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terça-feira, 23 de setembro de 2025

Contos e Crônicas de um Cotidiano (In) comum

 

  E é com muito gosto que  eu, Clarice L. M., agradeço o espaço aberto pelo Cadáver Minimal. Com isso, poderemos assistir juntos aos desenrolares das tramas na série Contos e Crônicas de um Cotidiano (In) comum, onde o cotidiano se mostra não só ele como um todo, mas que também respira, observa, age e nos suga, instiga, e nos obriga a seguir por essas andanças 'desbundadas' que chamamos de sobreviver. 
Acontece que a existência é uma desgraça que nos é dada como uma dádiva  feita por Força Maior mas, na real, é apenas um selo obrigatório que nos e forjado sem nosso consentimento, nos fazendo viver e sofrer para, dessa forma, encontrar sentido no sofrimento. E é seguindo esse jeito niilista  e puramente brasileiro de ver as coisas que nossos camaradas vão nos guiando. 

  Bem, caro leitor, creio que pouco lhe importa quem é essa pessoa que lhe escreve, mas creio que há de ser de muito gosto para seus olhos e mente o que escrevi aqui. Talvez tenha 'escrevido' com tal carinho, ou como quem sangra tinta. De certo, deixo os entendimentos com você.

Boa leitura. Ou nem tão boa assim. 


‘’Remendado”


Capítulo 1: Quid pro Quo


—  Já vou, deu 18H já. Amanhã venho mais cedo, seu  Ruy. Fica na paz. 

—  Falou. Até amanhã. ‘Tamo’ junto!

 

Ouço as palavras daquela figura, e bato meu ponto. Desço as escadas, e alcanço as pedras da calçada desgastada. Ventava bastante, e as demais lojas do calçadão já estavam fechando-se.


 E, assim, eu encerrava mais um dia de trabalho numa fábrica de tecidos em Duque de Caxias.


Numa dessas noites abafadas do verão da Baixada Fluminense, me peguei deitado no chão do quarto encarando o teto. Meu dia havia sido cansativo e, na noite anterior, mal preguei os olhos para uma boa soneca. Andava eu, dessa forma, vivendo de forma autômata: casa/emprego – estudos–  emprego/casa. Pensar em um relacionamento se tornou algo incomum para mim, visto que as pessoas se tornaram mais exigentes e, no mercado, o meu modelo ultrapassou. No emprego que eu nunca quis, me paga razoavelmente bem; suficientemente bem para sobreviver – afinal, o nome é salário mínimo por isso. Se fosse salário máximo se chamaria Subsídio Parlamentar. 


 Eu sou um alguém de 27 anos; estudante, sozinho, trabalho como almoxarife em uma fábrica de tecidos,  cansado da minha própria essência e cheio de perguntas. Nas horas vagas, escrevo coisas – tais como esse relato do emplastro de impropérios que é o que chamamos de vida. Ao meu ver, claro; não faça de minhas palavras as suas, o que uma pessoa louca diz não se escreve, é o que dizem por aí. O que chamam de loucura, chamo de enxergar além da bolha que nos rodeia cronicamente. Noutro dia, em minha rotina diária de retorno para casa no ônibus Caxias-Magé, o motorista teve de parar pois – vejam só; um idoso fumava no banco dos fundos e ‘’não sabia dessa proibição’’ – o que atrasou a viagem em 36 minutos apenas por conta das negativas do mesmo em apagar o fumo, ou deixar o veículo. Haviam placas, avisos, etc. E o nosso saudoso senhor resolveu-se por ele mesmo que era de bom tom acender o bendito fumo… Ao fim das contas, apagou o fumo e… desceu um ponto depois. Enfim, casos do acaso.


Observando esses pequenos atos, vejo que nada sei da vida. Atitudes, falas, lugares. Porque as pessoas se permitem levar pelas emoções? Falando assim, até parece que não sou um humano, não é, caro leitor? Tenho endereço, mas minha alma não tem CEP. Mas o fato é que intriga-me a vida; com ela, tive as mais diversas prosas acerca do existencialismo:


– E o que fazer quando se sente uma dor que uma aspirina não cura? Basta chorar? Basta que eu inunde minha alma com minha dor, e lave minha pele com as lágrimas que produzo ao exaurir de minha existência todas as lamúrias que me assolam? Devo deixar que meu corpo reverbere meus sentimentos? Ah, se eu quisesse ficar triste, estaria lendo Schopenhauer – ou apostando na bolsa de valores.


 A verdade é que eu sou uma pessoa sem passado, e não me importo.  Por muito custo, trabalhei meu cérebro para que ele me fizesse lembrar apenas dos bons momentos da minha existência desde então; os resultados foram que apenas tenho vagos destes flashes e, em um desses, eu era recebido com um sorriso por um rosto feminino. Vendo tal face, tentava eu então sorrir e retribuir o gesto, mas eu só chorava. Não conseguia falar nem me mexer por conta própria, mas eu estava feliz. Foi o único momento da minha vida em que senti a felicidade verdadeira, sem sofrimentos, sem dor. Acho que é por que eu tinha acabado de chegar, e não me explicaram o que ocorreria após aquele primeiro choro.

Creio que, na próxima vez que eu sentir tais sentimentalidades, será em meu leito final, com um verme que me narra ao pé do ouvido minha vida para, ao fim da estória, me roer da carne aos ossos. 


Mas, ah… Esses não são assuntos niilistas ou depressivos, não… 


Prezado (a), busco aqui esclarecer o que levaram aos fatos da minha prosa, da minha narrativa. Aos fatos que se sucederam, devo afirmar que foi de uma total falta de decoro do Destino. 


