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segunda-feira, 25 de março de 2024

Acabo de ler "La resistencia" de Ernesto Sabato (lido em espanhol)

 



Existe uma beleza indescritível na obra de Ernesto Sábato. E essa é a capacidade com que ele argumenta com erudição, mas suas formas conteudísticas não param exclusivamente na eruditividade, elas vão facilmente para uma grande poética que demonstra o gênio criativo dum grande autor. O uso do espanhol por Ernesto, sem se perder na contumaz objetividade acadêmica, demonstra que ele além de acadêmico é um artista das palavras.


Neste livro, vemos um Ernesto bastante pessimista para com o mundo em que vive. Se questionando sobre a megalomania estatizante, a massificação do homem, a ausência de sentido e, de igual modo, a capacidade do mundo sobreviver a exploração exaustiva de recursos naturais. O cenário, bastante catastrófico e desumanizador, apresenta um mundo corroído pela ausência de sentido existencial.


A linha de pensamento poderia ser facilmente conectada com a percepção de Viktor Frankl e, igualmente, de Ortega y Gasset. Sendo que Frankl diagnosticou melhor a ausência de sentido atual e Ortega y Gasset diagnosticou exemplarmente o fenômeno do homem massa. Todavia a chave da questão política - quadro ambiental e agigantamento do Estado - são bem observados por Ernesto.


Ora, é evidente que o trabalho de Ernesto teria uma conexão, também profunda, com George Orwell: este também era cético para com o socialismo estatista de seus dias. Todavia há um diálogo com a espiritualidade teológica da libertação dos dias de hoje, muito ligada à ecologia, como vemos em Leonardo Boff.


Existe uma possibilidade monstruosa de conexões na obra de Ernesto. Ela se revela bem ampla, bem complexa e, portanto, bastante rica em possibilidades dialógicas. Sua leitura também é bastante agradável. Como sempre, mais um excelente livro lido.

sábado, 28 de outubro de 2023

Acabo de ler "Napoleão" de Leslie McGuire

 



O ser humano se realiza na medida em que seus desejos se externalizam na conjuntura do real. Quanto mais externaliza seus desejos, mais o universo é carregado de simbolicidade. A simbolicidade no espaço nada mais é do que a alma do homem tomando forma física no tempo-espaço.


Quando falamos de grandes homens, falamos de homens que dalguma maneira foram capazes de, além de suportar a multiplicidade anulante do mundo, contornar o mundo a seu favor e retocá-lo com a tinta de sua alma. O mundo é, nas mãos de um grande homem, a escultura que os gigantes deixaram.


Napoleão tinha dupla qualidade: o fogo solar duma gigantesca paixão e a monumental capacidade técnica. Quando estas se alinhavam, nada poderia impedi-lo. Ele era como um deus em meio a mortais.


Evidentemente aqui há mais uma reflexão da vida e dos sonhos do que uma endossamento das ações de Napoleão. Porém não consigo, na situação atual, pensar em fazer uma análise da mesma forma: analiso por meio da minha subjetividade circunstante e não por um método geral bem delineado.


Creio que este é um livro bom para quem queira refletir a própria vida, a história e, igualmente, compreender mais sobre um dos homens mais geniais - não no sentido moral e sim na capacidade estratégica - que a humanidade gerou.

quarta-feira, 10 de maio de 2023

Acabo de ler "El Diálogo de Civilizaciones" de Fidel Castro Ruz (lido em espanhol)

 



Em primeiro lugar, devo dizer que esse pequeno livro é, na verdade, a junção de dois discursos que foram proferidos por Fidel Castro em momentos diferentes. Um no ano de 1992 e outro no ano de 2005.


O conteúdo da primeira parte do livro, ou seja, do primeiro discurso também pode ser encontrado em outro livro que igualmente li, também em espanhol, recentemente: "Ecocidio, crimen capitalista". Esta obra também se trata duma transição de um discurso oral para um escrito, só que abordando duas falas (Hugo Cháves e Evo Morales) além da de Fidel Castro. A análise pode ser encontrada no blog, no Instagram ou no Facebook.


O que Fidel Castro pensa? Esta é uma das questões que mexe particularmente com latino-americanos, já que ele é uma figura histórica de importância primordial para o desempenho de nosso povo - e civilização - no século XX. Porém não abordarei, neste diminuto espaço, o fato da América Latina ser uma civilização e nem farei uma análise pormenorizada do quadro geopolítico do século XX.


Fidel foi um marxista-leninista, todavia teve um espaço muito maior e privilegiado para pensar e colocar em pauta as suas ideias. A primeira se deve ao fato de ter vivido no início do século XXI e a segunda ao fato de que tinha poder político em Cuba. Então pensamentos ecológicos e formas de guiar um país socialista, além dum bloco não inteiramente socialista que fizesse oposição aos Estados Unidos, são preocupações adicionais ao nortear seu pensamento e papel.


