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quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Acabo de ler "They Eat Puppies, Don't They?" de Christopher Buckley (lido em inglês)

 


Livro:

They Eat Puppies, Don't They?


Autor:

Christopher Buckley


Christopher Buckley é o rei da sátira americana, tal como Nelson Rodrigues foi o rei da sátira brasileira. Mas, precisamente, o que é a arte da sátira? Em primeiro lugar, não podemos definir a sátira como uma redução ao absurdo, mas sim como algo que vá além disso. Uma boa sátira se traduz em captar a essência de um problema, captá-lo de forma radical, e traduzi-la em forma de piada para que as pessoas se afastem, tal como num exercício cômico ou numa catarse engraçada, do problema em que estão envoltas.


Grande parte da cultura moderna, sobretudo no âmbito do humor, não é ao todo cativante. Se vermos um humorista mais conservador, a sua sátira dos progressistas é extremamente clichê e dá a entender que ele não compreende quem está satirizando. Se formos a um humorista mais progressista, parece-nos que ele nada entende de conservadorismo. A sátira, para ser certeira, requer o rigor de quem toma uma cerveja para saborear e depois decidir qual o gosto dela.


Pensemos nos livros do senhor Christopher Buckley que analisei anteriormente. Sugeri que o leitor ou a leitora use o "modo web" e clique no nome "Christopher Buckley". No livro "Thank You for Smoking", existia um quadro diverso de críticas, o lobby do cigarro era um deles. No livro "Make Russia Great Again", o objeto era o próprio Donald Trump. No livro "Little Green Men", a ideia absurda de transformação radical de um homem que se tornou em uma espécie de "lunático" e perdeu tudo. Todos esses temas, se olhados de longe, não são só sérios. São drasticamente sérios no mais rigoroso e concreto sentido do termo. Porém Christopher Buckley, em seu raciocínio, trouxe eles com a maestria de quem faz a carne mais dura se tornar a mais macias das carnes.


Entender como as ideias se formam e como elas são manipuladas e enviesadas para atuarem em conformidade com grupos, essa é a missão desse livro. É evidente que a sátira alivia e atenua a situação. Eu costumo dizer que a ficção é um "conceito aplicado a uma realidade simulada". E compreendo os personagens como "pessoas-conceito", onde cada um desempenha conceitualmente o seu papel de forma viva. Dentro de uma obra de ficção satírica, isso equivale a um papel razoavelmente exagerado.


Eu digo que esforço do Christopher Buckley é um ato de recuperação da voz diante do absurdo. É olhar para o mundo em ruínas, completamente tombado pela ridicularidade densa e satirizá-lo não por ele ser sério, mas por ser em si mesmo uma sátira. Christopher analisa a partir de múltiplos pontos, dos quais conhece extremamente bem. É por isso que a sua sátira não é unidirecional, mas multidirecional. A sátira buckleyriana é extremamente humana, densamente humana, como se composta por uma série de corações juntados com uma linha e uma agulha.


Em "Little Green Men", por exemplo, não há só uma sátira para teorias da conspiração e controle do governo. Há também um ponto extremo: a marginalização social dos assim chamados excêntricos. Aqueles que não podem ser controlados pela norma social. Aqueles que escapam das categorias que enquadram e oprimem. Aqueles que pelo não enquadramento, caem no martírio social. Christopher Buckley é particularmente excelente em trazer a ideia de "imagem pública" diante de múltiplos cenários e múltiplos grupos sociais. Em "Thank You for Smoking", isso é particularmente excelente também.


Os conflitos que Christopher Buckley apresenta não são unidimensionais. A sátira não é um reductio ad absurdum do universo que trata. Todas as relações humanas são bem trabalhadas em suas novelas satíricas. Há uma dimensionalidade enorme das relações humanas em suas críticas. Creio que é isso que faz Christopher Buckley ser quem ele é. Mesmo que ele não seja um autor muito lido no Brasil, o brasileiro poderá encontrar nele horas de diversão e de expansão de horizonte de consciência. 


