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sábado, 27 de setembro de 2025

Acabo de ler "The Reagan Revolution" de Prudence Flowers (lido em Inglês/Parte 4)

 


Livro:

The Reagan Revolution


Autora:

Prudence Flowers


A "maioria moral", um dito muito clássico. Refere-se às pessoas que não adotam padrões culturais progressistas, mas que seriam, ao menos aparentemente, mais tradicionalistas nos costumes. Tudo isso desemboca em discussões sobre aborto, direitos das mulheres, família, pornografia, escolas religiosas, oração dentro das escolas e programas de bem-estar social. Sempre lembrando a guerra cultural que surge dentro desse contexto. Raça, etnia e gênero são sempre mencionados.


Quanto ao aborto, o próprio Bush (vice de Reagan na época) era pró-escolha (pró-aborto), mas escolheu respeitar a plataforma de Reagan (que era contra o aborto). De qualquer forma, a oposição ao aborto era uma estratégia eleitoral do Partido Republicano para obter uma maioria conservadora. Em 1982, 22% da população americana era fortemente contra o aborto e 39% era pró-escolha. Além disso, até os anos 90, republicanos (pessoas que votavam em republicanos) eram mais pró-escolha do que democratas.


No caso Roe v Wade (1973), a Suprema Corte deu um voto favorável ao aborto. No caso Engel v Vitale (1962), a Suprema Corte acreditou que a "rezador oficial" nas escolas era inconstitucional de acordo com a primeira emenda da Constituição Americana. Esses tipos de decisões eram tidas como absurdas pela direita religiosa. Mas, indo mais adiante, vemos que conservadores sociais e religiosos queriam limpar a sociedade que viam como sexualizada e corrupta. Focaram em expressões artísticas e culturais que viam como obscenas. Além disso, viram blasfêmia e promoção da homossexualidade em muitas obras. Buscaram colocar até mesmo uma cláusula de decência na NEA (The National Endowment for The Arts). Muitos artistas clamaram, naquela época, por liberdade de expressão e liberdade civil. Há, evidentemente, o caso curioso de quando conservadores sociais e religiosos juntaram-se a feministas radicais, como Andrea Dworkin e Catherine MacKinnon para campanhas anti-pornografia.


Nos anos de 1960 e 1970, o uso ilegal de drogas se tornou parte da vida de muitos americanos. Reagan era contrário ao uso de drogas. Tinha um especial desgosto pela maconha. Para a direita religiosa, as drogas não eram uma questão vital, mas um reflexo da sociedade degradada, que havia aderido uma secularização na cultura e na política, o que supostamente levou a várias condições como o divórcio, famílias quebradas, delinquência juvenil e o próprio vício em drogas. Além disso, a direita religiosa opunha-se ao humanismo secular. É evidente que há uma briga entre conservadores libertários (pró-drogas, pró-aborto, pró-LGBT e pró-liberdade individual de uma maneira geral) e os conservadores moralistas (de tendências religiosas ou o chamado "conservadorismo social") — mesmo que, deva-se admitar, que o brasileiro médio não conheça as distintas linhas do pensamento conservador.


Quanto a crise da HIV/AIDS, Reagan cortou o orçamento da The National Institute of Health. Além disso, a sua administração interveio para bloquear a atuação do Congresso em suas tentativas de se lidar com a crise da AIDS e obstruiu a atuação preventiva da CDC (Centers for Disease Control). Fora isso, a administração de Reagan ainda reduziria significantemente o orçamento para pesquisas envolvendo a AIDS e programas para pacientes.


A direita religiosa acreditava que a AIDS era uma "praga gay". Pat Buchanan, que anteriormente havia trabalhado para a administração de Nixon, dizia que homossexuais eram uma ameaça à moral e à saúde pública. William F. Buckley Jr., o fundador da revista National Review, diria que todos os homens gays com AIDS deveriam ser tatuados em sua nádegas. A direita religiosa aproveitou para passar o Family Protection Act, em que uma das suas medidas era barrar o financiamento federal para qualquer pessoa ou grupo que advogasse pela homossexualidade. A morte de Terry Dolan, o fundador da National Conservative Political Action Committee, por AIDS e o fato dele ter relações homossexuais foi chocante naquele momento histórico conturbado. De qualquer forma, o governo Reagan ainda sugeria que a melhor solução era a monogamia e a abstinência sexual.

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Acabo de ler "INVISIBLES: PROBLEMÁTICAS DE SALUD-ENFERMEDAD-ATENCIÓN DE PERSONAS BISEXUALES" de Osmar e Edgar (lido em espanhol/Parte 4 Final)

 


Nome:

INVISIBLES: PROBLEMÁTICAS DE SALUD-ENFERMEDAD-ATENCIÓN DE PERSONAS BISEXUALES 


Autores:

Omar Alejandro Olvera Muñoz;

Edgar Carlos Jarillo Soto.


Nota:

Essa pesquisa foi feita no México.


Deslocar a saúde do âmbito do sujeito histórico e espacial é deslocar a saúde da própria existência concreta enquanto tal. Haja em vista que os sujeitos não estão alheios a historicidade que lhes molda. A intersubjetividade – relações sociais – impacta na intrasubjetividade – psiquismo – e esse fator não deve ser desconsiderado.