Neste livro, Fidel não fala duma organização socialista em confrontação aos Estados Unidos e a sua aliança imperialista. Fidel fala dum bloco de vários países distintos, cada qual com seu modelo político e econômico, fazendo frente às pressões imperiais americanos. Esta posição coloca-o, geopolítica e estrategicamente, muito próximo ao Dugin. E é importante delinear as suas últimas colocações a partir desse contexto e conjuntura.

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Acabo de ler "150 Videojuegos" de Alejandro Crespo (lido em espanhol)




Uma lista honrável e certamente bem feita, uma verdadeira história, em ordem sistemática e cronológica, dos videogames que todo fã apaixonado deveria ler.


O livro é bem simples, as informações bem pequenas, só que conta com o caráter notoriamente sistemático e historiográfico que denotam uma capacidade singular de pesquisa e dedicação. Pode ser, também, uma forma de introduzir novos jogadores ao mundo dos jogos de forma mais didática ou, simplesmente, servir material de referência para todos aqueles velhos jogadores, como eu, que buscam uma boa dose de informação organizada.


A leitura dessa obra é fluída, bem descontraída e, ao mesmo tempo, consegue ser divertida e intelectualmente valiosa. Além do ganho na parte do entretenimento, adentramos profundamente num longo passeio histórico ao qual nos conduz um autor apaixonado e que busca, com rigorosa dedicação, conquanto que também com bom humor, apresentar-nos de forma metódica o seu amor.


Leitura recomendadíssima, seja para quem quer adquirir mais constância com a língua espanhola, seja para quem quer aprender mais sobre videogames, seja para quem busca apenas se divertir ou passar o tempo.

sábado, 8 de outubro de 2022

Acabo de ler "Resident Evil IV" de S. D. Perry

 



O livro acontece logo após os incidentes de Resident Evil 2 (o jogo) ou do volume III (no caso do universo criado por S. D. Perry). Dessa vez, encontramos personagens autorais de Perry (David, John, Trent, Reston) ao lado de personagens mais canônicos (Claire, Rebecca, Leon). Na trama do livro, finalmente ficamos sabendo - bem no final - os objetivos do personagem enigmático chamado Trent.

Antes de mais nada, gostaria de dizer que esse livro poderia ser encarado como um "filler". Só que há o fato de que o universo de S. D. Perry ganhou uma forma original de ver o universo de Resident Evil. Não que isso seja ruim, apesar das várias más experiências que temos tido ultimamente com isso, S. D. Perry soube conciliar bem o canônico com aquilo que poderia se considerar "sua parte criativa e autoral".

Na maior parte do tempo, o time andou dividido e enfrentando problemas diferentes num local secreto da Umbrella chamado "Planeta". Nesse livro, eles finalmente tem a chance de revelarem os odiosos segredos da Umbrella ao público. Se você se assustou com isso, saiba que estamos numa eterna demora para que a Umbrella seja descoberta. Ela sempre arranja alguma desculpa ou consegue um bode expiatório.

Quanto a experiência final do livro, estou vendo que S. D. Perry conseguiu inserir-se genialmente no universo criativo de Resident Evil. Não ficou um produto tosco gerado pela "visão genialíssima e original" de um roteirista ou diretor. O universo dele é, na verdade, bem agradável e condizente com os jogos na medida do razoável.

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Acabo de ler "Em Defesa do Preconceito" de Theodore Dalrymple

 



O título poderá causar um pouco de estranheza as pessoas habituadas em fetiches verbais nauseabundos das esquerdas e dos liberais - a circularidade que é incapaz de complexificar-se é sempre sinal de tribalização e decadência cultural. E, de fato, é um baita título que causa uma miríade de confusão mental aos intelectuais e acadêmicos vulgares.


Se analisarmos a palavra preconceito, teríamos não uma palavra associada diretamente a LGBTfobia, discriminação racial, não contratação de pessoas com tatuagens, violência doméstica contra mulher, dentre tantas outras coisas. Preconceito é, pura e simplesmente, uma ideia que precede o acesso a uma compreensão mais abarcante da realidade. Por exemplo, dizer que a ciência moderna se assenta na falseabilidade de Karl Popper sem entender a razão não é nada mais, nada menos que preconceito. 


Uma sociedade é boa na medida em que tem bons preconceitos. Dizer a uma criança que ler um livro vale mais do que passar horas vendo Tom e Jerry, mesmo que você mesmo não seja capaz de ler uma "Crítica a Razão Pura" não é nada além do que um bom preconceito. A ideia de não misturar bebidas caso não queira ter um porre, sem uma explicação bioquímica, é igualmente um preconceito. Uma sociedade que diz: "procure conhecimento pela ciência", mesmo que não seja uma sociedade em que todos os membros são cientistas, nada mais é do que um bom preconceito.


