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quinta-feira, 21 de julho de 2022

Prelúdios do Cadáver #15 - Falando Obviedades (e Seriedades)

Publicado em  06/04/2019


Existem certas ideias que vêm me atormentando nos últimos tempos. Não dá para refletir a vida intelectual sem refletir a própria vida. Escrevo essa breve nota no sentido de produzir uma pequena reflexão em mim mesmo.


Piaget dizia que o meio fere o organismo, esse organismo adapta-se depois da lesão que é sofrida. Com isso ele queria dizer que o organismo (nós) adapta-se ao meio (sociedade) no sentido de ser-lhe útil. O que a sociedade quer influencia em nós um dado padrão de comportamento. Isso pode ser bom ou ruim. Se, em nosso meio social, exigem-nos o amadurecimento e o cultivo da cultura – no sentido pedagógico e intelectual de cultura –, damo-nos por florescer belamente. Agora, se é o oposto, se o nosso meio social conspira para que caiamos numa vida desregrada, numa vida sem metas e nem fins nobres, acabamos por ir decaindo junto ao nosso meio.


Essa constatação fez-me pensar nas considerações que meus pais me davam quando eu era menor, e eu sempre feria aquilo que meus pais recomendavam-me. Eles me diziam para que eu não me misturasse com determinado tipo de gente, para que não praticasse dadas ações e para que eu não vivesse de tal forma. O tempo foi passando e a má cultura brasileira foi me influenciando para um mau caminho. Cometi, então, inumeráveis erros que, hoje, na minha idade, arrependo-me severamente. Algo que, se um dia eu tiver um filho, tentaria evitar a qualquer custo.


Trata-se de tudo, rapazes. Os locais que ficamos na faculdade, os livros que lemos, os locais que frequentamos na internet. Tudo isso conspira para o mal ou para o bem. Sêneca dizia que a vida não era curta, mas que utilizamo-la mal. E por utilizarmos a vida mal, a vida passa sem que a gente perceba. O tempo está passando e estamos confinados em nossa própria ignorância, o tempo passa e estamos presos aos nossos vícios – ou pecados, se preferir.


Então aí vai um conselho de quem se tocou: tomem cuidado com o que leem, com as suas ideias, com as pessoas que acompanham, com tudo que lhes influencia. E, não tenham dúvida, a maior parte da cultura brasileira padrão conspira contra você.

Prelúdios do Cadáver #14 - Breves Reflexões sobre os Últimos Tempos

 Publicado em 22/10/2018


Olá, meus amigos. Hoje vim aqui agradecer especialmente ao Contra os Acadêmicos e ao Anarquismo Individualista por estarem me acompanhando em minha longa viagem. Graças a vocês, entrei em contato com pensamentos que antes me eram totalmente desconhecidos.


Não sou uma pessoa fácil de lidar. Sei disso. Fico fazendo piadas inoportunas e sou uma pessoa pouco séria. Particularmente, esse é um traço de minha personalidade que não consigo mudar. Às vezes parece que sou uma pessoa incontrolável. Cresce em mim uma profundidade que antes me era estranha. Parece que, mesmo tendo uma personalidade cínica e zombeteira, existem traços de seriedade que vão se conectando a mim.


Não sinto mais falta do tempo passado. Dalgum modo, confortei-me com o presente. Aceitei-o, para ser mais sincero. Eu não me via como uma pessoa forte, achava-me um fracassado. Dir-se-ia que era pessimista comigo mesmo, todavia hoje as pessoas reconhecem minha força. Sei que não estou no meu auge, ainda falta muito para eu alcançar a sabedoria, só que me sinto confortável agora.


Quarta-feira passada, eu cai e machuquei a cabeça. Fui para um hospital e fiquei bastante tempo lá. Tomei alguns pontos na cabeça. Foi em minha solidão que eu percebi o quanto eu tinha me tornado forte. Percebi o quanto eu tinha amadurecido e meus gostos tinham mudado. Pude olhar, mental e retrospectivamente, a minha jornada. Falar-se-ia que dei-me conta de mim mesmo. Cheguei num ponto de autoconsciência. Aquilo que me era impossível, agora me é possível. Parece que estou finalmente ficando mais maduro, mais adulto.


Antes, eu não conseguia acompanhar ninguém. Hoje, há quem diga que não consegue me acompanhar. Isso significa muito para mim. Quando eu estava na sexta e na sétima série, muitas pessoas zombavam de mim alegando a minha burrice. Hoje as pessoas ficam espantadas com a inteligência que fui desenvolvendo.


Hoje decidi que não quero mais continuar numa constante competição para mostrar o aumento de meu nível intelectual. Quero aumentar meu nível intelectual por amor ao saber. Não quero mais amadurecer para mostrar as pessoas o quanto sou sério, quero amadurecer por amor à sabedoria.


A quem me acompanha, muito obrigado. Obrigado também a quem leu. Vou continuar amadurecendo.


Prelúdios do Cadáver #13 - Não Caia Nessa

Publicado em 09/10/2018


1- Versatilidade/Ecletismo:Na vida intelectual, a versatilidade indica ou o caráter crítico-investigativo ou a bunda-molice de querer agradar a todos (e quase sempre ela cai nisso). O errado não é ser versátil, mas sim achar a versatilidade uma virtude intelectual em si mesma e cair na relativização de tudo. É errôneo estudar todo tipo de tese e achar que todas possuem igual valor entre si (ou achar que não são controversas em dados aspectos) e, ainda por cima, declarar-se uma pessoa ponderada por ter estudado todas as teses possíveis e achar todas são esplêndidas demonstrações da racionalidade humana. É preciso que haja uma versatilidade, mas com uma hierarquização de valores e crenças, numa busca pela Verdade.


