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quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Acabo de ler "They Eat Puppies, Don't They?" de Christopher Buckley (lido em inglês)

 


Livro:

They Eat Puppies, Don't They?


Autor:

Christopher Buckley


Christopher Buckley é o rei da sátira americana, tal como Nelson Rodrigues foi o rei da sátira brasileira. Mas, precisamente, o que é a arte da sátira? Em primeiro lugar, não podemos definir a sátira como uma redução ao absurdo, mas sim como algo que vá além disso. Uma boa sátira se traduz em captar a essência de um problema, captá-lo de forma radical, e traduzi-la em forma de piada para que as pessoas se afastem, tal como num exercício cômico ou numa catarse engraçada, do problema em que estão envoltas.


Grande parte da cultura moderna, sobretudo no âmbito do humor, não é ao todo cativante. Se vermos um humorista mais conservador, a sua sátira dos progressistas é extremamente clichê e dá a entender que ele não compreende quem está satirizando. Se formos a um humorista mais progressista, parece-nos que ele nada entende de conservadorismo. A sátira, para ser certeira, requer o rigor de quem toma uma cerveja para saborear e depois decidir qual o gosto dela.


Pensemos nos livros do senhor Christopher Buckley que analisei anteriormente. Sugeri que o leitor ou a leitora use o "modo web" e clique no nome "Christopher Buckley". No livro "Thank You for Smoking", existia um quadro diverso de críticas, o lobby do cigarro era um deles. No livro "Make Russia Great Again", o objeto era o próprio Donald Trump. No livro "Little Green Men", a ideia absurda de transformação radical de um homem que se tornou em uma espécie de "lunático" e perdeu tudo. Todos esses temas, se olhados de longe, não são só sérios. São drasticamente sérios no mais rigoroso e concreto sentido do termo. Porém Christopher Buckley, em seu raciocínio, trouxe eles com a maestria de quem faz a carne mais dura se tornar a mais macias das carnes.


Entender como as ideias se formam e como elas são manipuladas e enviesadas para atuarem em conformidade com grupos, essa é a missão desse livro. É evidente que a sátira alivia e atenua a situação. Eu costumo dizer que a ficção é um "conceito aplicado a uma realidade simulada". E compreendo os personagens como "pessoas-conceito", onde cada um desempenha conceitualmente o seu papel de forma viva. Dentro de uma obra de ficção satírica, isso equivale a um papel razoavelmente exagerado.


Eu digo que esforço do Christopher Buckley é um ato de recuperação da voz diante do absurdo. É olhar para o mundo em ruínas, completamente tombado pela ridicularidade densa e satirizá-lo não por ele ser sério, mas por ser em si mesmo uma sátira. Christopher analisa a partir de múltiplos pontos, dos quais conhece extremamente bem. É por isso que a sua sátira não é unidirecional, mas multidirecional. A sátira buckleyriana é extremamente humana, densamente humana, como se composta por uma série de corações juntados com uma linha e uma agulha.


Em "Little Green Men", por exemplo, não há só uma sátira para teorias da conspiração e controle do governo. Há também um ponto extremo: a marginalização social dos assim chamados excêntricos. Aqueles que não podem ser controlados pela norma social. Aqueles que escapam das categorias que enquadram e oprimem. Aqueles que pelo não enquadramento, caem no martírio social. Christopher Buckley é particularmente excelente em trazer a ideia de "imagem pública" diante de múltiplos cenários e múltiplos grupos sociais. Em "Thank You for Smoking", isso é particularmente excelente também.


Os conflitos que Christopher Buckley apresenta não são unidimensionais. A sátira não é um reductio ad absurdum do universo que trata. Todas as relações humanas são bem trabalhadas em suas novelas satíricas. Há uma dimensionalidade enorme das relações humanas em suas críticas. Creio que é isso que faz Christopher Buckley ser quem ele é. Mesmo que ele não seja um autor muito lido no Brasil, o brasileiro poderá encontrar nele horas de diversão e de expansão de horizonte de consciência. 


Um dos fatores que me fez amar Christopher Buckley é o fato de que ele não é uma espécie de "alinhado". Não é um homem que toma, em suas considerações, posicionamentos fáceis e rápidos, tal como se seguisse uma cartilha ideológica pronta. Não é aquilo que poderíamos chamar de "orgânico de partido" ou "partidário", mas sim um intelectual que observa atenta e criticamente a forma com que as relações humanas se constroem. Em outras palavras, ele é distinto de muitos intelectuais brasileiros que vivem em função de aprovar ou negar automaticamente (e alinhadamente) conforme a posição do grupo em que se está.


Um intelectual como Buckley não pode ser catalogado de forma simples. Ele não vive em função de um panelismo mequetrefe. Ele não ali para justificar um posicionamento de um político não importando qual posicionamento seja. Em outras palavras, é um homem que estuda múltiplos pontos e toma posicionamentos equilibrados, afastando-se de um viés extremamente militante e ideologizado. A obra de Buckley é mais um apagamento de paixões do que um obra voltada ao propagandismo político.


Num mundo em que a panelização, seitização e tribalização tomam conta do mundo, Christopher Buckley ergue-se como um homem que apaixonadamente despaixona o mundo. Isso leva a uma quebra de encantamentos falsos de bezerros de ouro e seus eternos fetiches mentais rodando em ciclos idiotizantes.


Aquele que não reduz a sua vida intelectual em um exercício contínuo de mesquinharia ideológica sempre acaba por ser afastado dos mais diversos grupos. Isso ocorreu com Christopher Buckley e ocorrerá com qualquer intelectual que seja verdadeiramente livre.

terça-feira, 7 de outubro de 2025

Acabo de ler "Make Russia Great Again" do Christopher Buckley (lido em inglês)


Nome:

Make Russia Great Again


Autor:

Christopher Buckley


Nem todo conservador é neoliberal, conservadores hamiltonianos ou federalistas creem em um Estado forte. Nem todo conservador é contra o aborto, os Republicanos Rockefeller eram a favor. Nem todo conservador acredita em guerra contra as drogas e é contra o casamento homoafetivo, o próprio Rick Wilson falou sobre a legalização da maconha e o casamento homoafetivo como algo positivo. Nem todo conservador é contra o Estado de bem-estar social, os Red Tories (conservadores vermelhos) veem como algo positivo. Nem todo conservador é pró-capitalismo, Patrick Deneen e Christopher Lasch podem ser consideras anticapitalistas. Nem todo conservador é a favor de jornadas de trabalho excessivas, conservadores como Kevin Roberts viram nas jornadas laborais excessivas como algo anti-família.


Densas reflexões históricas me fizeram chegar onde estou. Cresci com um pai anarquista e um tio comunista. Li Karl Marx, li Proudon, li Lênin, li Bakunin, li Kroptokin, li Stalin. Até hoje leio pensadores anarquistas, socialistas e comunistas. Se tem algo que aprendi na vida intelectual, é a ler de tudo. Se alguém questiona as minhas ações, lembre-se: o liberal Carlos Rangel elogiou Marx em uma entrevista que fez com Friedrich Hayek e assumiu usar parte do seu método de análise; um dos maiores conservadores de todos os tempos, Christopher Lasch, usava métodos neomarxistas e da Escola Crítica para realizar a sua crítica.


Os últimos tempos têm sido radicais. Muitas ações foram feitas, mas poucas reflexões e análises históricas foram tomadas ao lado dessas ações. Durante o período da covid, Bolsonaro tomou os mesmíssimos erros de Reagan na época da AIDS: deixou-se pautar por teorias da conspiração, obstruiu processos que ajudariam a melhor conter a crise, adquiriu uma agenda pseudo-científica e até mesmo anticientífica.


