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sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Acabo de ler "Anatomy of the State" de Murray N. Rothbard (lido em inglês/Parte 5)

 


Nome:

Anatomy of the State


Autor:

Murray N. Rothbard


O Estado quase sempre acaba de duas maneiras: (I) ao ser conquistado por outro Estado pela guerra; (II) ao ser derrubado por um grupo de revolucionários. Quando o povo se move nessas duas direções, seja para o combate do Estado inimigo, seja para a revolução, movem-se pela crença de que, no fundo, estão se dirigindo para a realização da própria vontade ou para defenderem a si mesmos.


O ilusionismo coletivista sempre é, historicamente, um dos principais meios de mobilização. A palavra "nós" é algo muito difícil de se conceituar com precisão. Sim, fazemos parte de uma formação específica e estamos situados no espaço-tempo. Nossa língua talvez seja igual e quiçá tenhamos pontos semelhantes. Todavia pegar uma série de características comuns e, a partir disso, criar uma unidade perfeita de coesão é um salto argumentativo tremendo. Existem pontos, em cada indivíduo, de conexão ou de separação. No máximo, podemos falar de interesses semelhantes ou próximos em dados pontos em alguns momentos. Não há nem coletividade e nem individualidade plena.


O momento em que isso, o ilusionismo coletivista, mais ocorrer é durante uma guerra ou durante uma revolução. O Estado está particularmente interessado na guerra, já que é a partir dela que ele pode utilizar um dos maiores mecanismo de autopreservação que possui: a crença dos indivíduos de que a sociedade existente e o próprio Estado são uma mesma identidade e, portanto, possuem os mesmos fins.


Seríamos nós o Estado? Há um entretanto particularmente interessante. Se o Estado somos nós, por qual razão o Estado está mais preocupado em punir crimes contra a existência de si próprio do que crimes cometidos de um cidadão para outro? Ora, todo crime dentro do Estado, sendo a sociedade o próprio Estado, seria um crime contra o Estado e teria igual valor, não?

Acabo de ler "Anatomy of the State" de Murray N. Rothbard (lido em inglês/Parte 3)

 


Nome:

Anatomy of the State



Autor:

Murray N. Rothbard

Quando um grupo de indivíduos se apodera do poder de dado território, ele precisa conseguir o aval da maioria da população. Esse aval não é conseguido só em processos de governos democráticos, esse processo é necessário em qualquer governo. A busca por legitimidade e legitimização é inerente a perpetuação de qualquer Estado, seja qual for o seu modelo organizacional.

Essa legitimidade é conquistada usualmente pelo fato de que o Estado busca importantes grupos sociais, extraindo apoio dos líderes desses grupos sociais. É pegando para si as lideranças dos grupos que compõem o território que o Estado é legitimado. Esse processo, mais uma vez, não é só dentro do regime democrático, mas dentro de qualquer regime.

Conquistar o apoio das "lideranças", dando-as um título de nobreza ou algum cargo estratégico, o Estado não poderia deixar de pensar nas grandes maiorias. As grandes maiores não se convencem unicamente com a participação dos seus representantes. A aprovação social de um indivíduo pode mudar. Para conseguir o apoio da maioria, o Estado apela para os meios ideológicos. Ele convence a maioria das pessoas que a existência do Estado é inevitável, que ela é boa ou prudente.

Para a tarefa de convencer a população do território acerca da importância do Estado, o Estado busca auxílio de intelectuais que convençam o homem médio a confiar nele. A aliança dos intelectuais e do Estado é bastante antiga, o intelectual precisa de um anteparo financeiro e o Estado precisa convencer a população da necessidade da existência do próprio Estado. Os intelectuais servem ao Estado convencendo as pessoas, moldando a assim chamada "opinião pública".

É evidente que o intelectual não necessariamente precisa do Estado para sobreviver e para desempenhar as suas atividades. Só que há um porém: a vida do intelectual, o seu sustento, é incerto. A maioria da população não considera a importância intelectual e isso faz com que a sobrevivência, dentro de uma sociedade de mercado, seja incerta e sempre volátil. Por outro lado, o Estado não só está convencido da importância dos intelectuais, como quer eles do seu lado e oferece aos intelectuais a comodidade necessária.

Os intelectuais, não sendo bobos, se ancoram no Estado para poderem darem continuidade as suas existências. Para tal, criam vários argumentos através da história. A ideia de que o imperador/rei tinha sido eleito por Deus; a ideia de que os nobres eram uma elite de pessoas notáveis; a ideia de que o Estado reuniu ao seu redor os melhores especialistas para tratar dos problemas públicos. Tudo isso consta. Acima de tudo, o Estado seria inevitável, em último caso, visto que o mundo tem muitos males.

O maior alicerce do Estado, como apontado por Rothbard, é o de transformar o roubo não sistemático e privado em algo mínimo. O Estado seria, então, um mecanismo avançado de roubo que não permite que existam outros mecanismos que pratiquem a sua função primordial (roubar).

