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domingo, 28 de abril de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 5)

 



Essa parte do livro é referente ao capítulo II, em que o historiador Emil Ludwig, dá continuidade a sua análise sobre a vida de Stalin. Vai das páginas 73 à 86. Conta um pouco mais do período de agitação revolucionária e como Stalin, de forma subterrânea – e sempre obedientemente –, continuou como um disciplinado seguidor de Lênin em seu ofício revolucionário.


Quanto a Stalin observa-se: este queria ser, tão apenas, um seguidor de um grande homem. Este grande homem era Lênin. Stalin era uma mescla: ao mesmo tempo em que era um grande estrategista revolucionário, era calmo e quieto. Tal paradoxidade é, até hoje, um grandioso mistério para as múltiplas análises que aparecem grandiloquentemente nos textos produzidos por intelectuais. Isto é, um homem pode ser quieto e, ao mesmo, um incendiário iconoclasta dum regime opressor? A contradição ainda é uma marca humana e, muitas vezes, até mesmo intelectuais decaem em suas análises perante esse formidável fenômeno. Stalin era tão paradoxal quanto é o mais simples humano, mesmo sendo tão complexo quanto é um grande homem.


Stalin tinha aquilo que muitos dos seus seguidores acreditavam: uma forte intuição revolucionária e uma capacidade de compreender a conjuntura dinâmica do real. Conjuntura marcada por um forte desenvolvimento dialético em que múltiplas forças se alteram em tentativas e erros. Cada uma levantando uma série de hipóteses que podem se provar falhas ou assertivas. Tal qual Hitler acertou ao levantar o sentimento nacionalista ao mesmo tempo que censurava fortemente – por morte até mesmo – os líderes revolucionários para frear o contínuo aumento de poder dos socialistas.


O poder e o bom sucesso de Stalin não veio por acaso, muito pelo contrário: é uma obra dum homem que se pôs inteiramente ao serviço da revolução. É possível falar assim de fé revolucionária. O pensamento de Stalin era, antes de tudo, um modus vivendi que se revelava ontologicamente antes de se revelar como um modus pensandi que se revela filosoficamente. Não compreender isso é não compreender a Stalin e, tampouco, tantos outros revolucionários que incendiaram o mundo.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Acabo de ler "La Rusia contemporánea y el mundo" de Carlos Taibo (lido em espanhol)

 



O debate pró-Rússia e anti-Rússia se tornou, graças à guerra atual (Rússia x Ucrânia), um dos mais aguerridos do mundo atual. Não raro, vários grupos decaem numa análise extremamente parcial e pouco factível. E muitos posicionamentos são calados por não serem compreensíveis ao intelectual médio do Brasil: tal qual a famosa direita pró-Rússia, produto intelectual mais recente e de menor notoriedade dentro do campo acadêmico nacional.


É preciso dizer que a Rússia contemporânea não é como a Rússia soviética. Há uma mescla de fatores distintos: preocupações da esquerda clássica, nacionalismo russo, cristianismo católico ortodoxo de caráter oriental, mentalidade europeia clássica (por assim dizer cristã). Esses fatores, alguns de direita e outros de esquerda, entram numa síntese que escapa, em muito, dos possíveis diagnósticos parciais tão comuns e tão raros aos comportamentos dos grupos ideológicos. Rússia tem, ao mesmo tempo, uma disposição reacionária e revolucionária visto que nutre a mentalidade reacionária anticapitalista - ou, melhor dizendo, antiliberal - ao lado duma mentalidade revolucionária.


A retórica e símbolos culturais soviéticos, a ideia dum império que faz frente a uma amalgama de outros, se junta a retórica e símbolos culturais do Império Russo. O Império Soviético, mais o Império Russo, mais as pretensões nacionalistas e cristãs católicas ortodoxas. Ah, que impressionante e sintética mescla de fatores prontas para levantar uma série de confusões mentais nos mais distintos agrupamentos sociais.


