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sábado, 4 de outubro de 2025

Memória Cadavérica #11 — Desenvolvimento Nacional e Guerra Identitária

 




Memórias Cadávericas: um acervo de textos aleatórios que resolvi salvar (no blogspot) para que essas não se perdessem.


⁨Clarice, o que me surpreende é a quantidade de imbecis que vêm se apoderado do debate público brasileiro.


Hoje em dia, a ideia de que as pessoas poderiam ser privadamente mais "progressistas" ou mais "conservadoras" é vastamente ignorada pelas massas.


Torna-se a discutir se deveria existir ou não casamento "homoafetivo". Pessoas começam a atacar o poliamor, confundindo poliamor com poligamia. Em outras palavras, a intromissão na esfera privada se torna maior.


Enquanto essa série de intervenções nas vidas alheias surgem, com proibições e aceitações. Penso em como seria melhor se o país fizesse o básico:


1. Saneamento básico de qualidade;

2. Universalização do ensino técnico e superior;

3. Desenvolvimento das ferrovias;

4. Parcerias com transferência de tecnologia;

5. Desenvolvimento da indústria nacional;

6. Ligação efetiva entre pesquisa acadêmica e política pública. 


Em vez disso, monogâmicos militantes — a última moda de (pseudo)pensamento que a idiotice criou — unem-se para proibir o casamento poliamorista. Heterossexuais voltam a tramar o fim do casamento homoafetivo.


Eu não consigo acreditar que estamos vendo um país tão contente em interferir em planos individuais e tão pouco cuidadoso das questões que o tornariam mais desenvolvido.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Acabo de ler "The MAGA Doctrine" de Charlie Kirk (lido em inglês)

 


Nome:

The MAGA Doctrine


Autor:

Charlie Kirk


Tradicionalmente o conservadorismo americano apresentava algumas divisões. Existiam os libertários, os conservatários, os paleoconservadores, os neoconservadores, os anticomunistas, os conservadores sociais, os conservadores fiscais. Várias subdivisões. Com a vitória do Trump, o movimento nunca mais foi o mesmo.


Atualmente surge um novo tipo de conservador na tradição do conservadorismo americano. Esses novos conservadores, um gigantesco movimento de massas, são chamados de "MAGA conservatives" (Make America Great Again [Faça a América Grande de Novo]). Um conservadorismo de uma verve mais populista.


Se perguntarmos de onde surgiu o apoio a Donald Trump temos em vista um cenário em que os grandes partidos (Democrata e Republicano) param de apoiar a população para se ancorar em sólidas relações com grandes corporações. Grande parte do povo americano se sentiu abandonado pelos políticos. Trump é um fenômeno dificilmente ignorável. Ele é, em verdade, o clamor de um povo que vê cada vez mais o seu voto sendo anulado pelas gigantescas correlações dos dois grandes partidos com grandes corporações. Trump vem com uma mensagem, uma retórica, que se aproxima das massas populares e suas crenças.


Não é possível deixar de citar o caso dos intelectuais. Os intelectuais, durante o surgimento do movimento MAGA, estavam mais ocupados em defender as suas próprias pautas do que pensar no que o próprio povo queria. O afastamento, sempre maior, do intelectual médio (aqui em gostos e afinidades) para com o povo se tornou cada vez mais triste. A cada dia que passa, o intelectual médio se torna cada vez mais distante do povo. O intelectual médio é visto como um burocrata que aparece tão somente para ditar regras e acabar com a diversão. Essa separação acaba gerando um sentimento de que intelectuais são contra o povo. E rapidamente o povo se torna contra os intelectuais.


A eleição de Trump e a reeleição de Trump demonstram algo que o mundo inteiro ainda não absorveu ao todo. É demonstrado cabalmente que a aliança entre políticos, corporações e intelectuais gera um rival que é notoriamente anti-político, anti-corporação e anti-intelectual ao menos no que se refere a retórica. Em todo mundo, intelectuais passam a ser vistos como cordeiros ou como cúmplices ou como parte do establishment. Em outras palavras, parte do problema e não a sua solução. Visto que são parte do sistema que simplesmente ataca e zomba do povo.


Num cenário em que o intelectual médio é anticristão, em que o intelectual médio é defensor de "formas alternativas de amor", em que o intelectual médio é a favor de uma regulação cada vez maior do discurso – o que infringe sobretudo as massas populares –, em que o intelectual médio quer controlar e regularizar tudo com base em seus próprios gostos, é natural que o povo crie sentimentos cada vez mais anti-intelectuais. O que não é uma aversão ao intelectualismo ou o academicismo em si mesmo, mas ao intelectualismo e academicismo de esquerda ou qualquer versão que se alinhe a linha a trindade governo-corporação-academia.


Creio que muito dificilmente os problemas serão entendidos. Atualmente a maioria dos intelectuais seguirá uma vida excêntrica, desprezando o povo – e rindo dele –, os políticos continuarão com os seus sólidos laços corporativistas e novos populismos surgirão. Esse século pode ser marcado pela trindade governo-corporação-academia contra o eixo outsider-populista.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Acabo de ler "Rebooting the American System" de American Compass (lido em inglês/parte 5)


Nome:

Rebooting the American System


Autor:

– American Compass;

– Wells King.