É preciso ter em mente que o debate sobre o preconceito pode trazer preconceitos melhores ou piores. A ideia de mistitifacação e desmistificação trouxe algo além da superação duma mentalidade supersticiosa, trouxe igualmente a incapacidade de compreender a complexidade de um mito e a sua importância ao conhecimento. Além de ter trazido uma crítica que se arroga dum analfabetismo metodológico pra atacar livros religiosos com interpretações literais. Quem nunca se deparou com alguém que leu a Bíblia e entendeu que Adão e Eva estavam literalmente nus em vez de saber que a vestimenta era um discurso moral falseado (fenômeno da racionalização em Freud)?


Theodore Dalrymple é, simplesmente, um dos maiores ensaístas da contemporaneidade.

sábado, 10 de setembro de 2022

Acabo de ler "Resident Evil Vol III" de S. D. Perry

 



Esse é o terceiro livro, todavia é o quarto que analiso. E estou gostando da experiência de ler todos os livros disponíveis da melhor franquia sobre armas biológicas do mundo. Preferi ler os livros do que perder meu precioso tempo com filmes e séries questionáveis que são excepcionais em fugir do enredo central dos jogos.

Nesse livro, acompanhamos o mais fantástico personagem da franquia, Leon S. Kennedy. Além da irmã de Chris, Claire Redfield. Os dois, como já devem adivinhar, sem muita sorte. Leon embarca em Raccoon City como seu primeiro dia de policial - e que primeiro dia, minha gente - e Claire busca seu irmão. Como consequência, os dois se deparam com uma série de problemáticas geradas pela empresa queridinha da galera (Umbrella).

A trama se passa num estado muito mais avançado de degradação de Raccoon. O cenário de catástrofe é cada vez mais presente e a destruição da cidade toma contornos de nível apocalíptico. Numa cidade cheia de zumbis, abandonada por aqueles que foram suficientemente espertos de ir embora cedo, Leon e Claire serão testados por todo tipo de abominação que por lá anda. O inferno na Terra torna-se ainda maior quando Birkin cria algo pior que o T-vírus - provando que nada é tão ruim que não possa piorar -, o famoso G-vírus. Birkin injetará o vírus em si mesmo e viverá uma arma biológica ambulante e mortal.

O livro também conta com a participação de Ada Wong, uma espiã que está incumbida da tarefa de roubar o G-vírus. A filha e a esposa do gênio do mal, senhorita e senhora Birkin. O leitor é convidado a entrar nessa deliciante e horrorosa viagem cheia de monstros, tragédias e condições abomináveis de todos os tipos.

Como fã de terror desde a minha tenra idade, ao ponto de ouvir creepypastas antes de dormir, sou suspeito ao falar. Gostei bastante do livro e, ao terminar essa análise, já parto para o próximo. Vale muito a pena se dedicar à horripilante e dantescamente fantástica de Resident Evil.

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Acabo de ler "Resident Evil Vol 2: O Incidente de Caliban Cove" de S. D. Perry

 



Essa história se passa antes dos eventos do Resident Evil 2. A personagem central aqui é a Rebecca Chambers e o vilão principal é Nicolas Griffith. E se você se pergunta em qual jogo esse livro se baseia, talvez você fique um pouco decepcionado: em nenhum. Bola pra frente, vamos encarar o conteúdo do livro - que pode ser mais do que um irritante "filler" - como um universo paralelo que acrescenta na experiência em si do Resident Evil.

Esse é um livro curto e que trata duma série de personagens que surgiram da mente do próprio S. D. Perry. Ele apostou em dar uma guinada mais autêntica e original em sua criação. Parece que isso sempre ocorre quando se trata de Resident Evil. Para falar a verdade, estamos cansados dessa bagunça que se tornou um inferno caótico. Até mesmo importantes jogos são resetados, tal como Code Veronica. Fora que existem boatos que a história do Resident Evil 4 será alterada.

Vou tentar deixar a mágoa de lado e partir pra algo que seja um pouco mais preciso. A história de Caliban Cove não é ruim. Só que é um pouco desconexa com a linha de continuidade. "Zumbis" inteligentes só apareceriam com maior maestria no Resident Evil 4 e esse livro vem com eles antes do 2. O que demonstra que tudo é uma espécie de bagunça, não? Cada um opta por ir por um caminho diferente.

No livro, Dr. Griffith consegue criar um vírus superior ao T-vírus. Esse cria pessoas de aspectos manipulável, capazes de receberem ordens de um mestre. Griffith vê nisso uma espécie de redenção da humanidade, ele alteraria ela a sua imagem e semelhança como um homem convertido em deus. Um grupo formado por Rebecca e outros membros da S.T.A.R.S. fará de tudo para impedi-lo enquanto buscam provas para destruir a Umbrella.

O livro se torna bastante apreciável, sobretudo em carga dramática, lá para o final. O terreno que o autor preparou aos poucos foi excelente, ele conseguiu de fato produzir um peso dramático a obra e uma forte carga sentimental por cada personagem que lentamente trabalhou. Vale a pena não pular esse livro e dá-lo uma chance.

domingo, 21 de agosto de 2022

Acabo de ler "Resident Evil: a Conspiração Umbrella" de S. D. Perry

 



Esse segundo livro de Resident Evil que leio. O outro foi o 0, o qual li primeiro por questão de ordem cronológica da história. Então se você está vendo essa postagem e achando-a estranha, recomendo que dê uma lurkada no Instagram, Facebook ou no blog Cadáver Minimal para achar a postagem anterior. Caso ache desnecessário ou já tenha lido a análise anterior, vá em frente com a leitura.