Grande parte do movimento conservador de hoje é crítico do neoconservadorismo. Os conservadores brasileiros até hoje não absorveram plenamente essa lição. O neoconservadorismo, e em grande parte a sua retórica econômica neoliberal, cometeu diversos equívocos que merecem ser recordados:


1. Retiraram a regulamentação antitrust que, por sua vez, fez com que o mercado se tornado extremamente dominado por oligopólios e monopólios, fazendo com que empresários aumentassem o preço dos seus produtos. Um mercado com leis antitrust seria mais descentralizado e competitivo, o que se traduziria em preços menores;

2. A ideia de vantagens comparativas levou a muitos países fazerem aberturas gigantescas e tirassem a intervenção estatal de amplos setores, o que levou a desindustrialização em massa, tornando países menos soberanos em matéria econômica, levando a um desemprego de amplas massas e tornando-os vulneráveis;

3. As guerras no exterior levaram a uma série de mortes, o neoconservadorismo é uma das ideologias mais sanguinárias da história.


Pensava em tudo isso enquanto lia o livro de Christopher Buckley (Make Russia Great Again). Creio que Christopher Buckley traz uma importante lição nesse livro. E, mais do que isso, creio que a lição é exatamente essa: por mais absurda que as coisas venham se tornado, ainda podemos rir da ridicularidade do mundo.


Vim de uma geração que é fruto de outra geração que negou o que a esquerda se tornou. Graças a isso, grande parte da minha geração cresceu alérgica aos movimentos de massa. Se a esquerda foi do "é proibido proibir" para a sua icônica aversão ao liberalismo cultural em nome de um neopuritanismo, a própria direita transfigurou-se em uma versão neopuritana com os eventos históricos mais recentes.


Anteriormente, a ideia de politicamente incorreto era uma resposta a uma esquerda neopuritana — ou woke, em uma linguagem mais moderna. Hoje em dia, a direita é em si mesma tão woke quanto a esquerda. Não por acaso, certos setores do movimento conservador chamam vários setores da direita de direita woke (só pesquisar "woke right" no Google). Vale lembrar: wokeísmo é estrutura comportamental, não uma ideologia.


Com a ascensão de Trump, vimos um momento de transformação na direita. Não éramos mais um movimento qualquer de gatos pingados e soltos. Tínhamos um "movimento" próprio, filmes próprios, gostos próprios. Construiu-se todo um universo. Só que, com ele, toda uma série de populismo e agregação em massa. Toda reflexão do novo conservadorismo, o conservadorismo-populista surge graças a essa mudança.


Acontece que agregar tantas pessoas sem garantir a elas uma formação intelectual adequada é um pecado que ocorre em ciclos de direita e de esquerda. A formação de eleitores "críticos e conscientes" não é desejável para ninguém, visto que o número de exigências e critérios sobem. Também existe o simples fato de que ninguém quer um movimento consciente, mas um rebanho de votantes fidedignos e manipuláveis. Às vezes tal movimento decorre da simples preguiça de estudar e promover o estudo.


Para se popularizar, a direita adotou as palavras de ordem e exigiu um adesismo sem contestação. Todo mundo que era de esquerda ficou de fora, mas não só isso, vertentes menos conhecidas da direita, como é o caso dos Red Tories, dos liberais republicanos, dos neohamiltonianos, dos conservadores anticapitalistas como Christopher Lasch e Patrick Deneen, além de evidentes conservadores não tão alinhados ao trumpismo e bolsonarismo (Christopher Buckley, Rick Wilson, Stuart Stevens, Luiz Felipe Pondé e João Pereira Coutinho), todos ficaram de fora. A lógica da seitização tornou-se imperiosa, uma espécie de dogma grupalista. Hoje em dia acabamos por virar uma seita reacionária, movida por palavras-chaves.


No passado, o nosso ódio pela esquerda se justificava pelo seguinte argumento: não queremos concordar automaticamente e diluir a nossa personalidade em uma lógica de bandos. Hoje em dia, o que é ser de direita, na ampla maioria dos casos, se não a concordância bovina com grupelhos? Tornamo-nos uma sátira. Pior do que isso, estamos cada vez mais comportamentalmente parecidos com a esquerda que desprezávamos.


A grande promessa, ao entrar na direita, era de que, por fim, teríamos a liberdade intelectual de ler de tudo e discordarmos pontualmente de vários pontos. A aliança era entre duas ou mais singularidades que protegiam a singularidade uma da outra. Hoje em dia, a aliança é um neopuritanismo mau-caráter (direita woke) e um estranho reaganismo econômico que se mescla com discursos populistas de Donald Trump.


Do outro lado, ergue-se uma esquerda que nos odeia muito mais do que já odiou. Qualquer um que não seja de esquerda é quase que automaticamente um fascista. Não existem conservadores ilustrados, tampouco estadistas. Não vemos um novo Hamilton, não vemos um novo Nelson Rodrigues, não vemos um novo Gustavo Corção.  Mais do que isso: somos sempre confundidos com trumpistas e bolsonaristas.


Grande parte do que aparece hoje em dia é:

— Vou te expulsar do meu movimento!

— Eu me tornei conservador para NÃO TER um movimento.


Eis a grande sacada que as novas gerações não entendem: quando nossa versão do conservadorismo surgiu, o que menos queríamos era ter um movimento. Não queríamos ser um "grupo", um "coletivo" ou qualquer "eu plural" que se ergue de forma semelhante. Queríamos ser apenas nós mesmos, em nossas individualidades, falando livremente e sem medo de punições coletivas que se erguiam nos espaços da esquerda tribalizada.


Essa diferença geracional, que agora é gritante em todos os espaços, fez com que várias pessoas largassem o título de "conservadoras" e privadamente se recolhessem em livros e em comunidades internacionais isoladas. Em outras palavras, os conservadores, portadores de uma consciência pessoal, lavaram as mãos para os coletivistas, sejam esses trumpistas ou bolsonaristas.


Erguem-se campanhas cancelacionistas de toda natureza. Agita-se o empresariado para demitir esquerdistas. Agita-se a população para cancelar a Netflix. Agita-se o povo para atacar esquerdistas gratuitamente. Nunca se faz uma campanha de estudos e diálogo. Nunca se faz uma análise comparada de diferentes escolas do pensamento conservador. Perdoem-me o exagero retórico. O fato é: temos que estudar mais, ler mais livros, sermos mais tolerantes e pautarmos nosso debate por artigos e livros. Temos que dar respostas prudentes. Virar uma seita não é e nunca será a solução.


O movimento politicamente incorreto era, antes de qualquer coisa, um estado de espírito contra-cultural de acadêmicos ou de intelectuais que se erguiam contra uma esquerda que vivia de vieses de confirmação e com o levantamento de um sacro cânon de caráter inquestionável em sua sanha inquisitorial e tacanha. Não um novo dogma que seria levantado para uma luta inter-dogmática, onde duas grandes religiões batalhariam pela verdade universal de suas fés. É evidente que tal movimento foi se tornando um movimento de falsificação histórica em prol de uma leitura hagiográfica de nosso próprio movimento. É evidente que ele abriu margem para o mais bestial reacionarismo. Temos que admitir as nossas falhas, aceitar os erros que cometemos pela história e buscar soluções mais bem pensadas para o presente, preparando assim um futuro de paz e esperança.


Quem leu a obra de Nelson Rodrigues veria ele criticando todo moralismo tacanho de uma classe média hipócrita, as esquerdas e os próprios conservadores. Quem leu Christopher Buckley veria ele atacando republicanos e democratas tal como quem pega uma metralhadora giratória e brinca de gira-gira. Ser conservador não é o mesmo que ser um tradicionalista moral.


Os conservadores brasileiros surpreendem-se com palavrões, conservadores americanos inteligentes, tal como Rick Wilson, usam a rodo. Nunca vi uma mistura tão boa quanto a do senhor Wilson: humor, erudição e sinceridade. No Brasil, como acharíamos tamanha referência? Aqui o coletivismo ainda é maior, inclusive por razões culturais. Se nos Estados Unidos houve o "The Lincoln Project", com conservadores erguendo-se contra Trump, no Brasil poucos gatos pingados tiveram a mesma coragem de se oporem ao Bolsonaro.