A guerra de 1812 levou a uma economia nacionalista que era naturalmente anti-britânica. Disso surgiu uma lição comum: a busca pela autossuficiência.


Três suportes mútuos:

– Proteção baseada em tarifa para as indústrias nascentes;

– Um sistema de financiamento nacional;

– Aperfeiçoamento Interno/Infraestrutura.


Algumas características da Escola de Pensamento Americana seriam:

– Batalha de Ideias;

– Contestação entre Nações;

– Busca pela felicidade e prosperidade geral;

– Segurança nacional;

– A unidade entre as analises econômicas, sociais e os fatores geopolíticos.


O Sistema Nacional era formado pela importância da economia nacional  na emergência da economia global. E o fim era um grau elevado de independência, cultura e prosperidade material – esse conjunto de fatores garantiria segurança interna. Da presidência de Abraham Lincoln até o fim da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos da América tiveram a economia mais protegida do mundo.

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Acabo de ler "Rebooting the American System" de American Compass (lido em inglês/parte 4)


Nome:

Rebooting the American System


Autor:

– American Compass;

– Wells King.


Os Estados Unidos teve o debate entre dois modelos econômicos que poderiam levar ao crescimento. Esses dois distintos modelos eram chamados de "The Hamiltonian Visión" e "The Jeffersonian Vision".


The Hamiltonian Vision:

- República comercial;

- Dirigida pela industrialização;

- Sistema financeiro robusto.


The Jeffersonian Vision:

- Democracia agrária;

- Pequena;

- Fazendeiros livres.


Como o plano de Hamilton acabou sendo seguido, vou detalhá-lo mais aqui:

- Agenda econômica agressiva;

- Tarifa econômica geral para criar um fundo do governo, fundo esse garantiria a função de empréstimo e a sua operação;

- Banco Nacional para a utilidade pública;

- Industrialização com subsídio nacional;

- Independência e segurança materialmente conectada com a prosperidade da indústria;

- Confiança no capital público para assegurar o desenvolvimento nacional, visto que o capital privado não seria o suficiente para assegurar esse desenvolvimento;

- Aquilo que ele era de interesse nacional deveria ser assegurado pela patronagem do governo;

- O investimento é uma afirmativa obrigação do governo federal;

- O interesse público supre a deficiência do setor privado.


domingo, 19 de janeiro de 2025

Acabo de ler "Rebooting the American System" de American Compass (lido em inglês/parte 3)

 


Nome:

Rebooting the American System


Autor:

– American Compass;

– Wells King.


O que é necessário para uma nação se desenvolver saudável e forte? Deixá-la livre para correr nos ventos do livre-mercado? Atá-la um compulsivo projeto de planejamento central? Ou unir o melhor do planejamento central junto ao mais dinâmico sistema de mercado? Observar as devidas proporções e os devidos ajustamentos históricos é extremamente necessário.


Três colocações centrais podem ser feitas:

  1. Um Banco público para o financiamento de um concreto e elaborado projeto nacional;
  2. Um escudo para com a produção estrangeira através de tarifas e um incentivo fiscal para as empresas nascentes;
  3. Uma infraestrutura que conecte os centros comerciais ao restante do país.
É evidente que esse planejamento, por mais simples e mínimo que seja, encontrou posição até no solo americano. O substituto para tal programa era o livre-comércio puro e simples, sem qualquer outra questão ou plano adicional.

Enquanto a esquerda se preocupa com a globalização e a redistribuição de renda, a direita apenas ignora as necessidades atuais dos cidadãos e as necessidades econômicas do país. Esse documento da American Compass, instituição conservadora americana, traz uma nova luz ao debate.


Acabo de ler "Rebooting the American System" de American Compass (lido em inglês/parte 2)

 


Nome:

Rebooting the American System


Autor:

– American Compass;

– Tom Cotton.


Nenhuma nação pode ser considerada verdadeiramente livre se não tem uma indústria forte o suficiente para suprir o essencial. Nenhuma nação pode ser considerada livre se não é capaz de fabricar aquilo que lhe é essencial, em especial no suprimento militar. Nenhuma nação pode ser considerada livre se os instrumentos essenciais da sua defesa nacional estão sujeitos a especulação de indivíduos ou de nações estrangeiras. Visto que indivíduos particulares seguem seus próprios interesses e nações estrangeiras pensam em defender a si mesmas e a perseguir seus próprios interesses.


A razão do surgimento do Banco Central nos Estados Unidos não era outra: a construção de uma indústria forte para assegurar a independência do seu próprio país frente a ameças externas. Em outras palavras, a segurança de uma nação depende da própria nação, visto que a confiança em fatores externos é prejudicial: países e indivíduos particulares estão na busca dos seus próprios interesses. A segurança nacional é de importância e interesse nacional, não pode correr riscos e nem se deixar levar por uma vaidade.


