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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Acabo de ler "Dawn's Early Light" de Kevin D. Roberts (lido em inglês)

 


Nome:

Dawn's Early Light: Tacking Back Washington to Save America


Autor:

Kevin D. Roberts


Analisar escritos do conservadorismo americano tem sido um dos capítulos mais apreciáveis intelectualmente de toda a minha vida. Isto pelo fato de que temos, no Brasil, um fechamento intelectual gigantesco. As escolas predominantes, em esfera nacional ou até mesmo em toda a América Latina, são majoritariamente de esquerda ou de centro. Usualmente não sabemos o que a direita americana pensa e temos uma visão deturpada acerca do seu pensamento. A escola conservadora americana é tão intensa e interessante quanto uma escola de pensamento deve ser. Ela possui muitas variações, características e contrastes. Algo infinitamente mais complexo do que é geralmente apresentado.


Creio que os leitores conhecem Kevin D. Roberts, mas se não o conhecem, apresentar-lhes-ei o contexto. Kevin D. Roberts é um homem que apareceu envolto numa polêmica bem recente. Essa polêmica é o "Project 2025" – muito comentado midiaticamente, mas quase todas as fontes desse debate midiático são de esquerda e possuem um caráter muito mais unilateral do que multilateral. Muitas pessoas aguardam uma análise minha sobre o "Project 2025". E de fato, o "Project 2025" é uma obra que pretendo um dia analisar, todavia estou me preparando em uma jornada para "chegar até lá". Voltando mais propriamente a apresentação, Kevin D. Roberts é o presidente da Heritage Foundation. Um homem cuja a posição já leva a um aguçamento da curiosidade, visto que a Heritage Foundation é uma das maiores organizações políticas do mundo. Sobretudo uma organização conservadora de extrema relevância ao debate intelectual.


Vale um pequeno adendo: JD Vance, atual vicepresidente dos Estados Unidos da América, escreveu um pequeno trecho do livro. O que demonstra a importância desse livro para a formação do projeto político da atual gestão dos Estados Unidos. Uma pequena curiosidade é que JD Vance esteve na Europa e criticou a forma com que os políticos europeus vem atuado. Mais especificamente certas elites políticas, culturais e econômicas, visto que essas elites vem promovido um fechamento da Europa para determinadas visões de suas populações. A argumentação européia é de que esses "políticos populistas" não são adequados a normalidade democrática.


O problema é que essas elites creem que são por si mesmas a normalidade democrática. A chamada "democracia liberal" em que diferentes visões, ideologias e doutrinas competem entre si está sendo trocada por uma "democracia" – bem entre aspas – em que uma elite arroga para si o termo "democrata" e define por si mesma o que é a "vontade democrática", muitas vezes indo contra os anseios do próprio povo. Em outras palavras, não é mais o povo que determina o que é a vontade democrática, mas sim a "elite democrática" que define conforme as suas metas o que é a "vontade democrática" e molda os rumos do país conforme as suas vontades e anseios políticos. Tudo que for um "impedimento" a essa "vontade democrática" da "elite democrática" é, por si mesmo, algo "antidemocrático" – generalizado pelo termo "fascista" e "extrema direita" que é repetido e generalizado a exaustão, sem qualquer comprometimento e/ou rigorosidade de aplicação epistêmica séria – e deve ser banido do debate público e da possibilidade de realização de projeto político.


Voltando a centralidade da análise do livro. Vemos que Kevin D. Roberts é mais um daqueles homens que se voltam contra a tradição neoconservadora e pretendem alterar "um pouco" do funcionamento do movimento conservador. Para tal, ele propõe a criação de um novo movimento, esse seria o "New Conservative Moviment", que não é o mesmo que o "movimento neoconservador". Esse "New Conservative Moviment" teria uma espécie de fogo controlado. Esse fogo controlado "queimaria" as instituições que não podem ser reformadas, visto que estão demasiadamente subvertidas ou já nasceram com propósitos subversivos. Essas instituições subversivas tem como caráter um grande network político, corporativo e cultural em que as elites compartilham os seus interesses, interesses esses que muitas vezes vão contra os interesses do americano comum.


Essa diferença tática – que é bem central – permeia uma velha questão do conservadorismo enquanto movimento: conservadores mais antigos tendem a crer que instituições devem ser mantidas ou reformadas, mas nunca "queimadas" (destruídas). A razão disso é o fato de que conservadores são reformistas. O "New Conservative Moviment" é um movimento que quebra essa tática e/ou linha de pensamento conservador. Se é necessário que algumas instituições sejam "destruídas" para preservar e reformar instituições mais nobres e úteis ao país. Em outras palavras, instituições que apresentam propósitos subversivos ou foram demasiadamente corrompidas por agendas ideológicas esdrúxulas devem ser "queimadas" por um fogo controlado e purificador.


Quando Kevin D. Roberts fala sobre as instituições subversivas, ele fala sobre um projeto categoricamente de esquerda que visa um cerceamento do discurso, a adoção de um sistema de imigração em massa para a substituição da mentalidade americana – pouco importando os critérios de eficiência, mas sim um critério de criar um Estado multiculturalista – e também de uma elite que é cosmopolita e ligada a uma agenda internacionalista. Inclusive é preciso notar que muito da elite dos Estados Unidos não é ligada a uma sensação de pertencimento aos Estados Unidos, mas sim a uma sensação de "pertencimento mundial" e "sem fronteiras". Essa elite muitas vezes se contrasta com o americano médio, muitas vezes apresenta um "elitismo do bem" ou um "elitismo de esquerda", que olha o cidadão que não pertence a essa "esfera cosmopolitana" como um incapaz, um estulto e/ou um ignorante. A mídia cosmopolita muitas vezes menospreza e trata esses cidadãos como meros idiotas.


