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domingo, 11 de maio de 2025

Acabo de ler "The Politically Incorrect Guide to The Presidents" de Steven (lido em Inglês)

 


Nome:

The Policatilly Incorrect Guide to The Presidents: from Wilson to Obama


Autor:

Steven F. Hayward


Mais um texto analisando um livro que fala sobre a história americana. Isso é algo que vem me mobilizado bastante nos últimos tempos. E espero que quem acompanha o blog esteja curtindo. Adentrar em uma cultura, uma história, em um país, estudar para compreender parcimoniosamente uma língua e um povo, tudo isso expande o horizonte de consciência e o torna mais capaz de analisar os fatos do mundo. Mesmo que não possamos, evidentemente, nunca chegar a uma interpretação da realidade objetiva dos fatos, podemos aumentar a nossa capacidade analítica pela expansão contínua do nosso horizonte de consciência.


A razão que me mobiliza aqui é um estudo do debate, olhando os múltiplos pontos e tentando absorvê-lo. Como escrito anteriormente em uma análise, escolhi introduzir o meu estudo com base no conservadorismo americano pois as fontes primárias do Project 2025 estavam nessa parte do debate. Depois disso, fui galgando para uma compreensão da crítica do próprio movimento conservador as iniciativas conservadoras ou supostamente conservadoras — ou aquelas que estavam no quadro da direita política sem, contudo, pertencerem ao cânon do conservadorismo americano em sentido puro. Após isso, tive meu primeiro contato com um autor progressista para entender a história do Partido Republicano e a sua transformação.


Adentrar ao espírito americano envolverá outras cruzadas intelectuais que ainda me escapam, como a visão histórica dos diferentes movimentos de esquerda que disputaram, através dos tempos e dos espaços, o poder político, cultural e social dos Estados Unidos. Também preciso compreender mais e melhor a forma com que esses movimentos que acolhem ideias pós-liberais encontrariam conformância numa sociedade que surgiu pela sua criação nesses valores liberais. Creio que aí está uma agonia da esquerda americana: apresentar como palatáveis valores pós-liberais ou desdobramentos da própria mentalidade liberal para o cidadão americano que vê como sagrada a sociedade que surge com o rompimento do Antigo Regime/Mundo.


Mesmo que eu ainda não tenha adentrado profundamente nos escritos da esquerda americana, foi-me salutar assistir vídeos do First Thought, Second Thought, Red Pen e Contrapoints. Eles me deram um balanceamento interessante do debate. E continuam me dando. Ler um e outro escrito do proudhoniano Kevin Carson também me deixou vislumbrar um problema contínuo do moderno Estados Unidos, marcado por corporações que sobrepujam o poder civil. Ver essa suspicácia pelas grandes empresas poderiam adentrar, igualmente, na visão cética de Christopher Lasch também é um conexão interessante para a compreensão global do debate americano.


A visão do autor desse livro se estabelece na longa e contínua tradição do conservadorismo americano, essa tradição possui um respeito intelectual enorme pela Constituição Americana e a sua forma de ver o mundo é inegavelmente constitucionalista. Ela vê, com bastante preocupação, o aumento do tamanho do Estado como suspeito, visto que isso pode levar a recriação do Antigo Regime por outros meios. Grande parte da análise conservadora americana surge da crítica liberal ao Antigo Regime e é nesse sentido que o conservadorismo americano se contrapõe aos diferentes conservadorismos que existem no mundo. E é por essa razão que o autor prende muito das suas críticas ao grau de constitucionalismo que os presidentes americanos apresentaram durante o seu ofício.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Acabo de ler "How Marxism Works" de Chris Harman (lido em inglês/Parte 4)

 


Nome:

How Marxism Works


Autor:

Chris Harman


O que diferencia o homem dos outros animais? Talvez as centrais diferenças dos homens para os outros animais está na forma com que vemos o mundo a nossa volta. Temos uma consciência mais elevada não só de nós mesmos, mas do mundo ao redor. Consciência suficientemente boa para poder moldar a realidade por meio da transformação do meio.


A animalidade tende, no geral, a se proteger do meio. A humanidade se distingue da animalidade geral pela alteração do meio. O progresso cultural não é apenas um progresso imaterial, é um progresso da humanidade em relação a alteração do meio. Alteração do meio com o propósito de atender as necessidades, sonhos e ambições dessa humanidade.


A humanidade altera os meios para comportar a própria humanidade. A humanidade transforma desejo em verdade. É evidente que falhamos e erramos diversas vezes nesse processo, mas o fato inegável é que a humanidade continua. Sempre em frente, alterando cada parte em prol dum objetivo.


A interação entre anseios humanos e meios gera diferentes formas de relação. Essas relações são pautadas pela distribuição dos recursos. A distribuição dos recursos é pautada, por sua vez, na capacidade de produzir.  Quando os meios de produção mudam, muda-se também a cultura. As forças de produção alteram sociologicamente as relações de produção.


Os idealistas acreditam que podem mudar o mundo pelos céus, os mecanicistas materialistas acreditam que a natureza humana não é modificável. A história demonstra que os meios de produção alteram a cultura.