 Em primeiro, venho de uma família cheia de percalços e ignorâncias. Minha mãe teve filhos cedo, e achou ser de bom tom ter mais filhos para segurar o relacionamento com seu primeiro esposo, meu finado pai. Mal sabia ela que ela estava apenas produzindo herdeiros de sua pobreza geral. Após suas desilusões, casou-se com meu padrasto, e teve mais dois filhos, as joias de sua coroa. Após isso, foram muitas águas a rolar nos rios da vida e, eu, marinheiro de primeira viagem,  entrei de bucha nessa empreitada que chamamos de ‘’viver’’ – e sem bote, sem  saber nadar. Já fui muito traído: Há, há! Se o chifre fosse dinheiro, seria eu uma criatura abastada! Eu apenas tiro risos desses casos, pois de nada me adianta remoer essas coisas. Mas também traí. Tão pouco quanto acho que deveria, mas… enfim. Não me cabiam mais e, nas épocas, não estavam sob meu controle. Nada nunca está sob controle. Não temos controle de nada, afinal. 


 Por exemplo: minha amiga da escola, Eloísa, tem 27 anos, como eu, e vem de uma família que também não tinha a estrutura familiar sólida, tampouco a estrutura educacional. Ela foi expulsa de casa pela mãe  e vivia sendo perseguida pela mesma, e viveu com seu primeiro namorado dos 16 até os 24. Nesses tempos, separaram-se e ela teve um filho fora do relacionamento. Depois dessas idas e vindas, teve mais um filho com seu primeiro ex… separou-se e agora vive com seu terceiro ‘’amor’’.  Ela é a prova viva de luta, sucesso e retrocesso. Contando mais sobre essa bela amiga, após muito sofrer em sua humilde vida, voltou a estudar – coisa que havia deixado para trás desde seus 14, que foi quando sua mãe a expulsou de casa. Estudou, formou-se no ensino médio e conseguiu a bolsa de estudos que tanto havia tentado… tudo parecia perfeito. Exceto pelo fato de que caiu em um imenso ócio, a levando a viver de bicos: desde trabalhos simples  aos mais elaborados. Às vezes, me pede dinheiro emprestado, quase implorando. Ela não está assim por falta de oportunidades, mas por sabotagem da vida e da sociedade.


Dia desses, vinha eu pelo meu caminho quando resolvi ir até sua humilde casinha para tomar um café e ver como anda sua vida. Caminho pelas ruas de terra batida, e paro em frente ao seu portão. Chamo, e pouco tempo depois, ela me atendeu com um sorriso. 


– Boa noite! Entra, vou passar um cafezinho. Tá quente, né? Entra aí, senta na varanda. 


Ela me cumprimentava com felicidade; poucas das visitas que ela recebia eram da agente de saúde do postinho e minhas. Assim como eu, ela era sozinha no mundo – não por ser ‘’sozinha’’, mas por não ter os totais apoio e visibilidade que merece. Sento-me na varanda, e observo enquanto ela retorna, e senta em uma cadeira em minha frente.


– O outro está no quarto, as crianças estão vendo TV. Colei o ABC nas paredes do quarto deles, é bom que, dessa forma, vão aprender um pouco vendo as imagens. Vão ficar curiosos e vão querer saber mais e… 


 Ela iniciava sua fala enquanto acendia um cigarro feito de tabaco e maconha. As olheiras em seus olhos lhe davam uma estranha beleza, e seu sorriso amarelo era tal como o de Gioconda. Pela forma com que seu corpo se comporta na cadeira, é de bom tom afirmar que está há algumas boas horas sem dormir – o que lhe era comum desde a época de nossa mocidade, tendo em vista que são anos de amizade com tal criatura e acabei reparando, em todos esses anos, em seus trejeitos. Convivência é isso. Eu dou um gole seguido de outro no café, que já estava morno, enquanto ela me contava suas novidades com alguma empolgação. Dando uma pausa para respirar e falar entre uma tragada e outra, ela se  levanta, e vira-se em direção à cozinha para pegar mais café.


– Já volto, fuma um cigarro também. E, quando eu voltar, você me conta suas novidades. Eu só falei até agora, e você apenas escutou. 

– Sou um bom ouvinte, não gosto de interromper ninguém enquanto a mesma fala, você sabe. Disse-lhe, lançando um sorriso sonso em sua direção enquanto sigo seu ‘conselho’ e acendo um cigarro.


– Você sempre foi esquisito. Bem, já volto. Ela se vira, e some através da porta. E apagando as luzes ao passar pelos cômodos, encostou a porta da cozinha ao sair, retornando com mais cigarros de maconha e café. Ao que parece, teríamos uma longa conversa. Ah, não que eu não goste de uma boa prosa, fora que o clima está ótimo pra isso.


– Pelo visto a conversa vai ser boa. Falo, sorrindo, ao notar sua aproximação. Ela senta novamente na cadeira de praia, e acende um cigarro. Bebe um grosso gole de café e, por fim, desaba:


– Estou cansada de lutar por um bem maior, sabe? Tento ajudar, mudar o mundo e os meus problemas e, ao fim, retorno ao começo. Sinto-me tão forte, mas tão impotente ao mesmo tempo. O outro não gosta de conversar sobre os temas que estudei; geralmente ele leva um assunto como culinária, sociologia e comunismo para o lado pessoal. Tudo o que se fala sobre quaisquer temas tem de se filtrar, pois ele se sensibiliza á ponto de afetar nossa convivência. Ou seja: casei-me com um indivíduo sem um pingo de inteligência emocional. Eu converso sobre tudo um pouco, e ele não demonstra interesse algum, assim como a grande maioria.