A desconstrução do conservadorismo em prol de um horizonte mais coletivo e mais facilmente assimilável pelas massas data desde o reaganismo. Neoconservadores fizeram um exercício estupendo em destruir todas as outras tradições conservadoras e reinterpretar todo o conservadorismo em sua imagem e semelhança. Isso empobreceu radicalmente as distinções entre os mais diversos setores. Exemplos disso são Michael Oakeshott e Theodore Darymple, dois agnósticos. Se toda a história conservadora se resume a uma nota de rodapé do cristianismo, por qual razão esses dois são agnósticos? A resposta é simples: segundo a direita religiosa — mais especificamente a vertente neoconservadora —, eles não podem sequer existir. Ou, pura e simplesmente, estão em contradição.


Enquanto eu devorava as partes desse livro, fui percebendo o quanto nos perdemos nos últimos tempos. Muita gente entrou no pensamento conservador por não gostar do que a esquerda se tornou, porém moveu-se pela carência. A carência fez com que concordassem e aderissem qualquer coisa. Nota-se que aderiram qualquer coisa. Críticas rasas ao pensamento de esquerda e pura mentalidade reativa — "se a esquerda é a favor, somos contra" — foram fenômenos típicos dos últimos anos.


O dualismo moral que a esquerda tinha era abismal. Hoje em dia, o "conservador" — ou "pseudoconservador" ou "conversador" — erguer-se-a para proclamar o dogma da santidade de Bolsonaro. Tal como se isso fosse típico de uma linha de pensamento que cresceu a base do pessimismo, ceticismo e pragmatismo. Ao mesmo tempo que levanta, contra Lula ou o Partido Democrata, todas as mais extravagantes acusações.


O problema da maioria dos conservadores sempre foi o fato que a "nossa base" — usando um linguajar mais à esquerda — sempre foi fantasticamente mais estúpida que a base da esquerda. Um amigo meu costumava a dizer: "a esquerda chama os imbecis de 'base' e nós chamamos os nossos de bolsonaristas por ausência de um nome melhor". O fato é: pessoas comuns são mais temerosas quanto possíveis mudanças. Graças a isso, há uma tendência natural que pessoas pouco estudiosas sejam conservadoras. Quanto aos conservadores estudiosos, são por serem céticos quanto mudanças rápidas. Ser eclético e ver múltiplas críticas a diferentes sistemas também leva ao conservadorismo. Creio que o que me tornou conservador foi ter lido — e ainda ler — múltiplas escolas de pensamento.


O que gosto de Christopher Buckley é que eu enxergo nele o mesmo que vi enquanto lia a obra de Nelson Rodrigues. Enquanto eu lia as crônicas de Nelson Rodrigues, encontrei nele um homem que defendia a consciência pessoal acima de tudo. Enquanto eu lia os romances de Nelson Rodrigues, encontrei nele um homem que via o reino sutil das contradições humanas de forma ímpar. Enquanto eu lia as peças teatrais de Nelson Rodrigues, encontrei nele um homem que era capaz de ser um assíduo crítico social. Christopher Buckley consegue captar muito das contradicoes humanas.


Se Carlos Lacerda xingava nosso querido Nelson Rodrigues, Christopher Buckley é odiado por vários desses coletivistas que se apossaram do movimento conservador. A sua crítica ímpar, capaz de perscrutar na alma de vários desses homens, nunca sai ilesa de ofender aqueles que ela penetra. Não por acaso, torna-se um dos "excomungados" pela nova direita trumpista. Se Christopher Buckley fosse mais conhecido no Brasil, certamente receberia a "honra" de ser "excomungado" pelos bolsonaristas. 


O motivo de Christopher Buckley ser odiado é pelo fato de ele não se curvar perante ao grupalismo reinante de nossos tempos. Um grupalismo que demonstra toda a infantilidade e panelismo de nosso tempo, onde toda adesão tribal é considerada como a marca de um distinto orgulho e toda singularidade é vista como "ser de outro grupo" ou, até mesmo, "ser o inimigo". O que é surpreendente: grande parte da crítica de Carlos Rangel ao esquerdismo é o fato deles odiarem singularidades e pessoas subjetivas. O que ocorreu com o bom senso? Ou melhor, o que ocorreu com a defesa da singularidade e da consciência pessoal?


Quando leio esse livro, eu posso sentir isso novamente. É a sensação de algo vivo. Algo que demonstra que ainda é possível ser um verdadeiro pessimista, um verdadeiro cético, um verdadeiro pragmático, um verdadeiro prudente. Tudo isso sem perder o bom humor e a capacidade de se afastar das situações ou de apologéticas duvidosas. É o mesmo conservadorismo moveu Eisenhower e o mesmo conservadorismo que moveu Hamilton. O mesmo conservadorismo que é capaz de tomar decisões razoáveis diante das tempestades da crise.


Quando leio Christopher Buckley, sinto um alívio. Vivemos em um mundo em que até a comunidade de ufologia (estudantes de extraterrestres) consegue ser mais razoável que certos setores políticos nacionais. As impressões de certos setores populacionais começa a se pautar radicalmente por teorias conspiratórias e ideias radicais, além de teorias anti-intelectualistas de toda ordem. Atualmente é difícil pensar em uma reaproximação entre setores mais academicizados e setores menos academicizados da sociedade. Se a política em si se torna um palco de ideias cada vez mais extravagantes, o que nos resta? Creio que apenas contar piadas. Isto, é claro, enquanto ainda podemos.


As pautas andam bizarras. Hoje em dia, discute-se novamente a criminalização da traição e, para os mais exaltados, a proibição de divórcio. Fazem-se bastante perseguições as pessoas trans, que são usadas como cortina de fumaça para impedir que as pessoas vejam os verdadeiros problemas nacionais. O desletramento constante da população, o encarecimento das universidades, a ausência de expansão e manutenção da infraestrutura, o aumento de preço da alimentação, jornadas laborais insalubres, a adaptação das cidades em planejamentos para adaptá-las ao moderno tempo, tudo isso é jogado de lado e entramos em questões essencialistas de gênero.


Vivemos na ascensão das mensagens rápidas, da redução memética (redução ao meme) e na época da política do megafone. Quem gritar mais, de forma mais estereotipada e de forma rápida ganha. Trump, em sua tacanha lógica, pode soltar as milhares ou milhões de groselhas da forma que bem entender. Ele não será expulso do debate pela grosseria, mas será cortejado por uma massa anti-intelectualista que vê em cada intelectual como um distinto vilão tecnocrata. Quando Trump sair, outro populista, enormemente favorecido pelo ambiente demagógico e seitizado, entrará. Assim caminhará o Ocidente, confuso e perdido em sua história.


O conservadorismo não deveria ser isso. Muito pelo contrário, deveria ser um pensamento de quem leu os mais diversos pontos de vista e decidiu realizar uma reforma cautelosa após uma série de análises sistemáticas. Algo lento, parcimonioso e cuidadoso. Em outras palavras, caberia ao conservador ler análises de, no mínimo, dez escolas de pensamento e conduzir a sua reforma. A razão é simples: é muito mais fácil destruir do que criar. Eric Voegelin, a seu tempo, defendeu a expansão do horizonte de consciência, isto é, o conhecimento eruditivo que acumula múltiplas escolas de pensamento, histórias civilizacionais e idiomas. Estudar múltiplas escolas de pensamento é ideal para todo conservador.


A primeira lição que aprendemos como conservadores é: "as ideias têm consequências". A consequência da negação das vacinas e das campanhas anti-vacinas foram milhões de mortes. A consequência da cruzada anti-trans são várias pessoas privadas da sua liberdade e um debate não razoável, anti-científico e anti-acadêmico. Precisamos estudar cautelosamente, ver o que é sociologia e o que é biologia. Compreender a autonomia individual e das instituições. Traçar uma regulamentação adequada, respeitando a autodeterminação. O mesmo deve ser feito com a imigração. Atualmente parece que tudo se move para um radicalismo estéril. 


Sim, eu sou conservador. Como Red Tory, defendo forte apoio a programas sociais e bem-estar estatal. Quero garantir uma rede de proteção social e instituições públicas fortes.