2- Monomania Intelectual:(Atenção: falo de intelectuais das humanidades, não sei se o mesmo conselho servirá para alunos de ciências exatas, todavia espero que sim). Recentemente tenho estudado sobre a vida intelectual e sobre como uma pessoa pode dar uma formação para si mesmo ou para outrem. O fato é que uma condição essencial para a intelectualidade é a interdisciplinaridade: o estudo dum universo de disciplinas diferentes. Ou seja, não fique só lendo romances ou estudando (coloque uma matéria de humanas/exatas aqui), faça uma boa alternância evitando a monomania intelectual.


3- Tome cuidado com "Esse autor está ultrapassado":Nada pesa mais do que dizer que algo está ultrapassado e que, por consequência lógica, não vale a pena ser estudado. Com tal argumentação descabida, por exemplo, vi freis católicos dizendo que não estudavam São Tomás de Aquino e Santo Agostinho pois a teologia deles estava "muito velha". Tal absurdidade não deveria ser dita num convento, mas sim num hospício.


4- Seitismo Intelectualizado:"Ain não vô lê autor x pois ele é socialista/liberal/keynesiano/pós-moderno/conservador"

Para de frescura e vá ler pensamentos opostos ao seu. Pensamentos que levam ao estudo duma única escola nunca terminam bem, sempre acabam por fanatismo e monomania, um fechamento do ser numa bolha protetora. A verdadeira tolerância e criticidade só surgem a partir duma investigação de multiplicidades conflitantes/harmoniosas. Não adianta pregar tolerância e não praticá-la em âmbito intelectual. É preciso buscar entender aquilo que se defende ou ataca antes de defendê-lo/atacá-lo.


5- Buscai o entendimento e só depois criticai:Não interessa qual autor você lerá, será necessário abster-se de seus julgamentos e concentrar-se na compreensão do autor. Faça isso estudando autores de escolas de pensamento diferentes, assim aumentará a sua gama de cultura e leitura de mundo. Há também o benefício de não ser um seitista de uma única escola de pensamento.


Conclusão:

Esses são cinco conselhos bem básicos, conselhos que são apenas de caráter introdutório, mas espero sinceramente que lhes sejam úteis.

Prelúdios do Cadáver #12 - Sem Sentido

Publicado em 05/10/2018


Sonho quente que vem me atormentar, por que você é sempre tão assim? Ó aranha robusta, aqueça-me a volúpia. Laranja, fanta laranja de domingo. Voando pelo alto céu, caindo reversalmente num abismo em direção ao Sol e a total aniquilação.


Menina, amor meu. Menina, sonho meu. Menina, sua corporeidade antropomórfica é tão atrativa. Seu delicioso aspecto cervulíneo. Sua comissão de frente é tão saliente. O que faria, se não desejá-la? Desejo-a intensamente. Desejá-la-ia ainda mais se tu me deres a chance.


Ah, os sonhos da juventude. Pipocando em minha cabeça. Supõe uma condição irrealista. Ó minha maldição idealista. Tu me ferras! Ferraste-me pois nunca poderei alcançá-la. Por que tenho tantos sonhos vãos?


Doce de leite, querido doce de leite. Como com um bocado de goiabada. Que delícia, delícia fundamental. Hey, hey, hey! Delicioso doce de leite, minha vida amarga tu vais curar.


Olá, olá, senhor Sol. Como o senhor está? Está bem quente aí? Ah, desculpe-me, o senhor é o próprio calor. Perdoe-me a incoerência!


O Sol vai-se. A noite chega. Meus sonhos eram ilusões. Eu não sabia que eram, por conta disso estou triste. Sinto-me destruído por dentro. Eu quis seguir o impossível, descobri que quanto maior a idealização maior é a queda. Eu quero explodir todos vocês. Quero aniquilá-los! Eu não suporto isso!


Querida Lua do céu! Vou chegar até a ti. Beijá-la-ei! Tu serás meu eterno conforto. Minha alma repousar-se-á em ti!

Prelúdios do Cadáver #11 - Velhas Mentiras

Publicado em 06/10/2018


Lembro-me que, em 2016, eu era um jovem que adorava a justiça social e estava integrado num movimento. O fato é que, por má ou boa sorte, sempre tive uma certa capacidade de transparência interna. Sabia-me mau-caráter. Vejam só, eu era um justiceiro social e, ao mesmo tempo, não me sentia uma excelente pessoa, um exemplo social e cívico.


O que me magnetizava na justiça social era a capacidade de livrar-me de minhas próprias mazelas morais. Sabem como é, tirar o peso da consciência, do juízo de valor que me culpava, algo que tanto me pesava. A capacidade de encontrar culpados e de me livrar dos encargos da vida adulta que ia se construindo era confortável para mim. Havia, também, outro fato: eu sentia com prazer o gosto dos expurgos que eu fazia com os meus “colegas de luta”. Apontar o mal em outra pessoa, colocar-se como um exemplo a ser seguido, destruir as pessoas com as mais grotescas acusações. Tudo isso era uma rotina para mim.


O engraçado, nesse meu período existencial, era a forma com que eu lutava contra o moralismo. Era engraçado pois eu era moralista e, ao mesmo tempo, não me sabia moralista. Acreditava que a única moral e o único moralismo era o conservador. No fim, descobri amargamente que eu era um moralista progressista.


Minha convicção sempre foi a de que eu estava lutando para “um futuro melhor”. Se a minha ideia era certa, valia-me de todos os meios possíveis. Sempre justificando os crimes mais vis, as mais odientas acusações, glorificando criminosos e assassinos. A convicção levou-me a ser um clássico fanático. Defendi, então, o socialismo, o comunismo, o anarco-comunismo. Fui filiado ao PSOL (Partido do Socialismo e Liberdade). Tudo em minha vã vida peregrina da dita “justiça social”.