Eu me inclino à frente e trago o cigarro, logo encho meu copo com café;


– E você, do jeito que é, já sabia bem o quão ignorante é aquele homem, e a sociedade em si também. Você bem sabe disso, não é cega. Hoje, no trabalho, seu Ruy veio comentar sobre o tal novo zagueiro do Flamengo, sendo que estou eu pouco me lixando para o futebol e seus ‘‘heróis’’ – ouvia e concordava apenas para não perdurar o assunto, caso expusesse minha devida e real opinião acerca do mundo futebolístico. A sociedade é assim:  exaltam algo que não irá mudar em nada as suas vidas, e sensacionalizam os que ainda possuem o mínimo de consciência de classe, do lugar de onde veio e para onde vão. Por fim, nosso país é um retrato de insoberania –  de futilidades, de uma massa emburrecida, vilipendiada, ignorante e entorpecida pelo boçal, drogados pelas grandes mídias e pelas culturas de retrocesso. Uma nação completa sofrendo lavagem cerebral em simultâneo, silenciosamente. 


Ela suspira, e traga mais uma vez o cigarro. Estica as pernas e engole o resto de café frio da velha caneca de alça quebrada que segurava:


– Deus, perdoai-nos. Não sabemos o que fazemos mesmo com o óbvio estando tão claro diante de nossos olhos. Mesmo com toda a clareza, fazemos o velho quid pro quo. 


 Seguimos nossa conversa afiada acerca da sociedade e da vida até umas 23h e pouca da noite, que foi quando achamos de bom tom irmos cada qual para seus cantos e, assim, tentarmos dormir enquanto idealizamos uma sociedade sem tanto proselitismo e hipocrisia velados de ajuda e complacência (...).





Continua na próxima Terça-feira, às 23h.


quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Acabo de ler "Mobilize New Recruits and Conduct Political Work Among Them" de Deng Xiaoping (lido em inglês/Parte 2)


Nome:

Mobilize New Recruits and Conduct Political Work Among Them

Autor:
Deng Xiaoping


Para sobreviver ao avanço japonês se fazia necessário uma alteração nos métodos de recrutamento. Não só isso, era necessário um movimento pedagógico para que o povo compreendesse que deveria repelir a agressão japonesa. A compreensão da necessidade da luta e um método de recrutamento para a gloriosa libertação nacional deveriam ser o foco do movimento de libertação nacional.

O movimento de recrutamento deveria ser, nas palavras de Deng, um movimento de agitação e propaganda. Esse movimento de propaganda teria: óperas, músicas, jornais, conversas privadas. Todo esse movimento de conscientização se demonstrou muito mais assertivo que um recrutamento movimento por coerção.

Outro movimento muito interessante foi o fato de que convidavam pessoas para jantares. Nesses jantares militares e civis se encontravam para conversar e compreender mais da natureza da guerra que estava em curso. Foi ali que o povo compreendeu que bons homens poderiam sim entrarem na guerra para defenderem o país e as pessoas que tanto amavam.

Uma das condições necessárias para a vitória da guerra contra o Japão foi a incorporação da guerrilha como uma prática. Isso enriqueceu demais a luta libertacional. O que se juntou a propaganda, a educação e a persuasão.

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Acabo de ler "The Agony of the American Left" de Christopher Lasch (lido em inglês/Parte 3)

 


Naquela altura do campeonato, vendo o triste fim da União Soviética que estava embebida no totalitarismo, a ideia de uma construção social lógica e perfeita era impossível. Logo a possibilidade mesma de um mentalidade revolucionária era impossível. Era preciso ir além dos limites de "esquerda", "direita" e "centro". Se fazia necessário uma visão de mundo mais modesta, menos baseada em abstrações e mais pragmática em seus meios e fins.


A ideia de liberdade total ao indivíduo ou segurança total ao indivíduo eram duas totalidades opostas, uma defendida pelo liberalismo e outra defendida pelo socialismo. Essas duas abstrações marcavam a ferro e fogo o mundo. Era uma pauta muito "tolerante" para a animosidade polarista que tomava o mundo na Guerra Fria. O mundo estava dividido entre "dois grupos" e os grupos opostos tomavam todo e qualquer discurso do lado oposto como uma espécie de propaganda. A neutralidade, advogada por muitos intelectuais, parecia uma espécie de reforço a um dos lados – mesmo que essa não fosse, muitas vezes, a intenção.


O anticomunismo tinha algumas vias. Uma dessas vias era o anticomunismo reacionário, um anticomunismo mais à direita. Só que esse anticomunismo não era a única via anticomunista. Havia – e há – um anticomunista humanitário e mais ao centro ou à esquerda do espectro político. Esse anticomunismo é, muitas vezes, objeto de escárnio ou descrença. Muitos ex-comunistas eram anticomunistas e muitos deles não eram propriamente defensores do "capitalismo", mas sim de uma visão mais equilibrada de mundo, onde o dualismo ficava de fora.


A responsabilidade intelectual, em nome da busca sincera pela verdade, deveria ser maior que o otimismo e o grupalismo. O intelectual deveria estar acima dos interesses mais viscerais e dos grupos mais autolisonjeiros. Em vez disso, muitos buscavam soluções fáceis e tribalizadoras. É por isso que os intelectuais americanos queriam uma vigilância constante para não cair no atavismo. Prescrição essa muitas vezes ignoradas por tribalistas de direita ou de esquerda.