Um dos fatores que me fez amar Christopher Buckley é o fato de que ele não é uma espécie de "alinhado". Não é um homem que toma, em suas considerações, posicionamentos fáceis e rápidos, tal como se seguisse uma cartilha ideológica pronta. Não é aquilo que poderíamos chamar de "orgânico de partido" ou "partidário", mas sim um intelectual que observa atenta e criticamente a forma com que as relações humanas se constroem. Em outras palavras, ele é distinto de muitos intelectuais brasileiros que vivem em função de aprovar ou negar automaticamente (e alinhadamente) conforme a posição do grupo em que se está.


Um intelectual como Buckley não pode ser catalogado de forma simples. Ele não vive em função de um panelismo mequetrefe. Ele não ali para justificar um posicionamento de um político não importando qual posicionamento seja. Em outras palavras, é um homem que estuda múltiplos pontos e toma posicionamentos equilibrados, afastando-se de um viés extremamente militante e ideologizado. A obra de Buckley é mais um apagamento de paixões do que um obra voltada ao propagandismo político.


Num mundo em que a panelização, seitização e tribalização tomam conta do mundo, Christopher Buckley ergue-se como um homem que apaixonadamente despaixona o mundo. Isso leva a uma quebra de encantamentos falsos de bezerros de ouro e seus eternos fetiches mentais rodando em ciclos idiotizantes.


Aquele que não reduz a sua vida intelectual em um exercício contínuo de mesquinharia ideológica sempre acaba por ser afastado dos mais diversos grupos. Isso ocorreu com Christopher Buckley e ocorrerá com qualquer intelectual que seja verdadeiramente livre.

terça-feira, 5 de setembro de 2023

Acabo de ler "O Grande Mentecapto" de Fernando Sabino

 



Li este livro faz um tempão, todavia resolvi escrever sobre ele tão somente agora. A falta de tempo me guiou a isto. Mas como fazia tempo que nada postava, resolvi escrever-lhes agora.


O personagem é chamado de "Viramundo". Tal nome não lhe vem ao mero acaso, o nome surge devido ao fato dele estar sempre envolvido em confusão e de sempre estar alterando o rumo da história mineira com a sua fanfarronice. Quase nunca por escolha própria, mas sim porquê sua habilidade inata - ou seria má sorte? - ou o destino o quis.


Declaro que me identifiquei bastante com o personagem. E o livro é um primor do humor, fazendo que o leitor ria de tempos em tempos e sempre se lembre do livro com um doce carinho.


O livro consegue ser engraçado sem ser clichê, triste sem ser nauseabundo, profundo sem perder o leitor numa miríade de complexidade diabólica que o afasta. Um equilíbrio perfeito conduzido por um grande gênio e autor que goza de profunda erudição sem perder o humor que lhe caracteriza.


No final, fica marcado uma espécie de grito de excluídos, dando margem a uma ampla crítica social e a estrutura da sociedade da época, sem perder a beleza e o encanto humorístico que denotam todo o percurso da obra. É um livro para se ler e reler, imaginando cada cena com todo carinho.

quinta-feira, 8 de junho de 2023

Acabo de ler "Kono Subarashii Sekai ni Shukufuku wo! - Vol 8 - Natsume Akatsuki" (lido em espanhol)

 



Chegamos ao oitavo volume de Konosuba. Já é chover no molhado dizer que este volume também não foi adaptado. Então tomem cuidado com os possíveis spoilers que encontrarão pelo texto.


Este volume prioriza o humor em vez duma trama emocionalmente mais impactante, deixa a impressão até de ser leve. Embora que, apesar disto, tenha um final tocante envolvendo a Eris/Chris. Para ser mais exato, talvez o foco desse volume inteiro seja a Eris/Chris.


Vemos como Eris, Deusa da Fortuna, age diferente de Aqua. Ela realmente se importa com o que acontece no mundo e está sempre agindo por trás das cortinas para ajudá-lo. O que é muito diferente de Aqua que, na melhor das hipóteses, só age a contragosta e tampouco se desenvolve num sentido heróico - ela gasta pontos de habilidades em poderes inúteis.


