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sexta-feira, 2 de maio de 2025

Acabo de ler "The Conspiracy to End America" de Stuart Stevens (lido em inglês)

 


Nome:

The Conspiracy to End America - Five Ways my old party is driving our democracy to autocracy


Autor:

Stuart Stevens


O que ocorre nos Estados Unidos? O debate americano tem sido bastante arriscado. No começo, tínhamos uma certa noção sobre o autoritarismo crescente e o nacional-populismo de direita em alta. Hoje temos o Project 2025, um projeto que, se posto, terminaria os dias da democracia americana e a colocaria na misteriosa estrada da autocracia. Surgiu, também, um novo modelo de conservadorismo, o conservadorismo populista que abandona o reformismo e adentra na ideia de "fogo purificador controlado". Esse fogo destruiria certas instituições, radicalizando o processo autoritário e indo em direção a uma construção de um governo totalitário. O que é, em si mesmo, uma afronta a continuidade mesma da própria normalidade democrática e o fim desse mesmo regime.


Quando Stuart Stevens escreveu seu outro grande clássico "It Was All a Lie", a situação era outra — e já era ruim. Anos depois, a situação piorou. Agora, ela piorou ainda mais. Temos um padrão, um padrão de uma direção autoritária crescente que põe um dos países mais poderosos do mundo num caminho sórdido. Mas quem diria isso? Os Estados Unidos da América sempre se marcou por uma permanência interna num regime democrático, numa experiência plural de normalidade da ordem democrática e diversidade dentro do autogoverno — mesmo que essa não se efetivasse para todos os grupos de forma congruente, podemos ainda verificar progressos e retrocessos históricos. A ruptura desse padrão que determinou por muito tempo a própria identidade americana não pode ser encarada como o sinal de força e vigorosidade, mas por um sinal de franca decadência. Os Estados Unidos pode se tornar "antiamericano" para a própria visão que possui de si mesmo e para a sua própria experiência histórica.


O experimento americano, querendo ou não, levou a criação da moderna noção de Estado. O chauvinismo de Trump, pelo contrário, retrata o abandono dessa experiência e adentra num aspecto terceiro-mundista — aqui, evidentemente, no mal sentido do termo. Os Estados Unidos surge da negação ao Antigo Regime, ele surge da ideia de que todos os homens nascem iguais perante a Deus, rejeitando a ideia de uma sociedade em que a hierarquia é determinada ao nascer ou até mesmo antes — o rei e a nobreza estavam num patamar acima da população ordinária. A sua razão é extremamente democrática no âmbito jurídico, todos devem ser iguais perante a lei. Essa normalidade democrática é o que tornou os Estados Unidos o que ele é, uma república que, querendo ou não, tem o mérito da continuidade — o que é uma condição da estabilidade, algo que historicamente carecemos por aqui.


Não estou dizendo aqui que os Estados Unidos está longe de contradições históricas. Há uma ampla bagagem documental sobre casos de racismo e demora em integração de dados grupos sociais dentro da sociedade americana. É particularmente sobressaltante a questão negra e indígena nos Estados Unidos. Mesmo nos períodos em que poderíamos dizer que foram mais pacíficos e em que o americano esteve mais estável dentro da institucionalidade, casos de violência e discriminação para com grupos desfavorecidos eram notórios. Além disso, o fato dos Estados Unidos ter se comprometido internamente com a defesa da democracia, mas externamente ter favorecido golpes de Estado, grupos extremistas e ditaduras ao redor do mundo também é um ponto. Pode-se argumentar que o cidadão americano é um pouco mais alheio ao que acontece no exterior e as ações do seu próprio país fora dele. Isso deve ser mensurado.


Os Estados Unidos também é marcado por uma longa tradição de uso de desinformação e teorias conspiratórias como arma política. Algo tão amplamente usado hoje leva a um entrave ao próprio desenvolvimento do país, sobretudo quando o ensino superior se torna inacessível e grande parte se torna incapaz de distinguir boas fontes de informação de más fontes de informação. Além disso, junte-se a seitização e polarização social que fazem com que cada grupo acredite no que quer — e que seja favorável ao grupo — sem um questionamento real do que é passado (toda essa questão de ser de direita e de esquerda só eleva o problema e cria uma forte miopia intelectual). As pessoas que lerem "American Psychosis" poderão vislumbrar muito bem isso.