Tal situação de extremismo se tornou ainda pior quando o macarthismo se tornou a palavra de ordem dos Estados Unidos. O comportamento de Joseph McCarthy se tornou algo visceralmente doentio e a mentalidade conspiratória acusou sumariamente várias pessoas. Em nome da liberdade que era atacada pelos países comunistas, criou-se uma censura – muito semelhante a comunista – para acabar com... A conspiração comunista. Os Estados Unidos acabou cerceando a liberdade para acabar com aqueles que supostamente atacavam a liberdade.


A defesa da cultura livre, isto é, a livre discussão, a livre investigação, o livre-exame e o livre debate, eram mais do que nunca atacados numa era de extremos. Além disso, a consciência dos estados em relação aos intelectuais aumentava dia após dia. Os intelectuais são parte fundamental da sociedade, são eles que moldam a forma com que vemos o mundo e profissionalizam uma série de pessoas para várias tarefas. Os Estados queriam que os intelectuais fossem subservientes aos seus propósitos propagandísticos, deixando o "povo" mais dócil aos seus interesses. Só que há diferença entre o "intelectual puro" e o "intelectual propagandista". Um intelectual pode chegar a muitas conclusões, teses, ideias... Mas se seu dinheiro depende se algum grupo, as suas investigações são menos livres e mais condicionadas a interesses que escapam ao livre curso de seus exames.


A questão que aparece é: como que um intelectual mantém a sua vida intelectual? O exercício da sua intelectualidade requer um amparo financeiro. Esse amparo financeiro usualmente vem da burocracia e a burocracia geralmente se correlaciona ao governo – ou é o próprio governo. A ligação cada vez maior de intelectuais com o governo se demonstra mais alta. Essa correlação cria uma dependência e, quiçá, engrandece na medida em que corrompe a própria inteligência.


Vivemos no mais espetacular e grandiloquente processo de fusão entre o "intelectuariado" e a burocracia. Essa fusão está criando um elitismo acadêmico cada vez maior. Alçando o voo de uma classe que toma consciência corporativa cada vez maior. Os frutos dessa relação – além da ausência de uma cultura livre – é o engrandecimento de um poder estranho e invasivo.

sábado, 15 de junho de 2024

Acabo de ler "En Corea del Norte" de Florencia Grieco (lido em espanhol)

 



O que dizer da Coreia do Norte? Usualmente chamada de "Melhor Coreia", é a queridinha dupla. Isto é, desde a ascensão da Nova Direita Cultural, ela se tornou admirada pelos setores tradicionalistas da QTP e, ao mesmo tempo, ainda é admirada por comunistas de todos os países. Existe até mesmo a noção de que a Coreia do Norte tem valores mais apegados à tradição, à hierarquia e aquilo que usualmente predomina na direita tradicionalista ao mesmo tempo que promove ideias de índole esquerdista. De qualquer modo, isso é assunto para outro texto.


A jornalista escolheu um caminho turvo. Suas noções intelectuais rimam bem com a retórica ocidental moderna, muito mais liberal do que comunista. Graças a isso, vemos o livro com um ar atmosférico duma psicologização que atinge arroubos meteóricos de thriller. Até mesmo quando a jornalista fala sobre a limpeza, organização e ausência de crimes na Coreia do Norte, sente-se no compromisso vital de criticar os aspectos totalitários do país. O país é muitas vezes descrito como "reino ermitão" pelo seu absoluto isolamento. O que o torna de difícil compreensão teórica.


De qualquer modo, a experiência que nossa escritora passou lá é bastante pendente a uma noção bem negativa. Sobretudo quando essa negação se deu previamente através duma linha de pensamento. Não a condeno, visto que também tenho um ar dialético que afasta a maioria das pessoas pelas nuances que minhas análises possuem. A autora fala bastante sobre a hierarquização social e os privilégios da elite, além da separação da sociedade que é fragmentada pela dedicação e apoio que dá ao regime. Como se fosse uma espécie de França pré-revolucionária de três estados, só que agora atipicamente estruturada numa sociedade declaradamente socialista.


A existência de elementos pré-capitalistas em "sociedades comunistas" – encaradas como fechadas – e até mesmo a recriação de fenômenos sociais anteriores às revoluções liberais é amplamente estudada por conservadores e liberais do século XX. Se você juntar os estudos de Eric Voegelin, de Vladimir Tismaneanu e teóricos da Quarta Teoria Política, saberá disso.

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 3)

 


Quem é Josef Stalin? Essa pergunta soa e ressoa, mesmo após um período tão distante. Para responder essa pergunta, debruçamo-nos na visão do primeiro embaixador estadounidense na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas: Joseph E. Davis. Que tipo de visão vocês creem que Joseph nutria acerca de Stalin? Uma péssima, não é mesmo? A resposta é: não. Joseph admirava Stalin e via-o como um homem de notável inteligência e capacidade política. Além disso, acreditava ver nele um excelente homem.


Stalin é aqui relatado como um cavalheiro bastante cordial. Mesmo compreendendo a natureza crua – e por vezes fria – do processo político em sua dimensão real, a famosa realpolitik, Stalin ainda demonstra traços de humanidade e arrependimento dos problemas internos e externos, tentando sempre evitá-los ou atenuá-los na medida do possível. Fora isso, seu contato com os cidadãos da União Soviética é bastante próximo e a sua vida está envolvida numa disciplina que a deixava produtiva e vigorosa.