Os direitistas pró-Rússia falam da Rússia ser um país autenticamente cristão, que adota uma linha moral condizente com os pressupostos morais do cristianismo, ao mesmo tempo que faz frente ao progressismo do Ocidente contemporâneo que é contrário ao cristianismo. Já os esquerdistas pró-Rússia falam da resistência anti-EUA e, igualmente, das políticas soberanistas da Rússia que vão contra a mentalidade econômica liberal. De semelhante modo, direitas anti-Rússia falarão da economia não-liberal da Rússia como forma de atacá-la. Esquerdistas anti-Rússia do seu reacionarismo.

sábado, 15 de abril de 2023

Acabo de ler "História Mínima de Uruguay" de Gerardo Caetano (lido em espanhol)

 



O Uruguai é um país que vive entre dois países que lutam pela hegemonia do processo civilizacional latino-americano. Estes são: Brasil e Argentina. Países que, querendo ou não, gozam de estatura elevada ao redor da América Latina e sempre serão olhados com olhos mais admiráveis, curiosos ou, também, com uma marca de desprezo. Vê-se, nestes dois, algo de subimperialismo.


O Uruguai sempre teve que dividir a sua atenção nestes dois. Os uruguaios já se consideraram argentinos orientais e, igualmente, já pertencerem ao Império do Brasil (como a província Cisplatina). Ao adotar submissão, foi tido como covarde ou simplesmente congruente. Uma ação de um país entre duas potências regionais só pode ser uma: neutralidade. Aliar-se a Argentina ou ao Brasil provocaria uma reação a quem ele não se aliou. Situação que seria complicada para ele.


Todos os países detêm uma história e nenhum povo é menos digno de ser nacionalista que outro. O amor pela sua pátria não é ditado por seu tamanho, porém pelas ações concretas que ele faz historicamente e criam um senso de eu plural. Este país, diminuto em comparação a Argentina e ao Brasil, sempre se destacou pela sua diferencialidade processual e, por vezes, pela similitude com os processos regionais que imperavam na região.


Os uruguaios não se veem como menores, veem-se simplesmente como uruguaios. Orgulhosos, também, de seus processos históricos. Um de seus lemas é "nadie es más que nadie", ninguém é maior que ninguém: uma sociedade hiperintegrada e pronta para um processo de eu plural maior que de outros países latino-americanos. Também é o país que sempre está um passo a frente nas colocações mais necessárias socioculturais. Todavia é, igualmente, um país que sofre pela ausência de pensamento estratégico e adequação ao tempo econômico e tecnológico do momento.


O Uruguai é um país amável e de uma história fantástica. Não é tão diminuto quanto falam e merece mais apreço e consideração por toda a América Latina. Um belo e emocionante livro, diga-se de passagem.

segunda-feira, 20 de março de 2023

Acabo de ler "Mensaje al Pueblo de Venezuela" de Marcos Perez Jimenez (lido em espanhol)

 



Esse é aquele típico livro que, lido ao acaso, não pode chegar a mensagens concludentes. Para uma visão mais assertiva seria necessário um estudo maior de minha parte e, por essa razão, recusar-me-ei a escrever mais afirmativamente, discordando ou concordando, em virtude de não saber a contextualidade mais abarcante do que me foi apresentado.


O livro é uma espécie de panfleto político para a condução de ações pela militância organizada nacionalista da Venezuela. O autor clama mudanças estruturais e acusa o descaso da concorrência frente a própria nação. Tenho que apontar que, em suas pouquíssimas páginas, o autor discorre forma bastante sistemática dos problemas da Venezuela no período em que foi escrito.


O autor igualmente fala de seu afastamento compulsório e do anseio do povo de tê-lo no poder. Clama igualmente para que a militância exponha energeticamente a injustiça em que está envolto ao mesmo tempo em que desencadeie ações que deslegitimem as ações de seus concorrentes, estes últimos tidos como nocivos as causas orgânicas da Venezuela enquanto nação.


Outro ponto reconhecível no livro é a retórica de caráter profundamente nacionalista, a tentativa de desenhar uma geopolítica que tenha como suporte o combate das forças imperialistas na América Latina para o maior progresso da Venezuela enquanto nação.


Certamente um livro bastante interessante e que deu gosto de tentar entender um pouco mais dos meandros históricos da Venezuela. Mas não recomendaria que o leitor entrasse nesse livro sem ter um estudo mais basilar que forneça um contexto para a informação que é transmitida.