Hoje pergunto-me o que são esses jovens justiceiros sociais. Seriam tal como meu antigo eu? Ou seriam mais cegos que meu antigo eu? Espero, sinceramente, que não sejam mais cegos do que eu. Espero que sejam céticos a ponto de duvidarem de si mesmos e de suas crenças para que, por fim, amadureçam intelectualmente.

Prelúdios do Cadáver #10 - Bissexualidade, Conservadorismo e Cristianismo

Texto publicado em 30/08/2018


Estou no Contra os Acadêmicos desde que vi o Vitor Matias anunciar o grupo. Quando entrei, em meu perfil antigo, o grupo não tinha nem cem usuários se não me engano. Vejo que a sexualidade é um importante assunto no grupo, quase nunca comentei nada nesse longo tempo que estou aqui e, então, agora resolvi falar um pouco de minha orientação sexual, de minha religião (cristã) e do movimento LGBT.

Esclareço, desde já, que isso não é uma apologética ao movimento LGBT e também não é uma apologética ao movimento anti-LGBT. Essa minha "argumentação" mais parece uma confissão de uma pessoa enlouquecida com a própria condição que lhe foi posta e que fica oscilando entre o bissexualismo e o heterossexualismo forçado. E ficando-se com a questão: é mais natural seguir meus impulsos e ser plenamente bissexual ou viver numa luta interna para reprimir meu lado homossexual e viver numa heterossexualidade forçada?

Sou bissexual. Minha orientação sexual é motivo de angústia para mim e para meus familiares. Meu desejo sexual é, para mim, um pecado que não consigo me retirar. Resumidamente: minha sexualidade é uma maldição. Muitas vezes, caio numa contradição brutal: quero e não quero ser bissexual. Por vezes, tomo a minha orientação sexual por natural; por outras, como inatural e pecaminosa. Sei que nasci com ela, não sei o que fazer com ela. É-me uma sorte ser bissexual, pois assim posso ignorar uma “parte de mim” e ter uma “vida normal”. Todavia estou sempre em contradição comigo mesmo: nunca sei o destino que tenho que dar a minha orientação sexual.

Como disse, eu oscilo demais. Muitas vezes, há um instinto que me leva a pensar que devo achar a minha orientação sexual normal e cometer atos sexuais que me são, ao mesmo tempo, uma gratificação e um pecado mortal. Noutras vezes, uma razão ressoa alertando-me para que eu não pratique a sodomia. Vivo na constante exitação, ora achando o bissexualismo normal, ora achando-o doentio.

Sou bissexual e quem está a me acompanhar há um bom tempo sabe disso. Houve um tempo em que eu falava de minha sexualidade abertamente, hoje quase nunca falo – falei recentemente, mas para atacar argumentativamente um militante LGBT. Isso, minha omissão a respeito de minha sexualidade, acontece por causa de meus desentendimentos para com a “tribo urbana LGBT”. Não quero ser associado a superficialidade e militância que ela, a tribo urbana LGBT, faz. Então prefiro não falar de minha orientação sexual pois evita qualquer tipo de estereotipação.

Escrevi “tribo urbana LGBT” ao invés de “comunidade LGBT”. Há uma razão para isso: existe dentro da comunidade LGBT uma tribo urbana LGBT que tem a sua própria gíria, a sua própria pauta e o seu próprio modo de ser e de se vestir. Como acho tosco a tribo urbana LGBT e odeio as suas imposições, prefiro não tomar partido falando de minha sexualidade abertamente. O fato é que, como toda tribo urbana, ela é uma seita composta por uma microideologia.

Por que uma seita e por que uma microideologia? Fácil. Uma seita pois ela isola-se em si mesma, não permitindo o contato com pessoas fora de sua bolha. Como toda bolha, ela é agressiva com desertores e contra pessoas que não se encaixem nela. Uma microideologia pois a mesma releva-se em sua particularidade, a pauta LGBT, e tenta suas ações baseadas nesse microcosmo. Tal como o movimento negro é uma microideologia, o movimento feminista também é uma microideologia, o movimento LGBT também deve ser considerado uma microideologia.

O pecado distorce a visão. Como cristão, não sei como enxergar a minha orientação sexual. Sei que, desde novo, tenho-a como fiel acompanhante. Se a minha orientação sexual de fato é um pecado e o pecado corrompe a visão, como posso enxergar a Verdade? Sempre acabo caindo instintivamente no desejo pelos dois sexos. Sempre que penso em combater o LGBTismo, penso que estou a combater a mim mesmo. No fim, sempre acabo por realizar a minha perversão.

Como cristão, não sei qual argumentação teológica devo seguir. A minha orientação sexual é um dos motivos pelos quais oscilo entre o catolicismo e o protestantismo, aplicando ora uma modelo tradicional, ora um modernista que compactue com a minha sexualidade. Frequento a missa semanalmente e ainda fico para o grupo de jovens. Sinto-me, então, um hipócrita perdido na tibiez. O fato é que nunca poderei ser plenamente católico se eu continuar assim.

Sobre a “cura gay”, já ouvi relatos de homossexuais que queriam ser, no mínimo, bissexuais para poderem engravidarem uma mulher e terem filhos. Também vi muitos que queriam serem heterossexuais pois não gostavam do comportamental dos outros homossexuais.

Os chamados “grupos homossexuais ou LGBTs”, sejam eles virtuais ou reais, são imersos numa promiscuidade, numa liberalidade e numa superficialidade que faz com que certos membros da comunidade LGBT sintam-se enojados consigo mesmos e com o restante da comunidade. O sexo fácil é, para todo integrante da comunidade LGBT, não um mero jargão e sim uma prática incrivelmente documentada pela internet indicando vários “points de pegação”; tal liberalidade sexual é muito equidistante da liberalidade heterossexual. Dito isso, é natural ficar enojado com tamanho indiferentismo para com o afeto. O sexo puro não é sinal de liberdade, mas sim dum impulso bestialógico que escraviza corpos e almas. Então, em minha sincera opinião, querer ver-se livre duma comunidade tão bestializada pelos impulsos é muito natural e, até mesmo, uma virtude.