A própria questão da elite cosmopolita e um povo enraizado é uma questão de constante debate. Seja nos Estados Unidos, seja na Europa. Há, além disso, a questão da separação cada vez maior entre a cosmovisão e o modus pensandi das pessoas que possuem ensino superior e das pessoas que não possuem ensino superior. Além disso, esse mesmo quadro se repete entre pessoas que estão na "cidade grande" (regiões mais urbanizadas) e aquelas que estão na cidade do "interior" (regiões menos urbanizadas). O fato da esquerda promover um "bullying do bem" contra esses cidadãos leva a um aumento do tensionamento político e esse tensionamento político aumenta a polarização do país e o sentimento e/ou crença – muitas vezes bem fundamentada – de que existem dois povos americanos e os dois estão entrando num conflito existencial. Para entender melhor essa ideia, sugiro que veja o vídeo "America's Cold Civil War", ele pode ser encontrado no canal da "The Heritage Foundation" no YouTube – ele é bastante elucidativo a respeito do que é uma "guerra fria civil" em que distintas visões de mundo entram em choque por diferentes parcelas da população.


Em relação as elites, vale notar que existe a questão da "elite orgânica" e a "elite artificial". A "elite artificial" – vou utilizar aqui um termo gramsciano – utiliza aparatos de perpetuação de hegemonia para permanecer no poder, desfavorecer adversários e impedir a possibilidade de mudança ou de ascensão dos seus adversários. O que o livro de Kevin D. Roberts critica é uma elite que se utiliza dos instrumentos do poder para realizar a perpetuação e continuidade do seu projeto sem a possibilidade de crítica, de reforma ou até mesmo de um consenso mais ponderado. O fato da imposição da agenda dessa elite, seja pelo domínio político ou pelo ativismo judicial – quando juízes começam a interferir nos rumos políticos tais como se fossem políticos eleitos –, leva a uma necessidade de uma estratégia alternativa.


Vale lembrar que a direita com caráter populista não surge por um acaso, mas num momento em que a esquerda abandonou amplas margens da população – inclusive até mesmo trabalhadores – em favor de valores cosmopolitanos que muitas vezes contrastam com os valores típicos da população de seus países. A conexão e o aumento de proximidade da direita com o povo se deu quando a direita se viu marginalizada na academia (no sentido universitário) – sendo até mesmo perseguida ou com professores fazendo esquemas para promoverem só alunos de esquerda –, na mídia mainstream e nas instituições. Esses dois fatores levaram ao surgimento de uma direita que se conectou com o povo, adquiriu um caráter mais populista – o que era em si mesmo uma necessidade em virtude da agenda cosmopolita – e que questiona as instituições mainstream.


Uma das principais críticas feitas a agenda da esquerda ocidental moderna é o projeto multiculturalista e as políticas de imigração em massa. O antigo processo de imigração envolvia um processo de integração que implicava num assimilacionismo daqueles que entravam no país. Entrar num país não significava, em absoluto, uma preservação ostensiva de um modo de vida e de um modo de pensamento. Ele implicava em uma adaptação aos valores, hábitos e cultura local – mesmo que não de forma absoluta – e um respeito as instituições do país em que se entrou. O projeto multiculturalista envolve imigrantes que não são assimilados, mas sim mantidos em sua forma cultural primária. Esse projeto vai em detrimento da comunidade que estava primariamente em determinado país. Os Estados que aderem o projeto multiculturalista – a imigração em si mesma não é um problema, mas a forma em que a imigração é proposta ou se dá – é que essa agenda leva a uma acentuação dos problemas, muitas vezes gerando questões identitárias e conflitos étnicos. E não, isso não é a mesma coisa que "Great Replacement". É preciso pensar num modelo de imigração que não cause tantos conflitos e seja pensado a partir das necessidades econômicas do país e da capacidade de assimilação das pessoas que adentram no país.


Antes de continuar a linha central da análise, preciso de um breve adendo. A crítica que Kevin D. Roberts faz ao neoconservadorismo – aliás, é bem semelhante a crítica dos "MAGA conservatives" – é a de que os neoconservadores se preocuparam mais em uma "expansão" e/ou um "projeto de Império Global" pros Estados Unidos do que a resolução de problemas internos. A violenta agenda externa neoconservadora custou aos Estados Unidos um grande endividamento e um esquecimento das questões nacionais. Muito dinheiro foi gasto, muitos recursos foram usados e o próprio povo americano foi esquecido no processo. Grandes problemas nacionais, como a infraestrutura, a indústria, a família e o próprio bem-estar do trabalhador americano foram simplesmente deixados de lado em prol do sonho neoconservador. Esses profundos problemas sociais, econômicos e de infraestrutura – além de uma visão bastante pejorativa que a agenda neoconservadora causou – gerou uma revisão intelectual do movimento conservador, o que levou a uma agenda mais voltada as questões domésticas ("America First").


Outra questão apresentada é o renascimento das instituições cristãs e da "alma americana". É a preocupação com o "espírito da fronteira". A questão de "conquistar novos mundos" por um espírito aventureiro e empreendedor. As instituições cristãs que renasceriam seriam as instituições ligadas as atividades educacionais, mais propriamente aquelas que apresentam o caráter da educação clássica. Para compreender melhor o que seria isso, recomendo que busque informações acerca da Hillsdale College. Já o renascimento do "espírito da fronteira" seria a busca pela atividade da realização tecnológica e empresarial – o que só é possível com uma grande reforma educacional e econômica –, fazendo frente a China.