Sim, eu sou conservador. Como Conservatário, acredito na defesa ampla da liberdade individual em questões culturais e comportamentais. Quero assegurar autonomia pessoal e limitar a intromissão do Estado na vida privada.


Sim, eu sou conservador. Como Hamiltoniano, acredito no Estsdo ativo no desenvolvimento econômico, com forte amparo à indústria, à infraestrutura e ao sistema financeiro. Quero promover o crescimento e a soberania econômica por meio do planejamento e intervenção do Estado.


Sim, eu sou conservador. Como Rurbanista, busco o equilíbrio e a integração entre o rural e o urbano. Quero reduzir as desigualdades regionais e valorizar a diversidade cultural e econômica do meu país.


Sim, eu sou conservador. Como distributista, defendo a distribuição ampla dos meios e produção. Seja essa de terras, de negócios e de capital. Tudo isso para o maior número de pessoas possíveis. Visto que creio também no aspecto descentralizado e com base familiar e comunitária, quero combater a concentração de riqueza.


Sim, eu sou conservador. Apoio ao BRICS visto que quero fortalecer a autonomia em relações internacionais e o desenvolvimento econômico soberano.


Ser conservador é defender a reforma. É compreender que tudo pode se perder facilmente. É compreender que o raciocínio é melhor quando analisado através de múltiplos pontos. É estudar a história, vendo cada nó de vitória e derrrota, aprendendo com ela em vez de desmerecê-la. É saber olhar para o que está bem e para o que está mal, reduzindo o mal e maximizando o bem. É estar atento ao fato de que as ideias têm consequências, tendo um cuidado legítimo e racional para com cada ideia que se tem.


Na década de 1640, os católicos irlandeses despossados se tornaram guerrilheiros e bandoleiros. Eles eram descritos como "bandidos" e "fora da lei". O que é o conservador se não aquele que se opõe diante dos reacionários e revolucionários, sendo antagônico as duas principais correntes do agir e do pensar? Somos tories pois estamos em oposição a maioria do mundo, opondo-nos à reação e à revolução. Ser Tory é ser antissistema, não no sentido de quebrá-lo ou rompê-lo, mas pelo simples fato de que a maioria das pessoas querem dar vazão a paixão destrutiva por aquilo que elas consideram errado. O conservador navegará contra a corrente, como um Tory que surge fora da lei do pensamento que se ergue a cada tempo e busca reformar o castelo diante da tempestade reacionária e revolucionária.


Ser Tory, ser conservador é um convite a nadar de forma aberta no mar da complexidade. Não damos um manual de respostas fáceis. Valorizamos uma reforma cautelosa em vez de uma reflexão destrutiva. Valorizamos a prudência sobre a paixão. Valorizamos a liberdade individual sobre a ditadura do coletivo.

sábado, 4 de outubro de 2025

Acabo de ler "The Reagan Revolution" de Prudence Flowers (lido em Inglês/Parte 11)

 


Livro:

The Reagan Revolution


Autora:

Prudence Flowers


Vemos o desenvolvimento das questões culturais e contraculturais emergindo dentro so debate americano de forma mais radicalizada.


Questões como:

- Aborto;

- Controle de armas;

- Pornografia.


Pautas republicanas tradicionais também são citadas:

- Responsabilidade fiscal;

- Formação de capital;

- Ética do trabalho.


Breves menções ao eleitorado que era usualmente democrata, mas que votou em Reagan. Além da possibilidade de ter uma maioria democrata que impossibilitaria o mandato. Os comentários são breves.

Memória Cadavérica #8 — Isolacionismo Pessimista

 


Memórias Cadávericas: um acervo de textos aleatórios que resolvi salvar (no blogspot) para que essas não se perdessem.


Após ver as críticas negativas que se apresentam em quantidade nauseabunda e volumosa, questiono-me a respeito dos (des)caminhos que nosso país toma.


Acusam-me de ser uma nova espécie de Bruno Tolentino, por causa da bissexualidade, da libertinagem e da polêmica. Confesso que sou os três: um bissexual, um libertino e um polemista. Esse tipo de "ofensa comparativa" soa-me como um elogio. Um grande elogio, diga-se de passagem. Bruno Tolentino era cultíssimo. Um dos maiores intelectuais conservadores da nossa história. Tendo sido tristemente esquecido por essa geração de entusiastas que o único modelo de conservadorismo que conhecem é o reaganismo e o trumpismo.


Digo, em minha defesa — ou para mais uma acusação dos meus odiadores —, que quem lê Gustavo Corção, Nelson Rodrigues e Antônio Paim não precisa de figuras extravagantes como Bolsonaro. Estive trazendo mais conteúdo para o debate público do que múltiplos membros da chamada "direita nacional". Embora eu prefira chamá-la de "lobby americano" ou "geringonça tresloucada".


Até o presente momento, creio que eu fui o único que procurou trazer mais sobre a Tradição Red Tory (Conservadorismo Vermelho), sobre o neohamiltonianismo, sobre o distributismo de Chesterton, sobre o rurbanismo de Gilberto Freyre, além de análises mais completas sobre a UDN. Com essa ampla jornada, destaco-me como um dos mais odiados, com desafetos múltiplos na esquerda e na direita. Mesmo que, por algum motivo absolutamente aleatório, minhas últimas três namoradas eram todas comunistas. O que significa que já posso pedir música no Fantástico.


Por influência do meu pai, que era anarquista, e do meu tio, que era comunista, li muitos livros de Marx, Lênin, Bakunin, Proudhon, Kroptokin. Tudo isso já na minha adolescência. Um dos meus vira-latas chama-se Lênin em homenagem ao meu comunista favorito. Enquanto outros rapazes se preocupavam apenas em álcool e mulheres, preocupava-me com o renascimento, com o iluminismo, com as revoluções. Devo dizer que me tornei abstrato. Demasiadamente abstrato. Leio e converso com comunistas e anarquistas até hoje. Deng Xiaoping é pouco lido pelos comunistas brasileiros. Creio que canais como Second Throught e Red Pen demonstra que existem bons comunistas americanos, ambos canais com excelente qualidade.


Em meio a biblioteca, fui descobrindo vários livros. Li Pondé por acaso, depois li Nelson Rodrigues por causa do Pondé. Foram sendo apresentados outros: Theodore Dalrymple foi um que mais li. Natsume Soseki e Haruki Murakami, dois intelectuais fantásticos, foram descobertos por acaso em um passeio na biblioteca — embora não se possa chamá-los de conservadores, são grandes referências para mim. Atualmente leio bastante Christopher Buckley, Rick Wilson e Stuart Stevens foram de grande importância para minha formação mais recente.


Quanto as análises da América Latina, José Luis Romero, Carlos Rangel e Ernesto Sabato foram cruciais para para desenvolver muito do que presentemente penso. Carlos Taibo apresenta uma versão fascinante da história da União Soviética, tudo com uma lente anarquista de excelentíssima qualidade. Gilberto Freyre, excetuando-se as questões raciais, apresenta o rurbanismo que é uma das principais formas de redução das desigualdades regionais que já vi.


Em relação as polêmicas, faço todas elas em forma de ato filosófico. A filosofia é, em primeiro lugar, um ato de confissão. Confessar verdadeiramente e sinceramente o que pensa é elementar antes de qualquer construção filosófica. Sem esse requisito, constrói-se uma prisão mental que encarcera a alma nas paredes de uma linguagem que se constrói tão somente para se proteger das agonias do mundo real.


Escrever é, para mim, altamente terapêutico. Um hábito de higiene mental. Todo conservador deve ser, antes de tudo, um conservador da consciência pessoal. Aqueles que pretendem destruir a sinceridade ontológica jamais poderiam ser verdadeiramente conservadores. Muito pelo contrário, atentam contra o principal fator. Juntam-se ao coro que matou Sócrates e depois Jesus.