Se eu pudesse escolher, não seria bissexual. Sempre tratei a minha parte homossexual com uma profunda angústia e arrependimento. Sempre que praticava a sodomia, sentia-me abismado e cortado ao meio. Minha consciência moral diz-me que estou a praticar um ato criminoso, um ato imoral. Para mim, minha sexualidade não é motivo de orgulho e sim de dor e sofrimento.

Já tentei falar com minhas psicólogas sobre a sexualidade, elas tomaram como algo natural e que devo agir “naturalmente” com a minha orientação sexual. Muitas vezes, como já escrevi, entro por essa linha de raciocínio. Por outras, culpo-me.

Dito tudo isso, esse é um dos meus maiores dramas existenciais. Uma questão que resumir-se-ia no “Ser ou Não-ser: eis a questão!” de minha existência. Deixo, convosco, as admoestações e argumentações a respeito disso. Agradeço, antecipadamente, a todos que lerem e que responderem essa publicação.

Prelúdios do Cadáver #9 - Confissões do Subsolo

Texto publicado em30/08/2018


Escrevo com o objetivo de me livrar da culpa. Farei uma sequencialidade de confissões, como um ato penitente e cristão. Espero não chatear-lhes.


Sempre fui um homem melancólico. Perdoem-me por isso, mas tenho que desabafar. Espero que sejam compreensivos; mas peço-lhes para que sejam ásperos comigo. Eu não mereço perdão pelas coisas que fiz e que faço, todavia espero uma redenção e uma oportunidade de vida nova.


Omitirei nomes. Não falarei de tudo expansivamente, falarei de tudo genérica e contidamente. Eu vim a vós confessar-me. Meu peito agoniza em agonia. Preciso dizer o que reside dentro dele, preciso contar-lhes sobre o lamaçal que há tempos me perturba. Contar-lhes-eis coisas que para vocês, podem ser banais; conquanto que para mim, são abissais.


Estar comigo é estar numa permanente competição. Tudo o que quero é monopolizar tudo em minha volta. Por vezes, por egolatria. Por outras, por auto-desprezo. O fim é a atenção, o meio pode ser alternado conforme a necessidade. Corto agora meu coração, para que os senhores possam sentir o gosto de minha torpe alma corrompida. Eu, desde já, peço-lhes desculpas pela minha podridão e espero que os senhores não sejam tais como eu.


Quando eu tinha uma namorada, tomava-a como um objeto de poder e de valorização social. Não amava-a, amava o sentimento que ela nutria por mim pois isso aumenta o autovalor que tinha por mim mesmo e meu valor social. Tinha-a por objeto de redenção, seja pessoal, seja social. Manipulei-a com as frases e poesias de amor, de modo que ela acreditou que eu realmente a amava. No fundo, ela era uma ideia, mais um deleite intelectual.


Quando uma garota que conheci foi presa, notabilizei-me por dar palavras de apoio e por falar quanto eu a amava. Na verdade, não nutria por ela sentimento algum. Só queria simular uma grande dor para que eu obtivesse a dita atenção. Tudo para mim, ronda sobre isso. Só que egoisticamente ter o mundo me glorificando. Meu impulso é podre, minha alma é doentia, meus fins são vis. Tudo em mim é corrupção.


Toda vez que frequento um maldito grupo social, vou-me embora. Quando vou embora, ninguém terá de mim mais mensagem alguma. Isso acontece por eles não me serem mais úteis. Minha vida é um constante fugir. Encaro tudo como fases que se acabam e não voltam mais. Eu tento não retornar a tudo em que estive antes. Sinto que isso pode ser resumido em uma palavra: covardia. Quero acreditar que sou melhor do que antes, quando na verdade estou pior do que antes.


Quando uma colega virtual minha suicidou-se, tratei de fazer alarde. Queria demonstrar o quanto a minha dor era grande e, novamente, só queria atenção. Sou um magnetizador depressivo, sou uma escória ululante. Eu sinto muito, ó doces humanos, que precisam estar ao meu lado, que saciam-se do mesmo ar que respiro.


Peço a Deus e a todos vós que perdoem os meus pecados.

Abraços.

Prelúdios do Cadáver #8 - Breves Notas Sobre Tudo

Texto publicado em  25/08/2018


Relutei em escrever esse texto, todavia achei-lhe absolutamente necessário. O Brasil vem passado por um incessante movimento de politização. Usualmente tendo a não expressar a minha visão política e, quando eu chego a expressá-la, expresso-a relutante e timidamente.


Sou uma pessoa que está em grupos políticos dos mais variados gostos. Meu facebook é, verdadeiramente, uma diversidade filosófica e ideológica ululante. Acontece que, após ver e ler séries de repetições argumentativas rasas, fiquei decepcionado com a rasura e incapacidade crítica de meus queridos amigos/colegas virtuais. Claro que alguns destemidos salvam-se perante esse caldeirão de lodo.


Também relutava em criar qualquer texto durante a minha jornada de retiro intelectual, todavia não estava aguentanto a atmosfera tenebrosa que provejetava-se em minha querida rede social. Era evidenete também as consequências que essas movimentações também faziam no mundo real.


1. O NTC

O NTC é uma sigla composta por três nomes: nacionalismo, tradicionalismo e cristianismo. Juntei-as pois os seus simpatizantes e ideólogos caracterizam-se por uma condição: o desprezo a modernidade e tudo aquilo que a modernidade representa.