Sem dúvidas, o livro de Kevin D. Roberts é um livro muito impressionante e importante. Ele traz um colossal revisão tática, metodológica e até mesmo na estrutura do pensamento conservador. Creio que ele merece ser lido. É um dos livros mais importantes dessa década e com certeza impactará o debate público e as estratégias políticas dos próximos tempos. Kevin D. Roberts demonstra ser um importante líder e ao mesmo tempo estabelece a possibilidade de uma cópia tática em outros países do mundo.

sábado, 18 de janeiro de 2025

Acabo de ler "Liberal Education’s" de Rachel Alexander Cambre (lido em inglês/Parte 6 Final)

 


Nome:
Liberal Education’s Antidote to Indoctrination

Autora:
Rachel Alexander Cambre, PhD


Uma educação livre é muito baseada na liberdade de expressão. A liberdade expressão, no ambiente acadêmico, tem a premissa de que os argumentos devem ser logicamente embasados. E é através dessa ligação (liberdade argumentativa + argumentos logicamente embasados) que o debate ocorre.

Os seguintes comportamentos devem ser observáveis: encorajamento para fazer perguntas, avançar nos argumentos, receber críticas lógicas aos argumentos anteriormente observados.

Deve ser também observado: que os alunos recebam o pensamento de pensadores de diferentes épocas e lugares para que não haja uma redução espaço-temporal da sua capacidade de pensar.

É evidente que a educação não termina nunca. Ela se torna uma expressão em si mesma da vida. O aluno deve ser convidado a se tornar um estudante para a vida toda. Se isso não ocorre, a educação não ocorreu de fato.

Quando a educação é real, ela se integra a personalidade do indivíduo. Ela se torna expressão mesma da sua personalidade e está em todos os processos vivenciais que o indivíduo se insere.

Acabo de ler "Liberal Education’s" de Rachel Alexander Cambre (lido em inglês/Parte 5)

 


Nome:
Liberal Education’s Antidote to Indoctrination

Autora:
Rachel Alexander Cambre, PhD

Não importa se um argumento é de esquerda, de direita ou de centro. O que importa é se ele é verdadeiro e bem estruturado. Quando pensamos se algo é de direita, de centro ou de esquerda, se tem algo ou não a ver com a "nossa tribo", já não estamos pensando livremente. Muito pelo contrário, estamos adentrando num tribalismo onde o que importa é a adesão formal a tribo e ao seu modus pensandi.

Uma educação livre, de fato libertadora, requer uma capacidade de estudar e ir além dos limites impostos pela maioria e pela simplificação do debate. Transcender o horizonte da maioria das opiniões sobre um assunto ao mesmo tempo em que providencia uma série de argumentos competitivos – contraditórios e em disputa por si mesmos – é o fundamento de um bom entendimento de um debate livre e de um intelecto livre.

Doutrinação:
Propõe um escopo monolítico.

Educação:
Convida a discordância dentro da conversação.

Uma educação verdadeira, longe das câmeras de eco, é uma educação baseada na discordância e na compreensão estrutural das discordâncias que levam aos levantamentos dos diferentes pontos de vista dentro de um debate. Uma educação livre é um ponto de inquirição, um debate e que leva a um julgamento pessoal acerca de algo.

Tal educação não se baseia em fontes secundárias. Baseia-se em fontes primárias. Não aos comentários ou comentários dos comentários das obras. Mas ao entendimento do debate a partir das fontes primárias que se chocam. Em outras palavras, adentram no estudo dos mais diversos grandes autores e grandes escolas de pensamento. Isso tudo, é claro, alinhado a um profundo entendimento da ação moral dentro do mundo.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Acabo de ler "Liberal Education’s" de Rachel Alexander Cambre (lido em inglês/Parte 4)

 


Nome:
Liberal Education’s Antidote to Indoctrination

Autora:
Rachel Alexander Cambre, PhD

A ordenação da alma é um dos principais tópicos da educação. O principal objetivo da educação é a ordenação da alma e é o mais espetacular objetivo humano. O objetivo da educação não é apenas o de dar uma formação básica, mas o de ensinar virtudes. Sejam as virtudes morais, sejam as virtudes intelectuais.


Uma pessoa intelectualmente saudável e moralmente íntegra é capaz de navegar entre diferentes tipos de pensamentos e diferentes tipos de argumentos. Não só por uma erudição qualquer, mas pela busca da verdade. Uma verdade que transcende os limites da esquerda e da direita. Uma verdade que ama a verdade que está além das definições das agendas ideológicas e narrativas.


Uma pessoa que busca a verdade busca estar além das maiorias. E isso requer a coragem de estar além do que a sociedade propõe ou o que a sociedade espera. Visto que o verdadeiro intelectual opõe vigorosamente uma série de argumentos e perspectivas, tentando encontrar a verdade entre esses diferentes pontos e sendo prudente na escolha de suas ações.


Mais do que isso: a inteligência é piedosa e indica uma ligação do presente com todo o legado que a precede e com o futuro que se constrói. O exercício intelectual não é a destruição do passado, mas uma reverência ao passado e uma gratidão pelo passado. Visto que o intelectual honesto é um intelectual humilde, um intelectual grato pelo melhor da civilização.

Acabo de ler "Liberal Education’s" de Rachel Alexander Cambre (lido em inglês/Parte 3)


Nome:
Liberal Education’s Antidote to Indoctrination



Autora:
Rachel Alexander Cambre, PhD

O que é educação? A educação pode ser vista como um aumento gradativo do horizonte de consciência. Isto é, do número que de conhecimentos que a consciência humana abarca. O aumento contínuo do horizonte de consciência, junto com a qualidade do conteúdo abarcado, abraça o reconhecimento de uma série de fórmulas e contrastes que escapam da generalização ideológica. O problema é que numa estrutura de educação massificada, o que importa é mais uma série de conhecimentos gerais de forma simplificada do que um conhecimento reconhecedor da série de contrastes que aparecem em cada instante do saber.


