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quinta-feira, 27 de junho de 2024

Acabo de ler "Dracula Defanged: Empowering the Player in Castlevania" de Clara Fernandez-Vara (lido em inglês/Parte 1)

 


Nome completo do artigo: Dracula Defanged: Empowering the Player in Castlevania: Symphony of the Night


O que há de tão interessante em Castlevania? Talvez seja o fato de você lutar contra criaturas malignas e salvar a Terra. Talvez seja porquê é legal chicotear monstros num Castelo Metamorfo. Talvez seja simplesmente porquê violência simulada em um ambiente virtual fantasioso seja divertido. Talvez seja a própria ambientação louca do Castlevania, o fato do Castelo ser a imanentização dos medos da humanidade, do inconsciente de todos que passam e vivem lá, de como ele se altera e adapta conforme o psiquismo humano coletivo e pessoal. De qualquer modo, Castlevania fornece múltiplas possibilidades, não só narrativas, como estéticas, como de gameplay.


A autora estabelece que fará uma distinção: existem dois vampiros centrais dentro do jogo. Um é um semivampiro, o Alucard. O outro é um vampiro muito específico, visto que é o vampiro central e "pai" de todos os outros vampiros, o Drácula. A linha narrativa de cada um desses vampiros segue em linhas opostas. O que demonstra que não há um "modelo universal de vampiridade". Essa contradição já se observa no nome: Alucard é Drácula de trás pra frente. O que significa não só uma coincidência, como uma contradição entre visões de mundo e até mesmo um conflito existencial que se projeta em cada momento do jogo.


O mais interessante disso tudo é o fato de que Alucard tem os mesmos poderes básicos do Drácula. Até porquê ele é filho do próprio Drácula. A questão familiar é bastante interessante, visto que o mais natural seria que o Alucard fosse do "mal" e se aliasse ao próprio pai em sua luta contra a humanidade. Tal não é o caso observado. O que se observa é o conflito entre o rei dos vampiros e o princípe dos vampiros. O jogador encarna e aprende a ser um vampiro pouco a pouco. E essa linha contraditória leva ao próprio Alucard entrar num questionamento existencial: ele é o legado direto do rei dos vampiros e são os poderes vampíricos que ele usa para derrotar o rei dos vampiros. Isso fornece uma tensão que não escapa ao senso de observadores atentos.

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Acabo de ler "A Metamorfose" de Franz Kafka

 




Poucos livros me deram tensões sentimentais tão grandes quanto esse. Lê-lo é terrível e, contraditoriamente, apaixonante. A expressão "incompreensível" é o que marca o sentimento que nutro. Ao mesmo tempo em que me horrorizava, tornava-me mais e mais expectante do resto da história.

Se um dos princípios reguladores da vida social é a comunicação, o que fazer quando nos tornamos incomunicáveis? A própria capacidade das pessoas de nos entenderem se perde. Tornamo-nos, quase que ao todo, ininteligíveis. A vida precisa de uma previsibilidade que dê seguridade ao campo comum. Sem isso, entramos numa zona de conflito desconcertante pois já não sabemos o que esperar.

O personagem central, Gregor Samsa, torna-se um incompreendido atado a própria subjetividade que se torna uma maldição inerente. A família passa a vê-lo como um fardo e, depois, como um perigo. Isso me passou uma terrível impressão psicológica, dando-me mais e mais desespero enquanto eu lia o livro. Era-me aterrador a ideia de tornar-me um monstro - mesmo que isso seja objetivamente impossível.

O livro é uma obra de terror. Um terror que adentrará no imaginário do leitor e o tirará da esfera do compreensível em todo momento e sempre se desdobrará num inesperado que logo engata outro inesperado. Por um lado, torna-se fascinante. Por outro, leva-nos a um questionamento acerca da nossa natureza mais íntima e sombria.

Certamente um livro horripilantemente denso, capaz de proporcionar não só um entretenimento como uma reflexão acerca  de nossa própria interioridade.