Esse livro adapta os acontecimentos do primeiro jogo do Resident Evil. Jogo esse lançado em 1996 pro saudoso PlayStation 1 da Sony. Antes que me perguntem: não, a leitura não requer que o leitor tenha jogado os jogos da franquia. Tenham esse  livro como um "produto em si mesmo" ou como uma adaptação funcional da franquia. Tal como o jogo, esse é um livro de terror. Se você for aficionado por terror, é uma boa pedida gastar um tempinho lendo os livros da série.

A história é definida pelos planos mirabolantes da Umbrella. Assassinatos estranhos começam a ocorrer em Raccoon City e cabe a S.T.A.R.S. investigar. A suposição é que sejam malucos canibais, um tipo de seita estranha ou um grupo desorganizado de desordeiros psicopatas. E, ah, como seria mais fácil se fosse qualquer uma dessas inconveniências. Na verdade, a Umbrella sofre de um vazamento de suas armas biológicas e zumbis andam a solta por aí.

O livro vai se construindo por uma narrativa claustrofóbica pela elegante e estranha Mansão Spencer. Uma linda obra arquitetônica recheada de segredos, enigmas, armas biológicas dos mais variados tipos e obras de arte de tirar o fôlego. Talvez essa mansão tivesse sido um pouco mais aproveitável em estadia se quase tudo que estivesse lá não tivesse o objetivo primário de te matar, mas quem sou eu de questionar a genialidade do gênio fundador da Umbrella.

Ler esse livro é ser conduzido por uma gigantesca conspiração satânica de todas coisas que não deveriam existir e como os personagens tentam sobreviver a todo inferno que experienciam. Perdemos o fôlego pela série de problemas que cada um perscruta. E, se você ama histórias com zumbis, esse é um livro indicado para você.

terça-feira, 16 de agosto de 2022

Acabo de ler "Resident Evil: Hora Zero" de S. D. Perry

 



Eu decidi ler esse livro antes de qualquer outro por um simples motivo: a história dele antecede todos os outros, mesmo que tenha sido lançado depois. Logo burlei a ordem de lançamento e parti para aquele que, se não me falha a memória, foi o último a ser lançado, mas é o primeiro em ordem cronológica. Uma situação semelhante ocorre com o Resident Evil 0 lançado para aquele videogame obscuro, porém fantástico, GameCube.


Resident Evil tem uma lore maravilhosa, embora as produções audiovisuais feitas com base nele para o cinema ou até para a Netflix - em forma de série - sejam lamentáveis. Ainda existem algumas animações em forma de filme que são apreciáveis. Recomendo que deem uma boa olhada neles. Só que um bom fã da franquia não pode se furtar a ler os livros baseados nos jogos - que gozam de uma maior fidelidade ao cânon dos jogos.


Em primeiro lugar, a pergunta que vem a pessoa é: por que esse livro (tal como o jogo) se chama 0? Basicamente por sua história se passar antes do 1. Isso pode parecer banal, todavia a história do Resident Evil é profundamente rica. Para um bom entendedor, meia palavra basta. Vira um item obrigatório para quem quer se inteirar mais sobre esse mundo cercado de zumbis e armas biológicas.


Nesse livro, acompanhamos a história de Rebecca e de Billy (um fugitivo da justiça) e como se deparam com um dos fundadores da Umbrella - revivido por grotescas sanguessugas. Toda história se passa com Rebecca suportando sua primeira missão prática que abre a sua vida para um inferno insuportável de zumbis e toda uma série de bichos modificados geneticamente. A trama conta mais um pouco da história da Umbrella (essa maravilhosa fabricadora dos maiores pesadelos de toda humanidade sã).


A sensação que tive lendo esse livro é um pouco de estranheza. Não estou muito habituado a pensar no Resident Evil como um zoológico do terror. Porém com o tempo me afeiçoei a forma distinta pela qual operaram o terror sombrio da obra. Por fim, simpatizei-me mais com vários personagens, até mesmo com os diabólicos vilões. Valeu-me muitíssimo a pena imaginar cada detalhe, a sensação psicológica foi diferenciada.

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Acabo de ler "A Guerra dos Consoles" de Blake J. Harris

 



Comecei a leitura pensando que teria algo de simples, um tanto de vulgaridade e quiçá uma camisa de deleitosa. Uma simples leitura de passar tempo, não? Estava completamente enganado, a complexidade e a forma com que a trama me envolvia me fascinaram por completo. Um livro sensacional, recomendado não só para o público gamer, mas também para estudantes de marketing, publicidade e propaganda, arte e tantas outras coisas mais.