O humor desta obra também aparece em sua magnitude quando decidem fazer um festival da Eris e da Aqua na cidade. Os seguidores da Aqua são conhecidos mais por sua atitude devocional extremada, caracterisicamente de seita e também por outra: a de serem charlatães em suas vendas. O que gerará vários momentos cômicos. Também temos Kazuma demonstrando seus gostos distorcidos para satisfação pessoal no festival.


Mesmo sem uma carga dramática mais impactante, o volume se destaca pelo seu lado engraçado - que sempre foi bastante desenvolvido - e por demonstrar uma face mais humana de Eris/Chris. É mais leve sem deixar de ser divertido.

terça-feira, 30 de maio de 2023

Acabo de ler "Kono Subarashii Sekai ni Shukufuku wo! - Vol 7 - Natsume Akatsuki" (lido em espanhol)

 



Como na análise do volume anterior, este aqui também não foi adaptado pelo anime. Tentarei suavizar as informações para não comprometer as reações psicológicas daqueles que aguardam ansiosamente pelo retorno do anime.


Neste capítulo, há também um foco em Darkness. Isto é uma escolha surpreendente, visto que já tivemos um volume focado em Darkness e o autor poderia ter priorizado outro personagem para desenvolver a trama. Não que a escolha resulte num produto ruim, muito pelo contrário.


Konosuba trabalha com uma jornada do herói às avessas. Não é o herói que vai para uma terra desconhecida enfrentar o perigo, tendo que perder algo de si para amadurecer e superar a problemática que está imerso. Pelo contrário, é o problema (desconhecido/caos) que busca o herói, como uma espécie de força antagônica que se move em contradição aos seus anseios de vida pacífica. Essa inversão que traz o ensejo cômico da obra e é um mecanismo excelente.


Neste volume, Kazuma também está tentando levar vantagem e viver uma vida fácil - tal como em qualquer outro volume. Mas, novamente, a sua sorte é aniquilada e ele tem que enfrentar diversos problemas, perdendo muito do que acumulou até o presente momento. A trama também traz um lado mais complexo do psiquismo da Darkness, demonstrando um lado virtuoso e heróico nesta garota que parece um oceano de perversão. Isto também complexifica a personagem, dando maior substancialidade e menos caricatura, humanizando-a. Kazuma, para ajudá-la, também demonstra-se capaz de abandonar seu conforto, provando-se um herói e amadurecendo enquanto pessoa.


Este volume é muito interessante. A forma com que os personagens progridem não pode ser ignorada, sobretudo numa obra que é, essencialmente, um humor heróico. Podemos ver que o autor está realmente dando substancialidade a cada volume, demonstrando uma psicologia complexa e um universo colorido.

domingo, 21 de maio de 2023

Acabo de ler "Quién yo?" de Dalmiro Sáenz (lido em espanhol)

 



O livro começa com um cenário que é aparentemente banal: um homem sendo julgado por um crime irrelevante. Este fato pesa a favor do homem e querem libertá-lo o mais rápido possível. Porém essa estranha figura não é tão simples. A forma de se comunicar e interagir também não são usuais. 

Numa narrativa alucinante, vemos o desenrolar de uma história cômica e cheia de confusão. Cada parte da história se sucede como uma reminiscência projetada por uma mente bastante ofuscada. E em todas elas crimes se sucedem.

A grande questão é que a história de um criminoso não entraria normalmente numa estrutura hilariante. É a forma com que o autor encaixa cada parte e a direção que ele leva que dão o sabor da obra. E ele faz isso muito bem.

É uma ótima pedida para quem está buscando uma comédia para se divirta após um longo período de estresse.

quarta-feira, 3 de maio de 2023

Acabo de ler "Kono Subarashii Sekai ni Shukufuku wo! - Vol 2 - Natsume Akatsuki" (lido em espanhol)

 



Voltar a falar sobre essa preciosa obra da cultura nipônica moderna é por demasiado prazeroso. Como já havia escrito antes: o principal aspecto da obra é a disfuncionalidade dos seus personagens centrais, seja a nível de poderes, moral ou de pensamento mesmo. É mais comum um vilão com bom caráter do que um personagem central de bom caráter.


