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domingo, 27 de outubro de 2024

Acabo de ler "Heretics" de G. K. Chesterton (lido em inglês/Parte 2)

 


Nome:

Heretics


Autor:

G. K. Chesterton


Se pudéssemos olhar todos os problemas do mundo, talvez chegássemos a algumas questões.  Chegaríamos a essas questões na medida em que olhássemos para o quão problemático o mundo moderno é e o quão imersos em problemas o homem moderno está. Como resolveríamos isso? Há quem diga que o que nos falta é realismo. Só que existe outro apontamento: somos pouco idealistas demais para sermos realistas. Podemos até ter motivos para olhar para a realidade, mas não temos ideias suficientemente fortes para tentar resolvê-los.


Anteriormente a negação vinha acompanhada de uma afirmação. A afirmação era prévia até a propriamente o que se negava. Hoje adentramos, cada vez mais profundamente, numa era em que buscamos atacar os defeitos do mundo sem nada que possamos colocar no lugar. Em outros termos, temos um inferno sem ter a possibilidade de um céu. Todo defeito é destacado com os arroubos meteóricos de uma retórica detalhada, mas toda virtude aparece sem coloração num quadro vago.


Houve um tempo em que aparecia diante se nós uma questão. Essa questão era uma pergunta cósmica acerca do sentido geral da existência. É nessa questão última que se revela cosmologicamende o sentido geral da existência. O sentido geral da existência subordina todas as outras questões, visto que todas as outras questões são secundárias. Com o tempo, quisemos nos libertar do peso da religião. Para tal, chegamos a conclusão de que não importava a filosofia ou a religião de alguém – tudo é relativo. Com isso, pulamos da pergunta para a resposta, resposta essa que seria singular. Essa forma de pensar levou a um não-pensar, visto que era a pergunta em si que possibilitava a nossa capacidade de resposta. Agora o que nos aparece não é a questão e nem a resposta. Estamos apenas por aí, vagando nesse universo de vácuo.


Pense, por exemplo, nas discussões modernas. Perguntamo-nos acerca do que é a liberdade, acerca do que é a educação, acerca do que é o progresso. Só que nos esquivamos, sempre e eternamente, sobre qual é a natureza do bem. Somente a natureza do bem pode nos dizer o que é a boa liberdade, o que é a boa educação, o que é o bom progresso. Sem sabermos primeiramente o que é essencial, não temos uma direção. A ausência de direção nos joga, novamente, ao acaso. Sempre estivemos andando em um labirinto, só que, graças aos nossos modernos sensos, estamos pela primeira vez andando num labirinto com a ausência de uma lanterna.


Falamos bastante em progresso e nos julgamos progressistas. Quanto mais progressista é alguém, mais essa pessoa é supostamente boa. Todavia o que define algo como um progresso? Se o progresso não tem uma finalidade, se não estamos caminhando para algum lugar, não podemos sequer medir se estamos indo bem ou mal em nossa caminhada. Não há como acreditar que tudo é relativo e dizer que estamos indo para o progresso, visto que o progresso, em si, seria relativo. Se o progresso é relativo, estamos indo pra qualquer lugar e isso não indica coisa alguma.


Para sabermos o que estamos fazendo, para sabermos para onde estamos indo, para sabermos se estamos bem ou mal, precisamos de um sentido. Progresso não pode significar que estamos mudando de direção a cada brisa de vento, mas precisamente que estamos indo a uma direção. Essa direção indica uma moralidade e indica uma fé quanto a essa moralidade.

terça-feira, 31 de maio de 2022

Um Gorducho com Duas Espadas - Parte 2 (Hereges - G. K. Chesterton, pág. 33 a 43) (Lamentações - Jeremias - 1)

 




A similitude de Hereges de G. K. Chesterton com Lamentações de Jeremias poderiam ser meramente ocasionais se não fosse pelo fato de que Chesterton era um teólogo no sentido mais substancial do termo e real em vivacidade, seja em inteligência ou vida em santidade. Mas cenas catastróficas das lamentações em que fala o profeta Jeremias, vemos uma cidade que se perdeu no peso de sua própria glória e esqueceu-se do motivo central que a edificou pomposamente. 


Olhando o argumento anterior, pensa-se: Jerusalém esqueceu-se de Deus, Deus maldosamente a castigou. Só que é má teologia pensar assim, Jerusalém não foi castigada por Deus e sim por si mesma. Ao viver uma vida que foge da substância e cai no mero acidente, perde-se a centralidade e consciência daquilo que nos circunda e importa. É como o homem que hipnotizado pelo amarelo do ouro, passa a acreditar que tudo que é dourado é ouro. Daí encontramos Chesterton: o peso doutrinal é sumamente ignorado e existem discussões que não tratam da essência das coisas, mas de meros itens secundários. É uma discussão metodológica sem a razão que fundamenta o método.






Por exemplo, Chesterton, ao ver que a frase de que "a vida não vale a pena ser vivida" é um bem elabora o seguinte argumento se o pensamento fosse sistematizado: 

Toda ordem que temos hoje seria posta ao contrário e o único objetivo da vida seria o extermínio da vida existente.






Chesterton e a Bíblia me fazem perceber que estou atirando cegamente, esses tiros escapam da seriedade pelo simples fatos de serem ingênuos. Perco-me no subordinado sem alcançar jamais a ordem, já que a centralidade do meu discurso e de minha vida se perderam em banalidades que escapam da centralidade almejada. A vida requer um sentido profundo que lhe dê plausibilidade e dirigibilidade radicada nesse ideal. Se não, perde-se em pormenores que são acidentais. Uma das próprias condições para se atingir isso é a aplicar as crenças num exercício mental de realidade, com pessoas e objetos concretos, testando a veracidade dessas crenças dentro do universo real. Voltar ao senso comum.