Esse livro certamente me marcou. Não saberia dizer a honra que tive de lê-lo. A cada página uma nova curiosidade me era apresentada e mais eu sentia vontade de devorar o livro. Graças a história de Tom Kalinske, tornei-me um tanto mais seguista ao testemunhar toda essa história fantástica. Pena que tudo que foi feito em nome da SEGA, foi por ela mesma destruída. No fundo, a maior inimiga da SEGA era a própria SEGA. Mesmo assim, a luta da Nintendo vs SEGA na quarta geração de consoles não foi só louvável, foi épica e impactante. Qualquer pessoa que tenha lido o livro ou vivenciado o tempo saberá do que falo.

O fato dos jogos terem sofrido uma queda brutal e a Nintendo ter feito o mercado ressurgir das próprias cinzas é um feito e tanto. A ditadura monopólica criada por ela, nem tanto. A bravura com que a SEGA lutou contra a Nintendo, mudando eternamente o rumo dos games é uma outra história a qual nunca me esquecerei. Todavia a autosabotagem que a SEGA do Japão fez, em seu orgulho, para ferrar com a SEGA do EUA destruiu a empresa. O surgimento da Sony no mercado é uma outra história marcada pelo livro, uma história muito ousada, peculiar e interessantíssima - mesmo que o livro não aborde muito da quinta geração de videogames (PS1, Saturn e N64).

Tudo me deixou com um gosto de quero mais. O problema desse livro é que ele termina. Seu principal defeito é ausência de defeitos. E, no momento que escrevo, sinto-me feliz de tê-lo lido e saudades por ele ter terminado.

quinta-feira, 21 de julho de 2022

Prelúdio do Cadáver #2 - Cultura e Antipolítica

Publicado em 20/04/2018

Os senhores já perceberem que ao consumir muita cultura o interesse por política arrefece? Mário Ferreira dos Santos dizia que toda grande época cultural era período de decadência política.

Atualmente venho percebido que o meu desinteresse em política aumenta proporcionalmente a cultura que consumo.

Lembro-me que, em carga comparativa, consumia assiduamente muito conteúdo político há dois ou três anos atrás. Atualmente tenho lido GK Chesterton, Dostoiévski, (Coletânea de Poesia Grega e Romana que não lembro o nome), Paulo Leminski (li Castro Alves, Machado de Assis, Cruz e Sousa, Vinicius de Morais e Olavo Bilac) e leio dois mangás (um pelo celular e o outro em mídia física).

Há, ao todo, um movimento em busca de boa cultura e um desinteresse proporcional em política. E a cada dia mais eu me desinteresso em utilizar meu vigor intelectual em jornais ou artigos. Não leio quase nenhuma novidade e sofro duma alienação terrível (mas consentida) em relação a contemporaneidade e os chamados assuntos obrigatórios. Não sofro, todavia, com falta de assunto no quesito social e garanto-lhes que consigo até falar mais e melhor.

Tenho também o novo hábito de fazer atividades físicas e de escrever contos de forma gradual. Tudo isso se reflete numa construção duma vida particular e inacessível a maioria das pessoas. Se os meus conterrâneos vão em direções de assuntos comuns e conhecimentos comuns, eu vou em direção a particularidade e acabo numa forma de isolação.

Quanto mais me interesso por cultura mais percebo que a política é, no geral, desinteressante e que os produtores da chamada "cultura política" são rasos e sem densidade vivencial. E quanto mais vou em direção a cultura: mais a minha subjetividade (vida interior) aumenta enquanto a subjetividade de outrem se coletiviza.

segunda-feira, 27 de junho de 2022

Acabo de ler "O Napoleão de Nothing Hill" de G. K. Chesterton

 



"E no mais escuro dos livros de Deus está escrita uma verdade que é também um enigma. É das coisas novas que os homens se cansam – modas, propostas, melhorias e mudanças. São as coisas velhas que assustam e intoxicam. São as coisas velhas que são jovens. Não há cético que não sente que muitos duvidaram antes. Não há homem rico e volúvel que não sente que todas as suas novidades são antigas. Não há adorador da mudança que não sente sobre o pescoço o grande peso do cansaço do universo. Mas nós que fazemos as coisas antigas somos alimentados pela natureza com uma infância perpétua"

Eu nunca pensei que me impressionaria tanto com esse livro. Tanto que desisti da leitura umas duas vezes. Só que, dessa vez, resolvi lê-lo do princípio ao fim para ver o que daria. É importante dizer que: Chesterton nunca me decepciona.

O livro se encontra com duas partes dialéticas que descobrimos que se completam. Auberon, um rei que queria apenas rir de tudo. Adam Wayne, que fanaticamente aderia as ideias malucas de Auberon como se fossem verdades absolutas, acreditando que estava cumprindo seu papel com um clássico amor. Auberon é a piada em fatalismo, Wayne é a seriedade em fatalismo. Se você se questiona quem está certo, já errou: o certo é a unidade entre os dois. Para você entender Chesterton nesse livro, terá de sintetizá-los.