Para abarcar um número alto de alunos, reduz-se a qualidade do saber. A redução da qualidade do saber se encontra no aspecto simplificatório. Uma quantidade baixa de conhecimento, as chamadas ideias gerais, assumem a condução do pensamento da maioria das pessoas. Dentro de uma estrutura política em que os governantes são eleitos democraticamente, as suas eleições se devem mais a simplificações – fetiches mentais – do que a uma análise concreta dos sérios problemas apresentados a nível local, regional e nacional.


Outra condição que marca pesadamente a democracia é que pessoas com ideias gerais não possuem compreensão profunda dos distintos fenômenos que devem pautar a escolha política. Eles são guiados mais pelas pressões socialmente impostas do que por uma noção qualificada das diversas nuances encontradas dentro de um debate.


A visão da maioria é uma visão pautada por uma lógica de simplificação para massificação de um baixo saber. Um baixo saber caracterizado por fetiches mentais – pensamentos não complexamente estruturados e reconhecedores dos diversos aspectos que sondam os fenômenos da realidade. Se a maioria da sociedade vai para um canto, a pressão social direciona todos os outros para esse mesmo canto.


A referência do cidadão médio não é uma série de modelos que reconheça profundamente. A referência do cidadão médio são uma série de noções corrompidas, pois básicas. Além do choque que a pressão social da maioria exerce. Visto que é a visão da maioria, o imaginário social, que constrói aquilo que o cidadão médio pensa acerca do mundo.


Uma democracia sólida não pode existir tendo como base simplificações. Logo ela requer uma educação de qualidade para que os cidadãos possam fazer um exercício legítimo da razão no ato de escolha política. A ligação entre educação de qualidade e funcionalidade do regime político democrático é intrínseca. Não há democracia sem educação de qualidade. 

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Acabo de ler "Liberal Education’s" de Rachel Alexander Cambre (lido em inglês/Parte 2)

 


Nome:

Liberal Education’s Antidote to Indoctrination


Autora:

Rachel Alexander Cambre, PhD


O sentido original da palavra doutrinação era "ensinar". Há um tempo atrás, uma boa doutrina queria dizer "bom ensinamento". É evidente que tal aplicação linguística não é mais comum hoje, visto que a linguagem está circunscrita ao âmbito da aplicação social e tem uma base sociológica. Não é possível construir uma utilização da linguagem sem considerar a base sociológica da linguagem. O imaginário social impacta na compreensão da terminologia empregada. Há uma fundamentação social e histórica, uma fundamentação sociohistórica, no emprego da palavra doutrinação. O termo passou a se referir aos processos formativos de militância ideológica no século XX empregado por estados totalitários. 


A autora estudou, para a construção da explicação do termo doutrinação, o pensamento do Aleksandr Solzhenitsyn e sua documentação a respeito dos Gulags na extinta União Soviética. As características básicas apresentadas na doutrinação dentro da União Soviética eram três:

1. Implantação de pensamento;

2. Simplificação;

3. Mecanização.


A doutrinação trabalhava com "novos fatos" e habilidades, esses novos fatos e habilidades contrariavam os fatos antigos e as habilidades antigas. Ou seja, eles surgiam por uma nova construção narrativa da história ao lado de uma aplicação de novas técnicas intelectuais. Esse processo era mecanizado para ter um funcionamento autônomo e garantir uma continuidade.


Existia conjuntamente uma felicidade da simplificação ao lado de um prazer da redução. O fundamento da doutrinação é distorcer a percepção da realidade por meio da distorção da própria mente. Uma mente incapaz de perceber os múltiplos traços da realidade é incapaz de perceber a complexidade da própria realidade. No geral, a complexidade da realidade já espanta psicologicamente a mente humana e a mente humana se predispõe à alienação doutrinatória.


A questão é: o doutrinador tem diante de si uma pessoa que sofre e necessita de uma simplificação para o mundo que não suporta. Usualmente essa simplificação comporta uma crítica ao mundo e um anteparo para com o doutrinado. O doutrinado se vê desculpado ante ao próprio fracasso da concretude da sua vida. Conta, diante de si, uma capacidade analítica reduzida para esmiuçar as razões do seu fracasso através de mecanismos externalizantes que culpam o mundo. É evidente que no jogo da complexidade do real, a própria culpa e a culpa da estrutura do mundo se mesclam e se confundem num infinito incomensurável.


A doutrinação trabalha com a redução da complexidade através de um conjunto monolítico de ideias que são usadas repetidamente para a diminuição da complexidade do mundo em conjunto com a redução da possibilidade mesma de visões alternativas de argumentos e perspectivas. Até porquê a doutrinação é um mecanismo racionalizante que visa colocar o doutrinado numa posição de superioridade moral, incapacidade de "autoculpabilinização" e defesa contra qualquer outro mecanismo que contraste com essa visão distorcida de realidade que tanto leva a um prazer para com a própria atuação moral dentro do mundo. Em outros termos, o mecanicismo do doutrinado é uma defesa contínua contra qualquer outro pensamento que leve ao desmoronamento da retroalimentação da sua própria condição alienante.


A partir do momento em que a doutrinação se instala, a pessoa íntegra os novos fatos e habilidades intelectuais como mecanismos de autopreservação. Esses mecanismos de autopreservação do doutrinado se integram a sua própria personalidade e passam a integrar o modus pensandi (modo de pensamento) e modus operandi (modo de operação) automaticamente. Levando a incapacidade de complexificação do processo de pensamento, visto que essa complexificação é vista como nociva e tradutora da crise antecedente ao processo de doutrinação que o alienou da realidade. Em palavras mais precisas, a complexificação do pensamento – abarcando novas linhas – levaria inevitavelmente a uma condição em que a complexidade da realidade ressurge como aquele monstro que anteriormente apavorava a pessoa que foi doutrinada.


