamente peronistas. Embora se duvide muito que Menem de fato o seja, visto que ele tem uma mentalidade bastante liberal - e Perón estaria mais próximo da terceira via. De qualquer modo, nasceram no meio dessa mentalidade que nos é estranha e distante.


O governo Menem pode ser considerado problemático e um sucesso em múltiplas vias. A depender também, é claro, da linha política daquele que analisa. O que poderá variar muito e, igualmente, verificar-se-á um contorcionismo mental gigantesco para ser absolutamente contra ou absolutamente a favor. Se bem que eu, não ligado a nenhum grupo de esquerda ou direita, prefiro seguir uma análise mais cética ou tíbia.


Menem e Kirchner são governos contrários. O primeiro defendeu a menor participação do Estado no intento de modernizar e dinamizar a atividade econômica. O segundo (e a terceira, já que a sua esposa também governou) defendeu uma maior participação do Estado como forma estratégica e soberana. Só que eles têm um ponto em comum: a defesa de suas atividades ilícitas.


Numa posição nem tem rara assim, os três queridos, politicamente distintos, uniram-se num conluio em que cada qual defenderia a costa dos outros. Não por animosidade e tolerância democrática, mas por ocultação de crimes. O que leva a pensar: seria a corrupção o motivo mais  forte e irresistível para impulsionar a convivência democrática? A piada acaba, porém o questionamento fica.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Acabo de ler "Soda Stereo - La Biografia Total" de Marcelo Fernández Bitar (lido em espanhol)



"Un hombre alado extraña la tierra"


Se há uma banda que confessadamente elevou o rock latino americano a outro patamar: esta foi Soda Stereo. Batendo até recordes internacionais, foi a banda com mais amplo legado sonoro da América Latina. Com sonoridade original e sem medo de um experimentalismo, os integrantes venceram e ascenderam com manobras arriscadas.


O livro vai desde o ponto em que os integrantes arriscavam-se para seguir a carreira musical - que trouxe sacrifícios - até o ponto em que estavam fartos do peso do próprio sucesso. O processo turbulento em que cada integrante da banda não aguentava mais olhar na cara do outro, como uma espécie de divorciados ressentidos.


Há nesse livro a história de construção de todos os álbuns. A vida pessoal de cada um vai transcorrendo e implicações profissionais juntam-se com os mais diversos tipos de questões. O gerenciamento de conflitos aumentava enquanto o próprio sucesso subia em escala meteórica.


É bom ver que antes do término da banda, o trio argentino fez de tudo para burlar a saturação. Só que a perseguição contínua da mídia e dos fãs, os shows consecutivos, novos horizontes artísticos que se chocavam e a vida adulta que se desenvolvia cada vez mais impediu a solução.


O legal é que, no final, mesmo que já não seriam os mesmos, seguiram firme com a última turnê. Reuniram-se equidistantes, porém unidos. Uma pena que Gustavo Cerati morreu cedo demais devido a um AVC. Um livro marcante e recomendável para todos aqueles que amam rock.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Acabo de ler "Modelo Argentino para El Proyecto Nacional" de Juan D. Perón (lido em espanhol)




Pensar e estruturar o que um país deve cumprir para sanar seus problemas estruturais e adequar-se as novas regras globais que cobram uma postura determinada em seu agir é uma tarefa de difícil empreitada. Ainda mais quando o modelo político está sujeito a análise da população e aos olhos das outras nações do mundo.


Para este fim, Juan Domingos Perón trouxe um importante documento em que elenca diversos problemas e sugere, de modo bem global e consciencioso, resolucionar tais problemas. Não sem, é claro, trazer consigo mecanismos mergulhados na mais profunda dialogicidade das partes políticas que compõem a Argentina. O documento não visa um governo composto por elites, mas a unidade de todos os grupos que lá estão. Um verdadeiro governo que intercala conciliação de classes e autêntica governança unitária para o prol do povo.


Juan fala acerca da necessidade de união, de sólidos compromissos com as pautas comuns e universais. Propõe uma governança global não baseada na intimidação, mas no reconhecimento de cada nação em igualdade, liberdade e autodeterminação. Além de reconhecer que, na altura do campeonato, que o mundo está cada vez mais conectado entre si e que devemos achar mecanismos de utilização responsável dos recursos.


