Mostrando postagens com marcador desejo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador desejo. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 20 de maio de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 15)

 


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 229 à 232). Com a derrota da primeira revolução russa, algumas conclusões foram tomadas:

1- Era necessário uma expansão do conhecimento doutrinal da doutrina bolchevique por parte dos trabalhadores;

2- Dominar o processo revolucionário era de suma importância para garantir a permanência e vitória plena da própria revolução;

3- O partido que liderasse a revolução também seria o partido que dominaria o Estado revolucionário que surgiria dessa mesma revolução.


Ora, a política não é uma arte fácil. Ela é bruta e ao mesmo tempo sutil. O "sutil" empregado aqui está no sentido "esotérico" de "mundos sutis", isto é, mundos que precisam de alto conhecimento para se compreender a sua dinâmica processual na totalidade ou quase totalidade de sua inerente complexidade. Os bolcheviques, sobretudo os seus líderes, habituados na leitura dum pensador tão complexo quanto Marx, não seriam incapazes de compreender tamanha necessidade. Além disso, a política é bruta pois se dá em paralelo a dinâmica dos desejos que se conflitam e dos poderes que se anulam. O acúmulo do poder também é, por sua vez, a possibilidade de efetivação do próprio desejo.


Todos aqueles que batalhavam naquele período turbulento queriam o poder para efetivar o próprio desejo. As múltiplas versões revolucionárias, as versões reformistas e até mesmo as reacionárias. Todas queriam o poder para realizar o próprio desejo. Seja o desejo de sua classe, de seu grupo, de sua religião, de seu povo ou um desejo de natureza pessoal. Essa é, em si mesma, a natureza do poder e do seu conflito que é sempre intrínseco e, quiçá, necessário.

quinta-feira, 14 de março de 2024

Acabo de ler "Dorotéia" de Nelson Rodrigues

 



Por vezes uma sociedade padece, se entristece, pela ausência da liberdade. Essa peça pode ser encarada de uma forma psicanalítica, sobretudo na psicanálise de Reich, por causa do desafio proposto por ela: o que é o ser proibido na esfera de sua sexualidade? Aí é que está a chave que pretendo utilizar nessa análise.


Veja que faz parte do regulamento do ser o orgasmo. A ausência do orgasmo pode ser sublimada por um esforço produtivo, mas será que esse esforço deveria ser compulsório? Sociedades mais fechadas buscam minar a sexualidade e as sociedades fortemente telúricas - como as fascistas - buscam até reprimir a sexualidade com tudo que estiver ao alcance de suas mãos. Não por acaso, a repressão à sexualidade feminina, a minorias sexuais (LGBTs), a busca pela padronização, tudo isso marca o regime fascista. Todavia não estamos nesse contexto, embora seja salutar observar tal parte.


É preciso compreender que a ausência de uma liberdade de desejo, de liberação de desejo, de satisfação pulsional é uma forma de criar uma sociedade adoentada e suscitar nela os mais terríveis delírios. A insatisfação pulsional gerará constantemente crises psíquicas. E essas crises gerarão um estado exacerbação. Esse estado posteriormente poderá ser utilizado metodologicamente para uma missão. E é assim que a sociedade extremo-telúrica se alimenta e retroalimenta: da insatisfação de seu desejo em conjunto com uma condução coercitiva de esforços a um inimigo determinado para o reforço de sua mentalidade coletivo-normativa.


Nelson Rodrigues, ao escrever essa peça, caçoa dos pensamentos bizarros sobre o que é a humanidade e todo o misticismo por trás das proibições e negações que grupos sociais criam para si mesmos para se negarem. O que é bastante interessante, visto que é sociologicamente útil para compreender os dramas sexuais que existiam nessa época.