O doutrinado não quererá algo além da própria alienação. Visto que a alienação o protege do mundo que o apavora. Nesse sentido, a construção de uma vida intelectual mais autônoma – contrariedade dos fatos – leva a uma perda da segurança psicológica. Essa perda da segurança psicológica é encarada como automaticamente nociva. Logo a perda da capacidade de elevação da intelectualidade por meio da acoplação de múltiplas linhas de interpretação para uma visão mais abarcante da realidade é vista por si mesma como nociva. Algo ao qual o doutrinado deve se proteger, mesmo que esse processo ocorra inconscientemente.

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Acabo de ler "Liberal Education’s" de Rachel Alexander Cambre (lido em inglês/Parte 1)


Nome:

Liberal Education’s Antidote to Indoctrination


Autora:

Rachel Alexander Cambre, PhD


O que é uma educação verdadeiramente livre? É possível ter uma educação livre? O modelo deve pender à esquerda ou à direita? Qual a possibilidade efetiva de concretizar uma educação que não seja doutrinária? Essas questões sempre voltam a aparecer, seja nos Estados Unidos, seja no Brasil, seja em qualquer outro país do mundo. A doutrinação é uma temática universal, a educação também o é.


Há quem afirma que toda educação tem um ponto doutrinário, uma cosmovisão que se esconde por trás dela. Se essa afirmação é de fato verdadeiro, decorre-se que nenhuma escola pública é de fato possível, visto que ela seria um cerceamento e uma imposição ideológica. Outra solução plausível seria a adoção de professores dotados de visões intelectuais bastante distintas. Todavia a segunda via apresenta uma problemática: o número de professantes de determinado sistema de pensamento não é igual e tampouco é financeiramente viável contratar todos os tipos de diferentes pensadores para lecionar – além disso, qual seria a quantidade de tempo para formar alguém que precisa passar minuciosamente por todas as escolas de pensamento do mundo em cada uma das matérias?


A autora do texto tratará dessas questões. Creio que se focará em trazar uma linha objetiva de educação – se essa for, é claro, possível.

domingo, 12 de janeiro de 2025

Acabo de ler "How Cultural Marxism Threatens the United States" de Mike e Katharine (lido em inglês/Parte 6 Final)


Nome:
How Cultural Marxism Threatens the United States—and How Americans Can Fight It 

Autores:
Mike Gonzalez;
Katharine C. Gorka.
 

O documento – bastante sucinto – é bem interessante. Antes mesmo do famoso "Project 2025", a Heritage Foundation já fundava as bases atuacionais da direita americana. De fato, as atuações da Heritage Foundation são bem interessantes e muito bem delineadas. É interessante a incrível capacidade da direita americana em comparação a direita nacional.

É um documento altamente estratégico. Fornece formas de organizações. Ensina principais pontos da atuação da esquerda no território americano – embora sua atuação seja semelhante nos países da América Latina e Europa –, ensina como combatê-los, dá um delineamento acerca de táticas e práticas institucionais para quebrar a esquerda na política. Deveras interessante. 

Creio que esse "Special Report" foi bastante interessante para compreender pontos basilares da política dos Estados Unidos da América. Recomendo a sua leitura, visto que a Heritage fornece questões essenciais para a condução política americana.

sábado, 11 de janeiro de 2025

Acabo de ler "How Cultural Marxism Threatens the United States" de Mike e Katharine (lido em inglês/Parte 5)

 



Nome:
How Cultural Marxism Threatens the United States—and How Americans Can Fight It 

Autores:
Mike Gonzalez;
Katharine C. Gorka.

O que forma os Estados Unidos enquanto nação? O que faz, o que dá forma, o que eleva, qual é, por fim, a identidade americana? O drama espiritual americano, aquilo que se esconde por trás de toda a sua formação sociohistórica, é a questão da liberdade. É a luta contínua pela questão da liberdade. Já que os americanos encaram a liberdade como pré-condição para o florescimento humano.

Dessa questão profundamente humana, mas exemplarmente dedicada aos Estados Unidos enquanto experiência nacional, buscam criar uma ordem política baseada no respeito ao autogoverno, na liberdade de fala, nos direitos individuais, no direito das minorias. Não porquê a ordem humana pode ser perfeita, mas porquê só a partir do autogoverno é possível corrigir e aperfeiçoar a ordem sociopolítica.

É pelo fato da humanidade estar sujeita a corrupção que o poder não pode ser concentrado. O poder concentrado leva ao aumento da abuso e a impossibilidade mesma de correção desse abuso de poder.

O que é essencial nos Estados Unidos não é uma raça, não é uma religião, não é um idioma, não é uma organização planejada. O essencial dos Estados Unidos é a liberdade. Ou, mais especificamente, a perseguição da ideia da liberdade através da história.

Acabo de ler "How Cultural Marxism Threatens the United States" de Mike e Katharine (lido em inglês/Parte 4)



Nome:
How Cultural Marxism Threatens the United States—and How Americans Can Fight It 



Autores:
Mike Gonzalez;
Katharine C. Gorka.

Estamos dentro de um cenário de guerra. Esse cenário de guerra não é marcado pelo uso de armas, visto que a maior arma utilizada não é a força. Essa guerra é caracteriza pelo poder das letras, pelo poder das falas, pelo poder das batidas do coração e pelo imaginário que se encontra na mente de cada humano que vive e respira.