A mentalidade também é preocupante nesse caso. A mudança tecnológica é muitas vezes paralisada em prol de um tipo de privilégio que não se quer perder. Então os poderosos se juntam e entravam o desenvolvimento da tecnologia. Não é um fatalismo tecnológico, existe também relações sociais que permeiam o avanço e o entrave.

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Acabo de ler "The Agony of the American Left" de Christopher Lasch (lido em inglês/Parte 1)



Estamos numa crise sem precedentes? Essa questão é trabalhada por Christopher Lasch ao analisar a então surgente esquerda pós-moderna. Processo fenomenológico ao qual ele chamou de "deserção dos intelectuais". A distância entre as gerações parecia ser muito maior do que em outras eras. É como se, de repente, um abismo se cravasse de uma geração para outra. Além disso, o fenômeno de radicalização – um pouco estranho a história americana – se tornou, a cada dia, um lugar cada vez mais comum.


A sociedade americana foi vivendo diversas crises. A pobreza se espalhou pelas massas. E várias pessoas se viram não integradas as riquezas criadas pela sociedade norte-americanos. Essa ausência de integração causou uma espécie de ressentimento em massa. Ajudando, enfim, ao processo de radicalização da sociedade americana. As pessoas que já não integravam a sociedade industrial não se integrariam também a sociedade pós-industrial. Essa lacunaridade se tornaria uma "ferida aberta na veia da sociedade estadounidense".


O movimento que vai contra o corporativismo capitalista nos Estados Unidos tem várias faces e vários grupos. Poderia ser mais enquadrado no populismo e no socialismo – convergentes em alguns pontos histórico, mas não inteiramente iguais –, ganha força em grupos distintos como universitários, proletários, negros e imigrantes.


O movimento populista – nos Estados Unidos da América – se distingue do movimento socialista. Os populistas creem na descentralização, desconfiam da burocracia estatal, além de uma ligação com a agricultura. Já o movimento socialista quer a sociedade industrial reorganizada, acredita no poder do Estado e na centralização – não todos, mas a maioria.


A questão discutida é: quem é o responsável por essas distorções que levam pessoas a ficarem a margem do sistema? Se as classes tem um autointeresse na condução econômica, conforme o pensamento marxista, é evidente que ela busca uma solução mais vantajosa para ela enquanto portadora de um privilégio estrutural. Logo a ideologia burguesa nada mais é do que uma forma de fortalecer o poder dominante da própria burguesia. Os populistas veriam de outra forma essa questão, existem pontuações em relação as situações sociais, culturais e até psicológicas. O sistema permaneceria intacto só ao acomodar essas questões.


Em momentos anteriores da sociedade americana, o movimento populista e o movimento socialista colapsaram – se não em nosso momento, ao menos naquele momento em que Christopher Lasch analisava. Eles não conseguiram se fortalecer o suficiente para fazer valer os seus interesses. Não só não chegaram a hegemonia, como cessaram de serem forças históricas transformadoras.


O movimento populista foi sendo substituído na medida em que o capitalismo industrial ia transformando as forças econômicas dos Estados Unidos. Se o movimento populista se baseava muito em questões dos camponeses e a principal força se tornou o proletariado industrial, a principal base do populismo – agrária – não teve forças para se estabelecer como movimento hegemônico. Ademais, o desenvolvimento contínuo da industrialização monopoliza o saber para determinados grupos que cresciam em poder. Seria muito difícil que pequeños grupos agrários pudessem fazer frente a esse poder e a essa produtividade. Em outras palavras, os inimigos já eram poderosos demais para serem derrotados por um grupo pequeno e fraco.


Um dos planos para revitalizar o populismo foi a maior união entre diferentes grupos e um contato maior com os intelectuais. Numa sociedade marcada pela segregação racial, tal união se tornaria mais difícil e o seu processo seria mais delicado. Já era difícil fazer com que os trabalhadores aceitassem migrantes, como fazer com que aceitassem negros? Um processo lento, diga-se de passagem.


Saindo das questões raciais e indo em direção as sugestões de gênero, embarcamos no feminismo. O que se esperava da mulher? Que ela fosse bonita e bem cuidada para que encontrasse um bom marido. Ou seja, que valorizasse a si mesma enquanto produto para ser vendida para um bom homem. A "mulher ideal" não era mais do que uma "prostituta" que era vendida uma única vez. A mulher não podia ter uma liberdade e uma autossuficiência tal como o homem podia. Ela era um ser privado de liberdade e sujeitado ao gênero oposto.


Todos esses movimentos foram crescendo e se ajustando com o tempo, seus líderes/representantes foram sendo eleitos e, a partir de suas eleições, começaram a perder a sua criticidade e capacidade de ver a sociedade americana como injusta. O que foi gerando uma sociedade desintegrada e representantes alheios aos interesses de suas próprias comunidades iniciais. Além disso, vários grupos careciam de voz audível, dentre os quais os negros. Esses grupos marginalizados tiveram as suas pautas esquecidas.

domingo, 9 de junho de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 26)

 


Essa parte foi escrita por Bill Bland, vai da página 359 à 364.  Creio que as partes posteriores do livro serão menos dedicadas a dados biográficos ou dados da condução política de Stalin e mais ao que aconteceu depois, ou seja, a onda "antistalinista" de Nikita Khrushchev.