Durante o período da covid, máscaras respiratórias e medicamentos básicos ficaram a mercê da China, nação inimiga e hostil aos interesses dos Estados Unidos. Para piorar a situação americana, a China era o centro de suprimento global. A China vem colocado tecnologia avançada na comunicação em prol de agentes de espionagem chineses. As pretensões chinesas variam, mas podem ser descritas:

  1. Tecnologia avançada;
  2. Economia forte;
  3. Destruir a ordem americana global;
  4. Tecnologia avançada, sobretudo de duplo uso;
  5. Roubo de propriedades intelectuais.
A China foi considerado um parceiro estratégico durante a Primeira Guerra Fria. Atualmente estamos na Segunda Guerra Fria. Os Estados Unidos precisam passar por alguns processos para conseguirem se preparar para a Segunda Guerra Fria. Entre eles:

  1. Construção de uma força militar mais potente e em constante atualização;
  2. O governo federal deve fazer investimentos estratégicos em tecnologia avançada e em infraestrutura crítica;
  3. Aumentar o investimento federal em pesquisa e em desenvolvimento de forma continuada;
  4. Trazer de volta: medicina, semicondutores e tudo que for essencial;
  5. Correlacionar a protagonismo estratégico do governo a um capitalismo dinâmico para uma robusta economia nacional.
O mundo de hoje é um mundo em que duas potências (Estados Unidos e China) voltam a se confrontar numa guerra fria. A Segunda Guerra Fria já é realidade. Esse processo não pode ser ignorado. Ele influenciará todos os dias da nossa vida.

sábado, 18 de janeiro de 2025

Acabo de ler "Rebooting the American System" de American Compass (lido em inglês/parte 1)

 


Nome:

Rebooting the American System


Autor:

– American Compass;

– Marco Rubio.


A crise gerada pelo coronavírus levou a grandes reflexões mundiais. Não só pela questão dos chamados lockdowns e tudo que permeava as questões sobre a preferência do bem comum, dos direitos individuais ou do autoritarismo governamental. Questões econômicas também surgiram. Vários governos endossaram uma ampliação do papel do estado e outros falaram sobre como essa ampliação era nociva. Muitos falaram sobre o custo econômico das medidas e sobre a capacidade de recuperar a atividade econômica dos seus países. Nos Estados Unidos, essa discussão não foi diferente – teve as suas especificações próprias, tal como em qualquer outro país.


O documento que tenho instalado nos arquivos do meu celular é diferente. Usualmente se correlaciona muito o conservadorismo americano com uma espécie de suspeita geral para com o tamanho do estado e para com o poder que o estado possui. Conservadores americanos endossam um estado menor que os democratas. Pois bem, a reflexão da American Compass é fruto da discussão dos impactos do coronavírus. A lição que alguns conservadores americanos extraíram da crise foi a correlação entre segurança nacional e economia, levando a um apontamento da necessidade de uma soberania econômica, sobretudo nos setores estratégicos e cruciais para a segurança dos Estados Unidos da América.


Durante o período pandêmico, os Estados Unidos dependeram fortemente da produção industrial chinesa para cobrir as necessidades que surgiram graças aos impactos do coronavírus. Porém essa dependência da China foi construída graças a políticas econômicas que enfatizaram o papel da iniciativa privada como peça central na atividade econômica. Com base nas vantagens comparativas, o mercado preferiu produzir onde era mais barato e, naquele momento, a produção mais barata era na China. Graças a isso, muitas empresas americanas deixaram de empregar americanos e começaram a produzir uma série de itens dentro da China. Acontece que, durante o período pandêmico, os Estados Unidos ficou com a dependência da China para ter acesso a medicamentos e até mesmo para máscaras.


É evidente que a dependência crescente para com a China antecede o período pandêmico. E essa dependência, cada vez mais crescente, leva a um alerta sobre a segurança nacional dos Estados Unidos da América. Não só aos Estados Unidos da América, mas também para qualquer país do mundo que acredite que possa confiar setores estratégicos da soberania nacional para outro país. Não há como uma nação ser soberana e extremamente frágil naquilo que é essencial para o exercício da soberania dentro do próprio país.


Hoje em dia, os Estados Unidos não dependem da China tão somente para o acesso a medicamentos essenciais. Os Estados Unidos também dependem da China para a produção de produtos de alta tecnologia. Seja em matéria de produtos concernentes a segurança nacional, seja em minerais raros, seja em recursos integrados. Isso gera uma série dúvida a respeito dos Estados Unidos conseguir manter a sua soberania e se ele conseguirá vencer a China se a sua dependência se tornou cada vez crescente.


A reflexão que os conservadores americanos tiveram levou as seguintes conclusões:

1. Os Estados Unidos precisam autossuficiência na produção de suprimentos medicais;

2. É preciso criar uma política que seja a favor da empresa americana;

3. É preciso identificar quais setores econômicos são vitais para os Estados Unidos e proteger, incentivar e desenvolver setores de interesse nacional;

4. Restaurar e reestabelecer trabalhos na maioria crítica dos setores manufaturados.


Creio que todas essas reflexões não são só de interesse especial nos Estados Unidos. Essas reflexões são universais no tratante a qualquer país que ouse sonhar uma política verdadeiramente soberana. A soberania que não se baseie numa autossuficiência em setores críticos é autocontraditória para consigo mesma. 

domingo, 5 de janeiro de 2025

Acabo de ler "El camino del libertario de Javier Milei" de Juan Fernando (lido em espanhol/Parte 1)

 


Nome:

El camino del libertario de Javier Milei


Autor:

Juan Fernando Suazo Irachez


A Argentina é um país maravilhoso. Sua história, seus conflitos, a proximade que tem para nós brasileiros. Tudo isso é marcante e não passamos alheios aos seus problemas. O que acontece na Argentina, ressoa dentro de nós. Seja por empatia, seja pela correlação da cadeia de eventos que nos conectam.