A esquerda, dentro das universidades americanas, começou seu domínio pela formação dos alunos. Criou um ecossistema em que só os alunos que fossem ideologicamente correlacionados aos seus meios e fins poderiam ser promovidos. Em meio a isso, foi instituindo uma prática de perseguição e censura dentro dos campos universitários. Com o tempo, foi cerceando pessoas que tinham visões não-esquerdistas. O pleno domínio foi se efetuando a passos de tartaruga.

Com o tempo, quase todas as instituições, formadoras de visões sociais, foram sendo levadas para a esquerda por meio de uma tática de contra-hegemonia. Essa contra-hegemonia que foi se institucionalizando, pouco a pouco. Essa contra-hegemonia que foi se tornando hegemonia. Polícias da fala, prevenção contra alunos que não eram de esquerda, ensinamentos sobre uma visão que não era americana, mas anti-americana.

O que viria depois? Organizações sociais dedicadas a aumentar uma imigração massiva de pessoas com visões não-americana ao lado de uma visão anti-americana passada para cada criança, adolescente e adulto americano. Organizações sociais dedicadas a redistribuição de recursos, oportunidades e dinheiro com base em critérios de raça, gênero, sexualidade e nacionalidade. Substituição geral de todos os valores e fundamentos de cima para baixo. A criação de uma cultura do cancelamento para destruir qualquer possibilidade de debate.

O fundamento geral disso tudo é uma estratégia de uma consolidação de uma hegemonia que se constrói e de um poder que se consolida. Consolida-se para metamorfose. A metamorfose de uma nação para algo que é o exato oposto do que ela era. Não de forma democrática, mas por meio de uma estratégia complexa, sutil e perniciosa. 

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Acabo de ler "How Cultural Marxism Threatens the United States" de Mike e Katharine (lido em inglês/Parte 3)

 


Nome:

How Cultural Marxism Threatens the United States—and How Americans Can Fight It 


Autores:

Mike Gonzalez;

Katharine C. Gorka.


Os conservadores chamam de marxistas culturais aqueles que poderiam ser chamados de "New Left" ou, simplesmente, pós-marxistas. Poderíamos catalogar o marxismo cultural como uma reunião de táticas da guerra cultural impulsionadas por uma síntese de esquerda.


Uma das crenças básicas do marxismo é a separação da sociedade em diferentes categorias antagônicas. Algumas beneficiadas socialmente, outras que perdem seus recursos – que deveriam ser de direito – para grupos sociais mais privilegiados por causa da estrutura social. Se os marxistas clássicos dividiam a sociedade em trabalhadores e burgueses, os marxistas culturais dividem a sociedade por gênero, por sexualidade, por raça, por nacionalidade. Todas essas distintas catalogações servem como divisão para o trabalho revolucionário.


Para que os marxistas culturais consigam moldar a cultura, eles precisam destruir todos os traços da antiga cultura – que eles julgam pervasiva. Para tal, criam dois aparatos reguladores da atividade cultural:

1. Doutrinação em todos os meios de produção cultural;

2. Regulação da fala em todos os meios possíveis para cercear a possibilidade de discurso de visões alternativas de mundo.


É evidente que se comprovada ou admitida a existência de um marxismo cultural, cabe-se o entendimento lógico de que o marxismo cultural é um projeto de poder totalitário, de rigor tecnocrata e que ameaça qualquer possibilidade de uma sociedade livre por querer moldar toda a sociedade aos seus próprios critérios com base em doutrinação e censura. Não é uma crença, nem uma prática, que possa ser admitida ou tolerada dentro de uma sociedade livre, visto que é um veneno aos próprios critérios de liberdade.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Acabo de ler "How Cultural Marxism Threatens the United States" de Mike e Katharine (lido em inglês/Parte 2)


Nome:

How Cultural Marxism Threatens the United States—and How Americans Can Fight It 


Autores:

Mike Gonzalez;

Katharine C. Gorka.


Marx e Engels acreditavam que o mundo se baseava num conflito de classes. A briga presente da história seria a classe proletária contra a classe burguesa. Para se contrapor ao domínio burguês, o proletariado deveria tomar o Estado e assim exercer o poder em prol do seu favorecimento. Com o tempo, o proletariado criaria uma sociedade sem classes.


Marx acreditava que um país deveria ter sido primeiro capitalista, desenvolvido e industrializado, para depois ser um país socialista. Tal pretensão não se materializou: as revoluções saíram através de países de terceiro mundo, parcamente desenvolvidos. Qual seria a razão desse contraste? A resposta viria de Gramsci: o mundo burguês cria uma falsa hegemonia. Essa falsa hegemonia é forjada pelos meios culturais que moldam a consciência do proletariado e tornam aderentes da mentalidade burguesa.


Pensando na estrutura hegemônica como perpetuadora da mentalidade burguesa, como os marxistas virariam o jogo? A resposta viria a partir da cultura: a partir da dominação dos meios de produção cultural e das instituições, poderia se estabelecer uma contra-hegemonia que daria a consciência que o proletariado precisaria para virar o jogo.


A chave para compreender a movimentação histórica está no entendimento de que o marxismo baseado na economia foi trocado para o marxismo baseado na cultura (marxismo cultural). Esse movimento foi considerado necessário pois a maioria das pessoas eram aderentes da mentalidade burguesa e não da mentalidade socialista. Para criar uma revolução ou um processo revolucionário – mesmo que não violento –, teriam criar uma educação de esquerda e incuti-las nas massas.

sábado, 4 de janeiro de 2025

Acabo de ler "How Cultural Marxism Threatens the United States" de Mike e Katharine (lido em inglês/Parte 1)


Nome:

How Cultural Marxism Threatens the United States—and How Americans Can Fight It 


Autores:

Mike Gonzalez;

Katharine C. Gorka.