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Acabo de ler "Governo Lula e Dilma: O Ciclo Golpeado" de Vários Autores

 



O debate nacional é sempre, para mim, instigante e necessário. A vida intelectual serve para um "acúmulo assombrativo" que traz uma maior percepção das nuances que estamos dentro, sobretudo de forma inconsciente. Com o acúmulo eruditivo, adentramos num reino de sutilezas que nos dão maior afinidade com a realidade que estamos imersos.

Eu nunca poderia ter compreendido com maior maestria o governo Lula e Dilma sem esse livro. E é interessante observar que as informações dos mais diversos pontos, opostos ou amigáveis entre si, locupleta a nossa capacidade de assimilar a densidade do real. O projeto de conscientização intelectual, além de aumentar a capacidade assimilativa dos movimentos do mundo, também proporciona uma maior palatividade da realidade conforme nos deixa encantados com os processos dinâmicos do universo.

É importante frisar que o projeto de Lula e Dilma se situava numa localidade de maior amplitude das ações do Estado no desenvolvimento nacional. Para tal, o Estado era visto como estratégico na posição do Brasil como nação mais desenvolvida. Graças a isso, o protagonismo do investimento estatal foi colocado como uma das prioridades norteantes dos dois governos.

Também é preciso colocar que: o governo de Temer e de Bolsonaro se pautaram pela menoridade da ação do Estado brasileiro no âmbito do desenvolvimento nacional. Se os dois governos predecessores, de Lula e Dilma, pautaram-se pelo acréscimo da intervenção do Estado: os governos sucessores, Temer e Bolsonaro, fincaram raízes num movimento propriamente oposto em que a atuação estatal era de natureza diminuta.

Outro ponto de importante natureza: os governos petistas se colocaram fortemente na integração regional e numa espécie de bloco contra-hegemônico. A ideia era diminuir o poder dos países dominantes e criar uma ordem de caráter multipolar em que houvesse maior autonomia dos países em desenvolvimento em sua autodeterminação. Disso surge, é claro, uma maior unidade do BRICS como bloco, a integração da América Latina e o contato crescente com países africanos.

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Acabo de ler "Trinta Anos esta Noite" de Paulo Francis

 



Nada mais memorável do que aprender com um mestre morto. A memória dos contemporâneos é fantástica, mas não chega a ter o grau e estatura de inteligibilidade de alguém que viveu, de fato, o período histórico analisado. Embora que se deva recordar: a vivência não condiciona um modo de se ver o mundo de forma uniforme.

No livro, Paulo Francis conta-nos de suas ilusões. Como a sua mentalidade foi mudando, da esquerda para direita, conforme ia envelhecendo e vendo os efeitos da iniciativa privada nos países desenvolvidos. Fora as suas ilusões com o socialismo, sistema esse carregado de mortes que pipocavam junto com as suas mazelas totalitárias - no final, implodiu-se devido a própria fragilidade de sua economia e baixa adesão do povo ao sistema. Não só isso: vemos como Paulo Francis acompanhou as mudanças do país, sentindo-as na pele.

Quem não se apaixonou pela situação política? Quem não se encantou por ideologias? Ah, o eterno amor por essa religião civil, temporal e que sempre nos encanta com a possibilidade dum paraíso terrenal via imanentização escatológica. Coisa bem diagnosticada por aquele que foi um dos maiores conservadores de todos os tempos (Eric Voegelin). Francis nos demonstra, apaixonadamente, como se sentiu em cada momento e como reagiu ou agiu em cada condição.

Francis vai nos falando de sua simpatia por Brizola, que logo descambou em desapoio conforme mudava a sua visão de mundo. O nacionalismo foi algo que perdeu com o tempo também. Reclama da forma estatista que o regime militar adquiriu e como o voto obrigatório mata a democracia brasileira - gente completamente desinteressada pela política nacional vota sem o menor preparo teórico simplesmente por ser obrigada a votar.

Francis fala como é difícil ser brasileiro. Usualmente somos provincianos demais e incapazes de ver o rumo internacional. Além do fator constante de estarmos com ideias abandonadas pelo mundo, sempre pegando o que já foi usado e descartado como referência máxima. Diz-nos que é difícil ser brasileiro sem virar alcoólatra, doido ou acreditar em devaneios. O gosto final da leitura é um enriquecido pessimismo.