Como sempre, a obra rodrigueana é marcada por uma capacidade de abertura que possibilita uma análise crítica duma série de conjunturas. Demonstrando a genialidade do grande mestre que é e foi Nelson Rodrigues.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Acabo de ler "Amores Proibidos na história do Brasil" de Maurício Oliveira




Nada melhor do que terminar o ano lendo sobre o amor, não é mesmo? Este livro traz uma perspectiva intensamente interessante: partes da história de nosso país contada através da situação romântica de homens e mulheres que marcaram a história do Brasil. Um prato cheio para quem busca estudar nossa história sem o fardo de se perder no vaivém burocratizante e sonífero que toma conta da nossa história extremamente academicizada e pouco apaixonada.


Aqui o leitor entra em contato com uma realidade que transcende a banalidade oficialesca que é usual nossa forma histórica-narrante, isto é, ele sai das condições do castelo de marfim dos padrões normativos e adentra nos terrenos ocultos e íntimos do amor. O leitor, pouco a pouco, compreende que os grandes homens e mulheres de nosso país não eram tão somente figuras de ação política, cultural ou econômica: eram homens e mulheres normais, infinitamente normais, e, portanto, ligadas ao ato profundamente humano e normal que é o ato de amar.


O que move a história é mais do que uma gigantesca maçaroca de idealidade abstrata. O que move a história é muitas vezes o desejo de amar e ser amado. E esta necessidade leva os seres a grandes ideias. O amor precede tudo. O amor é o guião da inteligência e dos grandes atos. Até mesmo a ciência está envolta deste calor efervescente a qual poderia chamar de chamas do amor. A ideia de que estamos separados do imaginário e da busca do Ordo Amoris em todos os nossos atos nada mais é do que uma construção da própria imaginação humana e a objetividade nada mais é do que um fruto dum desejo subjetivo.


O leitor corre um grande risco ao entrar em contato com esse livro: o de ver-se humano. Quando nos vemos como humanos, apaixonamo-nos e deixamo-nos a mercê dos ventos da impotência da volatilidade do desejo. E, quiçá, em uma época tão dominada pela idealidade vazia dum maquinacismo vil, exato e proporcionalmente desumano, esta ação de se deixar levar seja a nossa principal lição.

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Acabo de ler "Teatro Completo: Peças Psicológicas" de Nelson Rodrigues

 



"E se, todavia, quereis saber, ainda, o que quer dizer 'Viúva, porém honesta', eu vos direi: sua mensagem é demoníaca. Por 'demoníaco' entendo eu esse impulso que vem de dentro, das profundezas, esse grito irredutível contra tudo e contra todos que falsificam os valores da vida. É essa negação da ordem social, política, familiar ou religiosa que já apodreceu ou que representa verdades esgotadas"

Nelson


Já terminei de ler mais e de analisar mais da metade das peças teatrais de Nelson Rodrigues. Não dum tradicional, visto que o faço de "modo abstrato" para evitar dar spoilers ao possível futuro leitor e pelo fato de que o objetivo das análises postadas no Instagram é o de serem curtas, breves e rápidas de serem lidas.


Ler Nelson Rodrigues em sua forma teatral vem mudando toda minha percepção da realidade. Sempre fui muito próximo de sua obra jornalística e a sua obra literária mais voltada ao romance, mas como não fui muito próximo ao teatro, nunca tive muito interesse em ler a sua expressão teatral. Em minha vida, tinha lido poucos textos teatrais. A leitura dessas obras é fruto dum gosto muito recente. Juntei o útil (ler um gênero literário que eu tinha pouco contato) ao agradável (ler a obra de Nelson Rodrigues).


Pretendo, todavia, só terminar a leitura da obra teatral de Nelson Rodrigues ano que vem. Atualmente tenho que terminar uma série de outros estudos e para adiantá-los preciso largar um pouco de minhas chamadas "leituras livres" - que não deixam nem por um momento de serem intelectualmente proveitosas.