Existe outro mecanismo que o Estado utiliza para manter a sua legitimidade. As pessoas têm uma predisposição natural para amarem os seus locais de nascença. Esse sentimento natural se confunde com o apoio ao Estado. Muitas guerras, movidas por interesses escusos entre diferentes Estados, são manipuladas para que o povo acredite que é uma luta entre dois povos e não uma luta entre dois grupos com interesses distintos. Essa manipulação é toma forma de nacionalismo.

É claro que, após tantos e tantos anos de estatismo, isso gera um hábito. Muitas vezes, não questionamos a realidade ao nosso redor pelo simples fato de que ela nos aparece como sendo natural e não forjada por construções sociais. A forma com que nos assimilamos hoje ao Estado se dá de semelhante maneira: nossos pais eram governados pelo Estado, os pais dos nossos pais eram governados pelo Estado, assim foi sucessivamente. Nossa mente simplesmente concebe que: se o Estado apresenta continuidade no espaço-tempo, ele não pode ser uma produção artificial. O Estado, para nós, aparece como uma figura tão natural quanto qualquer outra coisa que esteja a nossa volta.

O pensamento que o Estado utiliza para se legitimar ante aqueles que condenam a sua existência é, muitas vezes, um apelo ao passado e a sua própria longevidade histórica. Se a maioria das pessoas se habituou as práticas dos diferentes Estados, como é que poderíamos considerar a sua existência estranha ou indesejável? Os intelectuais que possuem visões antiestatais são considerados como estranhos, estando longe dos anseios da maioria e o Estado usa essa maioria, que raramente pensa acerca da natureza do processo que levou a formação do próprio Estado, contra essa minoria. Desse modo, o antiestatista é classificado como uma pessoa com visões demasiadamente românticas, um insano, um perverso, dentre outras classificações pejorativas ou idealistas.

A justificação da existência e perpetuidade do Estado pode variar de época em época a depender do contexto, tempo e local que se situe. Ele pode advir da vontade divina, do absoluto ou das necessidades materiais das forças produtivas. De qualquer modo, não importa o argumento utilizado: o Estado sempre encontrará uma justificativa para existir e perpetuar a sua existência, não importa por qual meio retórico. Só que esse vaivém demonstra algo: que o Estado é, propriamente, uma construção social e depende de uma sociedade que justifique essa construção para existir.

A principal razão do Estado moderno é a justificação por meio das suas nobres causas. O Estado estaria acima das preocupações mesquinhas que motivam as ações de indivíduos particulares. É ele que promove tudo o que é bom para o bem-estar coletivo enquanto os outros só pensam em si mesmos. Não há, além do Estado e dos seus nobres burocratas, qualquer pessoa que tenha os anseios filantrópicos, por mais mínimos que sejam. Uma narrativa completamente falsa, mas que não deixa de ser convincente.

Outra razão do Estado existir, agora que não somos mais dominados por uma razão teológica, é a ciência. O Estado é a mais científica das organizações. Além disso, a ciência só existe por causa da organização do Estado. O Estado tem as melhores pessoas, as pessoas mais bem-intencionadas, em promover a melhor administração possível para a resolução de tudo. A ciência não existe sem o Estado. Ora, isso é outra alegação falsa. Completamente parcial e viciosamente narrativista.

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Acabo de ler "Campus Battlefield" de Charlie Kirk (lido em inglês/Parte 6)


Nome:

CAMPUS BATTLEFIELD

HOW CONSERVATIVES CAN WIN THE BATTLE ON CAMPUS AND WHY IT MATTERS


Autor:

Charlie Kirk


Um dos principais debates que rolam no ambiente acadêmico americano – e também no Brasil, que importa o conteúdo da nova esquerda – é o chamado "safe space".  O "safe space" seria um local seguro, longe de toda e qualquer opressão. Uma frase maravilhosa e, tal como toda e qualquer frase maravilhosa, esconde algo por trás.


É interessante como a distorção narrativa apresenta muitas finalidades. Hoje em dia, até mesmo um discurso liberal – o antigo liberalismo, não o novo –, pode ser censurado com a premissa de que ele é um discurso "fascista, misógino, racista". Por mais que eu discorde prontamente da meritocracia, apontá-la como um discurso "neofascista" é o extremo que ocorre em alguns campos universitários. Além disso, a própria relativização terminológica do fascismo coloca uma série de discursos não fascistas como algo fascista.


Tal como toda política e ação política, existe um planejamento por trás disso. Uma simples ação esconde uma estratégia sutil, deliberadamente provocada, para a construção de longo prazo de um objetivo concreto. Por exemplo, a ausência de proporções, a rigor, beneficia aquele que distorce as proporções para a justificação narrativa.  A relatividade ambigua de certas palavras constrói, pouco a pouco, uma possível ação estratégica. Tudo atua, por fim, como numa esoguerra – uma mescla de um esoterismo comportamental e atitude guerreira.