De qualquer modo, hoje em dia converso mais conservadores americanos, europeus e canadenses do que com conservadores brasileiros. Pouco me importo para os rumos do movimento, também não espero nada de bom. As gestões me parecem mais uma repetição monótona da fórmula reaganiana em economia (neoliberal), uma cópia discursiva da retórica beligerante de Trump e táticas militantes da direita woke. Muito longe do pessimismo, ceticismo e pragmatismo dos grandes conservadores.


Cresci na época em que o politicamente incorreto era predominante na Internet. Via-se uma direita que amava mais livros do que qualquer outra coisa.  O mais odiável era a redução do ser em prol dos bandos. Hoje em dia, a direita brasileira torna a si mesma numa cópia da direita woke americana. Por causa do grande atraso que há no nosso debate público, o termo "woke right" (direita woke) ainda não chegou. A direita de hoje se torna quase tudo que criticou.


Lembro-me que muitos concordavam com a ideia de que só imbecis andam em bandos. E vejam só como é: hoje a direita é uma cópia nefasta da esquerda das massas.

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Acabo de ler "The Reagan Revolution" de Prudence Flowers (lido em Inglês/Parte 10)

 


Livro:

The Reagan Revolution


Autora:

Prudence Flowers


A questão tratada aqui é a comunidade negra. Nas eleições de 1980, Reagan teve suporte de virtualmente todos os segmentos da América. Com a exceção de um grupo: a comunidade negra. A comunidade nega criticou conscientemente as políticas e programas da administração de Reagan. Reagan foi atacado por líderes negros, organizações negras e pela imprensa negra. O apoio de negros ao Reagan era de tão apenas 8% (segundo uma pesquisa da New York Times/CBS).


Os pontos de deslocamento foram vários:

- Os avanços dos direitos civis não foram bem enquadrados;

- O próprio "The Voting Rights Act" foi visto como afastado;

- Houve confusão e inconsistência nas ações afirmativas;

- A questão racial da isenção de taxas para escolas segregadas.


O impacto nos cortes de orçamento, o crescimento do desemprego e o REI (Reduction in forces) do governo afetou minorias, sobretudo negros. Houve também poucos apontamentos de pessoas negras em correlação as administrações anteriores. O governo Reagan era tido como tendo ausência de compaixão.

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Acabo de ler "The Reagan Revolution" de Prudence Flowers (lido em Inglês/Parte 9)

 


Livro:
The Reagan Revolution

Autora:
Prudence Flowers


Nesse discurso, Reagan fala sobre a importância de diminuir o gasto governamental — ou tê-lo sob controle — e reduzir os impostos. Além disso, trata sobre a saúde da economia. Chegando a dizer que o governo é muito grande e gasta muito. Reagan caracteriza a economia americana daquele período como marcada por altos impostos e excesso de gastos. Além disso, o gasto governamental crescia mais rápido do que a economia. Tudo isso gerava o aumento da dívida e estava na hora de trocar a dieta.


O que Reagan propõe é:

1. Reduzir o crescimento do gasto;
2. Cortar as taxas marginais;
3. Parar a sobrerregulação;
4. Seguir uma política monetária não-inflacionária e predizível. 

Acabo de ler "Little Green Men" de Christopher Buckley (lido em Inglês)

 


Livro:

Little Green Men


Autor:

Christopher Buckley


Meses atrás, fiz a análise do livro "Thank You for Smoking". Hoje retorno com mais um livro de um dos mais brilhantes satiristas americanos: Christopher Buckley.


A obra de Christopher Buckley é muito conhecida por ser uma obra irrevogavelmente política e satírica. Mesmo que Christopher Buckley seja filho de William F. Buckley Jr., uma das maiores figuras do conservadorismo americano, a sua obra agrada democratas e republicanos. Para ser mais exato, nosso querido Christopher Buckley consegue destruir estereótipos, ser um crítico arguto seja de conservadores ou progressistas, sempre mantendo um humor que lhe consagrou como escritor.


Ler Christopher Buckley é mais do que buscar humor, é aprender a ir além do senso comum e compreender que o humor é uma boa forma de crítica social. É preciso lembrar daquele velho ditado em latim: "castigat ridendo mores", que quer dizer que podemos corrigir os costumes rindo deles. Quando se trata da política americana, Christopher Buckley demonstra que essa forma não é só verdadeiro, como também pode ser brilhante.


Como esse livro é uma novela, e eu sigo a política de comentar muito para não dar spoilers, darei um breve resumo do "plot inicial". O livro trata da figura de John Oliver Banion, um homem que cuida de um show e vive uma vida extremamente interessante. Tudo muda quando ele é abduzido por alienígenas. A partir disso, ele começa a demandar que o Congresso e a Casa Branca comecem a investigar a existência de seres extraterrestres.


Confesso que amo uma estranheza, mas ver todo o deslocamento social que sofreu o nosso personagem central foi, de certa forma, psicologicamente angustiante. O livro não trata só a sátira política de maneira densa, como traduz muito a questão da marginalização social provinda do afastamento natural que as pessoas têm quando consideram alguém estranho. Além disso, o livro traz uma percepção muito densa dos jogos de percepção que a sociedade tem e trabalha bem a questão da autoimagem.


Como sou um indivíduo pra lá de estranho, confesso que a leitura foi extremamente interessante. Fiquei curioso sobre como são as comunidades de ufologia (investigadores ou especialistas em alienígenas) e como a sociedade vê essas pessoas. Lembrei-me até mesmo do Tom DeLonge que se afastou da banda Blink 182 para investigar a existência de vida extraterrestre.


Little Green Men é um livro impressionante, engraçadíssimo, com uma sátira avassaladora. É uma pena que nosso queridíssimo Christopher Buckley é pouco conhecido por aqui. Espero que essa análise aproxime as pessoas da sua obra.

Acabo de ler "The Reagan Revolution" de Prudence Flowers (lido em Inglês/Parte 8)



Livro:
The Reagan Revolution

Autora:
Prudence Flowers


Nesse trecho do livro, existem vários discursos do Reagan. Eles são de natureza menor (em número de páginas) do que os capítulos escritos previamente pela autora. Logo as análises adquiriram provavelmente corpos textuais menores.

Nesse discurso, Reagan fala sobre ter gasto grande parte da vida como um democrata (em referência ao Partido Democrata). Todavia o que ele percebe é que houve um endividamento crescente do seu país.


Reagan trará questionamentos a respeito da identidade americana. Ele questiona se os americanos ainda preservavam a liberdade que os Pais Fundadores desejavam para eles. Ele questiona se os americanos ainda acreditavam no autogoverno. Ele questiona se não teriam abandonado a Revolução Americana. Ele questiona se os americanos deixariam uma pequena elite intelectual cuidar da vida de todos.

Em um momento, ele fala da "The Great Society", uma referência ao projeto do Lyndon B. Johnson (sucessor de Kennedy). De como o governo não pode controlar a economia sem controlar as pessoas. Além disso, que os programas sociais levantados não estavam diminuindo a necessidade social desses programas, mas sim que a necessidade aumentava ao lado do programa que aumentava junto, sempre levando ao aumento do Estado.

Por fim, ele cita Barry Goldwater, que foi o escritor do livro "The Conscience of a Conservative" (1960). Dizendo a necessidade da força para se ter paz.

O discurso de Reagan é um discurso da identidade americana em sua característica fundacional. Um retorno aos Pais Fundadores.

domingo, 28 de setembro de 2025

Acabo de ler "The Reagan Revolution" de Prudence Flowers (lido em Inglês/Parte 7)

 


Livro:

The Reagan Revolution


Autora:

Prudence Flowers


A briga entre republicanos moderados e republicanos de tendências mais tradicionalistas no âmbito moral continuou. As imagens de Reagan foram se mesclando entre mito, memória, mídia e política.  George H. W. Bush, vice de Reagan, foi encarado como alguém que não se converteu o suficiente para as visões de Reagan. Questionaram se ele seria uma continuidade ou uma disrupção. Além disso, a eleição começou a apresentar a disparidade de gênero e raça nas escolhas políticas.