O debate cultural nos Estados Unidos é um tema muito, muito longo. Há tempos que se fala de guerra cultural e quais são as táticas de guerra que devem ser tomadas nessa batalha. No geral, há uma confusão acerca dos atores dentro desse palco em que as ideias sangram. Temos, por exemplo, várias versões de feminismo que são colocadas lado a lado numa análise superficial. Existem vários tipos de conservadores, mas são tratados todos em uníssono. Diante de tamanha complexidade, o que podemos fazer?


A história geral vocês já devem conhecer: fim da União Soviética e desesperança geral na esquerda. Muitos creem que o marxismo tinha por fim sido derrotado e seria chutado do debate público. Outros pensam que existe um reducionismo na forma com que os dois lados disparam uns contra os outros. Porém a pergunta geral é: qual direita e qual esquerda está disparando? Nem toda a esquerda americana pode ser resumida como "marxista". Existe diferença entre se basear no marxismo em dado aspecto e ser marxista. Uma modalidade pode ser sintética ou se projetar em forma de síntese, a outra pode adentrar no puro pensamento marxista. Outra menção honrosa é a luta entre diferentes tipos de conservadores e a luta da direita alternativa contra os conservadores. 


Segundo os autores, o novo marxismo se basearia não mais na classe trabalhadora (leia-se proletariado e campesinato), mas em raça, sexo e nacionalidade. Essas teriam correlações com o movimento negro, com o feminismo e com os movimentos das nacionalidades periféricas. As principais influências desse novo método de organização revolucionária seriam Gramsci e Escola de Frankfurt. Uma breve nota é que: até agora não encontrei nenhuma menção a Escola de Paris – essa costuma a ser confundida com a Escola de Frankfurt por suas temáticas.


Uma das principais alegações seria a corrupção do sistema de ensino. A doutrinação teria sido criada a partir de um ecossistema: professores marxistas cuidavam pessoalmente da ascensão de alunos marxistas, esses alunos marxistas eram privilegiados na educação e na carreira acadêmica e posteriormente seriam doutrinadores diretos para continuar a roda do ecossistema. A conclusão evidente seria a exclusão de outros pontos de vista – gradual diminuição das outras escolas de pensamento – junto com a dominação da academia inteira.


É deveras interessante que nessa linha se mesclam conservadores que se sentiram ou foram excluídos da academia junto com toda a crítica da esquerda americana aos Estados Unidos da América. O fato é que muitos americanos não gostam e se ressentem aos ataques contra a imagem dos Estados Unidos da América. Essa imagem, a que é projetada, é que os Estados Unidos é universalmente ruim. Isso estaria ocorrendo em filmes, shows de televisão, livros, revistas em quadrinhos, jogos, mídias sociais e sistemas de pesquisa. Aparentemente a esquerda não considerou o impacto psicológico e sociológico dessa ação. O que fortaleceu não só os argumentos, mas a condução narrativa da direita: "a esquerda odeia a América, basta ver tudo o que ela produz culturalmente".

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Acabo de ler "The Real Costs of America's Border Crisis" da "Heritage Foundation" (lido em inglês)

 


A questão da crise da fronteira americana é problemática. Há muita desinformação e formação narrativa por todos os lados do espectro político. Além disso, a visão dos cidadãos nativos é muitas vezes ignorada ou simplesmente acentuada. Ora se dá margem para um discurso de "aumentar a imigração a qualquer custo", pouco importando os impactos negativos que ela causa. Ora nos deparamos com campanha anti-imigração inflamados pela mais inflamada retórica racista – isso quando não nos deparamos com nacionalistas brancos.


Os democratas muitas vezes acentuam o gasto público para promover políticas de bem-estar social para imigrantes ilegais. Essas políticas de bem-estar social são custeadas pelo dinheiro de cidadãos nativos. Esses cidadãos nativos se revoltam – e com certa razão – contra essa "transferência de renda". As políticas de bem-estar social deveriam cobrir aqueles que pagam os impostos, não aqueles que não contribuíram. Deveria ser estabelecido um tempo mínimo de contribuição para os beneficiários de programas sociais. Dar assistência, sem mais nem menos, apenas consagra a retórica anti-imigratória. Pior do que isso, dá margem para ampliação de grupos extremistas da pior espécie.


Existem, é claro, falácias no campo da alt-right. Essas falácias se concentram no ódio a toda e qualquer imigração de grupos étnicos não-brancos. O ódio contra indianos, por exemplo, disparou. Em verdade, os Estados Unidos são "sugadores de cérebro". Eles se beneficiam diretamente da sua capacidade de atrair "capital humano" do mundo todo, tendo a sua produção e qualificação amplificada. A retórica anti-imigratória pode levar a uma perda da competitividade da economia americana.


Um problema muito visto, sobretudo que vejo ser repetitivamente usado por latino-americanos, é a ideia que a política anti-imigração levaria a expulsão de latinos que estão legalmente nos Estados Unidos. Essa retórica, usada para fortalecer o Partido Democrata, não é boa. Ela apenas fará com que um debatente mais exímio utilize essa falácia para atacar com mais maestria quem se opõe a anti-imigracionistas.


Outra questão apresentada no documento é o fator educacional. As crianças, muitas delas desacompanhadas, apresentam um aumento de gastos na educação pública. Muitas dessas crianças não possuem um inglês adequado e não conseguem acompanhar as aulas adequadamente. Para tal, os professores gastam um empenho a mais tentando ensiná-las a língua inglesa. O aumento recorde desses alunos se torna um grande problema econômico, social e acadêmico – tudo isso de forma crescente.


O pequeno arquivo – ele só tem 13 páginas – termina com um aviso: nenhuma nação poderia sobreviver com fronteiras abertas e Estado de bem-estar distribuído a todos que entram. E isso é um fato: seria a falência econômica do Estado.