Todo objetivo, supostamente simples em sua criação, pode ser distorcido por uma tática de manipulação sutil. Se anteriormente os "safe space" serviam para o encontro de minorias marginalizadas, hoje o "safe space" tem o objetivo de calar toda e qualquer oposição. Como já foi esmiuçado, o sentimento que define se algo é politicamente incorreto ou politicamente correto. Basta alguém "se sentir" ferido. Só que, bastando alguém se sentir ferido, há todo um pretexto para que isso seja usado para criminalizar, dentro do campo universitário, toda uma série de posicionamentos com base nesse sentimento.


Um exemplo disso é: o que de fato faz alguém ser verdadeiramente ofendido e até que ponto ser ofendido deve ser uma preocupação séria? Todos estamos sujeitos a sermos ofendidos. Só que há um porém: se um estudante se sente ofendido por um professor que, numa aula sobre o liberalismo, passa pensadores liberais no período da ascensão e concepção do movimento liberal, o que podemos fazer? O aluno pode alegar que isso é uma redução eurocêntrica, que marginaliza as suas visões ao não contemplar uma série de outros movimentos históricos em outros locais do mundo. Ora, é um fato que o estudo deve estar aberto e esmiuçar toda uma série de complexidades, só que isso não abre contexto para uma outra posição? A partir de uma perspectiva histórica de que o liberalismo é, em si mesmo, um movimento de exploração e destruição, então o próprio liberalismo, em sua forma clássica, pode ser proibido para não "ofender" os sentimentos subjetivos de ninguém.


Uma alegação provável, conforme uma série de estudos, pode nos fazer crer que não deveríamos estudar a história européia ou norte-americana. Já que essa seria a visão histórica dos opressores e colonizadores. O correto seria, por sua vez, estudar a história da África. É evidente que os fatores de exploração, além do colonialismo, deveriam ser abordados em sala de aula. Só que não é estranho quando essa visão decai num maniqueísmo? Hoje em dia, estudar a história das assim chamadas "grandes civilizações" pode ser interpretada como uma espécie de "apito de cachorro" e uma comprovação, por si mesma, de uma mentalidade colonialista. A visão da história americana deve ser, por exemplo, ruim em todos os pontos possíveis. Não há momentos de glória e nem de avanço em liberdades hoje tidas por primordiais. O próprio fato de que os Estados Unidos da América terem inaugurado o que seria uma "nação moderna", com aquele progressismo liberal, é desconsiderado.


É evidente que garantir a segurança na faculdade é uma parte importante. Só que a segurança física, um local acolhedor, está servindo junto com um outro propósito: o de proteger as pessoas do debate entre diferentes ideias. A faculdade deve proteger as pessoas dentro dela, só que ela deve proteger o debate até mesmo assegurando que ele ocorra para o seu próprio bem. Somente assim poderemos ver a frutificação da verdadeira democracia: o espírito do debate entre diferentes ideias de forma metódica e civilizada.

Acabo de ler "Campus Battlefield" de Charlie Kirk (lido em inglês/Parte 4)

 


Nome:

CAMPUS BATTLEFIELD

HOW CONSERVATIVES CAN WIN THE BATTLE ON CAMPUS AND WHY IT MATTERS


Autor:

Charlie Kirk


Se houvesse uma palavra que definisse a retórica das universidades americanas e o seu programa, essa palavra seria: diversidade. Evidentemente não é uma "diversidade" de pensamento. A diversidade são entre as diferentes colorações de vermelho e as diferentes versões de liberalismo. Sem nunca adentrar, é claro, numa tonalidade mais azul ou conservadora.


Quando John Stuart Mill falava de liberdade, ele falava de uma liberdade diferente. Essa liberdade seria uma liberdade em que a própria liberdade do outro, apesar de indigesta para nós em muitos casos, era considerada. Já que a liberdade também é a liberdade de antagonismo, embora não seja a liberdade de destruição. O debate, quando saudável, aprimora os dois debatentes mesmo quando não há um consenso sobre determinado ponto.


Em vez do livre-exame e da livre argumentação, temos o exato oposto. Pessoas esperando para serem ofendidas e, logo que ofendidas, esperando a oportunidade para a destruição do adversário. Seja por meios legais, seja por meio do grito e da violência das hordas. Esse desenvolvimento pareceria improvável num ambiente ditado pelo debate como é a academia. A mesma academia que fala sobre a "cruel censura" da Igreja Católica nos tempos da Idade Média e da "mentalidade repressora" da inquisição.