É interessante que Khrushchev introduziu a palavra "vozhd" para se referir a Stalin, isto é, um termo que equivaleria ao termo "Führer". Esse termo seria uma comparação das ações de Hitler e Stalin. Aplicando uma simetria que equiparava Stalin e Hitler. O que demonstrava muito do que Khrushchev sentia por Stalin ou o que ele queria que sentissem por Stalin. A linha de Khrushchev era demonstrar que Stalin foi um homem extremamente ríspido e que a União Soviética deveria embarcar numa postura "liberalizante" em que os "resquícios da ditadura stalinista" deveriam ser varridos do mapa.


Bill Bland argumenta que Stalin sofreu uma série de desgastes e conspirações, além dum afastamento das atividades do Partido e da sabotagem dos seus inimigos internos. Além disso, argumenta que o culto a Stalin foi introduzido e fomentado pelos seus próprios inimigos para que, posteriormente, fosse utilizado contra o próprio Stalin. O que é uma linha bastante interessante.

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 25)



Essa parte foi escrita por Palme Dutt, vai da página 345 à 358. É interessante o que os comunistas de outros países escreveram sobre Stalin. Muitos se manifestaram contrariamente à onda "revisionista e antistalinista" que se instalava como política oficial da União Soviética na era pós-Stalin, sobretudo com a condução política de Nikita Khrushchev. O desenvolvimento narrativo dos EUA foi bastante beneficiário da narrativa antistalinista de Nikita.


De qualquer modo, os EUA sempre requisitaram um desenvolvimento antagônico às potências rivais. Um exemplo disso, foi a relação amigável com a China para separá-la da esfera de influência da União Soviética. Outro, mais contemporâneo, é a possibilidade dos EUA se aproximarem da Índia para ajudá-la a ser um entrave as pretensões chinesas e, inclusive, afastá-la de uma política mais unitária dos BRICS. De qualquer modo, os EUA sempre buscam uma maneira de preservar o seu status de donos do mundo.


Nos últimos tempos, os EUA esperam desgastar a Rússia pela guerra ao mesmo tempo em que traçam uma luta para enfraquecer a China economicamente e, inclusive, impedi-la de vencer a corrida tecnológica. As políticas que os EUA traçou para a Inglaterra era uma política de submissão, para enfraquecê-la como potência e garantir que o "Império Inglês" fosse perfeitamente desmantelado para não ser um "inimigo potencial".


É interessante observar a fase imperial americana, sobretudo na condução geopolítica e os efeitos do seu imperialismo. Visto que a nova fase histórica apresenta um "remake" da "Guerra Fria" e as análises de Palme Dutt vem de encontro a linha que os EUA espera traçar no mundo.

domingo, 26 de maio de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 18)

 


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 249 à 256). Essa parte é bastante interessante: a luta revolucionária na Rússia tem dimensões que usualmente não aparecem na análise da maioria das pessoas: as múltiplas intenções das alas bolchevistas, a intervenção externa, as alas revolucionárias que estavam em choque, dentre tantos outros fatores que dão ares muito mais complexos do que usualmente se supõe.


Stalin é aqui mencionado como organizador do Exército Vermelho, auxiliando fortemente em todos os locais em que se formava uma crise ao poder revolucionário. Ou seja, ele era o responsável por apagar a crise e impor a ordem. Com tamanha atuação, é impossível pensar em sua figura como a de alguém de menor importância para a Revolução Russa. Mesmo que, com o tempo, tenham tentado diminuir a dimensão de Stalin.


Deve-se a Stalin a formação geográfica dos países da União Soviética. Foi ele o "criador de povos". Ele trouxe uma política oficial, a partir do marxismo, para construir os diferentes povos soviéticos. Embora muito seja falado sobre a predominância russa e, até mesmo, daquele "imperialismo social" que os chineses acusavam a União Soviética de usar – tema pouco debatido nas academias nacionais.


De qualquer forma, é quase impossível não assumir posturas autoritárias num país fragmentado e em que o novo Estado deve reinvindicar para si uma nova forma de agir. Na luta pelo poder, sobretudo em períodos de grandes choques e com grandes problemas sociais a serem enfrentados, pode-se observar quase o mesmo em diferentes proporções. Ou seja, quase todas as posturas soviéticas não se dariam de diferentes modos em distintos regimes ou países, são quase como consequências naturais – embora existam alguns acidentes e particularidades próprias.

domingo, 5 de maio de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 10)

 


Esse trecho ainda é o de Emil Ludwig. Vai da página 161 à 168. Nessa parte, Emil nos dá pistas de suas ideias em relação à União Soviética e Stalin: existe uma dualidade, essa dualidade é entre a alta admiração e, ao mesmo tempo, o desgosto. Emil Ludwig é um anticoletivista e, portanto, não pode ser descrito como um comunista. Emil tinha uma visão bastante complexa, cheia de detalhes, acerca da União Soviética. Sendo admirador de suas proezas e contrário aos aspectos totalitários.