Javier Milei é um outsider. Sua carreira começa com uma dura crítica a política dos K. Os argentinos estavam muito cansados da economia altamente inflacionária e difícil de controlar. Para todos, a inflação destruía as suas vidas. Seja pela diminuição do seu poder de compra, seja pela incapacidade de prever os rumos econômicos do país.


O interesse de Javier Milei pela economia começa durante uma crise inflacionária do país. Ali ele começou a sentir uma revolta que, por um impulso, levou ele a tentar compreender os problemas do país e a natureza econômica desses problemas. Nesse sentido, podemos especular um certo ranço – perfeitamente justificável – para com a inflação que tanto empobreceu e destruiu a vida dos argentinos.


Creio que Javier Milei é um produto histórico. A sua voz é um ataque contra uma política que era posta no seu país. Um reação natural, por assim dizer. Quando uma política vai muito para um lado, o outro lado passa a ser desejado.

sábado, 4 de janeiro de 2025

Acabo de ler "Cuba: restructuración económica, socialismo y mercado" de Vários Autores (lido em espanhol)


Nome:

Cuba: restructuración económica, socialismo y mercado


Autores:

- Julio Carranza;

- Pedro Monreal;

- Luis Gutiérrez.


Adentramos numa época em que vemos o fim do socialismo clássico como modelo. Adentramos numa época em que se fala de um novo socialismo, muito inspirado no socialismo chinês.


O que seria ou, melhor, o que foi o socialismo clássico? O socialismo clássico foi um socialismo que se norteava muito pelo papel protagônico do Estado como principal planejador e distribuidor dos recursos. Ou seja, é o Estado que toma o papel de construir o processo econômico. Essa política vigorou por muito tempo, até entrarmos na construção de um novo projeto econômico socialista.


Os autores definem bem: o socialismo é um regime em que o sistema de propriedade, é um sistema de propriedade em que a sociedade controla genuinamente os meios de produção fundamentais e se beneficia do uso desses meios de produção. Ou seja, a aplicação do regime econômico socialista é a propriedade social dos meios de produção fundamentais e não de todos os meios de produção.


Uma reforma econômica em Cuba seria uma reforma que tivesse os seguintes critérios

  • Recuperação do crescimento econômico;
  • Justiça social;
  • Independência nacional;
  • Redefinição das bases sociais de acumulação;
  • Reinserção na economia internacional;
  • Reforma do sistema econômico.
Os países e as experiências que foram observados como base para essa reforma foram:
  • Novo Mecanismo Econômico (Hungria);
  • Reforma Econômica Vietnamita (Vietnã);
  • Reformas de Deng Xiaoping (China);
  • NEP (União Soviética);
  • Perestroika (União Soviética);
  • Transições pós-comunistas (União Soviética e Leste Europeu).

A reforma abarcaria uma redução do papel do plano como instrumento central da assignação de recursos e coordenação econômica.


sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Acabo de ler "How Marxism Works" de Chris Harman (lido em inglês/Parte 5)

 


Nome:

How Marxism Works


Autor:

Chris Harman


Usualmente confundimos a nossa realidade espaço-temporal como uma realidade fixa. A razão disso é pelo fato de que estamos imersos nela, o que a torna imperceptível. O estudo da história e de outras culturas, por sua vez, ajuda na relativização das nossas noções enraizadas e, até mesmo, uma possibilidade de imaginar um outro mundo de possibilidades.


A divisão de tarefas dentro de uma sociedade é um produto recente de nossa história. É evidente que quanto mais tarefas desempenhadas por uma sociedade, maior será o nível de especialização e fragmentação das atividades entre distintos grupos e pessoas. Todo esse desenvolvimento prodigioso leva a melhoras quantitativas e qualitativas. Só que há um porém: essa riqueza que é gerada é concentrada nas mãos de um grupo minoritário da população.


A pergunta que temos que levantar é: como é possível que uma minoria de indivíduos detenham para si grande parcela de uma riqueza produzida por uma sociedade? A resposta é: a natureza das leis, na maioria dos casos, não serve ao interesse geral de uma sociedade, mas ao interesse da classe dominante.


A riqueza é criada pelo trabalho físico de vários trabalhadores. Só que não é a classe trabalhadora que recebe os benefícios da riqueza que ela produz. A riqueza é controlada pela classe dominante.

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Acabo de ler "Anatomy of the State" de Murray N. Rothbard (lido em inglês/Parte 2)

 


Nome:

Anatomy of the State



Autor:

Murray N. Rothbard


Nós nascemos sem nada no mundo. O estado natural do homem é a pobreza. A única forma de conseguir recursos é se mobilizando na produção, transformando a realidade e fazendo trocas por outros produtos. Só assim podemos transformar o espaço e aumentar o padrão de nossas vidas. Em certo sentido, o único meio de sobreviver é se envolvendo na dinâmica produção-troca de nossa sociedade.