O Brasil, como país, não se vê livre da decadência americana — as mesmas raizes já encontram a sua versão nacional ou foram devidamente importadas por objetivos políticos claros. Em relação aos Estados Unidos, tivemos capítulos semelhantes. Vivemos, há pouco tempo, uma tentativa de golpe de Estado. Teorias da conspiração também são usadas como armas políticas por aqui. Em relação a isso, nossa constituição se apresenta como mais favorável para impedir a propagação de desinformação, mas a aplicação da lei nesses casos não se demonstra tão efetiva assim — basta olhar o estado das nossas redes sociais, elas já são uma mistura de nacional-populismo sabor Steve Bannon e guerra memética sabor 4chan e 8chan. Em relação ao que virá depois disso, já podemos entrever o uso de táticas do conservadorismo populista e uma rede de mídias alternativas para a sustentação de um Networking de Propaganda. Há também outra questão: o império das regulações e reguladores remonta a um império burocrático — bem lusitano — que está longe de ser isento de parcialidade e pode muito bem levar a um crescimento de práticas autoritárias para fins políticos.

terça-feira, 9 de julho de 2024

Acabo de ler "Epic Win for Anonymous" de Cole Stryker (lido em inglês/Parte 5)

 



O que fez o 4chan se tornar aquilo que ele é? Vivemos num mundo em que a visibilidade se tornou uma constante. O fato de tudo poder ser visto, cada dia mais, numa amplitude cada vez maior, em dimensões cada vez mais absurdas, isso não é assustador? Vivemos numa época em que até mesmo as barreiras coletivas foram ultrapassadas e estamos vivendo num mundo onde quase tudo se torna público.

Quanto mais pública a sociedade se torna, maiores são as fiscalizações sociais na sociedade. Esse aumento de fiscalização leva a uma maior regulamentação social. Hoje em dia é muito mais fácil cobrar alguém por uma frase ou um pensamento, anteriormente não era. E essa cobrança excessiva leva a um aumento da imagem pública, o que corresponde a um aumento da utilização do "ego" e uma carga de várias sensações, sentimentos e ressentimentos sendo jogados na sombra.

Quando as pessoas são sondadas várias vezes ao dia para não caírem em ruínas numa sociedade "extremo-publicizada" elas devem encontrar um subterfúgio para poderem dizer coisas que não podem dizer, pensarem coisas que não podem pensar e verem e ouvirem coisas que não podem ver ou ouvir. É por isso que fóruns anônimos se tornaram os locais prediletos para tal prática.

Com essa pequena análise quero dizer o seguinte: é a própria estrutura da sociedade que vai tornando possível a existência de chans e a mentalidade channer. É o chan o local em que as pessoas podem soltar as suas sombras. Ele é o "local de descarrego".

domingo, 7 de julho de 2024

Acabo de ler "8chan, a Twitter-Fossil" de Susana Gómez Larrañaga (lido em inglês/Parte 4 Final)

Nome completo do artigo: 8chan, a Twitter-Fossil: A post-digital genealogy of digital toxicity


É preciso que tenhamos uma capacidade de investigar a propagação da informação sobretudo em locais altamente descentralizados e desregulados da internet. Apesar da autora estar falando sobre o 8chan e a ausência de mecanismos de regulação para frear a propagação de mensagens tóxicas, a mesma realidade também é observável no Brasil – o movimento channer nacional não é tão fraco como se usualmente pensa. Se não há um mecanismo que identifique a linguagem de determinados grupos sociais, sobretudo grupos particularmente nocivos e criadores de movimentos antissociais, a própria sociedade acaba correndo riscos e sendo vítima da movimentação dessas pessoas.


É evidente que precisamos considerar os aspectos predecessores que os levaram a se tornar o que são e a própria humanidade dessas pessoas, mas elas devem ser presas ou tratadas. Ignorar esse fato é deixar que acumulem mais poderes e mais táticas, garantindo que criem metodologias sócio-colaterais cada vez mais sólidas e perniciosas ao funcionamento da própria sociedade. Assim sendo, temos que compreender que há uma codependência entre o online e o offline. 