Depois de sair da Casa Branca, houve a publicação do "Speaking My Mind" que tinha uma coletânea de falas do Ronald Reagan e "An American Life" que tratava mais propriamente do Reagan em si. Reagan foi construindo um imaginário não partidário, o de um líder visionário que reestabeleceu os Estados Unidos. Ele chegou a receber o título de cavalheiro honorário da Rainha Elizabeth II e a visita do ex-líder comunista Mikhail Gorbachev. Prosseguindo mais adiante, Reagan desenvolveu Alzheimer e morreria no dia 5 de junho de 2004 com 93 anos. Ele foi visto como um chefe sonhador e o homem que alterou a política americana, restaurando a confiança da população e a crença do povo americano em si mesmo.


Reagan trouxe o Partido Republicano novamente ao cenário político. De 1933 a 1980 apenas três republicanos foram presidentes: Dwight Eisenhower, Richard Nixon e Gerald Ford — sendo só dois desses eleitos. No cenário pós Segunda Guerra, republicanos foram um partido minoritário no âmbito federal. Uma pequena curiosidade, o Bush Filho, um evangélico "nascido de novo", tinha mais aproximação ideológica com Reagan do que seu pai.


Reagan, construído como herói bipartidário, teve uma aprovação pública crescente. Nos seus oito anos como presidente, teve 52.8% de aprovação.  Em fevereiro de 1999, 71% de aprovação. Em novembro de 2010, 74% de aprovação. Além disso, após Reagan ter vencido em 49 estados, os democratas seguidores do New Deal foram substituídos por democratas de tendências mais centristas que adotaram princípios do neoliberalismo. Exemplos concretos disso são Clinton e Obama.


Atualmente se fala do caso "Reagan X Trump". Trump é muito mais populista do que propriamente um conservador. Ele é segue mais uma agenda anti-establishment e é um isolacionista. Além disso, enquanto Reagan era um pró-imigracionista, Trump é contrário à imigração. Após a derrota em 2020, Trump tornou-se ainda mais autocrático, demandando mais lealdade para ele do que ao partido ou à nação. Fora isso, os seguidores de Reagan são vistos como parte do mainstream e Trump ataca os chamados "conservadores reaganianos". Há uma tentativa de Trump de se aproximar do primeiro mandato de Reagan, sobretudo em pautas de gênero, sexualidade e reprodução, o que agrada a direita religiosa. Outra aproximação é o corte de taxas, sobretudo para os mais ricos, e de programas sociais. O afastamento se dá bastante na esfera protecionista, mas a questão do aborto aproxima Trump e Reagan. Os discursos constrastam: Reagan tinha uma oratória extremamente refinada, próxima do povo, patriótica e otimista; Trump tem um discurso menos refinado, mais sombrio e, após a derrota em 2020, adquiriu um tom mais conspiratório e retoricamente violento em 2024. Trump representa muito mais uma política pautada na raiva, no ressentimento e na desconfiança.

Acabo de ler "The Reagan Revolution" de Prudence Flowers (lido em Inglês/Parte 6)

 


Livro:

The Reagan Revolution


Autora:

Prudence Flowers


Ronald Reagan foi, como vimos, adotando uma postura menos ideológica e mais pragmática. Afastando-se dos ciclos neoconservadores e evoluindo para uma posição mais complexa e sutil. Uma das condições mais características desse desenvolvimento foi a sua relação com Mikhail Gorbachev.


Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev trabalharam para eliminar a ameaça nuclear. É evidente que Gorbachev chama muita atenção. Odiado por muitos, querido por muitos. Gorbachev chegou a ser elogiado por Margaret Thatcher. No período em que Gorbachev governou a União Soviética, a sua nação havia passado por várias décadas em que muito do gasto ia para a defesa. Cerca de 80% para ser mais exato. O que levou a educação, os serviços sociais e a saúde a passarem por um grande aperto.


É evidente que existe uma complicação e uma complexidade nessa relação. Enquanto que os Estados Unidos tinham um orçamento militar crescente na era Reagan, cerca de 8% de acréscimo ao ano; a União Soviética teve um crescimento de orçamento militar 1.5% entre 1975 e 1984.


Gorbachev lançou as bases da Perestroika e Glasnot. A Perestroika visava uma modernização tecnológica e um aumento da produtividade dos trabalhadores. Além disso, houve uma tentativa de reformar a burocracia soviética para aumentar a eficiência. Naquele tempo, a política anti-alcool (que era um sério problema para saúde pública) se mesclava a adesão de uma economia mista com elementos de livre-mercado e investimentos do exterior. Enquanto isso, a Glasnot serviria para dar maior participação do povo no processo político e burocrático, aumentando a liberdade de expressão. Isso envolvia o povo e a mídia. 


Reagan e Gorbachev tentavam dar cabo do INF (Intermediate Range Nuclear Forces), para destruir o seu arsenal. De qualquer forma, seja Reagan, seja Gorbachev, enfrentaram oposições em seus respectivos países. Reagan enfrentou oposição de republicanos e da New Right (Nova Direita), que condenavam Reagan de forma pública ou privada. A diplomacia da União Soviética e os Estados Unidos era vista como esperança ou como uma ameaça em que um inevitavelmente enganaria o outro. Em maio de 1987, a revista National Review chegou a publicar o "Reagan's Suicide Pact".


Em 1988, Reagan proferiu um discurso na Universidade de Moscou falando sobre um novo mundo de reconciliação, amizade e paz. A União Soviética cortaria 500 mil pessoas de suas forças armadas e Tadausz Mazowiescki seria o primeiro líder não-comunista do leste europeu. Veríamos mudanças significativas na Europa Central e no Leste Europeu. A queda do Muro de Berlim estabelecer-se-ia. Posteriormente veríamos a dissolução da União Soviética em 1991, com uma transição que poderia ser chamada de pacífica.

sábado, 27 de setembro de 2025

Acabo de ler "The Reagan Revolution" de Prudence Flowers (lido em Inglês/Parte 5)

 


Livro:

The Reagan Revolution


Autora:

Prudence Flowers


Com o tempo, as pessoas passaram a gostar mais do Reagan positivo, de mensagens não-ideológicas. Instalou-se um conflito entre o "homem Reagan" e o "Reagan ideológico" — tenha em mente que Reagan surgiu como um membro da New Right (Nova Direita), que era religiosa. Isso levou a um questionamento sobre a sua identidade.


Um ponto importante sobre Reagan é a sua agenda econômica. Reagan trouxe pautas econômicas, enfrentando protecionistas no Congresso. Exemplos disso é o Tax Reform Act; o livre comércio com Israel; o livre comércio com Canadá e México.


A questão da imigração fornece um episódio histórico interessante. No período pós-Segunda Guerra, os republicanos foram os campeões do aumento das políticas de imigração. Isso permitia um grande número de trabalhadores para fortalecer os negócios. Todavia no período de 1970, certos republicanos começaram a argumentar que o fluxo migratório colocava pressão nas escolas e no sistema de saúde, aumentando os custos dos programas sociais e também que os imigrantes pegavam trabalhos de americanos. Reagan, por sua vez, rejeitava fortemente as tendências restricionistas. Ele acreditava que os imigrantes tornavam o país sempre jovem, sempre cheio de energia e de novas ideias. Graças a isso houve o The Immigration Reform and Control Act de 1986.


Houve um gigantesco escândalo de corrupção quando foi descoberto que a CIA (Center Intelligency Agency) secretamente vendia armas para o regime iraniano do Aitolá Khomeni. O que deu uma certa dor de cabeça por um grande tempo.


Mesmo reeleito com uma extremamente satisfatória margem, Reagan não escapou de críticas. Alguns especulavam demência. Chegou-se até a se falar que Reagan não lia nem pequenos papéis ou documentos, sequer que ia trabalhar, mas ficava vendo films e televisão na sua residência. De qualquer forma, os republicanos precisavam recuperar a imagem de Reagan para ganhar a próxima eleição. Os dois principais trabalhos seriam: um acordo de um controle de armas entre a União Soviética e os Estados Unidos e a redução do deficit.