Chesterton também traça uma crítica aos intelectuais de seu tempo. Além de nos chamar a sanidade por meio do paradoxo, temos uma crítica bem certeira aos chamados progressistas que, no fim, apenas pegam tendências e dizem que elas vão se radicalizar tenebrosamente. Ele fala sobre a natureza universal do homem, que não é radical quando saudável, mas paradoxal e dialética. O erro do intelectual está em seu fatalismo e em sua crença radicalizada e monótona em algo que se sucederá. E mais uma vez: a humanidade ri do profeta que se acha certo em sua rigorosidade fatálica, já que o paradoxo é a condição do real.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Acabo de ler "Harry Potter e a Ordem da Fênix" de J. K. Rowling




Esse livro apresenta um tamanho maior que o seu anterior, o que torna surpreendente a evolução da autora como um todo, já que ela evolui e muito a sua capacidade narrativa e de construção de universo literário. E é sempre incrível ver como as peças se encaixam nos livros de nosso bruxo predileto.


Apesar de alguns dizerem que é um prólogo ou preparamento aos outros livros, não posso concordar com essa frase e tenho lá as minhas razões. Creio que cada produto cultural apresenta um processo que é diferente, já que a intencionalidade não é a mesma. É preciso ver além daquilo que é demonstrado no corpo total da obra, analisando ela em seu conjunto e em sua parte. A parte reflete o produto total, porém deve também ser analisada por si mesma.


Nesse livro, vemos um Harry mais sentimental e preocupado com as consequências de suas ações. Ele vai, aos poucos, tomando maior consciência de si e revisando seus atos em uma postura autocrítica, sobretudo no final da obra. A relação com os outros personagens igualmente aumenta em substância. Os personagens ganham peso psíquico, histórico e atitudinal. Com a história ganhando cada vez mais complexidade, sentimo-nos satisfeitos com o desenrolar da trama, embora não possamos nos sentir tão felizes com o desenrolar das ações inconsequentes de Harry - ele é adolescente, isso pesa ao seu favor. O que se pode esperar é um desenvolvimento posterior, já que ele se depara (spoiler) com a morte de seu padrinho e terá que arcar com essa responsabilidade.


O que temos nesse livro é: alta densidade política, os sentimentos que são desenvolvidos e a própria caracterização de um mundo cheio de perigo. Tudo isso é de suma importância para o desenvolvimento de cada personagem, já que tudo se torna cada vez mais sério e toda ação termina em consequências trágicas ou dificilmente contornáveis. Harry tem que se desenvolver mesmo que seja à força e começa a entender melhor que o mundo não é tão colorido e que o heroísmo tem um preço que foge do pacote fechado de "felizes para sempre". Termino o livro com a boa sensação de que me deparo com uma obra cada vez mais adulta.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Acabo de adquirir "Outono na Idade Média" de Johan Huizinga.

 



    A Idade Média é, no Brasil, mal estudada e mal-amada. Na verdade, é vista até mesmo com o mais vigoroso desdém. É como se ela fosse um compilado de crises que, no geral, fazem um grande megazord perverso de caos, ignorância e destruição. Hoje, tal visão, entra em crise com as fontes mais diversas do novo estudo histórico - não sem, é claro, atacarem tal nova perspectiva de revisionismo. E a pergunta que se cai é: a Idade Média foi um tempo de pura treva ou pura luz? Talvez a resposta desaponte ambos os lados.


    Não muito tempo atrás, postava-se um vídeo em que uma mulher dizia que 1 + 1 era igual a 2 e, por ser mulher, era condenada pela Igreja. Já um desenho muito famoso, direto da Netflix, dizia: "como se atreve trazer a lógica para casa de Deus?". Animes de todos os tempos não se deixam levar por qualquer debate saudável e tão logo adentram na lógica circular de que os medievais eram apenas burros e fanáticos. Os mesmos medievais, construtoras de catedrais, eram tidos como burros. Seus métodos de argumentação, cheios de vaivéns e alta abstração, igualmente são condenados. Se medievais são burros, como ousavam ser tão pedantes? A resposta, é claro, é igualmente dúbia: eles eram burros e, por outro lado, eram igualmente pedantes. Gozam, contraditoriamente, de um pensamento extremamente abstrato - típico de pessoas altamente intelectualizadas - e de uma burrice extremamente ignara. 


    Todo mundo salta de dúvida: ora estamos dizendo que a Idade Média viu o florescimento das universidades, ora dizemos que o florescimento científico foi atacado. E para tal "fato" (ou seria factóide?) se fala da condenação de Galileu à morte... Que, adivinhem, nunca ocorreu. Galileu foi condenado a prisão domiciliar, morreu de velho (morte natural). Agora outra dúvida que salta aos olhos: toda forma de ciência foi condenada, de modo absoluto e inigualável, sem tirar e nem pôr por dogmas, já que dogmas são literalmente impostos do nada, não? Não, não é bem por aí. Existem dogmas que demoraram milênios de discussão para serem feitos e quiçá milênios ou séculos não sejam algo que sejam "tirados do nada".