Acabo de ler "8chan, a Twitter-Fossil" de Susana Gómez Larrañaga (lido em inglês/Parte 3)

 


Nome completo do artigo: 8chan, a Twitter-Fossil: A post-digital genealogy of digital toxicity


Atualmente se discute muito a questão dos efeitos tóxico-colaterais de certas mentalidades na sociedade. A propagação de ideologias tóxicas se dá muito pela possibilidade que a própria internet fornece. Estamos, como já alertado, presos no dilema da liberdade individual e da segurança pública. Se existem sites em que vemos uma constelação de postagens de conteúdo nocivo surgindo, o que poderíamos fazer se não combatê-los? As antigas soluções do liberalismo clássico muitas vezes desconsideram as implicações psicológicas e sociológicas do discurso e a sua influência no indivíduo concreto ou em agrupamentos sociais. As postagens tóxicas – e a propagação do ideário tóxico – tem efeitos sócio-colaterais, na esfera individual e social, podemos discordar sobre como lidar com isso, mas não podemos discordar que tal problema exista.


Hoje em dia precisamos pensar para além dos antigos dilemas e das antigas soluções. Além disso, devemos superar as barreiras ideológicas e propor uma solução que seja agradável ao bem comum. Não uma solução que seja exclusivamente coletivista ou individualista. Não se trata de esmagar o indivíduo ou a sociedade, mas se trata de colocar uma solução que possibilite o indivíduo viver ao mesmo tempo que cuide do anseio social.

domingo, 30 de junho de 2024

Acabo de ler "8chan, a Twitter-Fossil" de Susana Gómez Larrañaga (lido em inglês/Parte 2)

 


Nome completo do artigo: 8chan, a Twitter-Fossil: A post-digital genealogy of digital toxicity


Existe a possibilidade de traçar genealogia que explique o surgimento e a expansão da toxicidade da internet contemporânea. Essa tentativa de compreensão da causa é de importância vital para o funcionamento da sociedade, visto que a toxicidade virtual tem efeitos sócio-colaterais e impacta na vida de pessoas do mundo inteiro. Se, por exemplo, temos nas democracias a noção de que a informação assegura um voto "mais consciente" e a desinformação um voto "menos consciente" garantir a segurança da informação e achar meios de coibir a desinformação é uma pauta existencial para a perpetuidade da própria democracia. Grupos virtuais virulentos – além de grupos reais que se utilizam do espaço virtual – buscam alterar informações no objetivo de adquirirem alguma vantagem, muitas vezes empregando falsas narrativas que aumentam a possibilidade de uma conjuntura mais favorável aos seus anseios. A desinformação não é só criada por pessoas incultas, mas também por pessoas má-intencionadas que visam debilitar a funcionalidade dos organismos informacionais.


Hoje em dia, é fato notório que a desinformação promovida por certos grupos visa uma disrupção social deliberada. Essa disrupção social tem um impacto sócio-político considerável. Além disso, existe toda uma espécie de criação de um ambiente tóxico que se expande para fora do mundo virtual e vai de encontro a concretude do dia a dia. Os frequentes ataques terroristas, vindos de portadores de ideias de extrema-direita, levam a um questionamento constante acerca da liberdade. Até qual ponto existe legitimidade nas alegações de que devemos ter uma "liberdade de expressão absoluta"?  Até qual ponto existe legitimidade nas alegações de que estão "cerceando a multiplicidade dialógica para impor uma ideologia absoluta e totalitária"? O que são pontos de vista distintos e o que são visões perversas de mundo? Na democracia, quando uma visão deve ser possível dentro da estrutura de um debate democrático e quando ela deve ser abolida por ser prejudicial e perigosa para a própria existência da democracia? Aliás, qual a efetiva possibilidade desses grupos que visam uma maior segurança digital terem o velado objetivo de criminalizar seus adversários políticos mais tênues enquanto atacam os mais notórios? Em outras palavras, seria possível criminalizar Roger Scruton criminalizando Hitler? Além disso, qual a possibilidade de todo aparato construído nessas trincheiras de enfrentamento serem utilizadas pelo grupo que é estudado pelos acadêmicos e pesquisadores contra os próprios acadêmicos e pesquisadores? Existe a possibilidade do feitiço virar contra o feiticeiro. Todas essas questões são demasiadamente complexas e talvez levem centenas de anos para serem respondidas com clareza.