Os nacionalistas não odeiam a “modernidade” ao todo, mas têm certo desprezo dela por causa de sua incapacidade de respeitar as barreiras territoriais, por causa de sua incapacidade de preservar a diversidade cultural, por causa de seu desrespeito as tradições – e, nisso, acham apoio dos tradicionalistas. Os tradicionalistas fazem por motivos razoavelmente parecidos com os nacionalistas, embora mais focados na tradição de seu país. E os cristãos, nesse balaio, acham que a moral cristã, que querem impor a todos, está sendo substituída por uma moral anticristã.


Há também um movimento cristão católico que defende a criação de um Estado confessional – leia-se: Estado declaradamente católico. O mesmo Estado favoreceria a Igreja Católica. O Estado também seguiria a moral católica. Isso, é claro, é um devaneio teocrático reacionarista. A verdade é que o movimento cristão católico – tradicionalista assumido ou não – defende algo que seria muito similar ao que acontece em países islâmicos, só que de maneira cristã. Nisso há uma divisão entre os católicos não-integralistas e integralistas, que defendem quase a mesma coisa só que de maneiras diferentes. Há uma rixa entre eles. Existem católicos que defendem que o integralismo é uma doutrina herética, isso são outros quinhentos e não vou me delongar nesse assunto.


Antigamente, havia uma divisão clara entre o nacionalista e o patriota. Hoje em dia há uma confusão. O patriota, em seu emprego terminológico antigo, era uma pessoa capaz de amar o seu país e respeitar o que pessoas de outros países também sentiam pelos seus países; o nacionalista, no passado, era tido quem amava seu país e aceitava qualquer decisão do seu país sem titubear, o nacionalista não conseguia compreender o que pessoas de outras nacionalidades sentiam pelos seus países. Como essas duas empregações terminológicas estão ultrapassadas, prefiro não usá-las aqui.


Quanto ao Brasil, sou pragmático. Prefiro uma economia que seja sustentável, capacitada de fornecer um bom padrão de vida e que dê um bom desenvolvimento tecnológica do que uma fortemente pautada pela defesa irracionalizada dos bens nacionais. Para que eu não seja mal compreendido já digo que sou centrista. Defendo um papel atuante do Estado, só que de forma pragmática e não conduzida por motivos ideológicos maniqueístas.


Sobre a questão tradicionalista e cristã. Oponho-me aferradamente, mesmo que eu seja cristão. Compreendo a separação entre o Estado e a religiosidade, também não defendo a forçação de tradição. Nesse sentido, compreendo que o cristianismo e a tradicionalidade devem serem postas opcionalmente e não forçosamente. É preciso que elas apresentem-se como uma escolha boa e não como uma obrigação feita por meio da coerção que é imposta.


2. O Movimento da Renovação Cristã/Católica Carismática

Antes de começar a falar da RCC, já aviso antecipadamente que não sou um defensor ferraz da “Santa Tradição” e que reconheço alguns méritos da RCC. Tenho uma certa ogeriza e rivalidade para com o movimento carismático. Apesar de muitos de meus amigos saberem disso, muitos não o sabem. Isso acontece também por minha culpa, toda vez que me manifesto sobre o movimento carismático acabo por fazê-lo timida e concisamente.


As minhas razões são simples. Em primeiro lugar, há a presença de técnicas hipnóticas feitas nas orações conduzidas pela RCC, há quem defenda isso como perfeitamente moral e que a hipnose é aceitável nesses casos; mas eu sou contra pelo fato de que a maioria dos frequentantes desses locais não sabem que há técnicas de hipnose no meio de tudo isso e, desse modo, não são capazes de opinar a respeito. Em segundo lugar, a RCC torna o cristianismo em um sentimentalismo vulgar, esquecem-se das meditações existênciais propostas a todos os cristãos e, por conseguinte, tornam o cristianismo em algo que os intelectuais riem apaixonadamente.


Em todo esse movimento de sentimentalização do cristianismo, o velho lema “fé e razão” tornou-se um passado reacionário e não um guia para todo cristão basear-se não tão somente na fé, mas também na boa utilização da razão. Um dos efeitos mais notáveis dessa sentimentalização é criação de cristãos incapazes de refletir, cheios de si e que são ridicularizados pelos mais densamente intelectuais. Muitas pessoas que buscam esperançosamente a salvação, encontram um cristianismo bobo alegre e sentimentaloide que lhes causa nojo e afastamento.


3. Olavo de Carvalho

Há muito tempo atrás, criticava ferrenhamente o dito cujo. Todavia não tinha estudado a sua obra. Após ler dois livros dele e estar lendo o terceiro nesse momento, vejo que a maioria das críticas que o autor recebe são estúpidas e, até mesmo, inválidas. Reconheço que Olavo é uma pessoa extremamente inteligente, que possui uma estilística insuperável e uma capacidade de argumentação superior a maioria gritante de seus odiadores. Acho-o um autor extremamente agradável de se ler, embora não concorde com tudo que ele diz. Efeito semelhante ocorre com Chesterton, pelo qual também nutro grande admiração intelectual.


4. Pós-Modernos

Nos últimos tempos, tenho lido alguns autores pós-modernos. Incluindo aí autores pós-modernos nacionais e internacionais. Noto que, quando os leio, vejo muita coisa apreciável e, é claro, uma inteligência ilustre. Consigo gostar tanto dos progressistas pós-modernos quanto gosto dos conservadores que leio. Isso me torna meio termo e em cima do muro.


Todavia é-me odiável a maioria de sua militância – tal como é, similarmente, meu ódio a militância conservadora. Há uma vulgaridade, irracionalidade e tribalidade em toda militância, por isso grande parte é constituída por estúpidos homens-massas.


5. A Democracia

Já odiei a democracia de dois modos: como um totalitário e como um libertário. Hoje em dia, ponho-me na defesa dela. Posso dizer que acredito agora na pluralidade de visões, religiosidades, partidos políticos, culturas e tudo o mais. Não substituiria isso por nada.