O fundamento da democracia não é o que consideramos mais puro e belo em nosso próprio coração. O fundamento da democracia é aquilo que está dentro de nós em diálogo com o outro. A sociedade aberta, por assim dizer, prospera quando estamos numa posição dialógica e dialética. É o debate e a fala que constituem, a rigor, a democracia. A democracia é um esforço de abertura, não um conjunto de pessoas esclarecidas que se creem abertas e, por tal razão, não se abrem ao debate.


Anteriormente se havia estabelecido o que seria uma linguagem de ódio e o que seria uma linguagem mais "comum". Hoje temos uma abordagem que fica a mercê de um mero sentimento. Todo discurso, a depender do grupo favorecido, pode ser encarado como "ofensivo" a depender não mais de classificações precisas, mas de prosaicos sentimentos.

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Acabo de ler "The Agony of the American Left" de Christopher Lasch (lido em inglês/Parte 5)

 


O fim das ideologias, as arrogâncias utópicas, era algo bastante comentado. Aparentemente os devaneios totalitários perderam o seu poder persuasivo ante às massas. Tal ideia só poderia ser irrisória: a humanidade não aprende de forma permanente e nem tem seu legado transmitido de forma automatizada.


As instituições de ensino superior, agora massificadas, tinham a missão de darem pessoas tecnicamente capazes a uma sociedade tecnicalizada. Embora houvesse toda uma propaganda dizendo que a faculdade – o ensino superior, no geral – lhes daria uma educação humanista. Todavia esse humanismo deveria ser integrado a um interesse corporativo sem o qual a própria massificação do ensino superior seria impossível.


As universidades americanas criaram os estudantes enquanto classe. Essa classe era psicologicamente adulta, mas sociologicamente adolescente. Essa classe detém uma visão extremamente crítica do mundo, sendo incapaz de se integrar a ele devido a sua ultra criticidade. Essa ficou conhecida como a "nova esquerda" e tinha uma visão romântica acerca da violência e do conflito.


Essa "nova esquerda" via com maus olhos as autoridades, como também via com maus olhos a burocracia e a hierarquia. Eles acreditavam que a sociedade estadounidense lhes retirava a autenticidade. Para viver uma vida mais autêntica, eles fizeram frente as instituições que julgavam padronizadoras. Com tal mentalidade, a nova esquerda fez vários protestos e esses protestos tomaram várias formas e proporções.


Um dos fatos que mais ligam a nova esquerda é a sua atuação antiguerra. Inclusive, seu movimento antiguerra foi protagônico no rumo político dos Estados Unidos da América durante a guerra do Vietnã. De qualquer forma, após tanto e tanto tempo, tantas e tantas revoltas, o movimento da nova esquerda não foi capaz de resolver problemas estruturais da sociedade estadounidense.


Pensando em todas essas aspirações humanistas não realizadas, podemos pensar na estrutura econômica dos Estados Unidos. Ainda hoje se pode afirmar que os Estados Unidos é caracterizado por grandes corporações de alta tecnologia, por um lado, e pelo mercado tradicional, por outro lado. Os intelectuais – cientistas, acadêmicos, técnicos – são empregados no setor de alga tecnologia. Só que existem aqueles que ficam de fora.


Numa sociedade onde a alta tecnologia é o foco e todos os setores da sociedade depositam sua esperança na formação de intelectuais, o principal foco político não é outro se não a própria universidade. Muitos vão a ela esperando que ela crie condições melhores, mas recebem um mundo perdido em troca do seu ato de boa fé. São incapazes de cumprirem aquilo que a própria sociedade lhes exige ao mesmo tempo que a universidade não lhes dá o futuro garantido que ela mesma prometeu enquanto instituição.


A instituição universitária, por sua vez, está corrompida pela a sua ligação com quem a financia. As corporações e o governo querem que ela tenha uma utilidade que é contrária aos anseios democráticos e humanitários dos seus próprios alunos. Isso a faz tornar o palco de um conflito que sempre aumenta.

Acabo de ler "The Agony of the American Left" de Christopher Lasch (lido em inglês/Parte 3)

 


Naquela altura do campeonato, vendo o triste fim da União Soviética que estava embebida no totalitarismo, a ideia de uma construção social lógica e perfeita era impossível. Logo a possibilidade mesma de um mentalidade revolucionária era impossível. Era preciso ir além dos limites de "esquerda", "direita" e "centro". Se fazia necessário uma visão de mundo mais modesta, menos baseada em abstrações e mais pragmática em seus meios e fins.


A ideia de liberdade total ao indivíduo ou segurança total ao indivíduo eram duas totalidades opostas, uma defendida pelo liberalismo e outra defendida pelo socialismo. Essas duas abstrações marcavam a ferro e fogo o mundo. Era uma pauta muito "tolerante" para a animosidade polarista que tomava o mundo na Guerra Fria. O mundo estava dividido entre "dois grupos" e os grupos opostos tomavam todo e qualquer discurso do lado oposto como uma espécie de propaganda. A neutralidade, advogada por muitos intelectuais, parecia uma espécie de reforço a um dos lados – mesmo que essa não fosse, muitas vezes, a intenção.


