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sábado, 14 de janeiro de 2023

Acabo de ler "O Ateneu" de Raul Pompéia

 



Seria difícil precisar o quanto esse livro é belo em sua estilística. O leitor ou a leitora que se deparar com esse livro terá em mãos uns dos livros mais belos de toda a língua portuguesa, uma verdadeira obra prima em qualidade estilística.


O autor apresenta uma qualidade que foge muito do padrão, nessa obra temos uma experiência antebeatífica da experiência do encontro com o divino. Só que não é só na beleza que esse livro marca a sua presença, toda a sua descrição psicológica apresenta uma qualidade e um rigor descritivo que denotam uma capacidade de um exímio psicólogo, conhecedor profundo da alma humana.


A história se passa dentro do domínio do Ateneu, colégio interno com todas as pressões possíveis. O protagonista sofrerá nas mãos repressivas desse aparato educacional condicionador e tirânico. O livro é, igualmente, uma crítica a forma com que se dava o processo educacional.


Um leitor mais acostumado a uma leitura crítica ao modelo de educação de outrora verá, nesse livro, uma importante informação para compreender como essa se dava. A educação, em vez de ser um processo libertacional, nada mais era que um local de geração de todos os traumas possíveis.


Esse livro exigirá, do leitor, uma portentosa atenção para que ele não se perca. O leitor terá, ao fim da leitura, uma experiência artística, intelectual e cultural de primeiríssimo grau.

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Acabo de ler "200 crônicas recolhidas" de Rubem Braga

 



Se existe um gênero que eu particularmente amo ler, esse é o gênero de crônicas. A leitura desse livro de 488 páginas foi-me um deleite de finíssimo grau, dando a minha vida aspecto suave e mavioso. Sou apaixonado por crônicas desde que o autor Nelson Rodrigues adentrou em minha vida.

Confesso que quando recebi esse livro, logo o estranhei. Não achava que me interessaria por inteiro pelo livro, mas logo fui conquistado pela riqueza do autor. A forma com que a simplicidade e complexidade se engendram harmoniosamente é particularmente espantosa e espetacular. O autor consegue colocar todo simples assunto num altar, exaltando a simplicidade e demonstrando-a grandiosa. Toda essa apoteose deixa a vida mais enriquecida e bela, com Rubem Braga aprendemos a referenciar os pormenores da vida.

Creio que a beleza salvará o mundo. Até certo momento, tinha um grande problema em encontrá-la. O quão cego eu era. A cotidianidade pode ser incrível, o comum e o fantástico podem ser encontrados no mesmo lugar. Rubem Braga é uma espécie de Chesterton em sua apreciação pelo comum. Não por acaso, Chesterton é citado em uma de suas maravilhosas crônicas.

Passei dias lendo o livro lentamente, sempre apreciando meu novo método de leitura. Nunca pensei encontrar uma rica espiritualidade numa obra que me viria por acaso. Sinto-me grato de ter recebido esse livro dum grande amigo.

quinta-feira, 21 de julho de 2022

Prelúdios do Cadáver #5 - Eu já não leio Karl Marx

 Texto publicado em 23/06/2018


Há quem veja a história como um eterno círculo a repetir-se. Há quem veja a história como uma continuidade progressa. Outros veem como uma continuidade regressa. Particularmente, creio nas três visões. Todavia não sou um historiador, sou apenas um jovem adulto tentando entender o mundo.


Fumei um cigarro agora há pouco. Fumei na oitava série. Fumei no ensino médio. Fumei na faculdade. Parei de fumar várias vezes. O cigarro, quando entrou em minha vida, era um ineditismo. Agora é um recomeço e uma continuidade. É também um regresso para minha saúde. É o chamado eterno retorno. Voltar a fumar é meio ruim. Odeio o cheiro, mas logo deixarei de senti-lo. O cigarro é-me uma figura intermitente.


Tudo volta. Tudo volta sobre novas formas. E sei que sempre voltarei ao que outrora eu era. Tudo isso sobre um misto de nova forma e velha forma. Pois tudo volta e há de voltar.


Eu já não leio Marx. Fui irradiado com uma alienação burguesa e agora só me importo com a beleza das flores. Como eu poderia ler Karl Marx? Se o amargo café anima meu ânimo. Se a beleza das cores embeleza o mundo. Se os filmes de drama fazem meu ser chorar. Como eu poderia ler Karl Marx? Sou um alienado, um sentimental, um eterno romântico condenado. Eu já não tenho razão! Eu só tenho a chama da paixão!


Despolitizei-me: tornei-me o que eu era antes: um alienado político, um amante da vida, um apreciador dos sabores, um pequeno-burguês. Sou aquilo que meu antigo eu desprezaria, logo serei aquilo que meu novo eu desprezará. E assim vou: como um renegado que sempre reconstrói-se negando-se e aceitando-se.


Por que é tudo assim tão confuso? Não sei. Só sei que é sempre assim e assim sigo meu rumo: numa metaformoseação sem fim.