Antes da sociedade de mercado, existiam outros meios de conseguir algo dentro de um espaço. Um dos meios era a chamada "lei da selva", onde homens disputavam entre si os recursos do espaço. A ausência do duplo mecanismo produção-troca fazia com que a disputa não fosse algo bom, mas sim uma batalha pela sobrevivência. Se pensarmos na anterioridade, a competição de mercado será vista como um mecanismo infinitamente mais civilizado do que a luta de todos contra todos.

Existem dois meios de se conseguir algo. Existe o já mencionado "meio econômico": baseado na produção e troca. O outro meio não é o econômico, mas se manifesta a partir da força. Isto é, você pode usar a força e violência para forçar os outros a darem os recursos, produções e serviços deles para você. Esse último meio é chamado de "meio político".

O "meio econômico" seria ditado pela lei natural. Você produz ou oferece algo, recebe algo por meio dessa troca voluntária. O outro meio, o "meio político", seria essencialmente autoritário. Seria um meio parasitário. Para conseguir fazer isso por um longo tempo, seria necessário colocar um monopólio. Esse monopólio apresentaria algo que só um grupo de indivíduos poderia suprir.

Se nos perguntarmos o que é o Estado, o Estado seria exatamente isso: a sistematização dos meios de parasitagem ou a organização do "meio político". O Estado é, por natureza, predatório. Só que um predador não pode ser tolerado facilmente, para ser tolerado ele precisa fazer com que a vítima não tenha uma defesa natural contra ele. Para tal, ele fornece uma "segurança" – ele ataca ladrões menores para poder ser o único ladrão – a sua vítima.

O nascimento do Estado não estaria muito ligado ao contrato social, mas sim a um grupo de conquistadores e dominadores. Esses conquistadores e dominadores fariam uma guerra, venceriam e tomariam conta do território, resolvendo seus "problemas de segurança". Ou seja, ele atacaria os "vilões menores" e estabeleceria uma coerção mais aceitável, uma violência menos brutal e mais sistemática. A natureza do Estado é de oferecer de forma sistematicamente mais organizada uma espécie de "repressão civilizada" e mascarar essa "repressão civilizada" com manipulações que façam que a vítima esqueça a sua real natureza.

domingo, 27 de outubro de 2024

Acabo de ler "Campus Battlefield" de Charlie Kirk (lido em inglês/Parte 14)

 


Nome:

CAMPUS BATTLEFIELD

HOW CONSERVATIVES CAN WIN THE BATTLE ON CAMPUS AND WHY IT MATTERS


Autor:

Charlie Kirk


A academia não é formada por sentimentos, embora eles façam parte dela. A academia é formada por uma série de pessoas que, ao debaterem livremente, possuem uma possibilidade maior de compreensão dos fatos. As diferentes escolas de pensamento, os seus diferentes pontos de vista, enriquecem o debate e as informações e compreensões que existem nele. É a liberdade de expressão, além de um olhar cauteloso perante sistematismos dogmáticos, que forma o debate.


Atualmente muito se fala sobre a organização do sistema econômico. Só que essa argumentação tem sido pautada por um excesso de moralismo para que não se veja os diferentes lados dessa história. A grande maioria chega a supor que os intelectuais de esquerda querem grandes burocracias pois seriam os beneficiários primários do poder político e econômico que essas grandes burocracias teriam. A outra grande maioria crê que os intelectuais de direita defendem a iniciativa privada por supostamente odiarem os pobres e o acesso que eles teriam a maiores oportunidades de vida. É evidente que isso descarta o debate a priori, já que as argumentações acerca da produtividade econômica – o que é mais favorável para a distribuição de recursos sociais – é amplamente ignorada.


A argumentação da direita acerca da economia tende a ser a de que um sistema descentralizado, onde as pessoas podem tomar diferentes iniciativas e testar diferentes fórmulas, é melhor do que um sistema centralizado, visto que esse impossibilitaria a possibilidade daquilo que poderíamos chamar de "feedback". Quando essa crítica é ignorada, como o é na maioria dos casos, o debate é simplesmente blindado. 

segunda-feira, 8 de julho de 2024

Acabo de ler "DICTADURAS MILITARES Y LAS VISIONES DE FUTURO" de Gabriela Gomes (lido em espanhol/Parte 4 Final)

 


Um Estado é uma visão de um projeto e a realização de um espírito. A ausência de um projeto dificilmente levará a unidade nacional. Logo se faz necessário que a nação tenha um identificação coletiva baseada no cumprimento duma missão civilizada.


Quando os militares assumiram o poder do Chile, quiseram refundar a sociedade e até mesmo a sua mentalidade. A sociedade chilena era vista pelos militares como extremamente estatista, o que a deixa suscetível a mentalidade socialista. Os militares trataram logo de implementar medidas de descentralização, diminuição do gasto público e diminuição do Estado, deixando a iniciativa privada ser o principal motor econômico. Na Argentina, o projeto refundacional deixaria a cargo da iniciativa privada tudo que não ferisse a assim chamada segurança nacional.


Essas iniciativas demonstram o desprezo dos tecnocratas ante ao povo. Isto é, eles creem que o povo não pode governar por si mesmo. Antes disso, o povo deve se elevar a tal ponto que chegue ao desenvolvimento cultural compatível com o nível de um tecnocrata. Essa inferiorização separa o restante da sociedade dos tecnocratas, supostamente portadores de uma visão superior e responsáveis pelos rumos do país. O que não é outra coisa que escravidão política.