O anticomunismo tinha algumas vias. Uma dessas vias era o anticomunismo reacionário, um anticomunismo mais à direita. Só que esse anticomunismo não era a única via anticomunista. Havia – e há – um anticomunista humanitário e mais ao centro ou à esquerda do espectro político. Esse anticomunismo é, muitas vezes, objeto de escárnio ou descrença. Muitos ex-comunistas eram anticomunistas e muitos deles não eram propriamente defensores do "capitalismo", mas sim de uma visão mais equilibrada de mundo, onde o dualismo ficava de fora.


A responsabilidade intelectual, em nome da busca sincera pela verdade, deveria ser maior que o otimismo e o grupalismo. O intelectual deveria estar acima dos interesses mais viscerais e dos grupos mais autolisonjeiros. Em vez disso, muitos buscavam soluções fáceis e tribalizadoras. É por isso que os intelectuais americanos queriam uma vigilância constante para não cair no atavismo. Prescrição essa muitas vezes ignoradas por tribalistas de direita ou de esquerda.


Tal situação de extremismo se tornou ainda pior quando o macarthismo se tornou a palavra de ordem dos Estados Unidos. O comportamento de Joseph McCarthy se tornou algo visceralmente doentio e a mentalidade conspiratória acusou sumariamente várias pessoas. Em nome da liberdade que era atacada pelos países comunistas, criou-se uma censura – muito semelhante a comunista – para acabar com... A conspiração comunista. Os Estados Unidos acabou cerceando a liberdade para acabar com aqueles que supostamente atacavam a liberdade.


A defesa da cultura livre, isto é, a livre discussão, a livre investigação, o livre-exame e o livre debate, eram mais do que nunca atacados numa era de extremos. Além disso, a consciência dos estados em relação aos intelectuais aumentava dia após dia. Os intelectuais são parte fundamental da sociedade, são eles que moldam a forma com que vemos o mundo e profissionalizam uma série de pessoas para várias tarefas. Os Estados queriam que os intelectuais fossem subservientes aos seus propósitos propagandísticos, deixando o "povo" mais dócil aos seus interesses. Só que há diferença entre o "intelectual puro" e o "intelectual propagandista". Um intelectual pode chegar a muitas conclusões, teses, ideias... Mas se seu dinheiro depende se algum grupo, as suas investigações são menos livres e mais condicionadas a interesses que escapam ao livre curso de seus exames.


A questão que aparece é: como que um intelectual mantém a sua vida intelectual? O exercício da sua intelectualidade requer um amparo financeiro. Esse amparo financeiro usualmente vem da burocracia e a burocracia geralmente se correlaciona ao governo – ou é o próprio governo. A ligação cada vez maior de intelectuais com o governo se demonstra mais alta. Essa correlação cria uma dependência e, quiçá, engrandece na medida em que corrompe a própria inteligência.


Vivemos no mais espetacular e grandiloquente processo de fusão entre o "intelectuariado" e a burocracia. Essa fusão está criando um elitismo acadêmico cada vez maior. Alçando o voo de uma classe que toma consciência corporativa cada vez maior. Os frutos dessa relação – além da ausência de uma cultura livre – é o engrandecimento de um poder estranho e invasivo.

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Acabo de ler "Militância enquanto Convite ao Diálogo" de Dani Vas e Danilo (Parte 8 Final)

 


Nome:

Militância enquanto Convite ao Diálogo: o Caso da Militância Monodissidente


Autores:

Dani Vas;

Danilo Silva Guimarães.


A militância tem um problema linguístico que leva a ausência de resolução entre o "eu" e o "outro". Entre "nós" e "eles". Se a linguagem em si mesma de perde, como é possível a comunicação? Teríamos duas emissões de códigos incompatíveis e nosso esforço se daria como frustrado. O exercício da linguagem requer um exercício de compreensão da própria linguagem. Há aquilo que pode ser chamado de "Outro-Self-Objeto", que é uma negociação simbólica entre membros de uma comunidade para a compreensão mútua – formação do "eu plural".


O self tem várias partes. A comunicação do self consigo mesmo já é bastante difícil – Jung falava bastante sobre a integração do Self, uma espécie de plenitude de si através da unidade de si. Em psicologia sabemos da confusão entre o "ego" e o "self", além da dificuldade de sermos sinceros e compreensíveis com nós mesmos. Se já é difícil a autocompreensão, o encontro de um self com outro self é ainda mais difícil. É por isso que a comunicação corre sempre o risco de se perder. O esforço comunicacional pode ser um esforço deficitário, visto que poderia ser visto como um jogo de tênis em que a bola representa o diálogo. Não há uma integração de jogador-jogador, apenas uma troca. E essa troca nem sempre é correspondida.