A existência psicológica do ser também é a existência social do ser. Existência social e existência psicológica coexistem e influenciam uma na outra. É necessário compreender as práticas sociais – formação sociológica – que fomentam um indivíduo. Nisso entramos até nas práticas de institucionalização. O estudo da psicologia e da sociologia é, então, um compromisso que nenhum profissional poderia ver como isolado, mas como componente teórico vital. Todo indivíduo é fruto de processos sociais, todo indivíduo é fruto de acontecimentos histórico-sociais e esses mesmos acontecimentos criam nele práticas e construções subjetivas. Nenhum ser é uma ilha, mas está integrado numa estrutura e não pode ser abstraído por completo dela sem se tornar uma abstração.


No que tange a formação de pessoas do curso de psicologia, não há uma formação qualitativa para abordar questões de gênero e sexualidade. Tal debilidade é muitas vezes correspondida por duas vias: o estudo particular ou o conformismo diante dessa situação. O tratamento empático – que é central na saúde – não pode cair no "freestyle" e tampouco no "conformismo" sem levar a uma perda da qualidade técnica da própria prática dessas profissões. Também é necessário reconhecer que historicamente a psicoterapia teve um papel de patologização de pessoas não heterossexuais. 


É preciso uma formação sobre gênero e sexualidade para uma melhor atuação dos profissionais de saúde, só assim será possível que cada um reconheça a situação adversa que se encontram pessoas de gêneros e sexualidades distintas da maioria. Isso ajudaria a erradicar a desigualdade. 

domingo, 29 de setembro de 2024

Acabo de ler "INVISIBLES: PROBLEMÁTICAS DE SALUD-ENFERMEDAD-ATENCIÓN DE PERSONAS BISEXUALES" de Osmar e Edgar (lido em espanhol/Parte 3)

 


Nome:

INVISIBLES: PROBLEMÁTICAS DE SALUD-ENFERMEDAD-ATENCIÓN DE PERSONAS BISEXUALES 


Autores:

Omar Alejandro Olvera Muñoz;

Edgar Carlos Jarillo Soto.


Nota:

Essa pesquisa foi feita no México.


A maioria dos bissexuais preferem não informar a sua orientação sexual. A possibilidade da pessoa bissexual ser considerada heterossexual ou homossexual – incompreensão típica – leva a esse comportamento. A violência verbal não é só uma forma de xingamento, ela também é uma forma de desqualificação. A principal violência contra a pessoa bissexual é o de não reconhecimento da sua própria existência.


O rechaço social pode ser considerado o principal problema para a existência de minorias sexuais ou de gêneros. Quando se fala de homossexuais, há uma ampla cultura gay e uma ampla cultura lésbica. Há todo um mundo que serve de amparo e de sistema de significação. Quanto ao bissexual, nada lhe acolhe e nada o retém. O que significa que não há espaço e nem senso de pertencimento, só a velha bifobia de sempre.


Ser bissexual é sobre isso: ser apagado em todos os locais, em todo instante, a todo momento, tentando provar a própria existência ante a uma sociedade heterossexista e monossexista. O principal efeito: incapacidade de se expressar, de experimentar, se chegar a novos conhecimentos sobre si mesmo e sobre a própria orientação sexual. Proibidos de existir, impossibilitados de ser.

Acabo de ler "INVISIBLES: PROBLEMÁTICAS DE SALUD-ENFERMEDAD-ATENCIÓN DE PERSONAS BISEXUALES" de Osmar e Edgar (lido em espanhol/Parte 2)

 


Nome:

INVISIBLES: PROBLEMÁTICAS DE SALUD-ENFERMEDAD-ATENCIÓN DE PERSONAS BISEXUALES 


Autores:

Omar Alejandro Olvera Muñoz;

Edgar Carlos Jarillo Soto.


Nota:

Essa pesquisa foi feita no México.


Existe uma importância na sexualidade e no estudo da sexualidade. O estudo da sexualidade envolve um autoconhecimento e, também, uma desconstrução das ideias preconcebidas. Além disso, ajuda-nos a compreender toda uma série de transtornos que surgem por causa da sexualidade. Ademais, a sexualidade não é um adorno superficial, ela também molda parte da forma com que vemos o mundo. Todas as partes de nós – e de nossa sociedade – são relevantes na formação de quem somos e nossa sexualidade faz parte de nós.


Como já escrevi em múltiplas análises anteriores, o principal problema da pessoa bissexual é o da sua identidade. O movimento bissexual ainda não conseguiu estabelecer uma "identidade bissexual" e, em uma significativa parte da sociedade, pessoas bissexuais são simplesmente esquecidas ou atacadas. Isso gera efeitos deletérios na saúde mental das pessoas bissexuais, tornando-as mais mentalmente instáveis, mais propícias para doenças e colocando-as em situação de risco.


A questão é: bissexuais não contam com figuras identificáveis para um reconhecimento. Não há uma ampla "cultura bissexual". Com base nisso, só existem exemplos pejorativos e invisibilização. Quando você é uma pessoa bissexual, o mundo não te reconhece e você muito provavelmente também não sabe quem você realmente é. Com heterossexuais e homossexuais negando a sua existência, existe um forte rechaço social que lhe faz sofrer e negar a sua própria orientação sexual.

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Acabo de ler "INVISIBLES: PROBLEMÁTICAS DE SALUD-ENFERMEDAD-ATENCIÓN DE PERSONAS BISEXUALES" de Osmar e Edgar (lido em espanhol/Parte 1)

 


Nome:

INVISIBLES: PROBLEMÁTICAS DE SALUD-ENFERMEDAD-ATENCIÓN DE PERSONAS BISEXUALES 


Autores:

Omar Alejandro Olvera Muñoz;

Edgar Carlos Jarillo Soto.


Nota:

Essa pesquisa foi feita no México.