O movimento antidemocrático concebe-se da incapacidade de muitos brasileiros em estudar e aprender visões divergentes das suas. Essa acusação vai e é perfeitamente cabível para todos os espectros políticos. O problema do Brasil não é a democracia, é a falta de esforço intelectual em aprender a estudar e aprender sistematicamente diferentes escolas de pensamento. Quando houver tal esforço intelectual por parte de nossa população, a maioria das implicações religiosas, políticas, econômicas e intelectuais dissolver-se-ão.

Prelúdios do Cadáver #7 - Uma Reflexão-Desabafo de um Millennial Cansado

Publicado em 31/07/2018

 

Muitas vezes, pego-me pensando na realidade vivencial de meus colegas. Acabo por sofrer um processo de distanciamento do quadro social em que, supostamente, estaria devidamente encaixado.


Trabalhei por cerca de três meses numa associação que envolvia bastante militância política (no movimento negro). Havia uma coletividade ululante dentro de lá. Tudo era um arcabouço de crenças comuns, intelectuais comuns, ações comuns e gostos comuns. Todo movimento conduzia a uma uniformização para com a coletividade. Tal situação fazia com que o meu psicológico deteriorasse e que eu me sentisse totalmente deslocado naquele lugar que, perdoem-me o termo, mais parecia um hospício ou um recanto de bárbaros.


Mas tal movimento de coletivização e destituição da personalidade não é só presente em grupos organizados presencialmente. A mesma é possível dentro de ambientes que encaixam na chamada sócio-virtualidade. Vejo sempre grupos sócio-virtuais criando uma tribalização que sufoca toda individualidade de seus membros. E, quando me deparo com tal situação, acabo por sair de todos esses grupos. É muito comum que nesses grupos aja sempre uma grave repressão para qualquer entonação discordante.


Para mim, é muito claro que a maioria das pessoas que falam sobre criação da personalidade falam de forma mentirosa ou ingênua (para não dizer burra). Usualmente a formação da personalidade dá-se numa adequação a um dado agrupamento que suga a personalidade da pessoa e insere-a numa personalidade coletiva: assim é no movimento negro, no movimento LGBT, no movimento feminista e, em muitos casos, em movimentos religiosos (mais seitais do que religiosidade) e "conservadores" (com aspas para afastar do verdadeiro conservadorismo).


Para muitas pessoas, uma pessoa só possui "personalidade" quando se assume como mulher, negro, LGBT, hinduísta, asiático e passa a viver numa luta histórica e contemporânea entre seus iguais. Tal crença contraria a própria personalidade pois a mesma depende de seu aspecto individual, de sua autoconsciente e capacidade de delimitação e de escolhas próprias.


Surpreendendo-me com tais casos acabo por me afastar da maioria dos agrupamentos sociais; todavia é-me bastante comum ser surpreendido com críticas de pessoas que, ao inserirem-se em minha rede social ou em minha vida, acabam por me repreender por algumas atitudes. O que sinto e o que posso sentir é: um misto de medo e enojamento. Há também uma tristeza em ver pessoas com tanto potencial que se abdicaram de sua própria existencialidade para viverem em nome duma coletividade.


De qualquer forma, desculpem-me por atordoá-los com um assunto para lá de maçante. Espero que, todavia, tenha lhes dado alguma felicidade ou identificação para com o assunto (se é que isso é possível).

Prelúdios do Cadáver #6 - Olá, meus queridos companheiros

Texto publicado em 23/07/2018

Desculpem-me atordoá-los nesse dia inebrio, mas uma ideia nauseabunda floresce em meu peito amargurado.


Essa sensação começou aos quatorze anos e foi progredindo paulatinamente. Conforme eu adentrava no mundo literário, a minha relação para com a socialidade afogou no deslocamento. Contar-lhes-ei tudo ou quase isso.


Muitos dizem que a literatura é uma forma de fugir da realidade. E, para mim, ela é exatamente isso: uma forma de salvação redentora que tira o indivíduo da realidade na qual o mesmo está sujeito. Sempre achei a maioria das pessoas desinteressantes ou vulgarmente simples -- embora que, evidentemente, alguns afirmem que há uma complexidade inabalável em cada sujeito vivo ou morto.


Tornei-me um misantropo. Há uma progressividade misantrópica na qual eu me afundo mais e mais. Já me recomendaram sair de meu abstracionismo, mas toda vez que saio acabo por me decepcionar. Como odeio a realidade, acabo por me isolar em universos ficcionais de meu agrado. Parece que continuarei assim até eu findar minha existencialidade.


O mundo é fútil. As opiniões gerais me enojam. Os jornais são um câncer. A televisão é o inferno sendo transmitido ao vivo e a cores. Meus conterrâneos são entediantes. A sociedade despreza-me e eu a desprezo igualmente. Eles, as pessoas que constituem o corpo social, odeiam meu modo de ser e eu odeio o modo de ser deles.


Ainda mantenho certas coisas que me permitem uma certa normalidade e contato com o mundo ao redor. Tenho um perfil no cancrolivro, mas enojo-o devido a sua capacidade de inserir todo tipo de porcaria. Sei sobre o que se passa em meu país, porém muito parcamente, desinteressadamente e como um objeto que me é de estranheza -- tal como se eu não fizesse parte do mesmo.


Quanto mais leio, mais me afasto. Quanto mais adentro na profundidade, mais estou longe da superfície. Atualmente tenho vinte e um anos. Minhas leituras tornaram-se mais densas e meus gostos mais dotados de especificidades.


Quanto mais vejo meu futuro profissional, mais me vejo um solitário. Mesmo trabalhando, frequentando faculdade e tendo que me relacionar obrigatoriamente com outras pessoas: mais me vejo só. Não me sinto infeliz com isso, muito pelo contrário: fico felicíssimo.


Pois bem, meus senhores, essa é a minha história. Gostaria de saber se essa pequena história também faz parte da vida dos senhores e, se possível, adquirir relatos semelhantes.