Documento este que, graças a inteligência e síntese do autor, envelheceu muito bem e ainda traz respostas para o tempo presente. Uma pena que suas pautas não tenham sido consideradas com a tenacidade que deveriam.


Certamente se nota, ao fim da leitura, que Perón era um estadista de grande estatura e que, atualmente, faz falta não só na Argentina, como também no debate latino-americano e mundial.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Acabo de ler "¿Por qué Argentina no fue Australia?" de Pablo Gerchunoff e Pablo Fajgelbaum (lido em espanhol)

 



Há um velho ditado que diz que "quanto pior uma situação é, mais resiliente uma pessoa ou uma nação se torna". A expectativa que se tem é essa: uma pessoa ou uma nação temperada pela angústia tornar-se-á resiliente para se adaptar ao ambiente inóspito. E essa mesma teoria justificaria, por sua vez, o pouco desenvolvimento nos países tropicais. Trata-se, evidentemente, duma resposta inadequada e simplista.


Argentina e Austrália sempre são postas lado a lado. Diz-se que há, entre as duas, condições similares tidas como pressupostas e a primeira, a Argentina, é tida como uma derrota; enquanto que a segunda, a Austrália, é um caso duma vigorosa vitória e se desenvolveu de forma singular. O livro trabalhará lidando com esse pensamento em pauta.


Localizadas em lugares diferentes e formas de colonização diferentes, as duas encararam questões muitas vezes se forma similar. Entretanto as dificuldades da análise supõem que existe mais do que tal simplismo. A Austrália teve uma independência de caráter mais pacífico, já a Argentina uma independência turbulenta. Fora isso, a Austrália não encontrava inimigos e competidores perto de si. Além de que, durante um longo tempo, a Austrália foi privilegiada pela sua relação geopolítica mais sólida e uma política menos condicionada pelas turbulências chauvinistas tipicamente latino-americanas. 


O leitor verificará que a Austrália teve uma localização geopolítica que a rendeu grandes importadores: logo que o desenvolvimento asiático se sucedeu de forma acelerada, este por sua vez necessitou de recursos provindos da Austrália. Essa troca foi benéfica e essencial para seu desenvolvimento atual.


A Austrália foi guiada por uma dialogicidade democrática, uma permanência de respeito institucional e políticas econômicas mais sólidas e menos isoladas, vencendo a defasagem temporal e sendo competitiva. Por outro lado, a Argentina teve um ambiente inóspito, rupturas institucionais, grandes períodos ditatoriais que retardaram seu desenvolvimento político maduro. Além da relação geopolítica e econômica menos vantajosa.

sábado, 14 de janeiro de 2023

Acabo de ler "Historia de la crisis argentina" de Mauricio Rojas (lido em espanhol)

 



Ainda sei pouco sobre a Argentina e também pouco da América Latina no geral. Todavia, conforme aumento meu conhecimento na língua espanhola e vou me apoderando da cultura hispânica, galgo pouco a pouco posições mais cabíveis de possíveis análises.


A Argentina é um país que muitos considerarão ingovernável. As suas crises denotam uma sociedade que não encontrou um caminho estável. Só que a pergunta que faço é: que sociedade latino-americana encontrou? Ler a história latino-americana é um caminho de profunda angústia e alto desejo de que haja, enfim, alguma esperança - por mais mínima que seja.


Um país caracterizado por uma liberalidade radical, com uma alta "dosagem" de migração e a esperança dum recanto de desenvolvimento civilizacional na América Latina - em competição direta com os Estados Unidos -, logo se defronta com uma onda populista e estatista com forte caráter nacionalista. De repente, engorda-se a máquina pública e a corrupção faz seu lanche na burocracia de compadrio.


Por fim, Perón é derrotado. Só que o mundo, e também a Argentina, se radicaliza. Uma contradição se flagra: esquerda e direita brigam entre si para que Perón as afague nas entranhas do poder. Mais tarde, pós sucessivas crises, vem-se o governo de Menem que tem como fim destruir o legado ultraburocrático peronista e instaurar uma economia de mercado dinâmica - e logo se vê suntuosos casos de corrupção após uma pequena onda esperançosa.


De qualquer forma, sonhemos com uma Argentina próspera e num caminho estável. Sonhemos, também, que essa estabilidade se dê na integridade territorial latino-americana. Temos que, no mínimo, almejar a civilização e fustigar a barbárie.