A problemática da saúde da pessoa bissexual se insere em um contexto bastante específico. Esse contexto específico é um processo sociohistórico em que a invisibilização e valoração negativa operam como mecanismos antagônicos para regular o exercício da sua sexualidade. O que faz com que indivíduos bissexuais apresentem maiores danos mentais a sua saúde mental que gays e lésbicas.


Os problemas advindos da bissexualidade são particulares. Se a invisibilização das pessoas bissexuais implica em problemas de saúde específicos, então essa deveria ser tratada a partir de um cuidado com a consciência social. Essa questão deveria entrar no âmbito da psicoterapia. O reducionismo nas práticas dos profissionais de psicoterapia pode levar a um agravamento da questão, levando ao fortalecimento das situações de crise.


Os profissionais de saúde devem compreender que estão dentro de uma estrutura social. Essa estrutura social dá suporte a comportamentos adoecedores. Não tratar essa questão de fundamentação sociológica pode fazer com que os adoecimentos continuem por motivos sociais, levando a um empobrecimento das técnicas e avanços dos próprios profissionais de saúde. O profissional de saúde tem, para si, um dever dentro da sociedade. E esse dever não é puramente biológico, mas também sociológico, psicológico e filosófico: o de combater efeitos sociocolaterais de dados comportamentos sociais. A neutralidade – se furtar ao combate intelectual numa sociedade marcada pela injustiça – é uma forma de fugir do próprio dever enquanto profissional. Em outras palavras, a compreensão sociohistórica da formação patológica e seu combate as desigualdades e opressões reinantes não é um mero acessório ou um esforço adicional, mas deve ser uma prática dentro do próprio ofício do profissional de saúde.


Um olhar de ahistoricidade da formação patológica pode fazer com que se preserve uma sociedade adoentada e adoecedora, levando a inutilidade do próprio exercício e função da saúde. É combater os efeitos e não as causas – e grande parte delas são sociais.  A saúde é uma necessidade humana, e essa necessidade de saúde não é só física, ela também é mental. É por isso que a saúde tem que ter um esforço para compreender e assimilar explicações sociohistóricas do estado mental das pessoas. 


A questão da saúde da pessoa bissexual se aprofunda em múltiplas vias, são essas:

– Invisibilização:

Bissexuais são tratados como inexistentes, o que impossibilita uma identidade socialmente reconhecível. Sendo julgados como homossexuais ou heterossexuais. 

– Rechaço na comunidade heterossexual e LGBT:

Bissexuais são atacados por héteros e outros integrantes da sigla LGBT. Seja sendo vistos como traidores, seja sendo vistos como incapazes de um relacionamento monogâmico, seja sendo considerados como "instáveis" por não entrarem no sistema binário (monossexual).

– Inferiorização e Sexualização:

A mulher bissexual corre o risco de entrar na "caçada aos unicórnios" – casais procurando uma terceira pessoa para ménage – ou homens procurando uma "mulher liberal". O homem bissexual pode ser enquadrado como gay ou ser tido como "menos homem" – a masculinidade hegemônica é um esforço contínuo para reforçar a masculinidade o tempo todo, mas essa masculinidade hegemônica é heterossexual, ativa e "macho" (estereótipo) –, o que pode levar a complicações sociais.


A saúde mental das pessoas bissexuais é atacada sempre. Todos os dias. Em todos os locais. Seja no hegemônico (heterossexual), seja no não-hegemônico ou contra-hegemônico (LGBT). A não compreensão desse fator, além de casos mais graves como tentativa de "cura", pode levar ao desencadeamento de crises. 

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Acabo de ler "Militância enquanto Convite ao Diálogo" de Dani Vas e Danilo (Parte 2)

 


Nome:

Militância enquanto Convite ao Diálogo: o Caso da Militância Monodissidente



Autores:

Dani Vas;

Danilo Silva Guimarães.

O eu se constrói com o outro e em relação a esse outro. O processo da construção da subjetividade é relacional, isto é, se dá em relação ao outro. Só existe o "eu" por existir o "outro". A percepção do "eu" e do "outro" estão intrinsecamente conectadas. É a intersubjetividade – compartilhamento do espaço em meio ao diálogo, diferenças e contrastes – que determina quem somos.

A relação com o outro se dá no tempo-espaço. Essa relação é marcada por uma tensionalidade. Essa tensionalidade delimita quem pode fazer e o que pode fazer. Grupos hegemônicos estão sujeitos a crítica por terem maior detenção dos meios de produção cultural, podendo assim moldar a cultura e a aceitação dessa cultura.

Há quem reclame da militância por ela partir de um grupo particular e esse grupo particular estar longe da universalidade. A questão é: qual grupo humano não apresenta uma tendência universalizante para  com o próprio anseio? A realidade, para começo de conversa, não é encarada de forma objetiva. A realidade, e a percepção dessa mesma realidade, sempre implica em uma relação afetiva. Isto é, encaramos a realidade com doses de sentimentos pois essa mesma realidade dita a nossa sobrevivência. A realidade da sobrevivência não pode ser encarada como algo puramente objetivo, temos sentimentos para com a distribuição de recursos dentro da nossa sociedade. Tampouco a realidade cultural pode ser encarada de modo objetivo, visto que a marginalização de certos grupos leva a um sentimento de rancor e revolta – com implicações sociais tremendas.