 

Desculpem-me atordoá-los nesse dia inebrio, mas uma ideia nauseabunda floresce em meu peito amargurado.

Prelúdios do Cadáver #5 - Eu já não leio Karl Marx

 Texto publicado em 23/06/2018


Há quem veja a história como um eterno círculo a repetir-se. Há quem veja a história como uma continuidade progressa. Outros veem como uma continuidade regressa. Particularmente, creio nas três visões. Todavia não sou um historiador, sou apenas um jovem adulto tentando entender o mundo.


Fumei um cigarro agora há pouco. Fumei na oitava série. Fumei no ensino médio. Fumei na faculdade. Parei de fumar várias vezes. O cigarro, quando entrou em minha vida, era um ineditismo. Agora é um recomeço e uma continuidade. É também um regresso para minha saúde. É o chamado eterno retorno. Voltar a fumar é meio ruim. Odeio o cheiro, mas logo deixarei de senti-lo. O cigarro é-me uma figura intermitente.


Tudo volta. Tudo volta sobre novas formas. E sei que sempre voltarei ao que outrora eu era. Tudo isso sobre um misto de nova forma e velha forma. Pois tudo volta e há de voltar.


Eu já não leio Marx. Fui irradiado com uma alienação burguesa e agora só me importo com a beleza das flores. Como eu poderia ler Karl Marx? Se o amargo café anima meu ânimo. Se a beleza das cores embeleza o mundo. Se os filmes de drama fazem meu ser chorar. Como eu poderia ler Karl Marx? Sou um alienado, um sentimental, um eterno romântico condenado. Eu já não tenho razão! Eu só tenho a chama da paixão!


Despolitizei-me: tornei-me o que eu era antes: um alienado político, um amante da vida, um apreciador dos sabores, um pequeno-burguês. Sou aquilo que meu antigo eu desprezaria, logo serei aquilo que meu novo eu desprezará. E assim vou: como um renegado que sempre reconstrói-se negando-se e aceitando-se.


Por que é tudo assim tão confuso? Não sei. Só sei que é sempre assim e assim sigo meu rumo: numa metaformoseação sem fim.


Prelúdios do Cadáver #4 - Sinto Raiva

Texto publicado em 16/06/2018


O tempo passa e eu não sei o que estou a fazer de minha vida. A única que venho ficado a sentir, nos últimos tempos, é uma cólera abismal misturada com frustração colossal e com um punhado de letargia zumbificante.


Não sinto vontade de nada. Só sinto a letargia. A letargia devora-me por inteiro. Tenho vontade de ficar parado, deitado ou sentado e sentir a agonia consumir-me por inteiro. O tempo escaparia dolorosa e lentamente. Perguntar-me-ia novamente: “Quantas vezes já me senti assim?” ou “Quantas vezes esse ciclo repetir-se-á causando-me dor e sofrimento?”. Então eu teria as memórias invadindo-me, recordando-me amargamente de toda a minha vivencialidade obtusa.


Tento ler e tento escrever contra a minha própria vontade de nada fazer: acabo por escrever essa porcaria de texto mal inspirado. Tudo que crio é vazio. Tudo que crio é sem sentido. Tudo que crio é destituído de sabor. São criações mortas, criações sem vitalidade. Um produto acinzentado e nojentamente preparado. Tudo isso vem de minha interioridade, tudo isso é o próprio estado de minha interioridade.


Ouço só música cristã e harmônica. A mesma não me traz felicidade, a mesma não me traz alívio nenhum, é uma forma de busca de salvação desesperada. Talvez eu busque um escape mágico. Talvez eu busque fugir de meus pensamentos. Talvez eu busque fugir de mim mesmo. Talvez eu busque simplesmente não aceitar a mim mesmo, esse é sempre meu dilema!


Matar-me-ia se eu pudesse. Estrangular-me-ia mil e uma vezes se necessário. Violentar-me-ia se eu pudesse. Toda a angústia cessaria assim que eu cessasse de existir. Não haveria mais letargia. Não haveria mais ódio. Não haveria mais frustração. Violência autocentrada contra a existencialidade nauseabunda. Morte e desistência da futuridade. Só o adiantamento do fim!


Prelúdios do Cadáver #3 - Síndrome de Underground

Texto publicado em 27/05/2018

Sou um otaku no sentido japonês do termo. Isso significa que sou uma pessoa aficionada em certos assuntos e trato-os de forma inusual. Também significa que sou uma típica pessoa ultra singularizada e que causa certa estranheza. Não me envergonho disso, na verdade: orgulho-me disso, o fato é que ainda não estou tão habituado ao deslocamento. Posso optar por uma vida mais normalizada com assuntos que são de meu puro desinteresse e perder gradualmente minha própria personalidade para viver socialmente ou habituar-me com uma certa dose de solidão e solitude que se confundem e entrechocam.

Na vida social, existem uma série de assuntos comuns que dão a chave para a preservação da sociabilidade. O “problema” é que muitas pessoas fogem desse delimitado número de assuntos comuns. Há um fator duplo: sou solitário quando eu quero e quando eu não quero. Ainda não encontrei a solução para a preservação da singularidade e da vida social.

Em certo sentido, sofro com a chamada síndrome de underground. Não sabem o que é isso? É uma síndrome que faz com que eu desgoste de tudo que é majoritário. Há pouco tempo atrás, eu gostava de política. Gostei de política até a maioria das pessoas interessarem-se por política. Quando vi que a maioria das pessoas começaram a se interessar... Entrei em crise, meu mundo underground entrou em colapso e tive de procurar uma nova identidade. Isso prova que caminho para um dado tipo de singularização voluntária e constituinte de minha personalidade.