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Acabo de ler "Harry Potter e o Cálice de Fogo" de J. K. Rowling

 



    "– Se eu achasse que poderia ajudá-lo – disse Dumbledore brandamente –, mergulhar você em um sono encantado e permitir que adiasse o momento em que terá de pensar no que aconteceu esta noite, eu faria isso. Mas sei que não posso. Amortecer a dor por algum tempo apenas a tornará pior quando você finalmente a sentir"

Dumbledore 


    Uma das grandes razões de muitos detestarem Harry é a sua pouca aptidão mágica quando comparado a outros personagens que chegaram até inventar magias. Harry é mal considerado se terem vista Snape ou o próprio Dumbledore, ou sua amiga Hermione. Só que o poder não basta, a ação moral no mundo vale mais do que bastante poder, já que bastante poder na mão de alguém que não é idôneo leva a um uso trágico desse mesmo poder. A ação moral de Harry vale mais do que mil e quinhentas magias de Voldemort. O protagonismo de Harry é ser idôneo e reto, isso faz ele "valer" mais do que os outros.

    Algo que é dito pelo Dumbledore na "Câmara Secreta": "São as nossas escolhas, Harry, que revelam o que realmente somos, muito mais do que as nossas qualidades".


    Nesse livro, vemos o mundo de Harry cada vez mais adulto. A complexidade galopa de ritmo conforme a história avança e já era esperado que o quarto livro fosse mais adulto e detalhado que os livros anteriores. Esse papel é rigorosamente exercido e a trama é tão boa e os eventos se enquadram de tal forma que parecem até mesmo um roteiro policial. As conexões demonstram a inteligência da autora que é capaz de fazer engendrar pequenos detalhes num corpo cada vez mais bem estruturado. Poder-se-ia dizer-se que há uma sofisticação cada vez mais interessante e que não tira em nada o gosto da leitura, pelo contrário: dá mais gosto ao leitor.

sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Acabo de ler "Harry Potter e a Câmara Secreta" de J. K. Rowling

 


    "São as nossas escolhas, Harry, que revelam o que realmente somos, muito mais do que as nossas qualidades" (Dumbledore)


    Quando terminei de ler o primeiro livro, senti logo vontade de ler o segundo livro. E, apesar de alguns não gostarem tanto dele assim - julgam-no como um livro de menor importância  -, acabei por gostar bastante da experiência. Tenho-no como uma evolução do primeiro, mas aviso aos imbecis ideológicos: "evolução", em meu linguajar, não indica superioridade alguma, mas sim uma forma de continuidade que pode ou não ser boa. No caso, vejo-o como uma grata expansão do primeiro. Acentuando claramente o potencial da história e amadurecendo o mundo do Potter.


    É incrível ver como a história apresenta uma série de mal-entendidos e como Potter é confundido, preconceituosamente, com um mago das trevas. E como nazismo, magia negra e sonserinismo se aparentam, Harry enfrentou vários problemas por causa dessa visão de que ele era o herdeiro de Salazar Sonserina. Até mesmo falar com cobras - possivelmente ele estava falando em alemão,  mas não façam isso em casa - garoto podia e acabou por ser visto por toda a escola como um grande estorvo e até mesmo como um assassino.


    Quanto a comparação ao livro anterior, dir-lhes-ei que esse ainda preza pelo tom cômico, mas a característica sombria de que as pessoas podem sofrer foi mais acentuada. O que dá ao livro um tom bem mais sombrio e adulto. Fora que somos apresentados ao passado de Voldemort e as suas ligações e rivalidade com Harry Potter.


    Livro excelente, vale a pena dar uma olhada e, quiçá, ler todos os outros livros e se inteirar no mundo fantástico de Harry.

sábado, 18 de dezembro de 2021

Acabo de ler "Harry Potter e a Pedra Filosofal" de J. K. Rowling.



    "Se existe uma coisa que Voldemort não consegue compreender é o amor. Ele não entende que um amor forte como o de sua mãe por você deixa uma marca própria. Não é uma cicatriz, não é um sinal visível... ter sido amado tão profundamente, mesmo que a pessoa que nos amou já tenha morrido, nos confere uma proteção eterna. Está entranhada em nossa pele" (Dumbledore).


    Ler Harry Potter depois de anos é uma maravilha. A primeira vez que o li, estava no segundo ano do ensino médio. Ou seja, há cerca de oito anos atrás. Não me lembrava do quanto o seu universo era curioso e nem o quanto o livro era engraçado em diversos bons aspectos. E digo-lhes o livro é melhor que o filme, embora eu o tenha assistido - o primeirão - enquanto ainda era só uma criança. Assisti-o naquela ferramenta tecnológica, hoje antiquada, chamada Fita Cassete. Até hoje me lembro de estar ao lado de minha irmã enquanto assistia o primeiro filme de Harry Potter, das poucas coisas que me lembro da infância, essa é uma das melhores.


