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quarta-feira, 27 de março de 2024

Acabo de ler "Uno y el Universo" de Ernesto Sabato (lido em espanhol)

 



A leitura de Ernesto Sabato vem sido duma grande preciosidade em minha vida. Ernesto, junto a Ortega, apresentou-me a língua hispânica na potencialidade de sua beleza imortal. Os dois, Ortega e Ernesto, apresentam um espanhol estilisticamente rico e bastante poetizado. Engana-se quem crê que suas colocações intelectuais não sejam equivalentes: os livros deles são belos e conceitualmente ricos.


Ernesto trabalha numa via bastante difícil: precisa passar toda uma densidade conceitual, algo intelectualmente difícil, ao mesmo tempo que precisa desenvolver a beleza artística de quem usa a língua em si mesma como arte, algo artisticamente difícil. Sua obra, ao mesclar as duas, traduz-se num equilíbrio formidável que poucos intelectuais poderiam levar cabo.


Essa é uma obra bastante diversa. Sua abordagem traz uma série de assuntos que são tratados em textos que variam de tamanho e não há uma unidade estrutural plena e sistematizada. Ainda assim, a leitura e a compreensão não são minimamente prejudicadas pela natureza conjuntiva da obra. O que demonstra, mais uma vez, a grandeza desse gigante argentino.


A obra mesclará diversos assuntos: epistemologia, filosofia, história, surrealismo, política, teologia, poesia, crítica literária, etc. E o formato, absolutamente variável, traz um quê de humor refinado, de apologética, de polemismo, de prosa. Uma variação densa que dificilmente passaria despercebida.


Mesmo que exista, nessa versão, uma nota introdutória do autor dizendo que ele mudou de crença, não se pode negar que esse pequeno livro é bastante bem escrito e bem pensado. Revela já o estilo de um autor que se revelou a cada dia mais fantástico e de estatura universal.

sábado, 14 de janeiro de 2023

Acabo de ler "O Ateneu" de Raul Pompéia

 



Seria difícil precisar o quanto esse livro é belo em sua estilística. O leitor ou a leitora que se deparar com esse livro terá em mãos uns dos livros mais belos de toda a língua portuguesa, uma verdadeira obra prima em qualidade estilística.


O autor apresenta uma qualidade que foge muito do padrão, nessa obra temos uma experiência antebeatífica da experiência do encontro com o divino. Só que não é só na beleza que esse livro marca a sua presença, toda a sua descrição psicológica apresenta uma qualidade e um rigor descritivo que denotam uma capacidade de um exímio psicólogo, conhecedor profundo da alma humana.


A história se passa dentro do domínio do Ateneu, colégio interno com todas as pressões possíveis. O protagonista sofrerá nas mãos repressivas desse aparato educacional condicionador e tirânico. O livro é, igualmente, uma crítica a forma com que se dava o processo educacional.


Um leitor mais acostumado a uma leitura crítica ao modelo de educação de outrora verá, nesse livro, uma importante informação para compreender como essa se dava. A educação, em vez de ser um processo libertacional, nada mais era que um local de geração de todos os traumas possíveis.


Esse livro exigirá, do leitor, uma portentosa atenção para que ele não se perca. O leitor terá, ao fim da leitura, uma experiência artística, intelectual e cultural de primeiríssimo grau.