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quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Acabo de ler "Amores Proibidos na história do Brasil" de Maurício Oliveira




Nada melhor do que terminar o ano lendo sobre o amor, não é mesmo? Este livro traz uma perspectiva intensamente interessante: partes da história de nosso país contada através da situação romântica de homens e mulheres que marcaram a história do Brasil. Um prato cheio para quem busca estudar nossa história sem o fardo de se perder no vaivém burocratizante e sonífero que toma conta da nossa história extremamente academicizada e pouco apaixonada.


Aqui o leitor entra em contato com uma realidade que transcende a banalidade oficialesca que é usual nossa forma histórica-narrante, isto é, ele sai das condições do castelo de marfim dos padrões normativos e adentra nos terrenos ocultos e íntimos do amor. O leitor, pouco a pouco, compreende que os grandes homens e mulheres de nosso país não eram tão somente figuras de ação política, cultural ou econômica: eram homens e mulheres normais, infinitamente normais, e, portanto, ligadas ao ato profundamente humano e normal que é o ato de amar.


O que move a história é mais do que uma gigantesca maçaroca de idealidade abstrata. O que move a história é muitas vezes o desejo de amar e ser amado. E esta necessidade leva os seres a grandes ideias. O amor precede tudo. O amor é o guião da inteligência e dos grandes atos. Até mesmo a ciência está envolta deste calor efervescente a qual poderia chamar de chamas do amor. A ideia de que estamos separados do imaginário e da busca do Ordo Amoris em todos os nossos atos nada mais é do que uma construção da própria imaginação humana e a objetividade nada mais é do que um fruto dum desejo subjetivo.


O leitor corre um grande risco ao entrar em contato com esse livro: o de ver-se humano. Quando nos vemos como humanos, apaixonamo-nos e deixamo-nos a mercê dos ventos da impotência da volatilidade do desejo. E, quiçá, em uma época tão dominada pela idealidade vazia dum maquinacismo vil, exato e proporcionalmente desumano, esta ação de se deixar levar seja a nossa principal lição.

terça-feira, 19 de abril de 2022

Acabo de ler "O Inconsciente" de Rudolf Allers

 



Pensar a partir de diferentes pontos de vista pode ser uma tarefa difícil, sobretudo para aqueles que se enraízam num modo de pensar. Só que é sempre importante uma abertura, sobretudo para aquele que quer pensar com real liberdade - o condicionante é o que afeta a liberdade de inteligir.

Esse é o primeiro texto que leio de Rudolf Allers. Ele foi algo de diferente, já que o autor tem um posicionamento contra Freud, porém me abriu espaço para um entendimento maior da própria obra de Freud. Rudolf Allers fez parte do primeiro grupo do fundador da psicanálise, é por isso que suas críticas são, para mim, de vital importância. Embora eu tenha visto um caráter religioso como "fator afetante". Allers afastou-se de Freud tal como Alfred Adler. Outro dado importante: Allers foi mestre de Viktor Frankl, figura intelectual que me é de maior referência.

O que se pode dizer do livro? Allers critica a forma que Freud vê o mundo, talvez por causa do catolicismo e, por outro lado, pela sua percepção da teoria do inconsciente sendo encontrada - mesmo que sem maior capacidade teorética - em outros pensadores bem mais antigos que Freud. Ele vê um caráter inovativo na obra de Freud, só que não o vê como absolutamente novo. Mesmo que a teoria antiga do inconsciente não seja tão bem formada como a de Freud. Uma de suas principais críticas a Freud e Jung, por exemplo, está na postura naturalista - por excelência, antirreligiosa - que relativiza o grau de verdade religiosa (Jung) ou mesmo "exclui o pensamento religioso" (Freud).

Mesmo não sendo tão apegado ao pensamento religioso de forma confessional ou até mesmo relativizando a religião como adesão subjetiva, vejo que Rudolf Allers consegue explicar com certa clareza as ideias de Freud e elegantemente tentar refutá-las utilizando-se de seu arcabouço erudito. Não só isso, compreendi mais Freud e a psicanálise com a ajuda dele e nisso lhe sou grato.