Para além das questões dos impactos sociais e políticos, deve-se questionar a influência psicológica na esfera individual dos frequentadores desses fóruns undergrounds. Eles estão habituados a algo fechado e a narrativização constante de tudo que está em sua volta. O psiquismo deles é muito semelhante ao psiquismo de um membro de seita. Se assim o é, deve-se pensar nos "espólios de guerra" e igualmente nas influências que o fizeram estar tão dispostos a frequentarem locais tão tóxicos. Ou seja, quais foram as experiências existenciais antecedentes a eles se tornarem partidários orgânicos dessas redes.

Acabo de ler "8chan, a Twitter-Fossil" de Susana Gómez Larrañaga (lido em inglês/Parte 1)

 


Nome completo do artigo: 8chan, a Twitter-Fossil: A post-digital genealogy of digital toxicity


É interessante observar que dentro desses "feudos virtuais" vemos um esforço narrativo de caráter sistemático de grupos socialmente excluídos e tóxicos. Quando distintos grupos sociais marginais se encontram, acham um meio de criar um sistematização de sua marginalidade. Essa marginalidade toma um aspecto de "sobrecamadização", adquirindo uma lógica mais estrutural e consistente. Essa "sobrecamadização marginal" vai gerando um sistema. Esse sistema cria um universo paralelo em que só a narrativa do grupo importa. Ou seja, o universo referencial está dentro do grupo e só o grupo se vê como portador da verdade. Uma lógica que remete a "organicidade" das seitas – visto que as seitas criam universos paralelos que possuem a sua própria universalidade. A mentalidade tóxica pode, por sua vez, adquirir o aspecto substancial de uma seita virtual.


Chamo os chans de "feudos virtuais" pois eles unificam uma série de pessoas que foram marginalizadas socialmente e encontraram no chan um universo alternativo longe do mainstream para viverem a sua vida social. É ali que está a unidade da sua formação. E é ali que encontram um meio de criar um rigor sistêmico que dê embasamento as suas crenças.  O fato de suas crenças serem tóxicas e socialmente prejudiciais somado a junção de sobrecamadas de teorias marginais leva, por conseguinte, a uma sofisticação de seu ataque ao organismo social mainstream – que é tido como corrupto – e o aumento do organismo social underground – que é tido como ideal. Esse desenvolvimento, pouco perceptível para a maioria, torna o chan o ponto de encontro estratégico para "intelectuais sombrios" que precisam de maior refinamento de suas teses.


Um grupo marginal precisa se precaver contra a maioria das pessoas. Enquanto a "sociedade mainstream" se organiza através de uma relativização de crenças – ou seja, evita um dogmatismo – para comportar um número de pessoas maior, a "sociedade underground" requer um número de pessoas menor. O princípio de associação majoritária requer um desenvolvimento de uma mentalidade de tolerância para que esses distintos grupos convivam harmonicamente entre si. O princípio de associação minoritária requer um desenvolvimento que vá no sentido oposto, desenvolvendo uma intolerância contra quem rejeita a sua identidade, visto que grupos pequenos que tentam sobreviver em meio a grandes grupos precisam estimular a própria sobrevivência por meio da rigidez – em chans, isso surge a nível identitário. Por outro lado, para fugir da maioria e não se tornar um alvo, se requer uma linguagem e um comportamento linguístico que fuja da maioria da população. É por isso que há um "esoterismo comportamental" nos membros: eles não dão de bom grado a informação necessária para a formação do novo membro, é quase como que se dissessem: "se quer saber de de nós, seja ou torne-se um de nós". Por sua vez, há um "esoterismo funcional", visto que dentro dos chans a informação é deletada de tempos em tempos por causa da estrutura dos fóruns (imageboards).