Emil Ludwig, sendo um homem bastante culto, consegue filosoficamente delinear pontos de concordância e disconcordância. Algo que falta aos intelectuais mais inaptos, todavia que não faltaria a um grande intelectual. É desse dissecamento, dessa capacidade de sutileza, dessa visão de traços, que surge uma rica análise. A análise de um doutrinador ou de um doutrinário é sempre simplista, visto que concorda ou discorda dogmaticamente em blocos, como numa unidade de fé. Algo bastante comum em nossos intelectuais mais fracos, mas igualmente comum no mundo todo.


Emil conheceu Stalin e esteve na União Soviética. Ele pôde ver de perto tudo o que acontecia. Esteve livre para analisar tranquilamente. E graças a isso a sua visão é favorecida. Emil via em Stalin as características típicas de um autocrata asiático: a de um ditador parcimonioso e acostumado a uma análise crítica e estratégica da situação política. O Stalin visto por Ludwig não se surpreenderia com seus aliados, com o povo ou com seus admiradores. É da natureza dos homens a volatilidade e tudo pode ir da água pro vinho e do vinho pro abate. Graças isso, confiava mais em manter o bem-estar geral e em manter uma rígida política de controle social.


Manter um progresso contínuo, um bem-estar relativo e uma política de controle social. Essa linha – também vista na China – é a garantia da permanência no poder. Para Emil, Stalin sabia da falsidade de seus seguidores. Essa diferença crucial demonstra a frieza e, ao mesmo tempo, a expertise de Stalin. Algum dia, compreenderão a genialidade da análise política de Emil Ludwig e a genialidade política de Stalin.

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 6)

 



Ainda na parte escrita por Emil Ludwig, estamos nas páginas 87 à 108 do livro. Aqui vemos o governo de Lênin e toda a conjuntura de dar forma ao poder revolucionário. Com os poder em mãos, o esforço não era mais o de promover instabilidade ao poder dominante e sim o de criar um novo poder dominante. Ou seja, o de construir a ditadura do proletariado. Um estado diferente de todos os outros: não sendo mais controlado pelo clero (via religião), pela aristocracia ou realeza (via política) ou pela burguesia (via economia), agora cabia ao próprio proletariado e ao seu fiel amigo, o campesinato, o de ditar o rumo de sua própria vida e engendrar as engrenagens da liberdade que sempre almejou.


Só que havia um problema nesse sonho, o problema era que o sonho não era só de um. O sonho era um sonho compartilhado com várias visões que, mesmo que se juntassem com alguma semelhança, apresentavam-se distintamente. Dentro do próprio partido, existiam rupturas. Não só isso: socialistas revolucionários, anarquistas, mencheviques e tantos outros, também combateram a burguesia e seus aliados na revolução. Cada qual queria ter parte nesse poder que surgia, mas cada qual tinha uma visão distinta sobre esse poder. Partidários de uma mesma classe – ou duas classes (proletariado e campesinato) –, divididos por diferentes ideais.


O poder evidentemente caiu nas mãos dos bolcheviques, isto é, dos comunistas. Inicialmente esse poder foi utilizado para reprimir os teóricos e adversários do poder comunista, garantindo a estabilidade do poder com base na repressão. Depois de terem calado os inimigos "extra-doutrinários", cabia-se estabilizar o poder nas mãos dos comunistas. E como é que eles fariam isso? Concentrando-o nas mãos de um grupo de comunistas em vez de reparti-lo nas mãos de todos os comunistas. Esse repetitivo processo de concentração para estabilização do poder e para manter a revolução seria, a posteriori, um grande problema para o Estado Soviético e um dos principais motivos de seu fim.


De qualquer forma, a rivalidade entre Trotsky e Stalin vai se delineando e uma ruptura definitiva vai surgindo pouco a pouco.

domingo, 28 de abril de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 4)

 



Essa parte do livro é escrita por Emil Ludwig, historiador alemão de ascendência judaica. Ludwig tinha uma teoria histórica baseada numa noção muito específica: não eram os povos que tinham missões a serem desempenhadas, mas sim que as grandes individualidades conduziam o fluxo da história. Se Stalin é analisado por ele, então ele crê que Stalin era portador duma grande individualidade e, com essa substancial personalidade, alterou o fluxo da história com a sua marca. Essa análise vai da página 57 à página 72.


É interessante observar que Ludwig não poderia ser classificado como comunista, muito menos como um partidário de Josef Stalin – Ludwig se classifica como "individualista incondicional". E, mesmo assim, na autonomia da criticidade de seu trabalho, foi um admirador expectante da obra de Stalin. A fundação da União Soviética parecia-lhe o maior acontecimento político do século XX. Dizia até mesmo que: "os russos são o único povo a destruir o reinado do dinheiro".


Ludwig demonstra um Stalin diferente da imagem contemporânea: um homem de profundos estudos, metodologicamente disciplinado, apaixonado pela solitude e duma capacidade oratória e retórica fulminante. Sua atividade revolucionária não foi tímida, só foi típica da sua estrutura comportamental de asiático: silenciosa e parcimoniosa, mas, ainda assim, portadora duma fidelidade férrea e absoluta. A índole de Stalin não é a de um homem apaixonado narcisicamente por si mesmo, tal qual era a de Hitler. A índole de Stalin está, como diz seu próprio nome, no aço. "Stalin" designa exatamente isso: Homem de Aço.


