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terça-feira, 26 de setembro de 2023

Acabo de ler "Amor em Segredo" de Sonia Rodrigues

 



Certos livros nos aparecem com um ar de espanto. Ao pesquisar o nome "Nelson Rodrigues", na biblioteca, deparei-me com essa curiosa obra de sua filha.


A relação "pai-filha" é tratada de forma curiosa, visto que seu pai negou-lhe a paternidade diversas vezes. A sua mãe, uma mulher apaixonada, não quis ir atrás também. A filha teve que seguir uma jornada teimosa até que tudo viesse à tona.


Não é de se espantar que o nome "Nelson Rodrigues", um dos maiores autores da história de nosso país, caísse como um trovão no céu ao ser meramente pronunciado devido a grandiosidade de sua obra que, além de excelente, é recheada de polêmicas de alta qualidade.


O livro trás mais da figura de Nelson como pai. Além de sua relação conflituosa com a filha. Todavia não há unifocalidade no tema: há algo de autobiográfico e um quê de gênero de crônica - característica que puxou de seu pai.


Um livro que vale a pena ser lido por todo legítimo fã da obra de Nelson Rodrigues e, evidentemente, de sua continuidade sanguínea.

terça-feira, 5 de setembro de 2023

Acabo de ler "O Grande Mentecapto" de Fernando Sabino

 



Li este livro faz um tempão, todavia resolvi escrever sobre ele tão somente agora. A falta de tempo me guiou a isto. Mas como fazia tempo que nada postava, resolvi escrever-lhes agora.


O personagem é chamado de "Viramundo". Tal nome não lhe vem ao mero acaso, o nome surge devido ao fato dele estar sempre envolvido em confusão e de sempre estar alterando o rumo da história mineira com a sua fanfarronice. Quase nunca por escolha própria, mas sim porquê sua habilidade inata - ou seria má sorte? - ou o destino o quis.


Declaro que me identifiquei bastante com o personagem. E o livro é um primor do humor, fazendo que o leitor ria de tempos em tempos e sempre se lembre do livro com um doce carinho.


O livro consegue ser engraçado sem ser clichê, triste sem ser nauseabundo, profundo sem perder o leitor numa miríade de complexidade diabólica que o afasta. Um equilíbrio perfeito conduzido por um grande gênio e autor que goza de profunda erudição sem perder o humor que lhe caracteriza.


No final, fica marcado uma espécie de grito de excluídos, dando margem a uma ampla crítica social e a estrutura da sociedade da época, sem perder a beleza e o encanto humorístico que denotam todo o percurso da obra. É um livro para se ler e reler, imaginando cada cena com todo carinho.

sábado, 13 de agosto de 2022

Acabo de ler "O alienista" de Machado de Assis

 



Quando nos deparamos com um clássico, dependemos de um espírito que a ele se abra e entregue-se. Por muito tempo, o humor de Machado de Assis foi-me estranho. Hoje, com maior maturidade do espírito, dou-me a vôos mais altos e constantes. Sinto-me feliz por ter compreendido e rido bastante com essa pequena obra.

A questão fundamental é a definição da loucura. O alienista busca uma "explicação cabível" ao entendimento da loucura. Hipoteca-se sobre a proporcionalidade, depois desenvolve-se na argumentação contrária. A trama se desenvolve como uma arguta crítica ao senso de sanidade e insanidade, além da mediocridade do senso comum e da idolatria científica dos pedantes. Gerando casos extraordinários de comicidade mórbida. A surpresa é característica presente dum roteiro que se engendra tendo como inimigo a monotonia e a padronicidade. Nota-se que Machado de Assis não era outra coisa se não um gênio.

É incrível como surge a "Casa Verde" e qualquer motivo leva ao encarceramento da pessoa. Todos eram alvos. Todos eram tidos como patológicos em dados comportamentos. Chega-se até num ponto em que a grande maioria da população da cidade estava internada. Só que toda essa incomensurável jornada termina com o alienista descobrindo que, em todo esse tempo, o louco era ele e não o outro - nesse caso, todos os outros.

A enunciação duma política experimental totalitária que cultua a ciência e a ausenciação de um ajuizamento da maioria é uma temática interessante. O livro poderia ser facilmente enquadrado nos grandes livros de distopia. Pode-se falar que o livro que tenho em mãos é um clássico da distopia da saúde mental. E, vejam só, é um clássico inigualável em sua riqueza. Termino o livro maravilhado com a agudeza do espírito do autor. Deu-me boas risadas e um bom entendimento crítico que me será útil até a consumação de minha vida.

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Acabo de ler "200 crônicas recolhidas" de Rubem Braga

 



Se existe um gênero que eu particularmente amo ler, esse é o gênero de crônicas. A leitura desse livro de 488 páginas foi-me um deleite de finíssimo grau, dando a minha vida aspecto suave e mavioso. Sou apaixonado por crônicas desde que o autor Nelson Rodrigues adentrou em minha vida.

Confesso que quando recebi esse livro, logo o estranhei. Não achava que me interessaria por inteiro pelo livro, mas logo fui conquistado pela riqueza do autor. A forma com que a simplicidade e complexidade se engendram harmoniosamente é particularmente espantosa e espetacular. O autor consegue colocar todo simples assunto num altar, exaltando a simplicidade e demonstrando-a grandiosa. Toda essa apoteose deixa a vida mais enriquecida e bela, com Rubem Braga aprendemos a referenciar os pormenores da vida.

Creio que a beleza salvará o mundo. Até certo momento, tinha um grande problema em encontrá-la. O quão cego eu era. A cotidianidade pode ser incrível, o comum e o fantástico podem ser encontrados no mesmo lugar. Rubem Braga é uma espécie de Chesterton em sua apreciação pelo comum. Não por acaso, Chesterton é citado em uma de suas maravilhosas crônicas.

Passei dias lendo o livro lentamente, sempre apreciando meu novo método de leitura. Nunca pensei encontrar uma rica espiritualidade numa obra que me viria por acaso. Sinto-me grato de ter recebido esse livro dum grande amigo.