É graças a essa influência sentimental do meio que todo pensamento é afetivo-cognitivo e que todo pensamento filosófico é, no fundo, psico-filosófico e não é possível chegar a um nível de objetividade completa. Toda análise fenomenológica revela, por mais denso que seja o esforço de quebrantar a sombra do "eu", uma subjetividade que constrói essa mesma análise fenomenológica. Ou seja, o desenvolvimento de algo está atado ao desenvolvedor desse algo em sua desejabilidade e toda argumentação surge com a coparticipação de um afeto. Não somos, e talvez nunca seremos, seres de julgamento imparcial. Visto que todo julgamento implica em nossa sobrevivência e em como seremos julgados – martizados, esquecidos ou aceitos – por nossa sociedade.

A relação de uma militância – um grupo desejante e epistemologizante – se dá por meio de uma série de trocas, tensões e negociações. Toda militância envolve poder, envolve política, envolve cultura, envolve economia, envolve igualdade, envolve justiça, dentre tantas outras questões. Essas relações se dão por meio de um conflito ou semelhança de interesses. Conflitos e semelhanças que surgem da relação com os "outros". É por isso que as pautas muitas vezes não avançam, visto que sempre estamos lado a lado com esse absurdo inigualável que é o outro.

terça-feira, 17 de setembro de 2024

Acabo de ler "Militância enquanto Convite ao Diálogo" de Dani Vas e Danilo (Parte 1)

 


Nome:

Militância enquanto Convite ao Diálogo: o Caso da Militância Monodissidente


Autores:

Dani Vas;

Danilo Silva Guimarães.


Em primeiro lugar se faz necessário compreender o que é monodissidência. A palavra "mono" se refere a um só. A militância bissexual, enquanto movimento político e social organizado, se refere a heterossexuais e homossexuais como "monossexuais" – atração por um único gênero. Já a ideia e/ou teoria de que só existe uma única forma de atração como "monossexismo". E o comportamento de apagar a existência de bissexuais como "monossexismo". É daí que vem a luta bissexual, ora direcionada aos heterossexuais, ora direcionada aos homossexuais. Um bissexual seria um "monodissidente", isto é, uma pessoa que está contra o padrão estabelecido de atração por um único gênero e todas as consequências disso.


A militância bissexual surge num momento histórico em que há a proliferação das doenças sexualmente transmissíveis. Nesse contexto, a maioria das pessoas homossexuais – lésbicas e gays – tomam uma ação de normatização, se assemelhando aos padrões de exigência de heterossexuais. Eles criavam a chamada cultura homonormativa, em que os padrões do mundo LGBT deveriam se enquadrar nos padrões do mundo heterossexual. Os bissexuais, em sua revolta, criam um avanço teórico da teoria queer: uma espécie de radicalização que iria contra os padrões de normatização.


O principal combate do movimento bissexual é contra à bifobia e ao monossexismo. O monossexismo é um sistema que privilegia, antes de tudo, pessoas monossexuais (heterossexuais e homossexuais). É claro que existe uma hierarquia nesse privilégio, heterossexuais estão no topo e homossexuais precisam se virar com a pouca soma de políticas públicas que conseguem adquirir. Depois disso, surge a invisibilidade bissexual e a negação visceral de pessoas transexuais.


A militância é um trabalho de transformação da realidade. A razão pela qual se quer uma transformação se dá pelo seguinte fato: a realidade é, muitas vezes, injusta. O mundo bissexual é marcado por uma impenetrável rede de exclusões, negações sistemáticas, vedações e defesas psicológicas em relação ao ambiente. A militância bissexual visa transformar o mundo num local mais aberto e livre a própria existência das pessoas bissexuais.

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Acabo de ler "What Is Hegemonic Masculinity?" de Mike Donaldson (lido em inglês/Parte 4 Final)

 


O que constrói a masculinidade?  Será a soma de privilégios ou a de encargos? Existe algo de "natural" e algo de social nessa construção? É possível uma abordagem 100% biológica ou 100% sociológica? Creio que ainda falta muito tempo – e estudo – para chegarmos a conclusões mais precisas. Todavia abordagens extremamente especializadas e que ignoram outros ramos, e outras teses, do conhecimento, deveriam ser descartadas logo de cara pelos seus particularismos.


O fato é que masculinidade hegemônica é prejudicial e restritiva para os próprios homens heterossexuais e possui enormes custos sociais que, se não reparados, levam a um oneroso custo social que muito dificilmente poderá ser corrigido sem uma correção só próprio entendimento da masculinidade.


Nesse trecho, poderia ser mais incisivo e detalhista. Todavia creio que eu choveria no molhado e apresentaria uma argumentação muito semelhante ao que apresentei em outras análises. De tal maneira, resolvi encurtar a análise e deixá-los com um texto breve.

Acabo de ler "What Is Hegemonic Masculinity?" de Mike Donaldson (lido em inglês/Parte 3)

 


Em relação ao hétero-patriarcado se pode afirmar que a hegemonia é marcada por uma superioridade, essa superioridade recompensa quem é (heteronormativos) ou quem se assemelha (homonormativos) ao padrão de masculinidade hegemônica. A homossexualidade é condenada em três vias: o homem heterossexual vê como fundamental odiar o homem homossexual; a homossexualidade está ligada a efeminização e vivemos numa sociedade machista; o desejo homossexual é considerado subversivo por si mesmo.


O comportamento homofóbico, bifóbico, lesbofóbico e transfóbico provindo de homens heterossexuais é comum e, até mesmo, recompensado. Desde criança, o homem heterossexual é ensinado que será recompensado por ser hétero e atacado se desviar desse padrão. Ser hétero é uma forma de autojustificação e esse comportamento deve ser ressaltado o tempo todo. Não por acaso, uma das principais brincadeiras é acusar outro homem de não ser "homem suficientemente", acusação do qual o homem acusado deve imperiosamente se livrar. Esse mecanismo, feito a exaustão e todos os dias, leva a um condicionamento mental em que o homem deve ter uma vigilância constante em relação a própria masculinidade – e não uma masculinidade qualquer, mas sim a hegemônica.