O texto é altamente biográfico, explora a infância de Stalin e o princípio de sua atividade revolucionária. Com uma infância marcada pela mazela da pobreza, Stalin viu muitas vezes pessoas ricas abusarem do poder. O que lhe marcou profundamente, causando-lhe um desgosto para com a situação política da Geórgia e também do Império Russo. Sua vida no seminário lhe deu uma instrução privilegiada, mas o que lhe arrebatou o coração foram as atividades revolucionárias e as mensagens políticas incendiárias que circunstancialmente apareciam.

terça-feira, 23 de abril de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 1)

 



Essa análise remete a apresentação (7 a 37). Resolvi fragmentar a análise visto que ando muito ocupado para escrever análises com maior regularidade graças ao pouco tempo para uma leitura mais diversa. Também creio que a análise fragmentária funciona mais no Instagram: os poucos caracteres que a plataforma disponibiliza dão um entrave para análises mais minuciosas, todavia isso pode ser burlado pela fragmentação. A fragmentação da análise, por sua vez, permite uma escrita mais atenta aos detalhes de cada parte do livro.


Quando pensamos em Stalin pensamos não só nele. A imagem de Stalin sempre vem atrelada a uma série de outras imagens. A história da União Soviética, sua ligação com Lênin, as brigas com Trotsky, os sentimentos que provocava em seus adversários, seus críticos de esquerda e de direita, a tradição imperial russa. No meio a tanta ebulição social provocada pela multiplicidade de projeções imagéticas, o que será verdade e o que será mentira? O aumento da acuracidade da história, um olhar crítico ao passado, importa para a humanidade em si mesma. Se a humanidade é incapaz duma correta autocrítica, perdemo-nos no caminho.


Esse livro vai numa linha bastante interessante: em vez de seguir a maioria, vai no fluxo contrário. Atacar Stalin é, hoje em dia, uma tecla tão batida que gera uma monotonia sonora e argumentativa. Quando me deparei com esse livro eu pensei: "por que não?". Sou uma pessoa extremamente curiosa e ver que existe uma sólida defesa ao Stalin - que sempre me pareceu uma figura muito mais interessante que Trotsky - me interessou muitíssimo. E os autores de tais textos já garantem, logo de cara, que muito do que se diz por aí é um fuzuê de desinformação, confusão mental, calúnia ou alteração para atacar tamanha figura.


O quadro que o livro apresenta não é algo que foge muito do discurso padrão? E será o discurso padrão válido? Creio que devemos dar uma chance para que um ponto de antagonismo se estabeleça em prol da saúde da própria discussão. Só assim poderemos adentrar nos confins da história e estabelecer com maior precisão e rigor a veracidade da própria história.

sábado, 16 de março de 2024

Acabo de ler "Antes del Fin" de Ernesto Sabato (lido em espanhol)

 


Ernesto Sábato é um dos maiores intelectuais da história da Argentina. Esse livro é escrito como uma forma de atenuar a dor dos jovens que lhe mandavam cartas. E também como uma forma de autobiografia antes de morrer. Um testemunho corajoso de um homem que superou várias decepções e manteve a sua consciência individual apesar de tudo que se sucedesse.


De experiência bastante diversa, Ernesto Sábato sabia sobre arte, ciências exatas e humanas. Foi um literato e, também, um filósofo. Manteve contato com vários intelectuais importantes. Estudou de forma aproximada autores anarquistas e comunistas (de índole marxista). Também teve um período de conversão ao marxismo, porém se afastou do movimento graças a rigorosidade dogmática que esse apresentava.


Ernesto fala-nos da decepção que tem para com o mundo pós-guerra fria. Não que acreditasse na monstruosidade totalitária que se tornou o regime soviético, mas sim que o mundo que surgiu após o fim da União Soviética não era aquilo que foi prometido e sim algo bastante inumano, irresponsável e até destrutível.


A destruição dos recursos naturais, o perigo nuclear, a exploração de massas inteiras de pessoas, a quantidade gigantesca de pessoas morrendo de fome, o contingente populacional de excluídos. Como permanecer otimista nesse mundo? Ou o mundo muda, num radicalismo humanizante, ou morremos todos.


Ernesto, por fim, deixa-nos com a consciência de que temos um mundo a cuidar e um fluxo de ações irresponsáveis a impedir. Isto é, temos que impedir certas ações e mudar de rumo. Sem perder nossa fé utópica na construção dum mundo melhor. No fim, o "fim da história" é uma ilusão propagandisticamente criada para que nos calemos. 

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Acabo de ler "Amores Proibidos na história do Brasil" de Maurício Oliveira




Nada melhor do que terminar o ano lendo sobre o amor, não é mesmo? Este livro traz uma perspectiva intensamente interessante: partes da história de nosso país contada através da situação romântica de homens e mulheres que marcaram a história do Brasil. Um prato cheio para quem busca estudar nossa história sem o fardo de se perder no vaivém burocratizante e sonífero que toma conta da nossa história extremamente academicizada e pouco apaixonada.


Aqui o leitor entra em contato com uma realidade que transcende a banalidade oficialesca que é usual nossa forma histórica-narrante, isto é, ele sai das condições do castelo de marfim dos padrões normativos e adentra nos terrenos ocultos e íntimos do amor. O leitor, pouco a pouco, compreende que os grandes homens e mulheres de nosso país não eram tão somente figuras de ação política, cultural ou econômica: eram homens e mulheres normais, infinitamente normais, e, portanto, ligadas ao ato profundamente humano e normal que é o ato de amar.