Acho que meu destino é ficar saindo do caminho da maioria. É meio solitário, mas não vou negar que gosto dessa solitude. Escreverei sobre isso novamente mais tarde. Sinto que preciso de mais experiência para descobrir no que isso dará. Até lá, nada poderá ser afirmado.

Prelúdio do Cadáver #2 - Cultura e Antipolítica

Publicado em 20/04/2018

Os senhores já perceberem que ao consumir muita cultura o interesse por política arrefece? Mário Ferreira dos Santos dizia que toda grande época cultural era período de decadência política.

Atualmente venho percebido que o meu desinteresse em política aumenta proporcionalmente a cultura que consumo.

Lembro-me que, em carga comparativa, consumia assiduamente muito conteúdo político há dois ou três anos atrás. Atualmente tenho lido GK Chesterton, Dostoiévski, (Coletânea de Poesia Grega e Romana que não lembro o nome), Paulo Leminski (li Castro Alves, Machado de Assis, Cruz e Sousa, Vinicius de Morais e Olavo Bilac) e leio dois mangás (um pelo celular e o outro em mídia física).

Há, ao todo, um movimento em busca de boa cultura e um desinteresse proporcional em política. E a cada dia mais eu me desinteresso em utilizar meu vigor intelectual em jornais ou artigos. Não leio quase nenhuma novidade e sofro duma alienação terrível (mas consentida) em relação a contemporaneidade e os chamados assuntos obrigatórios. Não sofro, todavia, com falta de assunto no quesito social e garanto-lhes que consigo até falar mais e melhor.

Tenho também o novo hábito de fazer atividades físicas e de escrever contos de forma gradual. Tudo isso se reflete numa construção duma vida particular e inacessível a maioria das pessoas. Se os meus conterrâneos vão em direções de assuntos comuns e conhecimentos comuns, eu vou em direção a particularidade e acabo numa forma de isolação.

Quanto mais me interesso por cultura mais percebo que a política é, no geral, desinteressante e que os produtores da chamada "cultura política" são rasos e sem densidade vivencial. E quanto mais vou em direção a cultura: mais a minha subjetividade (vida interior) aumenta enquanto a subjetividade de outrem se coletiviza.

Prelúdio do Cadáver #1 - Garota X



Texto de 08/04/2018


Olho pro Rio Tietê, estou sentado e com uma corda no pescoço. Um piano solenemente toca em minha mente, é "Clair de Lune". Meus olhos lacrimosos olham para um abismo imaginário, um abismo que reside em meu coração. Um abismo que macula e destrói. Um abismo que pesa na minha alma e desestrutura todo meu ser. Penso em pular, pôr meu ser para se acabar.


Percebo que aquele abismo, o abismo imaginativamente vejo, esteve a meu lado há muito tempo. É como se fosse um fiel amigo que partilhou de meus momentos mais íntimos, um familiar que comigo morou e cresceu. O abismo é a escuridão que bateu consubstancialmente ao meu coração em todos esses anos agônicos. Minha fiel penumbra! Enganei-me, tu não me acompanhas, querido abismo, és inteiramente parte de mim! Nego-te, mas é todo meu! E quando meu coração parar com esse maldito bater contínuo, serei igualmente todo seu, querido abismo.


De repente, sinto alguém me abraçar forte e suavemente, e essa pessoa diz com voz meiga, chorosa e sofrida:

- Não se mate! Por favor, não se mate, você não pode morrer.


(Ela fala, eu a ouço e, mesmo assim, sua auditiva voz não pode me alcançar. Estamos lado a lado e, incompreensivelmente, equidistantes.)


Sei quem és, Garota X. És tu a primavera que jamais poderei ser. Eu serei sempre outono e você será sempre primavera. Estaremos sempre distantes, embora teu viver me alegra. Somos a incompatibilidade.


Continuo a olhar pro abismo imaginário, sem virar o rosto para trás. Não preciso vê-la, só preciso senti-la. Se nossos corações se conectam, isso basta. Não só basta, é-me perfeito. É uma conexão forte, a mais forte que posso sentir. É como se nossas almas se unissem. Naquele momento, naquele breve momento, fomos um. Eu em minha dor suicida, ela em sua dor consoladora.


Não a ouço. Estou num estado de surdez introspectiva. Ela sentia a minha ausência e eu estava vivo e ao lado dela. É como se meu corpo estivesse já morto. Aperta-me mais fortemente, puxa-me para trás. Minha consciência está em meu corpo e também fora dele. Tudo me é obtuso.


Garota X, vi-te demorar-se a ir. O que buscavas na penumbra da noite, com os falsos amigos que prendem para dividir? Desejar-te-ei, mesmo sem querer. Lembrar-me-ei de ti a beijar outro homem. Sentir-me-ei triste. Recordar-me-ei que o desejo é triste, amargo e ressentido.


Tu foste, enquanto livre, o clarão da primavera a iluminar minha personalidade de outono. Prenderam-te e eu que merecia ser preso. Sou pior que ti, embora não tenha cometido ataques à constituição. Mas a vida é essa imensa contradição, figura obsessiva de meu coração. Tu não és digna do sofrimento que padece. Eu mereço todo sofrimento que sofro e o sofrimento que está por vir.


Imagino-te sempre a voltar, como a esperança que vem após a desolação. Traz-me profunda paz. E prometi a mim mesmo que seria verdadeiro quando (e se voltasse): não sorriria mais falsamente, diria tudo o que penso, tudo que está no porão de minha alma. Beijar-te-ia ao pôr do Sol e a mansidão faria morada em meu conturbado peito, neutralizando e purificando a treva.


Nunca mais verei a sua personalidade primaveril. Só tu poderias entender minha complexada personalidade de outono (quente e fria, feliz e triste, efêmera e eterna). E toda vez que eu lembrar da beleza de teu sorriso doce e puro, entristecer-me-ei. O que era feliz, agora é triste. A memória alegre repete-se em pranto.


Adeus, 

Garota X.