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segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Acabo de ler "Teologia do Domínio" de Eliseu Pereira (Parte 3)

 


Nome:

TEOLOGIA DO DOMÍNIO: UMA CHAVE DE INTERPRETAÇÃO DA RELAÇÃO EVANGÉLICO-POLÍTICA DO BOLSONARISMO


Autor:

Eliseu Pereira


"os seres humanos são essencialmente religiosos, dependentes de Deus e não seres racionais independentes"


A ideia de que o homem não é livre, mas simplesmente um objeto a ser condicionado é um tanto problemática. Existe diferença entre ser um "ser" e um "objeto-a-ser-condicionado". A liberdade, por assim dizer, não existiria. O que existiria seriam objetos. E esses objetos precisam ser condicionados, destituídos de qualquer propósito que escape aos planos do "Criador".


O plano reconstrucionista é o de criar uma fábrica de seres condicionados pela teonomia (leis de Deus). Incapazes de cumprirem qualquer outra coisa ou de terem liberdade atitudinal. Para tal, requerem até mesmo a diminuição do Estado e o aumento gradativo da igreja em todos os setores da vida. Além desses condicionamentos, existe outra problemática no meio: a defesa da servidão para o pagamento de dívidas e pena de morte por apedrejamento.


O plano de reconstrução do patriarcado é bastante claro. A raíz reacionária bastante precisa. O retorno a essa "sociedade cristã primordial" – o passado glorioso – requer o sacrifício até mesmo daqueles que seriam vistos, por muitos intelectuais vulgares, como aliados do plano. Se não fosse isso, não haveria uma citação clara contra os conservadores:


“Todos os lados do espectro humanista são agora, em princípio, demoníacos; comunistas e conservadores, anarquistas e socialistas, fascistas e republicanos” (RUSHDOONY, 2010, p. 236).


O tipo de plano que se estabelece por esses teóricos, e seus seguidores políticos nos EUA e na América Latina, é um retrocesso enorme em toda a argumentação que se vem desenvolvido ao longo dos anos. Se as ideias chegarem ao ponto de se realizarem, o que ocorrerá a partir daí é a repressão sistemática de qualquer oposição política e/ou religiosa aos cristãos dominionistas. Tal como aparece como pressuposto no seguinte argumento:


"Todo mundo fala sobre liberdade religiosa, mas ninguém acredita. Portanto, sejamos francos sobre isso: devemos usar a doutrina da liberdade religiosa para ganhar independência para as escolas cristãs até alcançarmos uma geração de pessoas que sabe que não existe neutralidade religiosa, lei neutra, educação neutra e governo civil neutro. Então, eles se ocuparão na construção de uma ordem social, política e religiosa baseada na Bíblia que finalmente nega a liberdade religiosa dos inimigos de Deus"


A liberdade de investigação e de pensamento tem sido, durante um bom tempo, o motor do progresso. Não há como garantir o bem-estar social – a melhora contínua dos padrões de vida – sem essa mesma liberdade. O condicionamento contínuo leva a um padrão fixo que impede o desenvolvimento, visto que muitas vezes o desenvolvimento está atrelado a síntese entre diferentes componentes que só são perceptíveis por diferentes grupos e pessoas.

domingo, 24 de outubro de 2021

Acabo de ler "Dante Alighieri - o Poeta Filósofo" de Carlos E. Zampognaro.




    Acabo de ler "Dante Alighieri - o Poeta Filósofo" de Carlos E. Zampognaro.
 
    A pergunta que sempre se faz acerca de Dante é: "quem era esse homem?". E a resposta habitual é: "um grandioso poeta" e, aparentemente, isso basta como classificação a um homem tão conhecido como desconhecido. Posso dizer que, hoje, conheço mais Dante do que outrora conhecia.

    Dante, meus amigos, não era somente um poeta. Ele era um homem de vasta erudição e um erudito que não se afastava do povo e de sua simplicidade. Várias vezes, Dante foi um "democrata" que levou filosofia para aqueles que não sabiam latim - língua intelectual utilizada amplamente por acadêmicos, conquanto que desconhecida pelo povo mais humilde. Dante, além de ser uma pessoa que se aproximava do povo, não fez só isso: ele foi um grande linguista que defendeu a língua popular. Quis estar ao lado do povo.
 
    Dante foi profundamente cristão. Só que não era daqueles cristãos puristas que queriam uma literalidade cristã pura e sim um cristão com grande capacidade de entender obras de "pensamento pagão" - leia-se: obras do período pré-cristão - e, até mesmo, concordar com elas em múltiplos pontos. Dante foi um teólogo de marca maior e um filósofo profundamente filosofante. Dante não era um teólogo por pura intelectualidade, mas por profunda crença e por profundo amor. Dante não foi filósofo por pedantismo, mas por amor real ao conhecimento e por busca real pela verdade - até mesmo pela verdade mais inconveniente.
 
    Dante, sendo alguém de nobreza, nobreza como realidade atitudinal e não como mera herança de sangue, foi perseguido a vida toda e defendeu a pauta da separação da Igreja do Estado. Graças a isso, viveu a vida como exilado, só que mesmo exilado não se entregou a uma posição acovardada que aceitava por medo aquilo que discordava. E é por essa série de coisas que hoje eu gosto mais de sua obra e não só de sua obra: gosto também de sua pessoa, de como ele foi como humano.