Creio que se pudesse dar uma recomendação aos estudiosos, recomendaria a leitura mais acentuada do corpo literário de Nelson Rodrigues. Apesar das diferenças culturais geradas pelo tempo e a suavização dos costumes que Nelson criticava, ainda há um quê que nos escapa profundamente: a angústia da desejabilidade que temos enquanto seres humanos de natureza essencialmente transcendental. O nosso desejo se choca com o mundo e nem sempre o mundo lhe corresponde, e isto leva a um sofrimento e é deste sofrimento (desejo x contradição) que a obra de Nelson trata particularmente bem.

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Acabo de ler "A Mulher sem Pecado" de Nelson Rodrigues

 



Creio que a principal questão dessa peça seja a angústia que é desejar. Se o desejo é um sentimento e o sentimento é volúvel, nunca sabemos se a pessoa que amamos nos ama de verdade - ao menos não de forma permanente. Não havendo como averiguar isto de forma definitiva, fazemos por meio de testes periódicos que, muitas vezes, só demonstram nossa própria fragilidade e insegurança.


Quantas vezes pomos o "o objeto" de nosso desejo em situação constrangedora para nos sabermos amados? A ridicularidade da insegurança sempre explode em gesto amargo. O doce, quando exigido e quanto mais exigido, torna-se mais e mais salgado. Nelson Rodrigues nos fala, por meio do extremismo típico de sua obra, do patético profundo de nossa inseguridade emocional.


Há um jogo de contradição aí: é profundamente humano desejar ser desejado, todavia ser desejado não é um "direito" e tampouco uma "obrigação" do próximo e, muito menos, do nosso interesse romântico-sexual. É neste sentido que o desejo é triste: ele está sempre atado a uma complexidade dinâmica e nosso coração sempre pena por conta disto. Há sempre um jogo que escapa a compreensão de nosso intelecto e aos anseios de nossos corações.


Adequarmo-nos ao anseio do outro e coagirmos o outro a adequar-se aos nossos anseios, eis a verve tiranicamente patética de nossas relações pautadas em medos, inseguranças, cobranças e castrações. Nada mais humano, nada mais desumano, nada mais simples e nada mais complexo. Humano, demasiadamente humano e, como tal, além do bem e do mal, além dos maniqueísmos conceitualescos que escapam da tensionalidade difusa e inconceituável  que é a vida em si.


Ler Nelson é, como sempre, uma forma de libertação. Há sempre um apontamento para uma humanidade que temos em cada um de nós, mas que sempre escapa devido ao nosso medo de nos descobrirmos falhos e humanos. Ou melhor, descobrirmo-nos falhos pois somos humanos e humanos são falhos.

domingo, 5 de novembro de 2023

Acabo de ler "Toda Nudez Será Castigada" de Nelson Rodrigues

 



"O ser humano é louco! E ninguém vê isso, porque só os profetas enxergam o óbvio!"

Patrício (personagem de Nelson Rodrigues)


Enquanto que uma pessoa normal é vista como aquele que é a réplica da média social da sociedade em que se inscreve, a pessoa neurótica é uma em que o próprio desejo, e não a adequação social, é o impulso ordenador e dirigente da vida em si mesma. Logo o neurótico dá voltas em torno de si mesmo, de forma mais ou menos obsessiva.


A obra de Nelson Rodrigues é uma galeria de neuróticos. Neuróticos compulsivos. Pessoas portadoras dos desejos mais viscerais e mais sombrios. Capazes dos atos mais ensandecidos, das ações mais sanguinárias, dos amores mais mortais. A atrelação ao próprio desejo cumpre uma função trágica: essa guia a uma série de desentendimentos que, pouco a pouco, carregam as personagens da trama numa série de complexidades e complexos que posteriormente lhes esmagarão. Em Nelson Rodrigues, o desejo é triste pois (seu desfecho) é trágico.


Pode-se questionar a cultura em que Nelson Rodrigues estava imerso: a repressão social nas ações de indivíduos levava a quadros de extremização de conflitos. O corpo social atuava tiranamente - mais do que nos tempos modernos -, e a singularidade do ser era enfraquecida diante da própria impotência perante uma sociedade marcada por impulsos normatizadores. O desejo daqueles que são anormais são vistos como passíveis de ódio e logo passam pelo tribunal inquisitorial da sociedade.