O comportamento homossexual é considerado um desvio duplo. Um desvio se encontra no gênero (homossexuais são considerados efeminados) e outro na sexualidade (homossexuais possuem relação com o mesmo sexo). O antagonismo entre heterossexuais e homossexuais é claro: se o poder heterossexual advém do hétero-patriarcado, advém por sua vez da masculinidade e heterossexualidade. O homem homossexual é a antítese do homem heterossexual, ele representa a negação sistêmica dos seus valores e modo de vida. Tal radicalidade, sobretudo em nosso meio cultural, leva a um choque óbvio.


A cultura do homem heterossexual é uma cultura da exaltação da força e do domínio. Essa cultura, nociva e tóxica por si mesma, requer uma constante descarga energética entre si e em outros grupos. A "descarga interna" é um meio de regulamentação comportamental entre os próprios heterossexuais, para reforçar o comportamento hétero-patriarcal. Já a "descarga externa" é correlacionada a demonstração de superioridade do homem heterossexual em relação aos outros grupos, sobretudo mulheres e LGBTs.

domingo, 1 de setembro de 2024

Acabo de ler "What Is Hegemonic Masculinity?" de Mike Donaldson (lido em inglês/Parte 2)

 


A natureza da hegemonia é cruel. É a partir dela que a maioria das opressões sociais se estrutura e se aplica. É o grupo hegemônico que pode, com sua força, definir até o que é normalidade. É ele que pautas as relações sociais, culturais e, até mesmo, econômicas. E é a partir dele que vemos o surgimento de vários papéis que devem ser desempenhados por nós performaticamente. A normalidade, em grande parte do tempo, é criada por uma estrutura de poder. Ela é produzida por uma narrativa, por um discurso. O reforço a normalidade em conjunto com a patologização são ferramentas coercitivas para preservar.


A hegemonia é criada pela intelectualidade, criada pela cultura. Ela é mantida pelos padrões culturais. No fundo, são as organizações intelectuais que mantêm ou destroem um determinado padrão. É evidente que isso depende da capacidade de dadas organizações intelectuais. Meios undergrounds não conseguem facilmente penetrar a massa e redefinir conceitos. Quem tem tal domínio, tem para si os chamados "meios de produção cultural". Para detê-los, se faz necessário grande poder financeiro ou o suporte do grande poder financeiro.


Em relação a hegemonia na esfera da masculinidade e do gênero, há uma correlação entre "poder masculino" e "heterossexualidade". Existem aqueles modelos de masculinidade que visam preservar as estruturas de dominação hétero-patriarcais e aqueles outros modelos de masculinidade que atuam contra essa estrutura. A grande maioria desses modelos de masculinidade são violentos, dominadores e agressivos. Visam, antes de tudo, a superação pela conquista, pela imposição e uma perpétua luta dos homens pela hierarquia. É absolutamente infeliz que a maioria dos modelos de masculinidade reinantes sejam sobre dominação e subordinação, isto leva a conflitos sociais perpétuos e rodas tautológicas de tortura sociopsicológica.


A estrutura hegemônica da masculinidade é tecida dia após dia. Regulada e gerida para articular: as experiências, as fantasias e as perspectivas. É a partir dela que as relações de gênero e sexualidade são refletidas e interpretadas. Ou seja, é a partir da matrix (homem, hétero, macho e ativo) que se inicia a reflexão do gênero e da sexualidade. Todos os outros pontos são ignorados ou violentamente censurados, seja pela força da lei jurídica, seja pela força da lei social – que, convenhamos, muitas vezes não são o mesmo. É dessa forma que vemos a natureza do movimento queer e do movimento heterossexual. Sendo o que o queer parte do estranho – contra-hegemônico – e o heterossexual parte daquilo que foi naturalizado – polo hegemônico.


São os ideias culturais os reguladores e gerentes, são os ideias culturais que criam e perpetuam. Para encontrar o modelo de homem reinante, basta ler a maioria dos livros, ver a maioria dos filmes, ouvir a maioria das músicas, assistir a maioria dos programas. O mesmo modelo – homem, hétero, macho e ativo – se repete exaustivamente, como num mantra imagético, adentrando imaginários e servindo como base inspiracional. É assim que se mantém, que se preserva, pela moldagem do imaginário, a hegemonia heterossexual. 

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Acabo de ler "What Is Hegemonic Masculinity?" de Mike Donaldson (lido em inglês/Parte 1)

 


A formação social é diferente da formação biológica. Muitas das formas sociais se confundem com realidades naturais, quando na verdade muito do mundo que temos ao redor foi construído pela sociedade em que vivemos ou que existia anteriormente a nossa existência concreta. A percepção que as pessoas têm, sobretudo quando estudam pouco sobre o assunto ou possuem pouca ou baixa possibilidade de encontrar outras realidades, é a de que o universo existente e o universo natural são o mesmo. Desse modo, realiza-se uma naturalização do universo existente, vendo como essência imutável o que é uma realidade mutável e móvel. Tal movimento cria aquilo que chamamos de "pacto silencioso".


