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quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Acabo de ler "Em Defesa do Preconceito" de Theodore Dalrymple

 



O título poderá causar um pouco de estranheza as pessoas habituadas em fetiches verbais nauseabundos das esquerdas e dos liberais - a circularidade que é incapaz de complexificar-se é sempre sinal de tribalização e decadência cultural. E, de fato, é um baita título que causa uma miríade de confusão mental aos intelectuais e acadêmicos vulgares.


Se analisarmos a palavra preconceito, teríamos não uma palavra associada diretamente a LGBTfobia, discriminação racial, não contratação de pessoas com tatuagens, violência doméstica contra mulher, dentre tantas outras coisas. Preconceito é, pura e simplesmente, uma ideia que precede o acesso a uma compreensão mais abarcante da realidade. Por exemplo, dizer que a ciência moderna se assenta na falseabilidade de Karl Popper sem entender a razão não é nada mais, nada menos que preconceito. 


Uma sociedade é boa na medida em que tem bons preconceitos. Dizer a uma criança que ler um livro vale mais do que passar horas vendo Tom e Jerry, mesmo que você mesmo não seja capaz de ler uma "Crítica a Razão Pura" não é nada além do que um bom preconceito. A ideia de não misturar bebidas caso não queira ter um porre, sem uma explicação bioquímica, é igualmente um preconceito. Uma sociedade que diz: "procure conhecimento pela ciência", mesmo que não seja uma sociedade em que todos os membros são cientistas, nada mais é do que um bom preconceito.


É preciso ter em mente que o debate sobre o preconceito pode trazer preconceitos melhores ou piores. A ideia de mistitifacação e desmistificação trouxe algo além da superação duma mentalidade supersticiosa, trouxe igualmente a incapacidade de compreender a complexidade de um mito e a sua importância ao conhecimento. Além de ter trazido uma crítica que se arroga dum analfabetismo metodológico pra atacar livros religiosos com interpretações literais. Quem nunca se deparou com alguém que leu a Bíblia e entendeu que Adão e Eva estavam literalmente nus em vez de saber que a vestimenta era um discurso moral falseado (fenômeno da racionalização em Freud)?


Theodore Dalrymple é, simplesmente, um dos maiores ensaístas da contemporaneidade.

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Acabo de ler "Qualquer Coisa Serve" de Theodore Dalrymple.

 


    Acabo de ler "Qualquer Coisa Serve" de Theodore Dalrymple.

    "Não odeio religião - na verdade, sou mesmo a favor dela. Assemelho-me a Gibbon, que ao tratar do sincretismo religioso romano declarou, admirado, que o povo achava que todas as religiões eram igualmente verdadeiras, que os filósofos as julgavam igualmente falsas e que os magistrados as consideravam igualmente úteis, sem porém haver qualquer conflito sobre o assunto. Ou seja: a religião era útil por melhorar o comportamento humano e mantê-lo lícito".

    Dalrymple é um dos escritores que mais gosto devido a sua escrita sarcástica que, muitas vezes, leva-me a várias risadas durante a leitura. O mais interessante é que Dalrymple é um homem que dá análises de situações extremas que, por sua extremidade, sempre levam ao aguçamento de minha curiosidade.

    Grande parte da escrita de Dalrymple se deve ao seu contato direto, sua experiência pessoal, com criminosos, com ditaduras e com países subdesenvolvidos que sofrem de violência extremada. E não para por aí, a própria vida investigativa de Dalrymple contempla o estudo de várias experiências perigosas que tomaram forma de literatura. Estudar a questão do mal é, para ele, um assunto sempre novo e interessante.

    Creio que as várias experiências com "o problema do mal" que Dalrymple vivenciou o levaram ao seu ceticismo político e seu pessimismo antropológico, tornando-o um intelectual conservador. Não um intelectual conservador qualquer ou algum fanático político. Dalrymple está longe de ser um reacionário bolsonarista ou coisa análoga, muito pelo contrário: ele é um brilhante intelectual, com uma erudição vastíssima e um reportório argumentativo inigualável. Não só isso, como já disse anteriormente: muito de seu posicionamento intelectual surge de uma experiência direta com o problema tratado.

    Não me senti nem minimamente entediado em nenhum momento da leitura da obra, sempre fiquei impressionado pela riqueza vivencial e intelectual de Dalrymple. E, mais do que isso, tive muitas boas risadas com o sarcasmo do autor.