O que move a história é mais do que uma gigantesca maçaroca de idealidade abstrata. O que move a história é muitas vezes o desejo de amar e ser amado. E esta necessidade leva os seres a grandes ideias. O amor precede tudo. O amor é o guião da inteligência e dos grandes atos. Até mesmo a ciência está envolta deste calor efervescente a qual poderia chamar de chamas do amor. A ideia de que estamos separados do imaginário e da busca do Ordo Amoris em todos os nossos atos nada mais é do que uma construção da própria imaginação humana e a objetividade nada mais é do que um fruto dum desejo subjetivo.


O leitor corre um grande risco ao entrar em contato com esse livro: o de ver-se humano. Quando nos vemos como humanos, apaixonamo-nos e deixamo-nos a mercê dos ventos da impotência da volatilidade do desejo. E, quiçá, em uma época tão dominada pela idealidade vazia dum maquinacismo vil, exato e proporcionalmente desumano, esta ação de se deixar levar seja a nossa principal lição.

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Acabo de ler "Memória Individual, Memória Coletiva, Memória Social" de Jô Gondar

 



Aquilo que chamamos de memória nunca carrega exatidão, mas sempre uma reinterpretação do passado conforme as cargas componenciais de nosso psiquismo no momento em que rememoramos. Logo a memória é uma possibilidade atitudinal de, conforme meditamos, adentramos num novo posicionamento existencial.


Também é fato que a memória sempre se altera. Ela é múltipla e as figuras humanas assumem forma de sustentação, rivalidade ou de modelo. Tudo isto varia de acordo com o nosso estado de espírito e, por tal razão, não devemos nos crer imbuídos de objetividade. Nossa memória é produto de nosso estado mental presente e da anterioridade que nos precede.


A memória se constrói de modo topológica, ligada à estruturação do meio que circunscreve e aprisiona o ser em sua circunstância. Desencadeada a partir de uma teia relacional de indivíduos sociopsicologicamente atuantes e, igualmente, moldados pelo meio que endoculturalmente os moldou previamente em conformidade com suas próprias tradições.


A mnemotécnica (arte da preservação da memória), mesmo zelando pelo cumprimento de sua objetividade, sempre cai na circunstancialidade de seu espaço-tempo e é obra dele. Ligada a uma subjetividade que lhe prende, mesmo que de modo inconsciente e impercetível por aquilo que pratica o ofício da historicidade ou todo homem que, por excelência, é ser social e de comportamento intrinsecamente narrativo.


No fim, a falha da objetividade nos livra do triste fardo de sermos ritualizados como escravos pelo passado. A memória, não sendo objetiva, é a arte de reinterpretar o passado e dar luz para uma nova vida que se abre, portanto é sempre uma arte e, mais do que isso, um arte de liberdade.

terça-feira, 22 de agosto de 2023

Acabo de ler "Historia Mínima de la Guerra Civil española" de Enrique Moradiellos (lido em espanhol)




Escrever sobre um conflito tão exaustivo e marcante nas poucas palavras que o Instagram permite é uma certa espécie de martírio. Porém não falho ao meu compromisso intelectual de estudar e analisar, mesmo que sem a minúcia necessária, o universo hispânico (seja este em sua origem ou em suas variações).


Quem estudar espanhol terá um mundo a se abrir diante de teus olhos. A história de inúmeros países e, igualmente, muitíssimos autores aparecer-lhe-ão em companhia para que amadureça em visão de mundo, relativizando a estreita visão de outrora e abarcando um novo grau de horizonte de consciência. A história marcar-lhe-á a alma a ferro e fogo, para que tu crenças na medida do mar imenso e profundo que desbrava.


A guerra civil espanhola teve uma configuração muito importante. A  Alemanha e a Itália estiveram ao lado de Franco, porém a União Soviética manifestou-se a favor do regime republicano. A participação de anarquistas, comunistas (marxistas) e socialistas também foi de suma importância. A neutralidade da Inglaterra e a permissividade da França foram pontos graves.


Tratava-se duma guerra entre um lado tradicionalista (católico e monárquico), de tendências fascistas e outro lado de tendências mais laicas, dominado por uma mentalidade mais própria da modernidade ou até mesmo do socialismo ou do anarquismo. Um lado vendo o outro como intolerável.


Todos já sabemos o fim que levou. A vitória de Franco não seria estrategicamente um grande auxílio ao Eixo (Itália, Japão e Alemanha), todavia afastaria a Espanha duma posição energicamente contrária aos seus interesses. Já a União Soviética, neste tempo ainda sem seu gigantesco arsenal militar, não seria suficientemente capaz de sustentar uma revolução socialista ali com sua baixa capacidade produtiva e produtos fora do padrão de excelência que um dia conquistaria. Mesmo que se possa dizer que outra república socialista ser-lhe-ia de grande ajuda.