Existe hoje um crescente debate entre a relação de masculinidade, sistema de gênero e formação social. Em tempos anteriores, muitos trabalhos exigiam força física e homens possuíam mais dela. Como resultado, criou-se uma mentalidade de que o homem tinha mais capacidade que a mulher. Essa crença de maior capacidade foi permeando muitas outras crenças, até que se delimitou cada vez mais a autonomia feminina. Com o processo industrial e relativa capacidade cada vez maior de exercer funções sem a necessidade de poder físico, a mulher foi sendo inserida, pouco a pouco, nos universos anteriormente dominados por homens. A autonomia crescente levou a reflexões cada vez maiores e o poder masculino se torna cada vez mais questionável.


Hoje não questionamos só o poder masculino, questionamos também a própria masculinidade hegemônica ("macho, hétero e ativo"). Sabe-se que o sistema de determinações de gênero e sexualidade estabelece uma série de papéis que devem ser cumpridos para a aceitação social. Todavia essas determinações estão sofrendo dia após dia com uma onda contra-hegemônica que questiona os papéis atribuídos pela sociedade. O que queremos não é cumprir papéis pré-determinados na sociedade, queremos descobrir quem somos e agir conforme a autenticidade de nossos espíritos. Se não, estaremos vivendo uma vida falsa, em que atuamos conforme um roteiro, de forma performática.


Vários intelectuais – e pessoas menos profissionalmente intelectualizadas – buscam a construção de uma outra masculinidade e uma outra feminilidade. Não uma hegemônica que sirva como parâmetro ou que seja paradigmática. E sim uma masculinidade e feminilidade que tenham autonomia frente aos sistemas de gênero e sexualidade. Ou seja, a ordem que queremos é uma ordem em que cada pessoa tenha a possibilidade de determinar o tipo de masculinidade e feminilidade que quer expressar e que seja correlacionada ao próprio gosto e subjetividade sem a imposição de um modelo sobre outro.



terça-feira, 27 de agosto de 2024

Acabo de ler "Afeminação, hipermasculinidade e hierarquia" de Mozer e Helder (Parte 4 Final)

 


NOME:

Afeminação, hipermasculinidade e hierarquia


AUTORES:

Mozer de Miranda Ramos;

Elder Cerqueira-Santos.


Olhando bem, qual seria o problema de um homem ser "feminino"? Não é a mulher, junto a construção social da feminilidade, algo bom? Por qual razão a feminilidade seria algo ruim e deveria ser atacada ou inferiorizada? Quando a mulher se espelha em um homem ou nos modelos de masculinidade socialmente estabelecidos, ela não está demonstrando uma reverência a algo que admira em algum ponto? Quando um homem faz o mesmo, ele não está demonstrando a mesma reverência? Se não é algo admirável ou respeitável, ao menos faz parte de um ato de liberdade ou característica inata a uma subjetividade. Logo a repressão social quanto a isso não é uma repressão necessária, tampouco é desejável.


Feminilidade em um homem quer dizer uma negação a suposta superioridade do gênero masculino sobre o feminino. A sociedade estruturalmente hétero-patriarcal anseia: a superioridade do gênero masculino e a superioridade da heterossexualidade. O homem feminino tem uma negação: a da masculinidade. Mesmo que inconscientemente, mesmo que por uma "característica incorrigível", ele está negando os pontos que criam a estrutura do poder. A sociedade pode encarar isso por várias vias, mas mais particularmente duas: se é por escolha, o homem efeminado é subversivo; se é por natureza própria, é um desvio da natureza e deve ser patologizado.


Nos ambientes frequentados por homens bissexuais ou homossexuais, existe a prevalência de uma apreciação estética pelo modelo essencialista do homem heterossexual ultramasculino. Isso demonstra um ódio internalizado, seja para com a própria figura da mulher, seja com a própria sexualidade. Essa postura talvez seja fruto de um temor: o de ser martirizado por uma sociedade dominada pela hétero-matrix ou de ser confundido com a pessoa que tem relações ou até mesmo de ser tornada pública a imagem de homem efeminado. Até porquê as consequências sociais disso são enormes e incalculáveis, visto que há uma negação e marginalização sistêmica de todos aqueles que escapem daquilo que se considera como "normalidade".


Como diria o clássico conservador: "as ideias têm consequências". Quando um homem bissexual ou homossexual toma postura abertamente correlacionadas à hegemonia hétero-patriarcal, ele reforça as mesmas estruturas que sistematicamente o condenam, sendo artífice da própria destruição e estigmatização. Relegando-se a uma inferioridade que lhe foi imposta por homens heterossexuais. O que o torna socialmente mais fraco e mais vulnerável aos ataques diários de uma sociedade sexista e LGBTfóbica.

domingo, 25 de agosto de 2024

Acabo de ler "Afeminação, hipermasculinidade e hierarquia" de Mozer e Helder (Parte 3)

 


NOME:

Afeminação, hipermasculinidade e hierarquia

AUTORES:

Mozer de Miranda Ramos;

Elder Cerqueira-Santos.


O homem homossexual e bissexual para consumo é discreto para ser tolerável. Ele se aproxima repetidamente da heteronormatividade e se afasta da feminilidade. Se afasta de comportamentos que podem ser vistos como femininos e se aproxima da diluição completa de qualquer coisa que torne visível a sua homossexualidade ou bissexualidade. Em outras palavras, a homossexualidade e a bissexualidade masculina só são toleráveis quando são imperceptíveis. A cultura homonormativa, no âmbito masculino, é a negação contínua de aparecer ou se manifestar no espaço público. Ela também é uma afirmação do domínio da masculinidade e um ataque velado a feminilidade e a mulher. O que é bastante interessante, visto que é no espaço público em que o poder hegemônico se faz mais visceralmente presente e onde os grupos marginais mais são negados e estigmatizados por não estarem na hegemonia.

