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quinta-feira, 21 de julho de 2022

Branco

Eu amo a minha vida. Sério, eu realmente amo a minha vida. Sempre acordo de manhã, tomo meu cafézinho e dou uma corridinha para ter aquela vidinha mais saudável. Vejo meus vizinhos brancos, que me tratam com alguma diferença que não sei de onde vem. Só que como a manhã é cinzenta e bela, já que lembra a cor branca, então está tudo bem. E ser branco é tudo o que importa.


Depois que dou uma corridinha, tomo meu banho em meu banheiro branquinho. Uso a minha escovinha branca, pego a minha pasta de dente branca. Logo depois, dirijo-me ao meu trabalho com meu carro branco. Saio de minha residência branca, da companhia de meus vizinhos brancos e vou para o bairro branco, rico, sofisticado e de pessoas brancas em que trabalho. É tão bom viver de dia, já que a noite é escura e isso eu não aprecio.


As pessoas de meu trabalho são ilustres, inteligentes e brancas. Todas vieram de boas famílias brancas e vivem uma vida branca, bela e moral. Classe média baixa para cima. As pessoas de meu trabalho? Elas são ilustres e progressas, tal como eu sou ilustre e progresso. Não há incivilidade e muito menos fuga desse padrão de beleza tão bom quanto necessário. Não temos “mal dialeto”, não temos “dialeto marginal”. Falamos um português tão hegemônico quanto certo, tão hegemônico quanto deve ser a norma clara. Embora eu veja, em meus colegas brancos e ilustres, um certo afastamento de minha pessoa – tal como se a eles eu não pertencesse.


De noite chego em casa. Chego em casa meio cansado, mas feliz que sou um trabalhador honesto e uma pessoa de respeito. Uma pessoa entre pessoas brancas, trabalhadoras e corretas. Tomo outro banho, olho para meu espelho e vejo que a minha cor é preta. Minha cor é tão preta que me dá nojo. Como pode uma cor de pele ser tão escura? Tão escura quanto corrupta. Tão escura quanto preta e tão preta quanto desnecessariamente preta? Não me conformo com tamanha escuridão. Cuspo no espelho, tal como se cuspisse em mim mesmo. Eu não suporto o peso preto de minha imagem preta. Soco-o por não aguentar tamanha ousadia. Quebro o espelho, mas queria mesmo era quebrar a mim mesmo. Minha mão sangra, o sangue sai de minha mão negra. Meu soco é um soco simbólico para e contra a coloração duvidosa de minha própria pele. Para me lidar com o sofrimento, para me lidar com essa diferença grosseira, pego uma faca e enfio-a em minha garganta para que toda essa coisa cesse.


Ah, espero que o céu, seus habitantes, Deus, o Menino Jesus sejam todos brancos tal como meu desejo é branco, tal como a minha felicidade é branca. Só que não tenho certeza se vou mesmo para lá, já que creio que o lugar apropriado para mim é um local tão escuro quanto a minha pele defeituosamente escura.

quarta-feira, 6 de abril de 2022

Diário /sig/ #1

 


Olá, esse é um diário do meu desenvolvimento pessoal. Resolvi fazer um pois minha vida está uma merda e muitas coisas precisam mudar. Minha relação com as pessoas é muito dependente, logo acabo exagerando na doce da dependência afetiva e afastando pessoas com meu jeito afetado. Fora o fato de que estou ficando com um corpo feio e fumando muito cigarro. Além de que tenho nojo pela minha imagem refletida no espelho e gostaria sinceramente de ser outra pessoa. E, claro, não tenho um emprego e durmo ando dormido mal pelo vício no celular. Quero me tornar uma pessoa mais realizada, seja no sentido físico, profissional, financeiro, ético, sexual, acadêmico, romântico e lá vai uma série de coisas. Para isso, resolvi me desenvolver como pessoa. Então nada melhor que ter um diário voltado a esse crescimento para pensar todos os dias nisso e contabilizar isso, lembrando sempre que devo ser uma pessoa mais realizada e completa.

Hoje eu terminei um curso sobre a cristandade medieval do prof. Carlos Nougué. Além disso, fiz minha acordada matinal me alongando e pagando dez flexões - o efeito disso é benéfico pro corpo, já que já "acorda o espírito energético do corpo" e melhora o humor. De tarde, li um pouco e também malhei relativamente bem, pulando corda por vários minutos e pagando três séries de dez flexões, fora dez abdominais - a normal, a direcionada para esquerda e para direita. Depois disso, tomei um banho gelado e comi um lanche. Agora pretendo desligar o celular e ler até sentir vontade de dormir.