Uma luta tão multifacetada, tão demonstrativa das contradições históricas não pode ser ignorada por qualquer um que goste e queira estudar seriamente o mundo.

domingo, 30 de abril de 2023

Acabo de ler "Historia del Partido Democrata Cristiano de El Salvador" de Hilda Caldera (lido em espanhol)

 



O que fazer num subcontinente em que, devido a fragilidade unitária, está sempre em violentas ebulições sociais e rupturas institucionais? A verdade é que a América Latina é um local bastante hostil.


Desde o momento de sua fundação, analisou Carlos Rangel, estamos com dois problemas básicos:

1. A fundação veio duma ideia retrógrada no campo econômico, profundamente mercantilista, e igualmente retrógrada em todas as outras áreas;

2. O tecido social da sociedade colonizadora (Espanha, neste caso) estava rompido e era impossível que ela se traduzisse numa verdadeira unidade (eu plural).


O caso de El Salvador é a mesmíssima novela latino americana: uma brutal incapacidade de conviver harmonicamente, levando sempre a grupelhos e tiranetes brigando entre si pela hegemonia dentro do país sem se importar com uma real unidade nacional. Não por acaso, El Salvador foi palco duma série de problemas explosivos.


O Partido Social Cristão teve que viver e tentar mudar essa triste realidade, porém como mudá-la se o tecido social é fragmentário desde antes de sua origem? Um pequeno e bom livro, mas de um triste enredo tipicamente latino americano.

sábado, 15 de abril de 2023

Acabo de ler "História Mínima de Uruguay" de Gerardo Caetano (lido em espanhol)

 



O Uruguai é um país que vive entre dois países que lutam pela hegemonia do processo civilizacional latino-americano. Estes são: Brasil e Argentina. Países que, querendo ou não, gozam de estatura elevada ao redor da América Latina e sempre serão olhados com olhos mais admiráveis, curiosos ou, também, com uma marca de desprezo. Vê-se, nestes dois, algo de subimperialismo.


O Uruguai sempre teve que dividir a sua atenção nestes dois. Os uruguaios já se consideraram argentinos orientais e, igualmente, já pertencerem ao Império do Brasil (como a província Cisplatina). Ao adotar submissão, foi tido como covarde ou simplesmente congruente. Uma ação de um país entre duas potências regionais só pode ser uma: neutralidade. Aliar-se a Argentina ou ao Brasil provocaria uma reação a quem ele não se aliou. Situação que seria complicada para ele.


Todos os países detêm uma história e nenhum povo é menos digno de ser nacionalista que outro. O amor pela sua pátria não é ditado por seu tamanho, porém pelas ações concretas que ele faz historicamente e criam um senso de eu plural. Este país, diminuto em comparação a Argentina e ao Brasil, sempre se destacou pela sua diferencialidade processual e, por vezes, pela similitude com os processos regionais que imperavam na região.


Os uruguaios não se veem como menores, veem-se simplesmente como uruguaios. Orgulhosos, também, de seus processos históricos. Um de seus lemas é "nadie es más que nadie", ninguém é maior que ninguém: uma sociedade hiperintegrada e pronta para um processo de eu plural maior que de outros países latino-americanos. Também é o país que sempre está um passo a frente nas colocações mais necessárias socioculturais. Todavia é, igualmente, um país que sofre pela ausência de pensamento estratégico e adequação ao tempo econômico e tecnológico do momento.


O Uruguai é um país amável e de uma história fantástica. Não é tão diminuto quanto falam e merece mais apreço e consideração por toda a América Latina. Um belo e emocionante livro, diga-se de passagem.

segunda-feira, 20 de março de 2023

Acabo de ler "Mensaje al Pueblo de Venezuela" de Marcos Perez Jimenez (lido em espanhol)

 



Esse é aquele típico livro que, lido ao acaso, não pode chegar a mensagens concludentes. Para uma visão mais assertiva seria necessário um estudo maior de minha parte e, por essa razão, recusar-me-ei a escrever mais afirmativamente, discordando ou concordando, em virtude de não saber a contextualidade mais abarcante do que me foi apresentado.


O livro é uma espécie de panfleto político para a condução de ações pela militância organizada nacionalista da Venezuela. O autor clama mudanças estruturais e acusa o descaso da concorrência frente a própria nação. Tenho que apontar que, em suas pouquíssimas páginas, o autor discorre forma bastante sistemática dos problemas da Venezuela no período em que foi escrito.


O autor igualmente fala de seu afastamento compulsório e do anseio do povo de tê-lo no poder. Clama igualmente para que a militância exponha energeticamente a injustiça em que está envolto ao mesmo tempo em que desencadeie ações que deslegitimem as ações de seus concorrentes, estes últimos tidos como nocivos as causas orgânicas da Venezuela enquanto nação.


Outro ponto reconhecível no livro é a retórica de caráter profundamente nacionalista, a tentativa de desenhar uma geopolítica que tenha como suporte o combate das forças imperialistas na América Latina para o maior progresso da Venezuela enquanto nação.


Certamente um livro bastante interessante e que deu gosto de tentar entender um pouco mais dos meandros históricos da Venezuela. Mas não recomendaria que o leitor entrasse nesse livro sem ter um estudo mais basilar que forneça um contexto para a informação que é transmitida.

domingo, 5 de fevereiro de 2023

Acabo de ler "La Edad Media" de Jose Luis Romero (lido em espanhol)

 



Escrever sobre a Idade Média, sobretudo num país tão atrasado em conhecimentos históricos medievalistas como o Brasil, é uma tarefa um tanto quanto ingrata e que possibilita toda uma série de margem para más interpretações e birras geradas após anos de distorções ou má interpretações históricas.