Os personagens centrais são: Kazuma Sato, um ex-hikikomori (pessoa que não trabalha, não estuda e nem faz estágio), que tem uma classe baixa (aventureiro); Aqua, uma deusa pra lá de idiota e, portanto, incapaz de perceber o ambiente e quando deve agir ou não; Megumin, a maga piromaníaca que só consegue usar uma única magia por dia, embora essa seja devastadora; Darkness, a crusada masoquista que investiu todos os seus atributos em defesa já que gosta de apanhar - e, portanto, não consegue atacar.


Nesse volume, vamos descobrindo mais sobre os personagens. A noção de que o grupo que idolatra a Aqua é completamente maluco começa a dar seus primeiros passos. O fato da Darkness ser muito rica é igualmente apresentado numa micro-escala. Por outro lado, o lado pervertido do Kazuma tem um de seus melhores desenvolvimentos nesse volume. Megumin talvez seja aquela que mais passou despercebida em desenvolvimento nesse volume.


Vemos que o autor conseguiu manter um bom ritmo, dando um humor bastante substancial ao mesmo tempo em aumentava a complexidade narrativa.

quinta-feira, 27 de abril de 2023

Acabo de ler "Kono Subarashii Sekai ni Shukufuku wo! - Vol 1 - Natsume Akatsuki" (lido em espanhol)




O que você faria se eu lhe contasse que existe uma história altamente improvável em que um  homem mau-caráter, uma deusa completamente burra, uma cavaleira masoquista e uma maga piromaníaca se unem para derrotar o Rei Demônio numa jornada épica em que os vilões mais parecem heróis e os heróis mais parecem vilões?


Num mundo em que os heróis centrais são figuras distorcidas e problemáticas, Konosuba apresenta toda a originalidade de um autor que veio para quebrar os clichês tão exaustivos e consagradamente repetidos até a demência. Essa é a novela rápida que levou a criação do anime e é tão ou mais engraçada que o anime.


O leitor deleitar-se-á com o humor de um autor que não cansa de bater e alterar tudo aquilo que se tornou comum no universo dos isekais. Distorção essa que é extremamente saudável, tendo em vista a macaqueação sem fim em que se encontram os já batidos enredos que se repetem tanto que chegam a nos levar a pensar que estamos vendo a mesma obra com personagens diferentes e com algumas pinceladas que alteram um pouco a fórmula padrão.


De fato, aqui está uma obra que merece ser apreciada e vista por todos aqueles que têm gosto pela cultura japonesa, sobretudo no âmbito dos animes, mangás, novelas rápidas/pequenas e novelas visuais.

terça-feira, 6 de setembro de 2022

Hoje vamos aprender um pouco do português brasileiro!

 



"Vamos modernizar o Brasil" = obras superfaturadas sem data de entrega - possivelmente eternas - e dinheiro fluindo na mão de burocratas e da elite patrimonialista. 


"Vamos privatizar" = a privatização não ocorre no Brasil, mas sim a privatarização (pirataria + privatização) em que empresas são vendidas a preço de banana e parte do dinheiro da compra é emprestado pelo próprio governo (sic).


PPP (parceria público privada) = literalmente oligopólios, monopólios e corporativismo a rodo para enriquecer políticos e empresários que estão "acima" de qualquer concorrência de mercado real.


Combate à corrupção = ataca a corrupção de outros partidos.


Partidos de situação = literalmente gente que se baseia na popularidade do governo presente e/ou que ganha dinheiro e poder para o defenderem.


Partidos governistas = tudo pelo poder. Fará de tudo para ter poder e até mesmo corromperá a máquina pública com cabides de emprego.


Partidos de oposição = são aqueles que acharam mais vantajoso a imagem de rivais do poder presente pra angariar o poder depois. A depender do lucro e das possibilidades, podem sair da oposição.


Metralhadora giratória = atira para todos os lados para pagar de outsider. 


Realpolitik (política real) = o discurso ideológico só existe para enganar trouxa, no fim, o que importa é o poder e tão somente ele. Logo qualquer tipo de contorcionismo verbal e atitudinal é válido. Relativismo retórico.


"Vou mandar mais verba para (insira qualquer coisa aqui)"  = aumentar o dinheiro que é enviado para qualquer coisa fingindo que isso aumenta a produtividade da coisa que ganhou maior "investimento" sem qualquer estratégia real e também serve para assegurar cabide de emprego dos eleitores mais famosos que sempre ganham alguma boquinha por conseguirem ganhar votos. 