Na futurologia argentina, se planejou um desenvolvimento agroindustrial, em que haveria uma implementação de uma modernização industrial. Assim acreditavam que teriam um valor agregado. Além disso, acreditavam que só com o desenvolvimento de uma mentalidade científica-tecnológica seria possível que a Argentina se tornasse uma nação moderna. Graças a isso, investiram também na cibernética, seja no campo da educação (preparando as pessoas para o ano 2000), seja na própria indústria. Computação e informática também foram preocupações do regime chileno, visto que elas se tornariam os motores do desenvolvimento em tempos posteriores.


Olhando hoje, não vemos nem o Chile e nem a Argentina como nações desenvolvidas e capazes de fazer frente aos EUA e Europa – além de, é claro, a China. Apesar de várias boas intenções dos tecnocratas, creio que não foram completamente exitosos em suas intenções. Será que o custo política, social e cultural foi adequado? Promoveu-se a escravização política de sociedades inteiras na promessa de um "futuro melhor" em que essas duas nações seriam equiparáveis a Europa e Estados Unidos, mas se entregou duas nações dependentes e que não tiveram suas prometidas elevações.

domingo, 30 de junho de 2024

Acabo de ler "DICTADURAS MILITARES Y LAS VISIONES DE FUTURO" de Gabriela Gomes (lido em espanhol/Parte 3)

 


O desenvolvimento nacional é uma questão de segurança nacional. Seja pela instabilidade interna que um país sofre ao não conseguir suprir as demandas de sua população, seja própria instabilidade externa que é causada pelo assédio imperialista de nações mais desenvolvidas. Sendo assim, o desenvolvimento nacional deve ser tratado como matéria da segurança nacional. Os militares argentinos compreenderam essa questão e, a partir disso, traçaram um plano para "salvar a Argentina" e possibilitar um futuro mais tranquilo onde ela fosse uma nação sólida. Não estou afirmando que seguiram o caminho correto e/ou que seus planos deram certo. Além disso, a questão da "futurologia" é multifacetada e apresentada em diversas propostas distintas por diferentes grupos sociais.


Especulava-se que o subdesenvolvimento não só da Argentina, mas como da América Latina – como também em todos os países subdesenvolvidos – poderia servir como "base operacional" dos países mais desenvolvidos. Isto é, sendo a América Latina portadora de inúmeras riquezas naturais, ela seria um território bastante agradável para nações mais desenvolvidas que não possuem tantas riquezas naturais. A questão é que a América Latina não tinha uma segurança muito boa para discutir com igualdade com essas nações mais desenvolvidas. Logo caso essas nações quisessem tomar a força esses recursos, elas conseguiriam fazer isso. Além disso, o superpovoamento e a necessidade de distribuição de recursos levaria a humanidade a um conflito existencial em relação a esses próprios recursos. Perón, naquele período, idealizou que o desenvolvimento não só da Argentina, como do assim chamado "Terceiro Mundo" era uma pauta de segurança e uma geopolítica sensata. Conjunturalmente faz todo sentido.


O correto seria uma geopolítica latino-americana orientada para um desenvolvimento que desse autonomia para essa região resistir ao assédio europeu ou estadounidense. Não só isso, o desenvolvimento econômico deveria ser sustentável e, de modo semelhante, a distribuição dos recursos deveria ser saudável (igualdade). Ou seja, o desenvolvimento deveria ser ecologicamente sustentável e a distribuição de recursos deveria se basear nos preceitos da valorização da humanidade. Propósitos bastante ricos e nobres. Tanto Perón quanto Salvador Allende tinham visões de um desenvolvimento autônomo da América Latina e as questões acerca da duplicidade e do paralelo desenvolvimento-segurança.

quarta-feira, 26 de junho de 2024

Acabo de ler "DICTADURAS MILITARES Y LAS VISIONES DE FUTURO" de Gabriela Gomes (lido em espanhol/Parte 1)

 


Chile e Argentina passaram por períodos turbulentos. Esses períodos foram propiciados pelo ambiente inóspito e radicalizado da "Guerra Fria". Para combater a possibilidade duma "revolução comunista", muitos países latino-americanos sofreram golpes militares que propunham uma visão oposta ao regime socialista em vigor na União Soviética. Esse também é o caso do Chile e da Argentina.


No Chile e na Argentina houve a criação da "Doutrina da Segurança Nacional", essa doutrina com tinha uma tentativa de criação de uma "futurologia". Essa "arte" criaria um ambiente propício para uma nação estável e não sujeita a instabilidades em períodos posteriores. Isto é, criaria um ambiente de uma nação que tem estabilidade contínua e não é ameaçada pelas forças do tempo. Essa ideia da criação de um "futuro melhor" norteou as políticas tomadas pelos regimes que então se instalaram e forneceram bases para a sua autolegitimidade.


A ideia de criar uma "nova legalidade" em que os regimes instalados conduziriam pedagogicamente o povo para que esse amadurecesse e pudesse tomar decisões por conta própria não é um capítulo recente da história. Projetos refundacionistas onde o poder é concentrado nas mãos de poucos e esse poucos conduzem o desenvolvimento nacional são capítulos recorrentes na história da humanidade. A questão está na "legitimidade" conquistada através dessa narrativa: a ideia central de que o poder pararia temporariamente nas mãos de tecnocratas iluminados que desenvolveriam o Estado, o povo e a própria infraestrutura em prol dum futuro em que o próprio povo fosse capaz de tomar essas decisões por conta própria.