O fato é que muito dificilmente se poderia juntar todos os dados do mundo – os dados estão fragmentados pelo próprio mundo – sem um grupo de pessoas dedicadas a unificar esses dados. A junção desses dados é chamada de sistemática. O sistematismo é usualmente comum ao exercício filosófico, mas pode ser encontrado em qualquer escola de pensamento e é comum ao âmbito acadêmico. A diferença é que na estrutura universitária o desenvolvimento intelectual envolve uma leitura de mundo mais aberta. No contexto channer, essa formação sistemática não se dá pela assimilação de múltiplas escolas de pensamento através de um esforço dialógico, mas por um número reduzido de formadores – aqueles que foram enquadrados como úteis a causa. Se a universalidade é questionável pois é impossível adquirir todos os dados do universo para se ter uma noção do que verdadeiramente é universal – o universal é incognoscível pois nossa capacidade de adquirir dados e informações (além de compilá-las mentalmente) é contingencial –, o simulacro de universalidade é uma ilusão de que se adquiriu a universalidade. Ora, tal simulacro de universalidade é o jeito com que as seitas e os grupos fechados mantêm controle mental sobre seus partidários. Em seitas e em grupos fechados o que interessa não é o aprimoramento (acuracidade) dos múltiplos objetos e subjetividades de seu estudo, mas a narrativa da própria seita ou grupo fechado. Todavia para que não seja aparente esse desvio informacional deliberado se faz necessário que se creia que o grupo é portador da verdade e que toda verdade emana desse próprio grupo, logo a estrutura alternativa é encarada como a única via de acesso a própria verdade. Uma condição comum em sociedades gnósticas. Um breve adendo: mesmo que existam sociedades fechadas com propósitos psicológicos e psiquiátricos – também militares e religiosos –, estou me referindo a mentalidade de seita.


Não por acaso a cultura channer se tornou, para algumas pessoas, uma forma de escola cybercriminal em que os dados compilados adquirem a forma de uma organização sistêmica. Essa organização sistêmica possibilita uma série de táticas para o contínuo fortalecimento desses grupos marginalizados – excluídos da sociedade – em conjunto aos agrupamentos marginais – que tem uma postura ativamente contrária ao sistema vigente. É evidente que aqui o termo "marginal" tem a "aplicação amoral", podendo ser um grupo que tem objetivos que podem ser vistos como benignos ou malignos, mas o fato é que todo grupo marginalizado que se junta ativamente contra a sociedade é um grupo marginal. Peço encarecidamente que observem que o termo marginal está de forma genérica.

Acabo de ler "4chan & 8chan embeddings" de Vários Autores (lido em inglês/Parte 2 Final)

 


O artigo analisado foi escrito por:

Pierre Voué ( pierre@textgain.com ) has a master’s degree in Artificial Intelligence and works as a data scientist at Textgain, studying Salafi-jihadism and right-wing extremism.

Tom De Smedt has a PhD in Arts and is CTO at Textgain, focusing on Natural Language Processing. He was awarded the Research Prize of the Auschwitz Foundation in 2019.

Guy De Pauw has a PhD in Linguistics and is CEO of Textgain. He has over 20 years of experience in Natural Language Processing and Machine Learning.

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Atualmente sei pouco sobre "hackearias", mas pelo que entendi: os criadores desse artigo criaram mecanismos para rastrear e mapear os usos linguísticos do "chanspeak". É evidente que com tal mecanismo é mais fácil de compreender e identificar os portadores do chanspeak. Logo os apitos de cachorro seriam mais facilmente identificados, possivelmente até pela Inteligência Artificial em um futuro próximo. Identificando a utilização de linguagem tóxica, podemos rastrear a movimentação desses grupos sociais e impedir que causem distúrbios. O que é uma utilização bastante inteligente para a tecnologia.


É notório que uma mecanismo de busca que identifica e classifica sistemas linguísticos de grupos sociais determinados pode parecer problemático. E de fato o é a depender da conjuntura. Se, por exemplo, esse mecanismo fosse utilizado para a repressão sistemática de socialistas ou liberais teríamos uma utilização negativa dessa técnica. É preciso delimitar o que é uma "diferença teórica" e o que é um desenvolvimento criminológico e propriamente tóxico. O uso da tecnologia, em mãos erradas, pode ter um lado bastante obscuro.