Democracia/ditadura = "democracia é quando eu mando, ditadura é quando você manda".


"Grande pacto de desenvolvimento nacional" = políticos e empresários corporativistas ficarão extremamente ricos com obras superfaturadas.


"Eu não como dólar" = relativismo retórico de gente que pedia dólar baixo.


Delação premiada = corrupto entregando corrupto.


Antifascismo = movimento contra qualquer coisa que não se goste, podendo variar absolutamente conforme as modas do espaço-tempo.

sábado, 13 de agosto de 2022

Acabo de ler "O alienista" de Machado de Assis

 



Quando nos deparamos com um clássico, dependemos de um espírito que a ele se abra e entregue-se. Por muito tempo, o humor de Machado de Assis foi-me estranho. Hoje, com maior maturidade do espírito, dou-me a vôos mais altos e constantes. Sinto-me feliz por ter compreendido e rido bastante com essa pequena obra.

A questão fundamental é a definição da loucura. O alienista busca uma "explicação cabível" ao entendimento da loucura. Hipoteca-se sobre a proporcionalidade, depois desenvolve-se na argumentação contrária. A trama se desenvolve como uma arguta crítica ao senso de sanidade e insanidade, além da mediocridade do senso comum e da idolatria científica dos pedantes. Gerando casos extraordinários de comicidade mórbida. A surpresa é característica presente dum roteiro que se engendra tendo como inimigo a monotonia e a padronicidade. Nota-se que Machado de Assis não era outra coisa se não um gênio.

É incrível como surge a "Casa Verde" e qualquer motivo leva ao encarceramento da pessoa. Todos eram alvos. Todos eram tidos como patológicos em dados comportamentos. Chega-se até num ponto em que a grande maioria da população da cidade estava internada. Só que toda essa incomensurável jornada termina com o alienista descobrindo que, em todo esse tempo, o louco era ele e não o outro - nesse caso, todos os outros.

A enunciação duma política experimental totalitária que cultua a ciência e a ausenciação de um ajuizamento da maioria é uma temática interessante. O livro poderia ser facilmente enquadrado nos grandes livros de distopia. Pode-se falar que o livro que tenho em mãos é um clássico da distopia da saúde mental. E, vejam só, é um clássico inigualável em sua riqueza. Termino o livro maravilhado com a agudeza do espírito do autor. Deu-me boas risadas e um bom entendimento crítico que me será útil até a consumação de minha vida.

quarta-feira, 6 de julho de 2022

Acabo de ler "A Inversão Revolucionária em Ação" de Olavo de Carvalho

 



Achei pertinente dar uma lida num livro do Olavo após um tempo de sua morte. Talvez para enxergar com olhos menos afetados pela sentimentalidade do tempo ou quiçá para um simples entendimento crítico do que estava sendo, até então, exposto nos círculos do jornalismo conservador. Fazia algum tempo que lia mais críticos do Olavão do que o Olavão em si. Li o livro da filha dele e do Meteoro Brasil, além disso, leio o livro do Orlando Fedeli e do Fernando Schlithler contra ele.

Quanto ao livro em si, creio que existam uma série de informações sortidas - é um livro de jornalismo - que, basicamente, variam no grau de plausibilidade e teriam de ser analisadas pormenorizadamente para uma maior razoabilidade. Quanto a estilística do autor, cabe lembrar que o Olavo foi um escritor de nível altíssimo e sua capacidade de escrever bem está acima da média - embora não se possa dizer o mesmo do valor informativo dos seus artigos jornalístico, visto que estão condensados com teorias conspiratórias. O humor do Olavo é sempre surpreendente e é possível dar boas risadas durante a leitura.

Perguntando-me agora a sensação que tenho após ler o Olavo de Carvalho depois de tanto tempo, vejo que sinto falta do "velho fumadeiro". Poderia ter com ele algumas divergências, só que tínhamos vários pontos em comum. E eu francamente achava o velho engraçado. Não ligava para as coisas que discordava ou para o que diziam dele. Ele, para mim, sempre foi uma figura que, pela força de sua personalidade e bom humor, eu sempre ouviria para dar boas risadas ou passar o tempo. Mesmo que isso aparente um desgosto ao querido leitor ou a leitora.