Hitler também foi analisado, embora numa escala menor, nesse pequeno texto. Hitler é descrito como megalomaníaco e que rouba os créditos do esforço coletivo inteiramente para si. Stalin, por sua vez, demonstra-se mais humilde e compreensivo, valorizando o trabalho coletivo. O único paralelo entre os dois é: a capacidade de realizar grandes planos. Hitler regozijava-se da própria crueldade, Stalin sempre se arrependeu de ter que usá-la.


Um dos pontos sempre falados, mas que hoje salta aos olhos do estudante contemporâneo, ainda mais nessa época de triunfo narrativo do anticomunismo e "antistalinismo": Stalin era um homem bastante metódico, de pouquíssimos prazeres, perpetuamente entregue ao estudo sistemático e ao trabalho contínuo. Ele cumpria ferreamente seus compromissos e estudava os problemas nacionais – além de ter uma compreensão elevada da Europa de seu tempo. Além do mais, admirava os Estados Unidos e não queria um conflito com ele.


Seria um homem assim um monstro tal como hoje se pinta? Talvez os objetivos ocultos da narração contemporânea tenham mais a dizer do que a própria narração que tanto se alardeia.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Acabo de ler "Stalin" de José Arrabal e José Carlos Estevão

 



Falar sobre Stalin é algo extremamente complexo e, igualmente, um caminho conturbado. Elogiá-lo é correr o risco de cair numa justificativa de seus crimes contra a humanidade. Não reconhecer seus méritos é adentrar numa postura maniqueísta que vê no mundo extremos opostos irreconciliáveis que geram uma mentalidade paranoica de uma cruzada do bem contra o mal.


Stalin é, certamente, uma figura notória. Alguns atribuindo a ele uma figura majestosa de estrategista e outros vendo-o como um homem presunçoso, medíocre e de ideias tortas. Seria ele, ao mesmo tempo, o homem com uma estatura política de inteligência maquiavélica que enganou a todos e um mediano que subornou o Estado soviético e grande parte da humanidade aos seus interesses e visões diminutas e provincianas? Os paralelos não batem.


De todo modo, Stalin ascendeu ao poder buscando cargos que, pela sua condição categoricamente administrativa, não interessaram aos outros bolcheviques - intelectuais abstratos em demasia para tal. Em meio a isso, seu poder aumentava sem que muitas vezes se notasse. Por outro lado, a ideia de que a sua participação é inferior não chega a ser uma perspectiva realista.


Condena-se a geopolítica stalinista e a ausência de uma visão mais aberta a uma dialogicidade descentralizada que ampliasse a capacidade de receptividade do conjunto estrutural. Entretanto também se fala da necessidade dum aparato repressivo que garantisse a permanência da revolução e a sobrevivência do próprio Estado soviético. Dessa contextualidade, surge uma casta burocrática que constitui uma classe privilegiada acima do proletariado e campesinato.


Qualquer julgamento que surge em meio a isso: a necessidade dum socialismo descentralizado e com trabalhadores livres que conduzem autonomamente a economia, a permanência da revolução, a necessidade de outras revoluções, etc. Gera uma série de dúvidas devido as mais voláteis especificidades que geram dúvidas permanentes quantos as possibilidades factíveis. Stalin permanecerá, de certo, uma terrível incógnita.

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

POEMAS DO INIMIGO NÚMERO UM DO REGIME MILITAR

 



Olá, passei aqui para informar aos senhores que hoje estive narrando poemas do Carlos Marighella no projeto Latir contra os Grandes. Foram, ao todo, 16 pequenos vídeos de narração postados no canal.

E, por falar nisso, agora a playlist de marxismo tem ao todo 40 vídeos. Com narrações de textos de Leon Trostky, Rosa Luxemburgo, Mao Tsé-Tung, Josef Stálin e, agora, Carlos Marighella. Deem uma olhada por lá caso tenham :)!

Você pode ouvir os vídeos pelo YouTube:

Ou pelo Spotify:

Vou seguir expandindo o conteúdo das mais diversas correntes de pensamento e trazer cada vez mais conteúdo underground e diversificado ao canal.

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Acabo de ler "Duas Revoluções" de Perry Anderson

 



Antes de começar a análise, gostaria de dizer que o livro tem, ao todo, quatro participantes. Mesmo que o principal seja Perry Anderson, há também uma segunda principal que lhe serve de contraparte: Wang Chaohua. Fora ele e ela, temos dois brasileiros que servem de complemento: Luiz Gonzaga Belluzzo e Rosana Pinheiro-Machado.

Se você se pergunta do que se trata o livro, ele fala das duas maiores revoluções socialistas: a russa e a chinesa. Analisadas em conjunto, os autores buscam traçar paralelos entre elas, saber de seus fracassos e sucessos, hipotecar o futuro do regime chinês, encontrar as razões da perda do regime soviético. O que é uma tarefa enorme, não?

China e Rússia, em períodos distintos, passaram por transformações semelhantes. Só que suas revoluções se deram de modos distintos. Na China, houve uma divisão territorial de estados paralelos. Na Rússia, houve uma tomada mais "direta" do poder. O socialismo russo tentou transformar todo movimento socialista na sua imagem e semelhança, com isso acabou frustrando relações e até mesmo levou a ruptura sino-soviética no período de 1960.

De qualquer forma, os dois países se apoiaram no personalismo, no sentimento patriótico e, igualmente, no aparato repressivo. Ambos países tiveram expurgos dos quadros de seus respectivos países comunistas. Porém houve um período em que a polícia importou mais que o partido na parte russa, coisa semelhante não ocorreu no regime chinês.