Deve-se pontuar que:

1. Grande parte da interpretação histórica medievalista surge dum período que sucedeu logo após ela e, muitas vezes, com caráter notoriamente negativista sobre todos os seus mais diversos aspectos;

2. Uma nova interpretação acerca da Idade Média vem surgido com uma revisão bibliográfica e dos mais diversos  documentos, todavia é recente e não foi acoplado ao conhecimento acadêmico comum;

3. Parte da história da Idade Média se perde pois o foco eurocêntrico impede uma olhar mais sistemático;

4. Grande parte do mito de "Idade das Trevas" impede um olhar mais atento a esse período que, diga-se de passagem, foram três e não um.


O livro traz uma análise sobre os três períodos medievais. Tratando da dissolução do Império Romano, a forma com que o cristianismo impactou as mudanças do mundo e como o papado tentou recorrentemente reestabelecer um Império - a qual poderíamos chamar de Cristandade. As lutas recorrentes também buscavam cristianizar a cultura e manter o legado civilizacional romano.


Fora isso, vemos o desenvolvimento conflituoso entre muçulmanos e cristãos - e como Mohammed unificou seu povo e, consequentemente, possibilitou seu desenvolvimento. O desenvolvimento da burguesia enquanto classe e como a fragmentariedade territorial causada pela nobreza levou monarcas a fortalecerem a classe burguesa também é tratado aqui.


Esse livro é, mesmo que curto, bastante abarcante das problematicidades que apareciam na época e tenta, em seu curto espaço, apresentar uma exposição metódica da situação. Vale a pena ler.

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Acabo de ler "Psicologia Aplicada de Freud: capítulo 6 - A Contribuição da Psicanálise ao Direito"

 



A psicanálise trouxe consigo diversas mudanças. A noção de que não somos tão senhores de nossas ideias e que, em parte, não sabemos em que momento se construíram, deu ao espírito humano a noção de sua falsa objetividade. Tão logo se viu que muitas movimentações históricas traziam, em seu seio, condicionamentos psíquicos que lhe tiravam a universalidade que elas pressupunham.


Esse movimento autocrítico, possibilitado pela psicanálise, levou consigo outras mudanças. Na esfera do Direito, aqui nessa seção do livro abordada, a psicanálise contribuiu para uma compreensão maior da subjetividade humana e o entendimento das razões ocultas que desencadeiam ações.


Graças a esse movimento, vemos que não poderíamos julgar inteiramente um caso sem termos, em nossas bases epistemológicas, as condições psíquicas que estruturaram o agir do sujeito que burlou as regras. Neste sentido, a psicanálise atua como um processo humanizante do julgamento humano. Com seu arcabouço, podemos adentrar mais fundo na historicidade pessoal e termos uma análise mais atenta.


Fora que a psicanálise ajuda na mediação dos conflitos. Em caso de divórcio, a escuta psicanalítica é capaz de tentar compreender cada lado, com cada subjetividade em jogo, e buscar um lugar, a partir de cada história pessoal e narrativa, conciliatório entre as partes.


Este pequeno livro, mesmo que simples, demonstra-me cada vez mais a amplitude da psicanálise e serve-me como inspiração para compreender mais e saber que posso aplicá-la nos mais diversos âmbitos.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Acabo de ler "Historia Mínima de Chile" de Rafael Sagredo Baeza (lido em espanhol)




Estudar a história da América Latina, agora com maior profundidade devido ao estudo do espanhol, vem sido uma tarefa que me é deleitosa e conflituosa. Por um lado, apaixono-me por essa civilização a qual faço parte. Por outro, as angústias de meu povo sofrido, sempre em busca da libertação, faz-me igualmente sofrer e padecer.


A história do Chile é uma história difícil. O território foi conquistado pelos espanhóis com muito esforço. Em boa parte, tornou-se submetido a colônia do Peru. Seu território, graças as suas especificações, criou um povo isolado que tinha, acima de tudo, um amor pela ordem e a harmonia. Predisposição psicológica que, infelizmente, muitas vezes abriu caminho para experiências políticas autoritárias.


É importante observar que a história do Chile é bem circular, até mesmo viciada. Existem basicamente três períodos que se alternam: crescimento e expansão; instabilidade; e política autoritária que busca reorganizar a sociedade. Por outro lado, esse grande povo do extremo sul tem uma história fascinante e conquistas formidáveis. Suas lutas históricas desembocam num crescimento civilizacional crescente, sua intelectualidade goza dum patriotismo belíssimo.


Hoje, após a onda política chauvinista de Pinochet, o Chile mais uma vez caminha para uma política pluralista. Desta vez, tendo em conta uma busca conciliatória entre desenvolvimento econômico e social. Uma sociedade que se vê, a cada dia, mais ilustrada e com ânsia por ilustrar-se ainda mais. Este país, na sua extremidade, na sua busca por ordem e por liberdade, ainda nos dará belas lições ao largo deste século.