A conversão à hétero-norma é uma tentativa de adaptabilidade subordinada. Ela é uma postura que aceita uma realidade de domesticação. Uma postura que se demonstra dócil a um mundo dominado por heterossexuais e pela inebriante idolatria da masculinidade. Ela leva a uma autocrítica alienante e um ódio do ser por si mesmo – homofobia internalizada, bifobia internalizada, misoginia internalizada. Ela é uma amputação ontológica na medida em que homens bissexuais e homossexuais negam muitas características próprias, se autolimitando expressivamente, para se adequarem a um sistema corrupto que os marginaliza recorrentemente. Em outras palavras, ela é o compromisso com a derrota. Lembrando o velho ditado: "quando você aceita os termos do seu inimigo, você já perdeu faz tempo".

Como sempre, a densidade de camadas é tão sutil quanto o mais complexo esoterismo. Quando homens bissexuais ou homossexuais masculinos se ocultam numa cultura que sempre os invalidará, quem sofre é outro tipo de homem. Ao adentrarem no jogo da hétero-matrix, deixaram homossexuais e bissexuais efeminados caírem perante o martírio social e reforçaram os estereótipos de gênero. Nesse sentido, houve um rito sacrificial e um bode expiatório (o homem homossexual ou bissexual efeminado). Essa complexidade demonstra a própria perversidade da sociedade e os custos da idolatria da masculinidade.

A legitimização e deslegitimização nos jogos sociais apresenta uma tragédia: ela é feita com base num jogo interminável, sociológica e psicologicamente esgotante, em que a masculinidade deve ser provada o tempo todo e em todo momento. Quando um homem lhe acusa de não ser hétero ou macho o suficiente, você deve provar a sua masculinidade e heterossexualidade. O problema é que essa masculinidade o justifica existencialmente, anulando-o caso você não consiga cumprir os critérios das hétero-normas. Esse jogo social cria a cultura homonormativa em que a expressão cultural de homossexuais e bissexuais são uma paródia ou simulacro da cultura heterossexual. 

Acabo de ler "Afeminação, hipermasculinidade e hierarquia" de Mozer e Helder (Parte 2)

 



NOME:

Afeminação, hipermasculinidade e hierarquia

AUTORES:

Mozer de Miranda Ramos;

Elder Cerqueira-Santos.

No Brasil, existe uma hierarquização de performática de gênero. Essa hierarquização tem algumas camadas. Se em primeiro lugar se encontra o homem heterossexual e másculo, em lugares inferiores se encontrariam o homem heterossexual de índole mais tímida e o homem heterossexual menos encaixado nas definições de masculinidade exuberante. Logo viriam os bissexuais que esconderiam a bissexualidade e tomariam uma vida dupla, marcada pela contradição e ocultamento. Também haveria o binarismo do macho/bicha, onde os ativos estariam acima dos passivos, os efeminados estariam abaixo dos machos. Ser macho e ativo seria tudo.


A questão problemática que vemos aí não se revela logo de cara. Ser efeminado não é o mesmo que ser passivo. Ser passivo não é o mesmo que ser efeminado. Aliás, hoje em dia existem muitos heterossexuais que curtem inversão de papéis. Essa ligação entre passividade-feminilidade revela uma inconsciente construção social acerca dos papéis de gênero e, até mesmo, a ideia de que mulheres são inferiores aos homens, visto que são, quase em totalidade, "passivas". A ideia de passividade-feminilidade também traduz um importante conflito de gênero: quanto mais longe um homem estiver duma mulher, mais hierarquicamente bem posicionado ele está. Essa é uma misoginia oculta muito bem estudado pela militância feminista. O que vemos é a valorização de uma figura bem clássica em nosso imaginário social: heterossexual, ativo, masculino e macho.


Como podemos vislumbrar, muitas das vezes o imaginário do homem homossexual ou bissexual se confunde com o imaginário do homem heterossexual. A ideia de superioridade do homem másculo e ativo contraposta à inferioridade do homem efeminado e passivo representa uma reprodução, mesmo que inconsciente, do machismo hétero-patriarcal. Esse inconsciente é fundamentalmente misógino e é um ponto que serve para alienação e incapacitação não só dos homens bissexuais e homossexuais, como da comunidade LGBT como um todo. Ela é uma misoginia internalizada que servirá sempre para se curvar à heteronormatividade. Representa também uma estratificação social em que o macho bi/gay se encontra acima do efeminado, levando a choques internos – além de comportamentos tóxicos – no seio da comunidade.

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Acabo de ler "Reflexiones sobre el feminismo y la diversidad de género" de Villón e Cedeño (lido em espanhol/Parte 2)

 



Nome do Artigo: "REFLEXIONES SOBRE EL FEMINISMO Y LA DIVERSIDAD DE GÉNERO: EL PODER DEL DISCURSO EN LA POLÍTICA PÚBLICA"

Escritores:

Villón Rodríguez Nadia Wendoline

Cedeño Astudillo Luis Fernando


As sociedades e os estados latino-americanos herdaram estratos sociais divididos em raça, gênero e classe social. O poder, seja antes da autodeterminação desses países, seja depois do momento de sua emancipação, adquiriu forma patriarcal. Logo quem deveria deter o poder, dentro da esfera familiar, era o homem (o patriarca). Foi através de uma legitimação constante do domínio do homem que as mulheres se viram privadas de suas próprias decisões.