Quando olhamos para o fracasso do regime soviético e da ascensão chinesa, vemos algo mais tenebroso do que uma certeza: vemos uma incógnita. O mundo verá a China como a maior potência? Que lições (e espalhamentos) tirará disso?

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

A Conspiração


O assunto que aqui trato é um tanto perturbador e um tanto sinistro. Todavia garanto-lhes que ele goza duma íntima certeza credível e altera o rumo do mundo. Claramente não consigo traçar com total miudeza a minha linha argumentativa e narrativa, porém lhes garanto que tudo aqui escrito é uma verdade de estatura inquestionável. Sei que não vão acreditar em mim, será necessário um pouco de fé e superstição para tal, se não uma qualidade imagética para se preencher hipoteticamente todas as lacunas faltantes. Vocês não sabem, mas existem várias conspirações rolando mundialmente, todas elas se destinam a infelicidade dum único homem: Seu Zé de Piraporinha.


O leitor, a partir daqui, pode questionar-se da relevância de Seu Zé. Possivelmente o leitor desconhece o glorioso Seu Zé. Digo-lhes que trazer questionamentos antes mesmo da enunciação dos fatos que se sucederão é mera defesa prévia contra a integral realidade que se apresentará. Seu Zé, tal como ele mesmo reconhece, é o homem mais importante do mundo e forças terrenas e cósmicas conspiram de toda forma contra a sua vida devido a sua monumental importância. O próprio Seu Zé percebe, ao juntar uma série de dados e preenchê-los com a sua portentosa imaginatividade, que está sendo perseguido, caluniado, barrado, censurado e tantas outras coisas mais que tiram a sua dignidade humana e a máxima excelência que deveria gozar segundo a sua gigantesca estatura (autogerada). Se questionam a mim, recomendar-lhes-ei falar com Seu Zé e todos os arroubos de sua emoção enfática comprovarão tudo que, a partir de agora, escrevo.


Para ilustrar o começo disso tudo, servir-me-ei da Bíblia como fonte de autoridade. Ela é fonte digníssima para todos os cristãos e judeus, além dos muçulmanos - embora esses últimos creiam que ela é uma revelação parcial e não se encontre em totalidade e em perfeição, coisa que poderia ser resolvida se consultassem a opinião do ilustríssimo Seu Zé. Como todos sabemos (ou não), o início da humanidade deu-se com Adão e Eva. Só que, antes mesmo dos patriarca e matriarca da humanidade darem seus tíbios passos, as forças divinas tiveram o ataque inesperado de um tal de Lúcifer - posteriormente conhecido como Satanás. Alguém há de se perguntar como um ser infinitamente mais inteligente que um ser humano atacaria a Deus, ser de absoluto poder e absoluta honra. Ora, a resposta por trás dessa tolice não é clara? Lúcifer - ou Satã - tinha em mente o Seu Zé de Piraporinha. Ver o quão fantástico era esse homem, auge da criação celeste, deixou Tio Lúcifer enraivecido e, meu Deus do céu, com uma inveja tremenda. Tornou-se uma criança birrenta por ser incapaz de encarar a própria imagem medíocre frente ao reflexo dum espelho. Nem a luz desse ser de luz, o Lúcifer, igualava-se a de Seu Zé. A partir disso, Satã viveu de atordoar a humanidade com a sua galhofa.

 

Vários fatos passados, presentes e futuros demonstram como toda uma série de humanos, demônios, entidades e outras criaturas se dedicarem para arruinar Seu Zé de Piraporinha. Dar-lhes-ei um exemplo magnífico, contado pelo próprio Seu Zé de Piraporinha. Aquele a que conhecemos por Maomé nada mais era do que um inimigo de Seu Zé de Piraporinha, antes mesmo que o próprio Seu Zé nascesse. Se você não entendeu a coligação entre Maomé e Seu Zé, sinto muito, a sua inteligência talvez seja de natureza rasa. Maomé queria que os ancestrais de Seu Zé desviassem da verdadeira religião. Ora, se você não entendeu, todo movimento islâmico tem como fim o desvio dos ancestrais e descendentes de Seu Zé da verdadeira religião. Seu Zé é cristão devoto, isso é um fato suficiente. Quando o islã começou as suas conquistas territoriais, toda uma série de líderes islâmicos tinham um só objetivo: desviar os ancestrais de Seu Zé da verdadeira religião - o cristianismo, segundo o maior teólogo do universo (Seu Zé) - e fazer com que Seu Zé fosse não um cidadão de bem e cristão, mas um islâmico. Maomé enganou grande parte da humanidade e conspirou muito contra Seu Zé, só que Maomé não contou com a inteligência de Seu Zé e a providência divina dada aos cristãos enquanto Deus se preocupava com o ilustre Seu Zé.