Eu sabia que um dia Olavo de Carvalho morreria, só que me habituei a pensar que não. Tive uma série de amigos que foram olavistas sinceros. Alguns que tive a alegria de conhecer pessoalmente e outros que, pela infelicidade do destino e localização geográfica, só conheci pela net. De qualquer forma, manti-me neutro e distante do debate olavista vs antiolavista. E espero permanecer com minha forma equidistante e confusa por um bom tempo até ter dados suficientes pra uma noção mais cabal.

quinta-feira, 24 de março de 2022

Verdetextomania #1 - MEU DEUS DO CÉU, COMO EU ODEIO TEOLOGIA!

 


>abra um livro de um teólogo

>comece a ler

>"pô, que legal o pensamento teológico"

>frases legais, maneiríssimas

>de repente, uma citação

>aparece um número: "1", "2", "3"

>cada um desses números fazem referência a um capítulo e versículo da Bíblia

>"lá vamos nós, né, mêo?"

>abre a sua bibliazinha

>procura o capítulo

>procura o versículo

>lê

>menos de dez palavras depois, outra citaçãozinha da Bíblia

>"ah, mas ele vai citar a Bíblia diretamente, não é?"

>NÃO

>vamos lá, pega a Bíblia de novo

>a primeira citação foi ao antigo testamento

>essa é do novo testamento

>vai lá, vamos pro Novo Testamento, lê o versículo

>"ah, mas eu não entendi direito"

>lê todo capítulo então, por que não?

>volta pro livro do teólogo

>menos de cinco palavras depois, outra citação

>"ah, tá muito chato esse negócio de abrir a bíblia o tempo inteiro"

>beleza, pega a Bíblia do app do seu celular

>mas eu não tenho a Bíblia no meu celular

>baixa lá o aplicativo

>pô, mas o livro bíblico citado não aparece no aplicativo da Bíblia

>você baixou a Bíblia protestante, baixe a Bíblia católica

>leia o capítulo e o versículo

>na Bíblia do celular é mais rápido

>foi mais rápido, né?

>tá pegando o jeito, safadinho

>você passou da primeira página do livro do teólogo

>agora pega a segunda página

>sete citações indiretas a bíblia

>você olha no campo de referências

>elas indicam cada capítulo e versículo específico

>você terá que ir no seu celular de novo

>vai e olha cada um

>dez minutos depois, você sai da segunda página após ter lido cada capítulo da Bíblia citado indiretamente

>faça isso na terceira, quarta, quinta, sexta página

>meu Deus do céu, que burocracia sem fim

>uma hora e meia de leitura

>você só leu dez páginas do livro

>"por que esse santíssimo autor não citou a Bíblia diretamente?"

>"ah, ele é um erudito na Bíblia, né, mêo?"

>você acaba desistindo do livro do seu querido teólogo

>você joga álcool no livro

>você queima o livro

>você para tudo após xingar o autor mil e quinhentas vezes

>agora você vai lá e assiste um anime

>é menos burocrático, é mais fácil

SIM, EU ODEIO TEOLOGIA!

sábado, 22 de janeiro de 2022

Você já conhece o estilo gamer Sergio Moro?

 



Vamos lá, em primeiro lugar, temos que nos ater as mãos: elas devem estar invertidas. Jogar com mãos invertidas pode parecer um erro, mas demonstra habilidade fora do comum. Imaginem só: "eu sou tão bom que jogo com o controle invertido". Essa é uma imagem de segurança e demonstra uma postura de quem enfrenta inimigos com as mãos nas costas em meio a porradaria. 


O segundo passo? Mensagem nacionalista. Além de jogar bem, a ponto de usar mãos invertidas, você precisa demonstrar que tem uma forte paixão pelo Brasil. Coloque uma mensagem nacionalista. Diga o quanto ama o Brasil e quanto quer defender ele. Só que você não é um defensor qualquer, você é o defensor das mãos invertidas. Você tem garra, coloca uma dificuldade pra si mesmo apenas para demonstrar mais poder e desdenhar os adversários. 