O ser deseja e, na medida em que deseja, se vê diante da impossibilidade de desejar sem ser punido. Se o desejo vem de sua essência e ser a si mesmo é o mesmo que ser punido, a vida em si mesma é intolerável e deste conflito surge uma grande pulsão destrutiva. E é disto que a obra de Nelson Rodrigues retrata dramaticamente bem: a pessoa em sua mais triste singularidade a ser punida pelos desejos que não desejou ter. O pior tipo de punição é a punição sem escolha, essa mata o ser pouco a pouco.


A obra de Nelson Rodrigues nos faz repensar a nós mesmos e a nossa sociedade em conjunto. E também se somos o que somos ou a negação do que somos.

sábado, 28 de outubro de 2023

Acabo de ler "Napoleão" de Leslie McGuire

 



O ser humano se realiza na medida em que seus desejos se externalizam na conjuntura do real. Quanto mais externaliza seus desejos, mais o universo é carregado de simbolicidade. A simbolicidade no espaço nada mais é do que a alma do homem tomando forma física no tempo-espaço.


Quando falamos de grandes homens, falamos de homens que dalguma maneira foram capazes de, além de suportar a multiplicidade anulante do mundo, contornar o mundo a seu favor e retocá-lo com a tinta de sua alma. O mundo é, nas mãos de um grande homem, a escultura que os gigantes deixaram.


Napoleão tinha dupla qualidade: o fogo solar duma gigantesca paixão e a monumental capacidade técnica. Quando estas se alinhavam, nada poderia impedi-lo. Ele era como um deus em meio a mortais.


Evidentemente aqui há mais uma reflexão da vida e dos sonhos do que uma endossamento das ações de Napoleão. Porém não consigo, na situação atual, pensar em fazer uma análise da mesma forma: analiso por meio da minha subjetividade circunstante e não por um método geral bem delineado.


Creio que este é um livro bom para quem queira refletir a própria vida, a história e, igualmente, compreender mais sobre um dos homens mais geniais - não no sentido moral e sim na capacidade estratégica - que a humanidade gerou.

quinta-feira, 21 de abril de 2022

Intimação a Si #2 - E quando adaptar-se torna-se negar-se, o que sobrou do resto que havia em mim?




1. Imerso em tensionalidade, busco um pouco de fuga no sossego. A música sacra se encontra ao lado de minha libidinosidade deturpada. Amá-lo é ofender a quem amo, não amá-lo é negar a profundidade do que sinto. 

2. O que sobra de minha leitura? Talvez a realidade a qual me choco. Amo-o como amo a catedral. Só que pode o inferno posicionar-se tal como se fosse o céu? Por um lado, a construção de uma vivência super-egóica, por outro a romântica-sexual que, tal como um Deus-Vivo, a tudo evade. Nada pode deter o amor que sinto, só a ansiedade neurótica do condicionado que condiciona sempre ao enquadro.

3.  Se ele é bom ator, ator o suficiente para separar o teatro da vida, como eu que pouco sei de teatro posso alcançá-lo nessa originalidade que ao palco se sobressai pelo coração pulsante que a vida deseja e a sociedade escapa? Quero-o. Desejo-o tanto quanto sinto que a minha carne é de carne. Só que o que temo é esse corpo imaterial a qual chamamos de sociedade. 

4. Sinto que meu coração que hoje se homorromantiza fosse tão de fogo quanto o coração queimante de Agostinho de Hipona era de fogo. E quando ele está a queimar meu coração até meu corpo se queima e sente a minha alma. Tão empírico quanto Aristóteles meu corpo pulsiona, tão idealístico quanto Platão minha alma transcende e aos céus se direciona. A metafísica celeste e a homossexualidade dançam numa dialética que ao meu coração agrada!

5. E quando adaptar-se torna-se negar-se, o que sobrou do resto que havia em mim? Com o bater do martelo, vem-me só o desejo de para sempre amá-lo.