Temos dois principais problemas comunicacionais: o do "eu" consigo mesmo (comunicação self-self) e do "eu" com o "outro" (comunidade self-com-outro-self). Há outra consideração: as experiências intersubjetivas adentram em nós e se interiorizam, criando um tensionamento intrasubjetivo. Não somos alheios ao ambiente, muito pelo contrário: as pessoas e o ambiente em si mesmo sempre nos impactam e logo são percebidos afetivamente. E essa afetividade, positiva ou negativa, marca o nosso modo de pensar e de ser. 


Esse artigo, tão interessante e complexo, demonstra a grandiosidade da pesquisa de gênero e sexualidade. Não só ela, como é possível perceber que existem questões filosóficas, científicas, epistemológicas, psicológicas, sociológicas, políticas, culturais, dentre tantas outras ciências e assuntos. Logo o estudo da sexualidade e das questões de gênero é complexo e rico.

domingo, 16 de junho de 2024

Acabo de ler "A Tirania dos Especialistas" de Martim Vasques da Cunha (Parte 1)

 


Qual a contraposição à mentalidade progressista? Seria um conservadorismo que se opõe, pura e simplesmente, às mudanças? Em primeiro lugar, é discutível que exista, no entendimento do brasileiro médio e até mesmo no entendimento do intelectual brasileiro médio, a capacidade de compreender a mentalidade conservadora. Hoje em dia existe uma maior capacidade intelectual de compreender a mentalidade conservadora, todavia até hoje estamos imersos numa confusão mental do que é verdadeiramente o conservadorismo.


O conservador não é um homem que quer paralisar as mudanças, muito menos é apegado às tradições. O tradicionalista acredita nas tradições. Para o conservador, a tradição tem valor instrumental e não essencial. Ou seja, não se escolhe a tradição por ela ser um valor essencial ou ser impossível de ser mudada, prefere-se a tradição por ela ter sido testada. Se há algo que a substitua e tenho passado pelos testes do tempo, esse algo é aderido. A questão do conservadorismo é a reforma gradualista da sociedade, isto é, o desenvolvimento da sociedade a partir duma sobriedade cética que deve mediar entre as políticas de fé (notoriamente experimentais) e as políticas de prudência (que já passaram pelo teste do tempo).


A questão da política conservadora é a questão duma política pautada pelo ceticismo e pessimismo político. O conservador seria aquele que compreende que existem limites naturais à capacidade humana de inteligir. Ou seja, existe um mundo complexo demais para ser moldado pelos intelectuais e suas ideias que são, no fundo, experimentais. Se uma ideia é experimental, um radicalismo experimentalista não pode ser levado a sério. A troca inconsequente de uma série de políticas experimentadas pelo tempo por políticas ainda não testadas pode ser catastrófica e levar ao declínio de toda uma série de construções humanas.


A verdadeira questão do conservadorismo é um ceticismo quanto à capacidade de reestruturar o mundo tal como queremos que ele seja. O conservador se opõe dialeticamente ao revolucionário e ao reacionário por eles serem radicais. Seja para o futuro, seja para o passado.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Acabo de ler "España en los diarios de mi vejez" de Ernesto Sabato (lido em espanhol)

 


Os escritos de Ernesto Sabato são fascinantes. Ele é um grande pensador latino-americano e adentra no ringue com um dos maiores ensaístas do século XX. Sua obra, entretanto, também é marcada pelo tom lírico de sua escrita e pela utilização de múltiplas disciplinas para a criação conteudística.


Ernesto foi um intelectual altamente combativo e erudito. Capaz de prosear sobre os mais diversos assuntos como se estivesse num passeio. Não lhe eram incomuns temas como ciências exatas, humanas, sociais ou artísticas. Até o terreno da psicologia e biologia lhe eram comuns.


Nesse livro, estamos na fase adulta desse grande homem. Percebe-se que nesse período existe um tom mais sereno no escrever, o que é particularmente distinto do tom mais beligerante usado "Uno y el Universo". No livro anteriormente analisado, permanece a crença na ciência e na técnica. Aqui existe o conhecimento de que a ciência e a técnica são boas, mas devem ser utilizadas de modo humanisticamente responsável.


Há também o fato de que Ernesto também comenta assuntos menos abstratos e mais ligados à vida cotidiana. Coisa que lhe seria bastante estranha quando era mais novo. O que demonstra uma apreciação mas multifacetada da vida e menos ligada às altas abstrações da vida acadêmica/intelectual.