É evidente que mesmo com isso em mente não havia uma precisão completa nesse arranjo. Os autores desses movimentos não tinham uma unidade doutrinal precisa. Alguns eram mais ligados a ideia de um Estado mais centralizado e dirigente, outros defendiam a iniciativa privada como principal motor da atividade econômica. É evidente que, sobre esse aspecto, existiram lutas internas antes do "programa" ser instalado nesses dois países.

domingo, 26 de maio de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 20)

 


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 269 à 278). Nesse capítulo, a questão tratada é o desenvolvimento do Estado socialista. Se na parte anterior, ficava cada vez mais claro que a União Soviética deveria desenvolver métodos que assegurassem a sua autonomia, nesta parte vemos quais foram as decisões tomadas em prol da construção da pátria socialista.


Em primeiro lugar, é impossível garantir que o país trabalhe com fome. Os métodos empregados pelos camponeses eram frágeis e pouco técnicos. Não poderiam servir para alimentar as massas proletárias e nem garantir a subsistência das forças armadas revolucionárias. O desenvolvimento do campo – a coletivização, maquinização e tecnicalização – se demonstrou uma das mais urgentes necessidades.


Por outro lado, um país precisa aumentar a sua produtividade com recorrência. Sem um aumento de produtividade, é impossível aumentar o bem-estar populacional. Ou seja, a própria ampliação do acesso a bens e serviços requer o aumento da produtividade. Para tal, se faz necessário a utilização de um maquinário que eleve a capacidade produtiva do país. Essa luta pela construção duma indústria – sobretudo a pesada – que desse suporte a construção do maquinário que seria empregado pelo campesinato e proletariado foi igualmente necessária.


Além disso, um país ameaçado pelas pretensões imperialistas européias requeria uma indústria militar sofisticada. A defesa da pátria socialista requeria um desenvolvimento militar ordenado e disciplinado. Logo houve a criação duma indústria bélica que ia em direção a proteção do país e a preparação com o inevitável conflito que se daria pela própria natureza do imperialismo.

segunda-feira, 6 de maio de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 11)


Essa é a penúltima parte de Emil Ludwig, indo da página 169 à 184. Nesse capítulo, Ludwig analisa o fenômeno bolchevista. Podemos dizer que a sua análise é bastante positiva e ele via com olhos bem treinados a esse fenômeno. Isto é, embora considerasse o empreendimento totalitário e coletivista, acreditava que muitos de seus aspectos eram renovadores e positivos.


Ludwig chega a traçar uma linha de desenvolvimento histórico, colocando o bolchevismo – uma expressão do marxismo – como parte da linha evolutiva das ideias humanas e, por conseguinte, uma concretização das  aspirações da humanidade. Ludwig também dirá que muitas vezes as ideias surgem mais como teses e só posteriormente adquirem forma concreta por meio de uma prática política. Também deixará claro que a forma radical usualmente cai pouco a pouco e é gradualmente implantada por meio de reformas.


De qualquer forma, se pegarmos a Revolução Francesa e os seus lemas, veremos uma incapacidade de realização plena daquilo que a revolução se propôs a fazer. A Revolução Francesa tinha três ideias: liberdade, igualdade e fraternidade. A única que ela pode conceber – e não de modo pleno – foi a da liberdade. E essa liberdade era circunscrita à própria capacidade econômica do sujeito que a exercia. Logo era válida perante a lei e inválida perante a realidade do universo de possibilidades da maioria absoluta das pessoas.


Fundamentalmente falando: a Revolução Francesa fracassou por causa de sua tendência abstrata. A liberdade, a igualdade e a fraternidade professadas eram falhas a partir do momento em que a liberdade era unicamente garantida pela lei e a igualdade era só perante essa mesma lei. A fraternidade em si mesma é impossível no regime econômico liberal. Não há como garantir liberdade sem garantir a igualdade econômica. Uma igualdade meramente perante a lei é uma abstração: o próprio poder econômico corrompe e distorce essa mesma igualdade. Ou seja, o regime burguês falsifica a si mesmo enquanto o regime proletário tenta efetivar concretamente aquilo que se propõe a fazer.

domingo, 5 de maio de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 9)

 



Essa parte também foi escrita por Emil Ludwig, é concernente às páginas 153 à 160. Ter um governo não basta, ter um Estado não basta. Se não há um princípio que regulamente as atividades, não há garantia de poder – e nem da continuidade desse poder. O poder, para ser harmônico, depende dum comportamento estrutural. Esse comportamento estrutural é estruturalizado nas ideias dos detentores do poder. Se cada um seguir aquilo que quer, de forma individualizada, reina o caos e não a ordem – a ordem dos detentores do poder. É próprio de um grupo detentor do poder criar regras que garantam a própria funcionalidade da sociedade em correlação aos seus interesses, o Estado soviético seguiu essa mesma lógica essencial à natureza mesma do poder.