Acabo de ler "4chan & 8chan embeddings" de Vários Autores (lido em inglês/Parte 1)

 


O artigo analisado foi escrito por:

Pierre Voué ( pierre@textgain.com ) has a master’s degree in Artificial Intelligence and works as a data scientist at Textgain, studying Salafi-jihadism and right-wing extremism.

Tom De Smedt has a PhD in Arts and is CTO at Textgain, focusing on Natural Language Processing. He was awarded the Research Prize of the Auschwitz Foundation in 2019.

Guy De Pauw has a PhD in Linguistics and is CEO of Textgain. He has over 20 years of experience in Natural Language Processing and Machine Learning.

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4chan e 8chan são conhecidos por inúmeros aspectos socialmente relevantes – ou "negativamente relevantes" – e suscitam discussões acerca da regulamentação dos meios de comunicação virtuais e da internet em si mesma. O fato da internet ser um capítulo recente da humanidade envolve um questionamento sério acerca da própria natureza humana e, de modo semelhante, como ela atua em meios alternativos e menos regulamentados. 4chan e 8chan são publicamente notórios na defesa da supremacia branca, misoginia, perseguições, crimes de ódio, desinformação e ideias de extrema-direita.


É dito que antes de algumas ideias terem aparecidos em outros palcos virtuais (como o Reddit e Twitter, por exemplo), apareceram no 4chan e 8chan. Foi dentro da conjuntura, não só virtual, como social, que os manifestos foram disseminados, discutidos e idealizados. É dentro da mentalidade social channer que existe essa possibilidade efetiva. E é por isso que o Reddit e Twitter são espaços secundários e menores para aqueles que desejam e anseiam ser coparticipantes ou, no mínimo, espectadores desses processos sociais turbulentos.


A mentalidade tóxica é assimilável dentro desses fóruns, sendo retroalimentada pelos distintos grupos sociais de extremistas e excêntricos que adentram nesses recintos. Cada qual contribui para o imaginário social que é criado nesses respectivos fóruns e servem de formação marginal que, pouco a pouco, sistematiza-se numa mentalidade cybercriminológica. Esse letramento criminal que vai tomando uma complexidade estrutural conforme o tempo passa cria desafios cada vez maiores as autoridades. Atualmente se discute sobre maior segurança digital e liberdade individual dentro das redes. É evidente que o poder é suspeito por si mesmo e até boas causas podem servir para objetivos maléficos, mas como suportar essa liberdade virtual num momento em que os extremistas se tornam a cada dia mais perigosos?


O problema da toxicalidade virtual é que ela vai desumanizando a representação mental – o imaginário – de cada figura individual, social e até mesmo conceitual de quem frequenta esses fóruns. O que existe para a maioria dos "habitantes virtuais" dessas redes não é mais a realidade, mas uma redução memética que retira a complexidade que o mundo apresenta. O que deveria ser traduzido por uma abertura ao objeto de uma análise é previamente simplificado por uma simples gravura tóxica do que se apresenta. Por exemplo, em vez do questionamento acerca da liberdade sexual feminina e a estrutura do machismo, temos a simplificação negativa da feminilidade e os questionamentos que a ordem social traz sobre a mulher. No caso das raças, judeus são colocados como "conspiradores" e negros adentram numa "animalidade anticivilizada". É evidente que essa "redução memética tóxica" é bastante comum na humanidade, visto que nem todos querem "perdem tempo" aumentando os seus estudos para compreender os problemas da vida. Nesse cenário, optam por uma mensagem simples que traga a segurança de compreender o mundo, mesmo que essa segurança seja cega e, no fundo, demasiadamente simplista para dar uma chave de entendimento para o mundo.


O "meme" é mais facilmente reproduzível do que a busca epistemologizada. Existe mais facilidade em ter uma microleitura dentro de um meme do que ler toda uma bibliografia acadêmica e científica sobre um objeto determinado. Ora, os channers não se abrem a um estudo minucioso do objeto que tratam. E aqueles que se abrem a um estudo minucioso usualmente estão naquela mentalidade de "só quero o lulz (caos)". O que significa que seu estudo não servirá para uma humanização, mas para a prática de uma tática subversiva de manipulação e desinformação das hordas de cybercriminosos que atualmente se encontram unificados nesses "feudos virtuais".