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segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Há um buraco no meu peito!

Há um buraco no meu peito amargo. Há um buraco que ninguém mais vê. Ninguém mais vê, ninguém nunca viu absolutamente nada. Ando a sangrar a cada dia, ando padecendo a cada instante. Em cada camiseta, há um sangue invisível escorrendo do meu peito. Eu tenho fôlego, folego o suficiente para caminhar sem coração. Sou esperto o suficiente para dizer que em palavras sutis, vejo conjurações. Conjurações diabólicas do inferno que são os outros. Tudo que quero hoje é chorar, tudo que quero hoje é esquecer até da mais feliz reminiscência, já que mesmo nelas me mergulho em ressentimento.


Eu não tenho esperança. O futuro não é incerto, ele é trágico. De onde vem tal certeza autovitimada? De onde vem a loucura que me abarca. Sinto meu nariz sangrar enquanto não sangra. Sinto meus olhos chorarem enquanto não choram. Sinto minha boca gritar enquanto não grita. Pessoalmente, pareço normal. Tão normal quanto qualquer pessoa normal pode ser. Só que meu grito silencioso só é silencioso externamente. Internamente ele é tão audível quanto real, não só real, é tão real quanto desesperador. Quem pode livrar o moderno átomo da consciência atormentada? É como se vermes invisíveis crescessem em minha cabeça anuviada, mexendo-se interminavelmente em minha consciência precária.

Eu vi o reflexo do espelho. Eu o vi. Ninguém mais o viu, só eu o vi, só eu ouvi, só eu senti. Ele gritava. Gritava enquanto saia sangue de seus olhos, de sua boca e nariz. Eu tive que fugir do banheiro em que estava o seu abjeto ser, para fugir do reflexo. Tão logo fugia, igualmente, da imagem da câmera frontal de meu celular. Tão logo fugia de cada encontro desencontrado. Minha boca secou, secou depois de imensamente gritar em gritos inaudíveis. Isso não é biológico, não é natural gritar sem gritar e depois cansar de tanto não gritar. Não é natural, não é normal, é sumamente antinatural e sobrenatural, portanto nada mais é mais estranho e mais humano.

As ideações suicidas são pensamentos ou projeções imagéticas? As ideações suicidas são pensamentos ou previsões de um futuro não tão incerto? O que eu quero é uma arma em minha boca seca, separando cada pedaço de meu cérebro num equidistante eterno. Eu quero ver, perto de uma estação de trem, um trem a passar na caminha cabeça, tal como se passasse num monótono trilho velho, livrando-lhe do que há de torpe. Eu quero morrer e mesmo assim ver todas as faces horrorizadas dessa cidade desalmada, conquanto que abundante em almas. Almas não mais conscientes, mas doentiamente alienadas.

Se tudo que vejo são demônios, é natural que eu igualmente o seja. Se o fim do homem é a felicidade, quão corrupto sou eu e quão corrupta é a nossa sociedade. Eu não posso mais beber para esquecer, já que o anjo da morte está sempre ao meu lado. Não posso fumar, nem a tranquilidade tóxica ao meu peito invade. Pelo contrário, sou bomba atômica em perene externalidade. É como se a tensão gravitacional ao meu ser esmagasse. É como se eu já soubesse: há mais coisas entre o Inferno e a Terra que a nossa vã esperança pode conceber. É impossível não falar tamanha heresia que no meu peito vazio e niilista se cria: preferível é a sorte do aborto, já que o destino do homem é caminhar em desalegria.

sábado, 18 de dezembro de 2021

Antropoteísmo sem Antropos

Mãe, eu tenho trabalhado sem trabalhar o dia inteiro. Procurando na melancolia a flor. Nas cidades, com a urbanização e a consequente inconsciente escravização dos homens, não crescerão jamais flores para a verdadeira alegria dos homens.


Nossas casas são prisões  contra os tormentos, nossos risos são peças de teatros, não somos travestis, mas travestimo-nos para continuar a trabalhar. Trabalhar a moralidade ególatras de alcoólatras martirados pelo fogo, marginalizados pelo medo de infeliz ficar sem a selva de vaidades sem tréguas. Os presos não escondem os edifícios e nem aquilo que é difícil. A morta é tão morta quanto a própria morte. O tiro é mais eutanásia sem pressão do que uma pressão de que aqui devo ficar.

Eutanásia nesse mundo é piedade. Eutanásia nesse mundo é ortonásia do que eutanásia. E as drogas só continuam a provar que o a Terra é mais Inferno do que o Inferno. O anjo caído sempre anda com novas asas. O anjo caído é tão escuro quanto e como minha pele. E se for parente meu, não o jugo pelo jugo.

Meu sonho mais tenro é um trem me espatifando e fincando nos anônimos habitantes terrestres de nossas cidades. Cidades cercadas de opressão circundante, infernizante e marginilizante. Fui concebido no céu e nascido do inferno. Se eu soubesse que hoje o útero ainda é melhor que o Inferno Vivante, preferia o castelo uterino que a essa realidade tão ruim.

Já fazem oito anos que o Inferno se fez Terra. Já fazem oito anos que a disparidade não mais engana. Já fazem oito anos que o mel é suicídio e o fel é a vida. Já fazem oito anos que entro em delírio saltitante que sonho com a punição de um Deus impassível. Já fazem oito anos que entro na caverna prisional do Deus Dragão martirizante. Já fazem oito anos que dormir pra caralho é melhor do que trepar. Já fazem oito anos que tenho amado sem amar. Já fazem oito anos que o vinho é sempre sem açúcar, que o chá vem sempre frio e que o café é sempre naturalmente salgado. Eu não sou tão cristão quanto Plínio Salgado, mas sou tão impuro quanto Rousseau. Não sou Lutero com 95 sentenças, sou Lutero com novecentos e noventa e nove penitências, tal como se eu fosse mais Legião do que Cristo.

Eu não amei o suficiente, mas tive dose suficiente de insuficiência. Vontade de poder sem metáfora. Se eu não fosse tão marginal quanto a impotência, ao menos não seria tão fraco contra a idolatria social, antropoteísmo sem antropos.