 

Ok, tudo isso pode parecer um tanto estranho para o querido leitor de imaginação precária. Precisarei ilustrar tudo com mais exemplos. Os Illuminati, grupo fundado em 1776, bem antes de Seu Zé nascer, tinha como objetivo destruir a vida de Seu Zé. Para que os Illuminati assim procedessem, teriam que destruir algo de menor importância, a civilização ocidental. Era óbvio que para destruir a vida de Seu Zé, teriam também de se empenhar em outra coisa de menor importância que o Seu Zé: o mundo inteiro. Tão logo que os Illuminati, satanistas endemoniados, viram que para destruir Seu Zé teriam que controlar o mundo, nisso se empenharam. Os Illuminati então se tornaram amiguinhos de outra organização diabólica que também queria - vocês não vão acreditar, meus caros leitores! - ferrar com o coitado do Seu Zé. Organização essa que não era nada mais nada menos que a própria maçonaria. Para tal fim, a maçonaria nasceu no final do século XIV e projetou-se secretamente. Os maiores mestres maçônicos foram ensinados, desde aprendizes, a odiarem a pessoa de Seu Zé e a ele dedicarem seu máximo ódio. Tarefa dificílima, tendo em vista que Seu Zé só nasceria no século XX. Mas vejam só como é a natureza do ódio dos homens, sobretudo quando se trata de uma pessoa tão majestosa quanto Seu Zé.

 


 

Se você acha que os inimigos de Seu Zé datam só de tempos antediluvianos, da Idade Média ou algum outro tempo passado sem nunca chegar propriamente no século XX ou XXI, você se engana severamente. O próprio Bill Gates é um inimigo mortal de Seu Zé. Como é que provarei isso? A resposta é também óbvia, leitor incapaz de esforço imagético: todo conspirador não assume a sua própria conspiração, se o fizesse não seria conspirador. Por qual razão Bill Gates, estrategista brilhante da Nova Ordem Mundial, diria que tudo o que ele construiu foi feito para destruir a vida de Seu Zé? Tê-lo-iam como louco. Porém posso provar tudo, tudo que meu foi explicado pelo próprio Seu Zé a respeito desse não tão maravilhoso homem que é o Bill Gates.


Para o leitor incapaz de correlacionar os fatos por si mesmo, por ausência de conhecimento da vida do magnífico Seu Zé e da vida do medíocre Bill Gates, eu mesmo me darei a esse esforço. Vocês sabem onde Bill Gates estudou? Bill Gates estudou em Harvard. Só daí já tiramos várias das conclusões mais impensáveis para aqueles que não possuem a capacidade duma imaginação laboriosa e intelectualmente enriquecida: Harvard é cheio de modismos comunistas no pensar. Não preciso dizer que toda universidade é imersa no filocomunismo e em toda aquela papagaiada esquerdista que crê em modelos civilizacionais não idôneos. E, se você não sabe, todo o comunismo existiu para destruir a vida de Seu Zé. Quando Lênin escreveu seus escritos, querendo a destruição do único sistema econômico que Seu Zé acredita válido, ele pensava em impossibilitar a própria vida na Terra. O próprio Karl Marx decidiu corromper e destruir a família para acabar com a possibilidade futura do nascimento de Seu Zé. Todos os bolcheviques tinham como missão impossibilitar a própria vida humana com a implantação de um sistema econômico criado para impedir que o próprio Seu Zé nascesse. Pense bem, se a União Soviética invadisse o Brasil, escravizasse a população e controlasse a natalidade, como é que Seu Zé nasceria? Está tudo conectado. A União Soviética existiu para não só destruir coisas irrelevantes como o sistema capitalista mundial ou coisas totalmente toscas como estabelecer o domínio planetário do sistema socialista. Não, meu caro leitor (ou leitora), a União Soviética existiu para destruição de Seu Zé. Vendo quão notável seria Seu Zé de Piraporinha, capaz de refutar qualquer argumento com sua retórica brilhante cheia de palavrões, ela viu que a própria possibilidade dum sistema socialista era impraticável diante de uma inteligência tão monumentalmente sofisticada quanto a de Seu Zé. No entanto, quase todos os líderes soviéticos decidiram continuar com seu plano megalomaníaco para destruir Seu Zé. É óbvio que os Illuminati, maçons, comunistas e Bill Gates farão de tudo para destruir a vida de Seu Zé.


Agora se você me pergunta o que tudo isso tem a ver com a relação de Bill Gates e Seu Zé, respondo-lhes claramente: Bill Gates criou o coronavírus para aniquilar Seu Zé! A resposta que conecta tudo é, por si só, suficiente - considerando, é claro, que o leitor dê a devida importância ao Seu Zé. Considerando, entretanto, a incapacidade do leitor de juntar os fatos por si mesmo, ilustrar-lhes-ei mais. Bill Gates, sabendo que Seu Zé já tinha nascido, não tinha como paralisar a Seu Zé e a sua descendência gloriosa sem um maravilhoso plano. Junto com outro grande inimigo de Seu Zé, George Soros, teve várias ideias mirabolantes. As frentes foram, é claro, diversas. Não posso detalhar toda minuciosidade de tamanho plano de diversas linhas de atuação e complexidade inata - menos complexa apenas para a grandiosidade de Seu Zé de Piraporinha - num texto tão pequeno quanto esse. Vocês vejam que George Soros investiu e continua a investir numa série de organizações de esquerda e isso já demonstra que George Soros é inimigo de Seu Zé. Se os planos de esquerdizar o mundo derem certo, como é que a descendência de Seu Zé poderá nascer com o diabólico aborto como direito de saúde pública? A pauta do aborto só existe com uma finalidade: impedir que a descendência do magnífico Seu Zé nasça e perdure. Todos sabem, evidentemente, que aborto é assassinato. Outro plano que o mau-caráter do Soros tinha era de legalizar a maconha para que o Seu Zé fumasse e tivesse uma overdose - se você duvida que maconha cause overdose, pergunte ao próprio Seu Zé. Só que todo defensor do aborto ou da maconha tem só uma coisa em mente e ela não é uma questão de saúde reprodutiva ou simplesmente da defesa da liberdade individual. O defensor do aborto e o defensor da legalização da maconha tem em mente a figura messiânica de Seu Zé e a sua descendência. Imagine que tivessem convencido a mãe de Seu Zé que era bom que ela abortasse? Imagina se o pai de Seu Zé tivesse morrido de overdose de maconha? E agora, por meios de corrupção cultural, querem convencer a filha de Seu Zé ao mesmo. O próprio Seu Zé uma vez pegou seu filho, desviado estudante da USP, fumando um baseado na praça!