Em terceiro lugar, coloque uma mensagem para algum inimigo ou opositor. Só que demonstre que você é inteligente, que manja das referências simbólicas da cultura gamer e junte-as a realidades políticas locais. Desse jeito, haverá um desaforo sutil, próprio de pessoas inteligentes.


Esse foi, meus caros, o método gamer Sergio Moro.

sábado, 16 de outubro de 2021

Acabo de ler "O Clube dos Anjos" de Luis Fernando Verissimo.




    Acabo de ler "O Clube dos Anjos" de Luis Fernando Verissimo.Sabe aquele livro que facilmente daria um filme bacana? Esse é esse tipo de livro. Com um enredo fascinante, somos conduzidos por uma história bastante estranha, dando-nos conta de fatos da vida e como nos deixamos iludir pelas pessoas e coisas.


    Esse livro poderia ser uma ficção teológica, e talvez de fato o seja. Já que ele dá uma aula magna sobre a anatomia do pecado, mostrando que somos seduzidos por ele e deixamo-nos envenenar. Uma das citações vistas nesse livro é exatamente sobre essa natureza psicológica e teológica: "os deuses são justos, e dos nossos vícios agradáveis fazem instrumentos para nos atormentar". O homem não se deixa envenenar por amar o veneno, mas sim pela doçura atraente do veneno. Os grandes personagens desse livro vão morrendo, um a um, pela sedução do pecado da gula. Coisa que vemos de forma correlacional com outros pecados e outros defeitos, num galopante aumentar de complexidade narrativa. Onde cada personagem é brilhantemente explorado, cada qual com sua história peculiar e também estranha.


    Nunca pensei que veria um livro tão interessante na seção de humor na parte de literatura da biblioteca que frequento. Nunca pensei que um livro que faz parte da seção de humor teria tanta complexidade, seja psicológica, seja teológica. Esse livro certamente está entre as minhas melhores leituras do ano e entre as minhas maiores surpresas literárias.

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Acabo de ler o livro de Craque Daniel.

 


    Acabo de ler o livro Craque Daniel.


    Se a felicidade é a integração na sociedade e o bem-estar dessa mesma sociedade, o ser se perde na justificação contínua para essa sociedade. Cria-se uma linha dura mundana que escraviza o homem em ada ptações eternas para essa sociedade. Toda construção é uma negação de si mesmo, já que mundanismo nunca é aceitação de si mesmo ou autoconsciência: é servidão aos interesses de uma sociedade, condicionamento contínuo ao bezerro de ouro social.


    Trazer o paraíso para Terra se tornou a perda de tempo mais comum do intelectual médio. Talvez isso seja pelo próprio fato de que o moderno e o pós-moderno já perderam as noções mais preliminares de teologia faz tempo. Quiçá seja pelo fato do idealismo tipicamente gnóstico domine o mundo com a sua imanentização escatológica, trazendo não o paraíso, mas uma própria forma de inferno. Ditaduras nascem cheias de boas intenções.


    É preciso ser realista para ser comodista. Não se pode frear o mal no mundo, mas pode-se atenuá-lo através de boas ações, políticas públicas, programas sociais e uma economia com algumas ideias voltadas ao bem-estar comum. O homem que se dedica a colocar o paraíso na Terra só poderá ser um Deus "mais incompreensivo que o do Antigo Testamento". Já que o reino de terror em todas as ditaduras nada mais foi que o "reino de amor" de homens que queriam o bem.


    Um homem que se dedica a ordenar toda a realidade ao seu gosto - mesmo que seu gosto seja bem-intencionado - só pode sofrer pela incapacidade de subjugar o real. Ou delirantemente atacar toda falha como uma conspiração feita por seus inimigos, tornando-se um tiranete ou algo pior: um efetivo líder totalitário. É preciso ser pessimista para reagir com prudência as tentativas infernais daqueles que querem um mundo melhor, já que quase todo mal do mundo vem sempre deles e de suas supostas boas intenções. A sobriedade nos leva a negar o paraíso na Terra, visto que essa ideia sempre leva para o inferno na Terra.