Houve outra turbulenta questão para o governo Reagan. Ao indicar Robert Pork por sua jurisprudência conservadora e crença no originalismo, surgiram recordações do seu posicionamento contrário às ações afirmativas, ônibus, aborto e contracepção. Isso levou a um posicionamento contrário de organizações afro-americanos e feministas, ao mesmo tempo que que a direita religiosa e os grupos anti-aborto apoiaram a indicação. Mesmo assim ele foi rejeitado. Douglas Ginsburg foi rejeitado pelo o seu uso de maconha em momentos passados da sua vida. Por fim, veio Anthony Kennedy, que recordava mais um conservador tradicional do que um conservador ideológico.


Houve uma polêmica com a legislação dos direitos civis e as políticas anti-discriminatórias. Além do chamado pânico moral em que grupos da direita religiosa espalharam que isso levaria a ter homossexuais em escolas, AIDS nas cafeterias das escolas e ações afirmativas para travestis. E, é claro,  toda a polêmica que passou o Grove City Bill.

Acabo de ler "The Reagan Revolution" de Prudence Flowers (lido em Inglês/Parte 4)

 


Livro:

The Reagan Revolution


Autora:

Prudence Flowers


A "maioria moral", um dito muito clássico. Refere-se às pessoas que não adotam padrões culturais progressistas, mas que seriam, ao menos aparentemente, mais tradicionalistas nos costumes. Tudo isso desemboca em discussões sobre aborto, direitos das mulheres, família, pornografia, escolas religiosas, oração dentro das escolas e programas de bem-estar social. Sempre lembrando a guerra cultural que surge dentro desse contexto. Raça, etnia e gênero são sempre mencionados.


Quanto ao aborto, o próprio Bush (vice de Reagan na época) era pró-escolha (pró-aborto), mas escolheu respeitar a plataforma de Reagan (que era contra o aborto). De qualquer forma, a oposição ao aborto era uma estratégia eleitoral do Partido Republicano para obter uma maioria conservadora. Em 1982, 22% da população americana era fortemente contra o aborto e 39% era pró-escolha. Além disso, até os anos 90, republicanos (pessoas que votavam em republicanos) eram mais pró-escolha do que democratas.


No caso Roe v Wade (1973), a Suprema Corte deu um voto favorável ao aborto. No caso Engel v Vitale (1962), a Suprema Corte acreditou que a "rezador oficial" nas escolas era inconstitucional de acordo com a primeira emenda da Constituição Americana. Esses tipos de decisões eram tidas como absurdas pela direita religiosa. Mas, indo mais adiante, vemos que conservadores sociais e religiosos queriam limpar a sociedade que viam como sexualizada e corrupta. Focaram em expressões artísticas e culturais que viam como obscenas. Além disso, viram blasfêmia e promoção da homossexualidade em muitas obras. Buscaram colocar até mesmo uma cláusula de decência na NEA (The National Endowment for The Arts). Muitos artistas clamaram, naquela época, por liberdade de expressão e liberdade civil. Há, evidentemente, o caso curioso de quando conservadores sociais e religiosos juntaram-se a feministas radicais, como Andrea Dworkin e Catherine MacKinnon para campanhas anti-pornografia.


Nos anos de 1960 e 1970, o uso ilegal de drogas se tornou parte da vida de muitos americanos. Reagan era contrário ao uso de drogas. Tinha um especial desgosto pela maconha. Para a direita religiosa, as drogas não eram uma questão vital, mas um reflexo da sociedade degradada, que havia aderido uma secularização na cultura e na política, o que supostamente levou a várias condições como o divórcio, famílias quebradas, delinquência juvenil e o próprio vício em drogas. Além disso, a direita religiosa opunha-se ao humanismo secular. É evidente que há uma briga entre conservadores libertários (pró-drogas, pró-aborto, pró-LGBT e pró-liberdade individual de uma maneira geral) e os conservadores moralistas (de tendências religiosas ou o chamado "conservadorismo social") — mesmo que, deva-se admitar, que o brasileiro médio não conheça as distintas linhas do pensamento conservador.


Quanto a crise da HIV/AIDS, Reagan cortou o orçamento da The National Institute of Health. Além disso, a sua administração interveio para bloquear a atuação do Congresso em suas tentativas de se lidar com a crise da AIDS e obstruiu a atuação preventiva da CDC (Centers for Disease Control). Fora isso, a administração de Reagan ainda reduziria significantemente o orçamento para pesquisas envolvendo a AIDS e programas para pacientes.


A direita religiosa acreditava que a AIDS era uma "praga gay". Pat Buchanan, que anteriormente havia trabalhado para a administração de Nixon, dizia que homossexuais eram uma ameaça à moral e à saúde pública. William F. Buckley Jr., o fundador da revista National Review, diria que todos os homens gays com AIDS deveriam ser tatuados em sua nádegas. A direita religiosa aproveitou para passar o Family Protection Act, em que uma das suas medidas era barrar o financiamento federal para qualquer pessoa ou grupo que advogasse pela homossexualidade. A morte de Terry Dolan, o fundador da National Conservative Political Action Committee, por AIDS e o fato dele ter relações homossexuais foi chocante naquele momento histórico conturbado. De qualquer forma, o governo Reagan ainda sugeria que a melhor solução era a monogamia e a abstinência sexual.

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Acabo de ler "The Reagan Revolution" de Prudence Flowers (lido em Inglês/Parte 3)

 


Livro:

The Reagan Revolution


Autora:

Prudence Flowers


Em 1982, Ronald Reagan discursou em Orlando, na Flórida. Na "The National Association of Evangelicals" ele falou de adolescentes, controle de nascimento, sexualidade permissiva, a necessidade de rezar na escola, a sua oposição ao aborto e a importância de uma moralidade tradicional.


Reagan é conhecido por chamar a União Soviética de império do mal. Tentar fazer os americanos orgulhosos novamente do seu país e das suas forças armadas — o que se perdeu com a guerra do Vietnã. Além disso, de tentar elevar o prestígio internacional dos Estados Unidos. Ele investiu no desenvolvimento de armas e na construção das forças armadas americanas. Fez a Casa Branca dar suporte material para movimentos nacionalistas anti-comunistas por todo o mundo. Além disso, um suporte aos direitos humanos (entendidos aqui como liberdade individual e democracia). Reagan acreditava que os EUA e seus aliados capitalistas eram o mundo livre que resistiam a sociedades escravas comandadas pela União Soviética e o mundo comunista.


— A Nova Doutrina da Política Exterior:

1. Dramático aumento no financiamento militar;

2. Uma nova assertividade nos assuntos globais;

3. Uma renovada competição com a União Soviética.


Um fato curioso: Reagan acreditava que o orçamento militar não era uma questão de orçamento, mas que deveriam gastar o quanto fosse necessário. De qualquer forma, em 1983 a maioria dos americanos suportavam uma redução nos gastos militares. Mesmo com a retórica dos direitos humanos e liberdades individuais, os Estados Unidos forneciam suportes para ditaduras (Argentina, Guatemala e El Salvador são exemplos notórios).


Para conter e reverter a expansão soviética, o governo americano ajudou grupos insurgentes anti-comunistas. O que resultou em guerras civis. Naquele período turbulento da Guerra Fria, William Casey (diretor da CIA) acreditava que qualquer colapso em um regime comunista, mesmo que esse fosse pequeno ou comparativamente insignificante, poderia levar a perda do poder global soviético e a sua autoridade.


Durante o seu governo, Reagan aproximou-se da China (que havia brigado com a União Soviética) e trabalhou para isolar a URSS economicamente. Falou sobre a natureza ateísta e sem Deus do comunismo. Tendo que enfrentar as campanhas pela esfriamento nuclear (manifestações anti-nucleares). Com ou sem apoio social, o que era bastante volátil, os Estados Unidos forneceram armas e inteligência, ocasionalmente enviando tropas americanas, para desestabilizar adversários.