    Talvez a serenidade da vida adulta tenha acalmado o desordenado senso de realidade que me fazia digerir livros rapidamente em minha tenra mocidade adolescente. Talvez eu tenha ficado lento e reacionário, mas tendo fortemente a gostar mais de produções literárias que audiovisuais. Muitas coisas hoje não me agradam, entre elas os memes e as microescritas e microleituras que dominam a internet atual. Só que hoje, afastado da reação espalhafatosa, creio que é melhor calar-se e curtir um "próprio" universo cultural do que entrar em briga com uma unanimidade de imbecis. 


    Se alguém disser que "Harry Potter" é insuficiente como produto literário, dir-lhes-ia que são poucos os capazes de criar universos ricos de sentido e que a beleza da vida está mais contida em coisas que não veem do que as que veem. 

    Quanto a velhice e a morte, fico com as palavras de Dumbledore:

    "Afinal, para a mente bem estruturada, a morte é apenas a grande aventura seguinte".

domingo, 12 de dezembro de 2021

Acabo de ler "Ed Mort e Outras Histórias" de Luis Fernando Veríssimo.

 



    Um autor versátil e capaz de dar vários entendimentos distintos, erudito tal como ninguém e referência múltipla para diversos agrupamentos. Homem de diversas leituras e humor genial, talvez um dos maiores gênios do humor da história lusófona.


    O livro conta com uma série de contos que traduzem uma série de sentimentos distintos - além de um certo constrangimento pelo autor ser demasiadamente culto. Tal como o "Você vai ver" no qual a marginalidade, o crime e o mundo distópico remetem a um cyberpunk cada vez mais real e aproximado do Brasil. Coisa que traz um certo mal sentimento e um elogio a capacidade profética do autor. Confesso também que me perdi numa série de referências que partem de um Brasil que não vivi e que me deixou meio perdido no entendimento de alguns contos, mas nada que fizesse com que eu perdesse a qualidade da leitura.


    "Organizamos os nossos dias em datas com a ilusão que assim estamos organizando, de alguma maneira, o Universo. O primeiro ato racional de Robinson Crusoé na sua ilha foi marcar a passagem dos dias no tronco de uma árvore. Só então, situado nas suas datas, partiu para pôr ordem na sua solidão e tratar de sobreviver"

    É incrível como o autor consegue traduzir a sua erudição em comédia, já que a maioria de nossos ilustres intelectuais transformam a sua erudição em alguma produção chata, formal e que não dá tesão algum em se ler. As suas referências dão um gosto maior a leitura, tal como a piada do rato albino que sempre volta e por isso se chama "Voltaire" ou quando Ed Mort investiga o caso de Sartre no Brasil.


    Termino o livro com uma certeza: quero e lerei mais livros do autor que, para mim, é genial.


domingo, 5 de dezembro de 2021

Acabo de ler: "Em busca de rigor e misericórdia" de Lobão.





    Creio que Lobão seja um autor de estilística fascinante, uma vida pujante e de uma originalidade inequívoca.

    "Eu precisava mergulhar em questionamentos como: por que os intelectuais brasileiros são, em sua esmagadora maioria, tão unívocos e quase sem qualquer nuance de pensamentos?; por que esse deserto de opções ontológicas?; por que tudo que não se coaduna com esse monomaníaco pensamento reinante vira um tabu a ser perseguido e eliminado, jamais ponderado e discutido?; por que os debates, já tão escassos em outras eras, foram aterrados na vida pensante brasileira?; por que todo pensador, artista, produtor de alguma cultura no Brasil, caso não esteja atrelado aos cânones do mainstream, à ortodoxia pouco esclarecida de nossa intelligentsia, é, via de regra, tratado como um pária, como irrelevante, como um inimigo candidato a se tornar um nada?".

    A consciência de que vivemos num país recheado de bovinidade é, de longe, a que mais nos enche de temor. Em nosso estado atual, é-se impossível sequer um debate real, já que isso sugere uma série de estudos de cânones contraditórios que ninguém se atreveu a estudar por motivos de adesão ideológica-identitária. E, se estudou, estudou sem o menor "constrangimento" de tentar entender, já que o objetivo do estudo de um pensamento contrário é, quase sempre, a refutação ou a recusa a priori. Quando não, vê-se a "leitura camisinha" que tem por objeto o comentário de um autor que se gosta sobre um que não se gosta.
 
    "A solidão é a matéria escura da coletividade. Quem se nutre na solidão se torna um mundo, uma entidade que injeta sabedoria e oferece possibilidades múltiplas à coletividade. Meu insight partia da percepção de que nossa condição básica, a solidão, tem peso infinitamente maior naquele cujo ofício é contemplativo, criativo, o que a torna grande companheira".

    A vida intelectual não pode se curvar de forma abjeta a uma reprodução sem fim de consensos coletivos sem perder a sua autenticidade crítica. O que se vê é uma substituição da mentalidade crítica por um consenso social, isso anula a verdadeira forma de analisar a intelectualidade.