Ok, o leitor deve estar achando que estou divagando absurdamente. Só que tudo isso é comprovado pela própria narrativa direta de Seu Zé. Bill Gates criou o coronavírus com o objetivo secundário e menos importante de causar um desequilíbrio global e governar o mundo como imperador supremo da Nova Ordem Mundial. Só que o que é a desordem do mundo inteiro e o controle supremo de toda extensão da Terra perto de algo tão fantástico quanto ferrar com o Seu Zé de Piraporinha? Está tudo, é claro, mais uma vez explicado e brilhantemente explicado. Todos os dias, nosso querido Seu Zé de Piraporinha, defronta-se com todo tipo de artimanha demoníaca direcionada a sua pessoa. Se a humanidade tomasse conhecimento de tal enredo absurdo, ela saberia que não é nada diante de tudo que se fez e tudo que se fará para destruir o maior dos humanos, Seu Zé. Se a humanidade tomasse conhecimento, logo proclamaria Seu Zé como imperador absoluto da Terra. Só que, até hoje, ninguém sabia disso, excetuando as elites mundiais que, antes mesmo do surgimento do universo, conspirava contra Seu Zé.

quinta-feira, 21 de julho de 2022

Prelúdios do Cadáver #5 - Eu já não leio Karl Marx

 Texto publicado em 23/06/2018


Há quem veja a história como um eterno círculo a repetir-se. Há quem veja a história como uma continuidade progressa. Outros veem como uma continuidade regressa. Particularmente, creio nas três visões. Todavia não sou um historiador, sou apenas um jovem adulto tentando entender o mundo.


Fumei um cigarro agora há pouco. Fumei na oitava série. Fumei no ensino médio. Fumei na faculdade. Parei de fumar várias vezes. O cigarro, quando entrou em minha vida, era um ineditismo. Agora é um recomeço e uma continuidade. É também um regresso para minha saúde. É o chamado eterno retorno. Voltar a fumar é meio ruim. Odeio o cheiro, mas logo deixarei de senti-lo. O cigarro é-me uma figura intermitente.


Tudo volta. Tudo volta sobre novas formas. E sei que sempre voltarei ao que outrora eu era. Tudo isso sobre um misto de nova forma e velha forma. Pois tudo volta e há de voltar.


Eu já não leio Marx. Fui irradiado com uma alienação burguesa e agora só me importo com a beleza das flores. Como eu poderia ler Karl Marx? Se o amargo café anima meu ânimo. Se a beleza das cores embeleza o mundo. Se os filmes de drama fazem meu ser chorar. Como eu poderia ler Karl Marx? Sou um alienado, um sentimental, um eterno romântico condenado. Eu já não tenho razão! Eu só tenho a chama da paixão!


Despolitizei-me: tornei-me o que eu era antes: um alienado político, um amante da vida, um apreciador dos sabores, um pequeno-burguês. Sou aquilo que meu antigo eu desprezaria, logo serei aquilo que meu novo eu desprezará. E assim vou: como um renegado que sempre reconstrói-se negando-se e aceitando-se.


Por que é tudo assim tão confuso? Não sei. Só sei que é sempre assim e assim sigo meu rumo: numa metaformoseação sem fim.


terça-feira, 5 de abril de 2022

Acabo de ler "Dossiê China" do jornal Gazeta do Povo

 



Quando vi esse PDF sendo anunciado, logo pensei que seria uma boa baixá-lo, apesar de eu não ser lá tão chegado ao "conservadorismo-liberal" que domina o jornal Gazeta do Povo. Só que como era um "livro" sobre a China, a curiosidade bateu mais forte.

Pensar sobre a China é sempre algo difícil. Ela vive um regime bem diferente daquele que é vivenciado no "Ocidente" - entre aspas, já que não há um consenso sobre o que seria o "Ocidente" e eu não tenho tempo para discutir sobre isso - e tem valores diferentes dos nossos. Não por acaso, sofro por uma imensa curiosidade pelo o que ocorre lá, informando-me por múltiplas fontes. Não sou um sujeito impressionável, só que a China sempre me impressiona.

Algo interessante de se observar, é que quase a maior parte do livro se passa pelo "regime comunista inicial" da China, sobretudo na era de Mao Tsé-Tung. Talvez seja pelo fato de que nesse período, ela tenha sido mais ferozmente anticapitalista e, posteriormente, tenha aderido a um hibridismo econômico. De qualquer forma, vários planos de Mao Tsé-Tung foram um desastre em níveis gerais: econômicos, humanos, alimentares e ambientais.

Ao terminar o livro, tendo a uma tendência de condenar umas partes do regime chinês atual. Só que não tudo, visto que o livro nem de longe me convenceu a adentrar no universalismo liberal e eu ainda acredito que o regime político depende da autodeterminação dos povos e não em fetiches ocidentais que adquirem tons de universalidade. De qualquer forma, o livro me abriu ao entendimento de alguns erros do regime chinês e até mesmo um tanto de sua história presente e passada.