Acabo de ler "The Reagan Revolution" de Prudence Flowers (lido em Inglês/Parte 2)

 


Livro:
The Reagan Revolution

Autora:
Prudence Flowers


Ronald Reagan teve que se deparar com a estagflação, o desemprego e a turbulência econômica. Para tal, usou corte de taxas, diminuiu o orçamento dos programas sociais, tomou medidas anti-sindicalistas e colocou uma agenda desregulatória. Com isso, a diferença entre ricos e pobres aumentou bastante nos Estados Unidos da América.

A The Heritage Foundation defendia uma linha econômica supply-sider, onde deveria existir um corte de taxas para os ricos e os grandes negócios, além da desregulação da indústria. Isso, segundo os especialistas, levaria ao crescimento econômico e reduziria o desemprego. Além disso, o dinheiro poderia parar na inovação e investimento. Fora isso, existia a defesa do conservadorismo fiscal.

Reagan se espelhava na Margaret Thatcher que defendia uma linha de pensamento semelhante em suas políticas: corte de taxas, desregulação da indústria, limitação da burocracia governamental, redução do poder sindical e corte no gasto governamental.

Convém mencionar que a The Heritage Foundation não possui só o Project 2025, como auxílio, nessa época, Reagan com um documento de 3.000 páginas chamado "Mandate for Leadership".

As crises nos movimentos conservadores eram constantes. Falava-se das pautas dos conservadores sociais — leia-se: defensores do tradicionalismo moral —, o que fez Reagan responder que não existia uma agenda social, uma agenda econômica e uma agenda da política exterior, mas que todas eram uma só agenda.

Cortes de taxas eram feitos para os grandes negócios, para os ricos, para a classe média e para a classe trabalhadora. Reagan acreditava que reduzir taxas e cortar programas sociais eram um incentivo para que as pessoas voltassem a trabalhar, visto que os programas sociais levavam a dependência do Estado.

Apesar da diminuição nas taxas e a ideia de diminuição do gasto governamental, houve um aumento no setor militar. Entre 1981 e 1982, o orçamento militar cresceu 17.5%. Além disso, o gasto federal cresceu significantemente, o deficit anual e a dívida nacional triplicaram.

O governo seguiu atacando sindicalistas e programas sociais. O resultado foi extremamente impactante para a classe trabalhadora, para os desempregados, para os pobres, para as minorais raciais e étnicas. Além disso, Reagan fez um corte em um programa que dava almoço para estudantes, fazendo com que 3 milhões de estudantes deixassem a escola até o final de 1982. Fora isso, graças a uma medida de Reagan, apenas 45% dos desempregados conseguiram pegar o seu auxílio desemprego. 

As medidas de Reagan, antisindicalistas e pró-desregulação, aumentaram drasticamente o processo de desindustrialização que havia começado nos anos de 1970. Profundas divisões sociais se radicalizaram: apenas certos setores industriais, os grandes negócios e as elites ganharam com as medidas. Os ricos foram os que mais ganharam com os cortes de taxas, fora isso, os especuladores de Wall Street também. A face mais cruel era apresentada para os desempregados, para os pobres e para os moradores de rua.

quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Acabo de ler "The Reagan Revolution" de Prudence Flowers (lido em Inglês/Parte 1)


 
Livro:

The Reagan Revolution


Autora:

Prudence Flowers


O surgimento da chamada "New Right" (Nova Direita), ou direita religiosa ou conservadorismo social, foi marcado por uma série de acontecimentos. No geral, além do tradicionalismo moral, essa direita se opõe ao grande governo e a importância do Estado de bem-estar social.


Quando pensamos sobre a New Right, também pensamos em Ronald Reagan. E aqui cabe um aviso: Ronald Reagan, ao contrário da noção popular, não era um mero ator de filmes B. Ele tinha dupla formação em economia e sociologia. Tendo sido formado pela Eureka College. Além disso, há o fato dele ter atuado em cinquenta filmes. Ter sido, na primeira parte da vida, um democrata que apoiou Franklin Delano Roosevelt (FDR). O mesmo FDR que criou o New Deal e que aumentou bastante o tamanho do governo em suas áreas de atuação.


É fato conhecido que Ronald Reagan trabalhou para a GE (General Electric), onde tinha que ler conteúdo anticomuninista, anti-New Deal e revistas conservadoras influentes (como a National Review do William F. Buckley Jr.). As falas de Ronald Reagan refletiam as posições da GE: anti-regulação, anti-sindicato e anti-welfare (contra o Estado de bem-estar social). O que se tornou algo crescentemente político.


Naquele tempo, alguns setores conservadores se opunham ao FDR, o New Deal e o keynesianismo. Eles viam esse programa como corrompedor do capitalismo laissez-faire e da mão invisível do mercado. Eles opunham o Estado de bem-estar social com a caridade privada, a comunidade e a iniciativa individual. Além disso, viam que o New Deal refletia a centralização de poder dos países comunistas. Eles viam no Partido Republicano um espaço pró-mercado, para defender o governo pequeno, para propor pautas anti-regulação e para se opor ao Estado de bem-estar social.


Vamos ver um quadro mais geral dos Estados Unidos e da direita americana.


É evidente que nem todo republicano e nem todo conservador era assim. Por exemplo, Dwight D. Eisenhower — ex-presidente dos Estados Unidos — defendia o chamado "republicanismo moderno". Ele propôs a expansão do Estado de bem-estar social, investimento em infraestrutura, uma defesa cautelosa dos direitos civis, criou a NASA e conciliou os princípios conservadores com a aceitação prática do papel do governo federal nas necessidades sociais.


Um dos elementos a serem mencionados é o Barry Goldwater (escritor do livro The Conscience of a Conservative). Ele defendeu a privatização dos programas de segurança social, os programas populares do governo, o New Deal e disse que o movimento dos "Civil Rights" (direitos civis) deveriam ser matéria dos estados — Goldwater perderia para o sucessor de Kennedy, Lyndon B. Johnson (conhecido pela "Guerra à Pobreza"). No mesmo período, Nelson Rockefeller falou sobre o Partido Republicano estar sendo tomado por fanáticos.


Richard Nixon (Republicano), quando eleito defendeu leis de proteção ambiental, a criação de novas agências federais, a renda universal básica, inicialmente aprovou medidas para acabar com a discriminação sexual e de raça, tendo apoiado até ações afirmativas e cotas. É importante lembrar os republicanos rockefellerianos que defendiam o planejamento familiar, as legislações protegendo o meio ambiente e os direitos civis. Além disso, existiam feministas republicanas (ERA: Equal Rights Amendment), que defendiam o direito ao aborto, ações afirmativas e um financiamento federal para o cuidado de crianças.


Esse quadro, bastante interessante e até estranho ao brasileiro médio, sobretudo para a esquerda que odeia o Partido Republicano e não conhece as diferentes vertentes conservadoras.


Quando a chamada Nova Direita (New Right) surgiu, eles fundaram várias organizações, institutos e think tanks. Dentre eles, está a The Heritage Foundation — conhecida pelo Project 2025 —, o The Committee for the Survival of a Free Congress e o The National Conservative Political Action (NCPAC). Eles defendiam hma moralidade tradicional, condenavam as mudanças sociais, sexuais e de gênero que surgiram após a segunda guerra mundial. Defendiam os valores da família tradicional, sendo evangélicos conservadores ou brancos cristãos fundamentalistas.


Um dos fatores centrais para a vitória neoconservadora foi a Electronic Church de Pat Robertson (Christian Broadcasting Network). Ali existia uma rede de televangelistas que tinham alguns focos e pautas. Eles condenavam a segunda onda do feminismo e a liberação gay. Acreditavam que a segunda onda do feminismo era anti-família, anti-criança e pró-aborto. Além disso, houve quem equiparou a homossexualidade à pedofilia.


Reagan conseguiu se eleger como a figura da Nova Direita (New Right), trazendo o neoconservadorismo para o mainstream, unindo diversas facções do Partido Republicano, energizando o tradicionalismo moral e terminando com a coalizão do New Deal.