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Acabo de ler "Project 2025" de John Madison (lido em inglês/Parte 1)


Nome:

Project 2025

Democracy at Risk: TRUMP and the Future of U.S. Politics.


Autor:

John Madison


Aviso:

Essa análise vai do Capítulo 1 ao 4.


O desenvolvimento do Projeto 2025 tem chamado a atenção não só nos Estados Unidos da América, como também no mundo todo. Por tal razão, resolvi iniciar uma série de leituras para compreender mais sobre o tema. Para quem se interessar, todas as leituras correlatas ao Projeto 2025 serão lançadas com  o marcador "Project 2025", inclusive aquelas que são "expansões" para a melhor compreensão do debate. Recomendo também, antes da leitura de qualquer texto daqui, a leitura do "Agnosticismo Metodológico".


O próximo governo dos Estados Unidos tem os seguintes nortes: liberdade individual, governo limitado e soberania nacional. Existirão uma série de reformas. Sejam essas econômicas, militares, nas leis de migração, no tratante aos trabalhadores do Estado, na educação.


Algumas características:

– Desburocratização;

– Revisão das leis de imigração;

– Redução de impostos;

– Educação sem doutrinação e promotora dos valores americanos; 

– Reforma do sistema de saúde baseada em leis de mercado;

– Responsabilidade individual;

– Modernização das Forças Armadas e da Segurança Nacional;

– Competição com a China.


Uma das principais características que chamam a atenção no documento é a semelhança entre o que foi o governo de Ronald Reagan e o que será o governo de Donald Trump. Além disso, é dito que Ronald Reagan seguiu o planejamento de Heritage Foundation e que Donald Trump também seguirá. Embora sejam planos diferentes, adaptados a realidades históricas diferentes.


Quanto a divisão de poderes, serão estabelecidos limites constitucionais para o legislativo, para o executivo e para o judiciário. Além disso, o federalismo será reforçado para maiores ações locais e autonomia entre as regiões.


Cybersegurança:
Um dos campos mais mencionados no livro é a questão da cybersegurança. A modernização e o investimento nesse setor é crucial para lidar melhor com inimigos/competidores externos, como a Rússia e a China. Além disso, serão analisados crimes virtuais. Outra preocupação que surge é o 5G e a corrida tecnológica com a China. Sem a supremacia tecnológica americana, muito dificilmente os EUA manterá a sua soberania global. Outra questão que entrou é a biotecnologia.


Educação e Trabalho:

Existirá um programa educacional especial voltado a promoção da ciência, da tecnologia, da engenharia e da matemática. Fora isso, se priorizará a maior escolha das famílias quanto a educação dos filhos e uma educação mais voltada as transformações que ocorrem no mercado de trabalho.


Reforma Econômica:
O programa econômico do segundo Governo Trump será muito semelhante ao que chamamos de "nacionalismo liberal" em alguns aspectos. Ou seja, um "livre mercado" mais interno. Terá uma desregulação para maior liberdade empresarial, diminuição de taxas para que os empreendedores ganhem mais estímulos para empreender, promoção de negócios e investimentos que tenham correlação com interesses americanos.


Forças Armadas:
Com o avanço da Rússia na Europa e com o desenvolvimento rápido da China, tornou-se necessário uma renovação das forças armadas americanas. Alguns pontos elencados são:

– Inovação tecnológica para manter soberania;

– Aumento das capacidades nucleares;

– Investimento em tecnologia espacial;
– Investimento em armas avançadas;
– Investimento em inteligência artificial;
– Investimento em computadores quânticos;
– Investimento em robôs;
– Investimento em hipersônicos.


China:

A China vem sido considerada uma crescente ameaça ao domínio americano. Seu desenvolvimento constante e a expansão da sua influência global tem sido não só má vista pelos EUA, como também é um ponto de interrogação quanto ao protagonismo que os EUA exerce no mundo. O documento cita alguns pontos que são observáveis na China e que levam os EUA a uma preocupação constante:
– Rápida modernização militar;
– Aumento da influência econômica;
– Ambições estratégicas;
– Rota da Seda e aumento da influência global da China;
– 5G e corrida espacial.


Segurança interna:

Em relação a segurança interna, a imigração e a infraestrutura adentram. Os EUA têm encontrado um problema constante com imigrantes ilegais e com infraestrutura sucateada. Problemas que se não forem corrigidos, podem levar a ruína do Estado americano. Para tal, o documento pontua algumas necessidades:

– Segurança nas fronteiras;
– Controle da imigração;
– Proteção da infraestrutura crítica;
– Maior capacidade de responder desastres.


Proteção Contra Influência Externa e Informação:

O documento também fala acerca da influência externa e dos serviços de informação para a segurança nacional. Além de não medir esforços sobre uma parceria com os aliados para o aumento da qualidade tecnológica para dar respostas rápidas contra agentes adversários. O autor lembra do período em que os EUA confrontou a União Soviética, também citou a era da guerra contra as ações terroristas e adentra na chamada "Segunda Guerra Fria" contra a China. Para uma maior segurança nacional, os seguintes movimentos serão tomados:

– Procurar a integridade de uma informação;

– Descobrir campanhas de desinformação e propaganda;

– Assegurar um sistema de votos seguro;

– Promoção da cultura da vigilância;

– Maior vigilância em redes sociais para possíveis táticas de subversão de agentes externos.


Respeito aos Direitos Civis:

A constante tensão entre a necessidade de proteger os Estados Unidos e os direitos civis para assegurar a liberdade dos indivíduos requer um questionamento frequente acerca das ações que serão tomadas para não prejudicar os lados dessa balança entre segurança e liberdade. O documento fala sobre transparência e respeito aos padrões de ética.