Se o Estado burguês é caracterizado por garantir a inviolabilidade da propriedade privada dos meios de produção como aspecto majoritário e motor da atividade econômica, o Estado soviético, sendo proletário e campesino, teria um fundamento oposto, ou seja, a propriedade coletiva/comum dos meios de produção como aspecto majoritário e motor da atividade econômica. Isto é, um regime que dialeticamente é montado para estruturar um Estado contrário ao Estado burguês. A oposição – a completa inversão de valores que se demonstram contrários à ordem até então instituída – é evidente por si própria.


Enquanto que o Estado burguês se caracterizará por uma igualdade no âmbito da lei – embora não possa cumprir isso com perfeição graças a distorção econômica criada pela desigualdade socioeconômica –, o Estado proletário terá não só a igualdade no âmbito da lei, como a igualdade no âmbito da economia – embora as elites tenham burlado muito desse aspecto. É evidente que um indivíduo mais rico tem acesso a melhores recursos que um indivíduo mais pobre. O Estado burguês, junto a ideologia burguesa, justifica essa mesma desigualdade como natural, mesmo quando essa corrompe a própria igualdade perante a lei instituída pelo próprio Estado burguês. É por isso que o Estado operário buscará impedir que exista uma economia baseada na desigualdade, visto que a própria desigualdade corrompe.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Acabo de ler "Historia de la Unión Soviética" de Carlos Taibo (lido em espanhol)

 



A revolução russa, junto com a construção do Estado soviético, é um período marcado amplamente por uma série de contradições que revelam a própria natureza humana em suas glórias e misérias. Neste livro, o autor passa pelo período pré-revolucionário, revolucionário, pós-revolucionário, o Estado soviético e o período pós-soviético. Embora o livro se centre mais no período do Estado soviético.


O Estado soviético passa por várias transformações. A própria luta socialista se caracterizou por uma série de divisões. Houve o período de luta contra os "não socialistas", a luta dos socialistas contra outros socialistas, o assassinato da oposição socialista dentro do próprio partido, a tentativa de restauração da descentralização democrática, o retorno aos hábitos de tirania despótica, a nova tentativa de democratização e o fim da União Soviética. A anatomia do poder, longe de dar poder efetivo ao proletariado e campesinato, foi construída por uma burocracia altamente centralizada e hierárquica.


A corrupção e o abuso de poder, tão criticada, logo as tornou a configuração mesma do poder que ia surgindo. A burocracia, longe de ser a vanguarda do proletariado na condução do socialismo, tornou-se uma classe própria. A pretexto de edificar o socialismo e calar a possível oposição ao socialismo, criou-se um maquinário de censura e destruição sistemática que pesou na oposição socialista marxista e não-marxista. Tudo foi corrompido pela própria natureza humana que não pode ser, e nem será, moldada inteiramente pelas condições sociais que iam surgindo.


A distribuição de recursos não era uma questão puramente econômica. Era mais uma batalha política em torno dos recursos do que uma gestão sóbria. E tal condição, pouco a pouco, levou à ruína da própria economia soviética. Grupos disputavam entre si os recursos que seriam dispostos sem pensar no todo envolvido. Embora não se possa dizer que a União Soviética falhou em tudo, a eficiência de setores era extremamente desnivelada e contraditória. O socialismo morreu nas mãos dos próprios sonhadores.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Acabo de ler "Amores Proibidos na história do Brasil" de Maurício Oliveira




Nada melhor do que terminar o ano lendo sobre o amor, não é mesmo? Este livro traz uma perspectiva intensamente interessante: partes da história de nosso país contada através da situação romântica de homens e mulheres que marcaram a história do Brasil. Um prato cheio para quem busca estudar nossa história sem o fardo de se perder no vaivém burocratizante e sonífero que toma conta da nossa história extremamente academicizada e pouco apaixonada.


Aqui o leitor entra em contato com uma realidade que transcende a banalidade oficialesca que é usual nossa forma histórica-narrante, isto é, ele sai das condições do castelo de marfim dos padrões normativos e adentra nos terrenos ocultos e íntimos do amor. O leitor, pouco a pouco, compreende que os grandes homens e mulheres de nosso país não eram tão somente figuras de ação política, cultural ou econômica: eram homens e mulheres normais, infinitamente normais, e, portanto, ligadas ao ato profundamente humano e normal que é o ato de amar.


O que move a história é mais do que uma gigantesca maçaroca de idealidade abstrata. O que move a história é muitas vezes o desejo de amar e ser amado. E esta necessidade leva os seres a grandes ideias. O amor precede tudo. O amor é o guião da inteligência e dos grandes atos. Até mesmo a ciência está envolta deste calor efervescente a qual poderia chamar de chamas do amor. A ideia de que estamos separados do imaginário e da busca do Ordo Amoris em todos os nossos atos nada mais é do que uma construção da própria imaginação humana e a objetividade nada mais é do que um fruto dum desejo subjetivo.


O leitor corre um grande risco ao entrar em contato com esse livro: o de ver-se humano. Quando nos vemos como humanos, apaixonamo-nos e deixamo-nos a mercê dos ventos da impotência da volatilidade do desejo. E, quiçá, em uma época tão dominada pela idealidade vazia dum maquinacismo vil, exato e proporcionalmente desumano, esta ação de se deixar levar seja a nossa principal lição.