De fato, como o livro em si demonstra e pelos discursos apresentados por admiradores da obra sabatiana, Ernesto é um grande pensador e não poderia ser ignorado sem que se perca substancial parte do pensamento latino-americano e mundial. Visto que a obra de Ernesto não é só muito apreciada na América Latina, como em todo o mundo.

sábado, 16 de dezembro de 2023

Acabo de ler "Paulo Francis, Polemista Profissional" de Paulo Eduardo Nogueira

 



O que define um intelectual marcado pelo paradoxo? Sua aversão à crescente coletivização da consciência acadêmica em prol duma seitização do debate me encanta. Sabemos que, hoje, há uma tendência perniciosa que confunde escolas de pensamento com unidades doutrinais de sistemas teológicos que só podem ser aderidos por inteiro ou negados por inteiro. Com tal comportamento, vemos a negação sistemática do livre pensamento, do livre exame e, por fim, da consciência individual como consequência lógica deste encadeamento trágico.


Paulo Francis é um homem contraditório, de erros e acertos. Isto não é uma desqualificação: é a própria natureza humana que assim o é. A humanização do debate, se considerada seriamente, começaria pela aceitação da subjetividade humana. Isto é, em vez da classificação e adesão restrita aos conteúdos unitários de escolas de pensamento - tomadas em sentido religioso -, teríamos que considerar a pessoa, sua subjetividade e a individualidade de sua construção intelectual. Atualmente o que temos é um classificacionismo que visa, antes de tudo, transformar o debate em ordens tribais em que as pessoas são justificadas perante a sua tribo e condicionadas a elas.


A própria hipótese de que alguém possa, por livre exame, chegar a uma construção intelectual autêntica soa como uma heresia e é tomada com desdém ou com incredulidade. Em vez de pensar na pessoa em si, pensa ela em relação ao grupo e ao suposto grupo que pertence. O debate sempre terá frases como "isso vai em contradição com o seu grupo" ou "você está em contradição com a sua escola". Aos partidários dessas seitas infernais, uma resposta é necessária: minha escola é o mundo e meu método é o livre exame. Intimamente a consciência individual importa mais do que o (auto)condicionamento irrestrito.


Francis errava, como todo ser humano. E errar é da natureza humana. As críticas a Francis escondem mais do que ao erro "X" ou "Y", escondem uma postura disciplinada de tribalismo coercetivo que condena sobretudo a quem pertence supostamente ao grupo que se odeia ou ao grupo que se deve aderir fielmente como crente.

quinta-feira, 2 de março de 2023

Acabo de ler "Psicologia Aplicada: C. G. Jung - Capítulo 1: a vida de Carl Gustav Jung"

 



A vida de Jung é um grande mistério. Estudá-la pode levar a um estranhamento, podendo-se crer que ele seja um simples louco ou uma espécie de místico. Na primeira, tem-se o descrédito acadêmico como conclusão. Na segunda, chega-se a conclusão de que ele era um homem que chegou no patamar mais alto da religiosidade.


De qualquer forma, ignorar Jung não chega a ser de longe uma opção. Seus estudos são notórios, há necessidade de se pontuar sobre ele, mesmo que seja para se pontuar contra ele. Jung carrega aquilo que chamamos de inevitável. E todos aqueles que estudam, são obrigados a olhá-lo, mesmo que seja com desgosto. Porém aqueles que o estudam, podem aprender muito com a genialidade dele. Já o contrário é bem incerto.


Jung é um homem que sintetizou ciências naturais, filosofia, psiquiatria, espiritualismo, religiões. É um homem do tamanho dum universo inteiro. Difícil de ser compreendido até mesmo por seus próprios seguidores devido a complexidade de sua inteligência. A forma que muitos acadêmicos o viram foi espantosa, sobretudo numa época em que os assuntos espirituais entravam em declínio. As suas respostas suavam como um desafio ou um anacronismo.


Ignorando-se as polêmicas, Jung foi um homem capaz de estudar como ninguém os fenômenos da consciência, contribuindo com noções que até hoje são basilares à psicologia. Criou até mesmo uma escola de psicologia inteira. Talvez nos falte, ainda hoje, um olhar mais aberto para com tudo aquilo que ele nos proporcionou com seu vigoroso gênio.

quinta-feira, 21 de julho de 2022

Prelúdios do Cadáver #14 - Breves Reflexões sobre os Últimos Tempos

 Publicado em 22/10/2018


Olá, meus amigos. Hoje vim aqui agradecer especialmente ao Contra os Acadêmicos e ao Anarquismo Individualista por estarem me acompanhando em minha longa viagem. Graças a vocês, entrei em contato com pensamentos que antes me eram totalmente desconhecidos.


Não sou uma pessoa fácil de lidar. Sei disso. Fico fazendo piadas inoportunas e sou uma pessoa pouco séria. Particularmente, esse é um traço de minha personalidade que não consigo mudar. Às vezes parece que sou uma pessoa incontrolável. Cresce em mim uma profundidade que antes me era estranha. Parece que, mesmo tendo uma personalidade cínica e zombeteira, existem traços de seriedade que vão se conectando a mim.