O poder do patriarcado foi justificado graças a débil capacidade dos estados latino-americanos de promoverem políticas reais. As leis, por sua vez, foram criadas tendo como base as leis ibéricas e o direito canônico. Tal assimilação aumentou o poder masculino e colocou a mulher numa posição de inferioridade.

O laicismo só veio muito depois, bem tardiamente. E as reformas liberais não levaram em conta as diferenças estruturais que deveriam ser corrigidas para trazer luz à igualdade de gênero. Mesmo que uma maior autonomia tenha dado margem a uma onda emancipatória.

As leis serviram para fortalecer a hegemonia hétero-patriarcal. Era uma espécie de binômio: servia para fortalecer o homem heterossexual de qualquer ameaça. Ademais, projetos de embranquecimento populacional via importação da população européia foram feitos ao lado de políticas de extermínio de comunidades não integradas – sobretudo a indígena.

É a correlação da hegemonia (heterossexualidade, masculinidade e branquitude) que torna questionável o comportamento heterossexual e masculino. É essa mesma correlação que torna possível uma aproximação entre o movimento feminista e LGBT. Não só isso, torna também provável organizações indígenas e da negritude entrarem nesse conflito.

O fato do patriarcado fortalecer o poder de grandes homens, usualmente burgueses ou detentores de amplo poder, que torna possível uma trindade revolucionária: luta de classes, feminismo e liberação sexual.

Existe uma correlação de forças hegemônicas que atuam conjuntamente: heterossexualidade, masculinidade, branquitude, riqueza e domínio. Essa correlação estrutural demonstra quem manda e quem se justifica nesse poder. Além de demonstrar quem não pode mandar ou se justificar nessa estrutura.

Acabo de ler "Reflexiones sobre el feminismo y la diversidad de género" de Villón e Cedeño (lido em espanhol/Parte 1)


Nome do Artigo: "REFLEXIONES SOBRE EL FEMINISMO Y LA DIVERSIDAD DE GÉNERO: EL PODER DEL DISCURSO EN LA POLÍTICA PÚBLICA"

Escritores:

Villón Rodríguez Nadia Wendoline

Cedeño Astudillo Luis Fernando


A justiça de gênero se propõe a eliminar as desigualdades entre mulheres e homens que se produzem e reproduzem na esfera da comunidade, da família, do mercado e do próprio Estado. O projeto feminista não inclui só a luta contra a desigualdade de gênero, como inclui notoriamente a própria comunidade LGBT como uma espécie de pauta conjunta. O projeto feminista é um projeto de promoção das diferentes identidades e orientações sexuais em direção a uma sociedade mais justa. Ela quer não só a igualdade, mas a igualdade diferenciada que equipare outros gêneros e orientações sexuais na esfera do poder.


Para o movimento feminista existe um papel do Estado na organização do poder. O Estado pode ser direcionado, por meio de políticas públicas, a alcançar os objetivos sociais ou pode adquirir um papel de reforçador de desigualdades estruturais. Ou o Estado se dirige para uma direção (mudanças estruturais) ou se conecta com as desigualdades existentes reforçando o polo hegemônico. É preciso reconhecer que historicamente se constrói uma desigualdade em relação as mulheres e aos grupos LGBTs. Um Estado mal direcionado pode ser um Estado que se propõe ativamente na perpetuação da injustiça.


Também é preciso considerar que as mulheres são atacadas por causa da cultura beligerantemente centrada na exaltação da masculinidade e no poder masculino. A exclusão e o ataque a homens homossexuais e homens bissexuais perpassa a violência de gênero: odeiam homossexuais e bissexuais pelo fato deles não serem considerados como adequados as normativas do gênero masculino. Isto é, odeia-se a possível feminilidade – ou o que se crê como feminino – dentro do homem. Logo a violência contra o homem homossexual e o homem bissexual esconde inconscientemente o ódio a mulher. É evidente que, nessa questão, o ódio à comunidade LGBT e à mulher passam por diferentes pontos, mas existem vários cruzamentos que tornam as pautas próximas e permitem uma unidade que, se não completa, dialogicamente enriquecedora.

domingo, 18 de agosto de 2024

Acabo de ler "Hegemonic Monosexuality" de Angelos Bollas (lido em inglês/Parte 5 Final)

 


O movimento bissexual surge para atacar o binarismo. Binarismo de gênero, binarismo de sexualidade. Não só isso, o movimento bissexual muitas vezes se opõe a pautas do próprio movimento de lésbicas e homossexuais, visto que muitas vezes esses dois movimentos – mesmo quando unificados – decaem num simulacro dos padrões heteronormativos.


É preciso compreender que os padrões de gênero e sexualidade criam padrões hierárquicos no âmbito sócio-cultural. Os padrões dominantes são naturalizados e normalizados, interiorizados e colocados como  superiores. Essa hierarquização desvaloriza a existência de muitas pessoas. Sejam de mulheres masculinizadas ou de homens efeminados. Seja de homossexuais, seja de bissexuais. Compreender que existem condicionantes sociais que não são naturais, mas construções sociais que pautam nossas vidas é se libertar duma matrix que não pode ser aceita sem que exista a negação sistemática de várias pessoas diferentes por serem diferentes.


A compreensão das pautas bissexuais é de suma importância para os próprios bissexuais, mas também para o movimento LGBT como um todo. Muitos bissexuais falham enormemente em compreender a complexidade do que são e quais são as suas pautas. Ter um movimento bissexual organizado ajuda, em primeiro lugar, os próprios bissexuais e, depois disso, a comunidade LGBT. