Mostrando postagens com marcador tirania. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador tirania. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Acabo de ler "Anatomy of the State" de Murray N. Rothbard (lido em inglês/Parte 6)


Nome:

Anatomy of the State


Autor:

Murray N. Rothbard


Recebemos, inúmeras vezes, a ideia de que o Estado é um instrumento de primeira categoria na alavancagem da ordem social e da civilização. Seria essa informação verdadeira? Existem vários Estados através do mundo. As relações entre diferentes Estados gasta muito tempo e energia. Se uma área é inabitada, por exemplo, um Estado poderá requerer monopólio sobre ela. Se outro Estado a quer, se estabelece um conflito. O Estado quer o monopólio de força e violência, para extrair recursos e utilizá-lo como bem queira. Em relação ao Estado, a história demonstra que os períodos de paz são mais episódicos e singulares do que os períodos de guerra. Os últimos são sempre mais constantes.


Quando pensamos nos cidadãos de todo mundo e a natureza de guerra contínua dos Estados entre si, podemos levantar a seguinte pergunta: quem, de fato, se interessa pela guerra? Não é possível que um Estado represente a totalidade dos interesses dos seus cidadãos. É impossível que todos os cidadãos de um determinado país estejam, por assim dizer, particularmente interessados na guerra e a apoiem de fato. A concordância de um cidadão com o seu Estado nunca se dá de maneira integral e nunca se dá em todos os tempos.


O Estado não tem uma legitimidade perfeita e plena tal como sempre alega em sua autodefesa. O Estado tem, no máximo, uma aprovação temporária e parcial. Quando o Estado começa a tomar ações por aqueles que ele julga seus representados, geralmente ele se julga acima desses representados em expressar os seus verdadeiros desejos. Já que é da natureza do Estado não representar integralmente os desejos de seus representados, mas o desejo daqueles que estão ancorados em suas estruturas de poder.


Talvez seja um absurdo anunciar isso, mas o Estado deve constantemente se reinventar para demonstrar que possui alguma legitimidade. Já que o que interessa ao Estado é manter essa mesma legitimidade para gozar do benefício de usurpar os seus cidadãos. A razão das pessoas quererem manter o Estado está mais ligada aos seus interesses do que os interesses da coletividade. E os interesses dos dirigentes do Estado ora menos ora vai contra os interesses daqueles que são considerados cidadãos do próprio Estado.

Acabo de ler "Anatomy of the State" de Murray N. Rothbard (lido em inglês/Parte 4)

 


Nome:

Anatomy of the State


Autor:

Murray N. Rothbard


A relação do Estado com intelectuais é bastante complexa. Duma série de conceitos ou políticas criados, inclusive para reduzir o tamanho ou o poder do próprio Estado, todas sempre se demonstraram falhas em frear o Estado em sua expansão. Quando conceberam a democracia moderna, pautando o poder pelos "anseios do povo", acreditaram que a tirania seria freada. Todavia esse mecanismo se tornou um mecanismo dentro do poder de repressão do próprio Estado. De modo semelhante, a ideia de direitos naturais se tornou algo que o Estado mesmo deveria promover. O utilitarismo se tornou uma justificação para as ações do Estado.


O propósito inicial da constituição americana era, por exemplo, limitar a possibilidade de tirania que o Estado poderia causar caso fosse deixado livre. Todo cidadão americano identificava, na constituição, os limites que asseguravam a sua vida da tirania. Só que havia um porém: ao identificar na constituição do Estado a própria segurança contra o poder do Estado, ele legitimou a existência do Estado. O Estado, por sua vez, aproveitou-se disso para sorrateiramente justificar a sua existência e ação através do tempo. O Estado conseguiu isso através da chamada "revisão judicial". Essa "revisão judicial" ampliava a ação do Estado conforme o tempo passava com base em revisões que seriam supostamente feitas para que o Estado cumprisse a sua própria função.


As raízes da expansão do Estado americano estavam contidas na própria crença de que a constituição era legítima. Crer na constituição do Estado americano era acreditar, por pressuposto, na legitimidade do Estado americano. Só que há um problema nessa legitimidade: o Estado só pode fornecer essencialmente algo que ele proibiu ou limitou os outros de fornecerem por si mesmos. Se o Estado é de fato bom nisso, por que as suas funções não são voluntariamente aceitas? Ao acreditar na arbitrariedade e na contingência do Estado americano, o americano passivamente autorizou a existência do Estado.


Se a existência do Estado americano era justificável pela as suas decisões serem ínfimas, não atacando liberdades essenciais concernentes aos indivíduos, o rumo americano foi logo mudado. O Estado americano foi fundado com a premissa de que ele seria diferente de todos os outros, essa diferença estava em seu tamanho enxuto. O seu tamanho era enxuto pois os outros Estados tinham feito enormes tiranias e ações arbitrárias em nome seus cidadãos. O caminho pro Estado americano se refundar e expandir o seu tamanho se encontrava dentro da própria legitimidade que os americanos davam e dão a constituição.


Quem poderia, dentro dos Estados Unidos, decidir k quão pequeno o Estado pode ser com base na constituição? Em última instância, esse papel depende da Suprema Corte. Só a Suprema Corte pode vetar uma decisão e só dependeria dela interpretar se algo é um aumento nocivo do Estado ou se algo é uma função natural do Estado. Nenhum outro cidadão deteria tal função, nenhum outro grupo, apenas os próprios burocratas que estavam mais interessados em seus próprios interesses enquanto grupo burocrático do que nos interesses de cidadãos particulares.


Quando pensamos no Estado, geralmente pensamos nas condições mais ilustres acerca da dignidade que ele supostamente tem. O problema é que o Estado não é e nem pode ser confiável. O Estado tem poderes que nenhum cidadão privado, por assim dizer, poderia exercer. Esse poder está nas mãos de pessoas que são movidas pelos mesmos interesses do cidadão comum, isto é, a maximização do seu próprio bem-estar. Quando alguém adquire poderes acima dos normais, essa pessoa sempre se corromperá por se habituar ao uso de um poder que, para começo de conversa, deveria ser proibida de obter. O aumento da tirania do Estado não é um acaso ou uma deturpação, ele é a própria natureza do Estado. Já que o Estado é, em si mesmo, corrupto. E a tendência do uso do seu poder corrupto é a corrupção e o aumento das justificativas dessa corrupção.

domingo, 16 de junho de 2024

Acabo de ler "A Tirania dos Especialistas" de Martim Vasques da Cunha (Parte 4)

 



Existe uma tendência propriamente humana de querer uma imanentização escatológica. Ou seja, o ímpeto de realizar na Terra o juízo final. O que supostamente aconteceria a esse evento seria o fim da história e provavelmente o paraíso terrestre. Nele, teríamos, por fim, todo o gozo que o mundo atual nos rejeita. Tal acontecimento seria possível pelo retorno ao passado glorioso (reacionarismo) ou ao futuro grandioso (revolucionarismo). Isto é, a ficção delirante a ser construída pela extrema-direita (via reacionária) ou pela extrema-esquerda (via revolucionária).


A complexidade da nossa experiência no mundo não pode – e nem deve – ser suprimida por uma panacéia criada por um intelectual. O intelectual, contudo, acredita na potencialidade irrestrita de sua capacidade. O que lhe dá um ar de onipotência divina. Para realizar seus planos, precisa do poder. Esse estranho hábito é chamado de pleonexia (desejo pelo poder). E se existe alguém contrário aos seus anseios grandiosos, o intelectual prontamente se converte sua pleonexia em filotirania (amor à tirania). É graças aos intelectuais que ditaduras pomposas e leis que usurpam o poder dos indivíduos surgem todos os dias.


O intelectual, crente em seu próprio poder, chega ao delírio de se propor como acima de todos os demais indivíduos de seu meio e, até mesmo, fora dele. Tal condição o predispõe amargamente ao gosto por uma tirania que, posta em prática, traz o Inferno para a Terra. É por isso que "o Inferno está recheado de boas intenções", visto que é o próprio anseio de trazer o Paraíso para Terra que faz com que o intelectual traga o Inferno em vez do paraíso. Lembrando analogicamente o Demiurgo que, ao criar o mundo material, trouxe toda a imperfeição junto a sua criação.


Quando descobrimos que "Os Demônios" nada mais são que os intelectuais e que os desejos intelectuais podem causar a ruína ou o desaparecimento trágico duma sociedade inteira, temos uma conscientização da responsabilidade da vida intelectual e das suas consequências. Lembrando o clássico livro conservador "As Ideias têm Consequências" de Richard M. Weaver.

Acabo de ler "A Tirania dos Especialistas" de Martim Vasques da Cunha (Parte 3)

 


A palavra IYI (abreviação de "intellectual yet idiot = intelectual, porém idiota") é bem exemplificada aqui. Existe uma estupidez inteligente e todas as inteligências, por maiores que sejam, estão sujeitas a terem traços de idiotia. É da natureza humana estar sujeita a imperfectude e por mais grandioso que um intelectual possa ser, ele sempre terá falhas. Não reconhecer a tendência a cometer erros é o que implica psicologicamente a alguém ser um intelectual estúpido ou um estúpido inteligente. Não saber que intelectuais podem ser estúpidos e ter pontos de vista deformados graças a uma adesão perniciosa a uma ideia é o que faz da modernidade um palco para os mais estúpidos intelectuais.


A tirania dos especialistas – título do livro, por sinal – surge da ideia de uma elite iluminada que guiará o mundo, através de muita modelagem e engenharia social, ao progresso. Essa tendência tecnocrática – consciente ou não – é amplamente observável no meio acadêmico. Os intelectuais, a elite técnica, teria a capacidade de se tornar uma espécie de "novo deus" e, em sua unidade de técnicos/especialistas, daria luz a um mundo perfeito onde todo mundo é feliz e não há opressão. É evidente que esses especialistas ao amontoarem o poder para si, tornam-se, pouco a pouco, detentores de poderes que estão acima do horizonte de possibilidades do cidadão comum. Ou seja, justificam a si mesmos como uma casta iluminada que pode alterar a vida de qualquer cidadão sem que nenhum cidadão possa fazer qualquer coisa.


A elite iluminada dos especialistas é irresponsável, ela não liga para as consequências do que intelectualmente afirma e é psicologicamente imune à capacidade de autocrítica – visto que não se vê como defeituosa e passível de erros. Em suas certezas dogmáticas, pegam prontamente o poder para si e remodelam a humanidade de acordo com os seus gostos. O poder dos especialistas aumenta prodigiosamente ao mesmo tempo em que a sua capacidade de tiranizar os outros se torna maior. Um dia, os especialistas se tornaram metodológicamente aptos para quebrar qualquer "direito humano" que anteriormente defendeu.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Acabo de ler "Historia de la Unión Soviética" de Carlos Taibo (lido em espanhol)

 



A revolução russa, junto com a construção do Estado soviético, é um período marcado amplamente por uma série de contradições que revelam a própria natureza humana em suas glórias e misérias. Neste livro, o autor passa pelo período pré-revolucionário, revolucionário, pós-revolucionário, o Estado soviético e o período pós-soviético. Embora o livro se centre mais no período do Estado soviético.


O Estado soviético passa por várias transformações. A própria luta socialista se caracterizou por uma série de divisões. Houve o período de luta contra os "não socialistas", a luta dos socialistas contra outros socialistas, o assassinato da oposição socialista dentro do próprio partido, a tentativa de restauração da descentralização democrática, o retorno aos hábitos de tirania despótica, a nova tentativa de democratização e o fim da União Soviética. A anatomia do poder, longe de dar poder efetivo ao proletariado e campesinato, foi construída por uma burocracia altamente centralizada e hierárquica.


A corrupção e o abuso de poder, tão criticada, logo as tornou a configuração mesma do poder que ia surgindo. A burocracia, longe de ser a vanguarda do proletariado na condução do socialismo, tornou-se uma classe própria. A pretexto de edificar o socialismo e calar a possível oposição ao socialismo, criou-se um maquinário de censura e destruição sistemática que pesou na oposição socialista marxista e não-marxista. Tudo foi corrompido pela própria natureza humana que não pode ser, e nem será, moldada inteiramente pelas condições sociais que iam surgindo.


A distribuição de recursos não era uma questão puramente econômica. Era mais uma batalha política em torno dos recursos do que uma gestão sóbria. E tal condição, pouco a pouco, levou à ruína da própria economia soviética. Grupos disputavam entre si os recursos que seriam dispostos sem pensar no todo envolvido. Embora não se possa dizer que a União Soviética falhou em tudo, a eficiência de setores era extremamente desnivelada e contraditória. O socialismo morreu nas mãos dos próprios sonhadores.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Acabo de ler "Harry Potter e as Relíquias da Morte" de J. K. Rowling

 



Toda jornada tem seu fim, embora essa possa se tornar eterna no meu coração e no de muitos. Pelas minhas contas, li todos os livros em PDF, juntando todas as páginas de todos os livros: foram 2.260 páginas. Não me arrependo de nenhuma maneira por nenhuma delas, rejubilo-me.

“E o conhecimento dele permaneceu lamentavelmente incompleto, Harry! Aquilo a que Voldemort não dá valor ele não se dá sequer o trabalho de compreender. De elfos domésticos e contos infantis, amor, lealdade e inocência, Voldemort não entende nada. Nadinha. Que todos tenham um poder que supere o dele, um poder que supere o alcance da magia, é uma verdade que ele jamais compreendeu"
"É uma coisa curiosa, Harry, mas talvez os que têm maior talento para o poder sejam os que nunca o buscaram"
"Você é o verdadeiro senhor da Morte, porque o verdadeiro senhor não busca fugir da morte. Ele aceita que deve morrer, e compreende que há coisas piores, muito piores do que a morte no mundo dos viventes"
Dumbledore

A maior lição que temos de extrair de Harry Potter é a de que o amor é o maior poder. O amor anula a contradição, e por Voldemort não compreender o amor: fragmentava-se tolamente em itens amaldiçoados. Voldemort temia a morte, era temeroso e supersticioso. Seu medo se tornou em mal e quando a morte lhe sobreveio, a sua figura no outro mundo não era a de uma pessoa completa, mas a de uma criança deformada. Já que Voldemort nunca cresceu, estagnou em seu medo e criou uma longa crença narcisista sobre si mesmo, sem jamais compreender-se.

Por outro lado, Harry Potter nunca se julgou digno. Nunca desejou um poder imenso. E por não desejar: nunca se fragmentou em atos tolos. Quando se entregava a algo, era verdadeiro. Era de fato livre. Não estava aqui ou ali, onde estava é onde estava. As suas ações não se perdiam em multifacetagens diabólicos. Por amar, por aceitar a morte, era mais poderoso que Voldemort: aceitar que a vida é o que é leva ao melhor encaminhamento vocativo da vida. Ao aceitar a morte, aceita-se que se deve viver integralmente, de forma sã. O poder do amor é a união do sujeito no todo. Nenhum tirano compreenderia.