Não sinto mais falta do tempo passado. Dalgum modo, confortei-me com o presente. Aceitei-o, para ser mais sincero. Eu não me via como uma pessoa forte, achava-me um fracassado. Dir-se-ia que era pessimista comigo mesmo, todavia hoje as pessoas reconhecem minha força. Sei que não estou no meu auge, ainda falta muito para eu alcançar a sabedoria, só que me sinto confortável agora.


Quarta-feira passada, eu cai e machuquei a cabeça. Fui para um hospital e fiquei bastante tempo lá. Tomei alguns pontos na cabeça. Foi em minha solidão que eu percebi o quanto eu tinha me tornado forte. Percebi o quanto eu tinha amadurecido e meus gostos tinham mudado. Pude olhar, mental e retrospectivamente, a minha jornada. Falar-se-ia que dei-me conta de mim mesmo. Cheguei num ponto de autoconsciência. Aquilo que me era impossível, agora me é possível. Parece que estou finalmente ficando mais maduro, mais adulto.


Antes, eu não conseguia acompanhar ninguém. Hoje, há quem diga que não consegue me acompanhar. Isso significa muito para mim. Quando eu estava na sexta e na sétima série, muitas pessoas zombavam de mim alegando a minha burrice. Hoje as pessoas ficam espantadas com a inteligência que fui desenvolvendo.


Hoje decidi que não quero mais continuar numa constante competição para mostrar o aumento de meu nível intelectual. Quero aumentar meu nível intelectual por amor ao saber. Não quero mais amadurecer para mostrar as pessoas o quanto sou sério, quero amadurecer por amor à sabedoria.


A quem me acompanha, muito obrigado. Obrigado também a quem leu. Vou continuar amadurecendo.


Uma defesa peculiar do livre-exame!

Penso no livre-exame da seguinte forma. Há três formas de se propor uma leitura de forma geral e essas três formas são: 

1- Leitura dogmática ou coletivo-normativa; 

2- Leitura livre-exame; 

3- Leitura livre-interpretação. 


A leitura dogmática não é por mim aplicada tão somente ao domínio das religiões, mas igualmente a qualquer método que leve a compreensão dogmática ou delimitada do pensamento. Creio que, cabe aqui, um adendo: há uma espécie de objetivismo-coletivista na leitura dogmática. Um objetivismo-coletivista está sempre assentado numa tradição de pensamento de determinado grupo, seja esse grupo religioso, ideológico ou filosófico. Assim sendo, toda leitura presumidamente dogmática segue alicerçada por uma mentalidade objetivista-coletivista. Aquele que está inserido formal (conscientemente) ou informalmente (inconscientemente) numa tradição sempre acaba por ter o resultado da leitura pré-modelado pela doutrina em que fixou e delimitou seu pensamento. Existe então uma “inteligibilidade plausível” de interpretação geral sobre todas as coisas sempre correlacionada e subordinada pelo mecanismo de interpretação dado por um grupo determinado. A leitura dogmática é viciada pois seu leitor é viciado numa escola de pensamento, doutrina e ideologia.


Podemos dizer que mesmo no campo ideológico político há uma leitura delimitada que produz resultados delimitados, tal leitura é, para mim, dogmática, pois sempre gira em torno de resultados já predefinidos pela chave de interpretação do texto. O dogmatismo pode estar ligado a algo que não é “uma verdade religiosa”, mas sim a uma “verdade coletiva” de determinado agrupamento social. Tal “verdade coletiva” filtra o pensar através de suas crenças e propõe sempre um resultado enviesado por um vício de pensar.


Leitura livre-interpretação é uma leitura descomprometida com o debate, é uma leitura inteiramente livre de qualquer debate sobre a natureza interpretativa do texto. E nquanto o leitor dogmático quer chegar a uma interpretação predefinida por uma linha de pensamento, o leitor livre-interpretacionista quer chegar a uma conclusão sem qualquer intermediação de ninguém e indo para um caráter individual-subjetivo de interpretação. Podemos ver que daí surge um subjetivismo tacanho que coloca o sujeito leitor como autoridade absoluta. Em vez de subordinar-se a um grupo predeterminado, subordina-se sempre ao próprio leitor e faz surgir uma leitura desinteressada pelo próprio debate acadêmico e impossibilitada de ir além do próprio leitor. 


Leitura livre-exame é uma leitura cuja o fim real é um debate intermediado. Ele não se prende ao subjetivismo-individualista e nem ao objetivismo-coletivista. Em vez disso, ele quer um debate franco que se atenha num número de interpretações razoavelmente possíveis. Diferentemente da leitura dogmatizada, não há um grupo de pensamento que subordina a leitura num resultado ideologicamente presumível. Diferentemente da leitura subjetivista, há uma atenção aos grupos de pensamento e as suas possíveis interpretações. É uma leitura intermediada por não se filiar a nenhuma tradição de pensamento e de interpretação. É uma leitura intermediada por não querer ser uma leitura egoísta, subjetivada por estar subordinada ao sujeito leitor como intérprete absoluto.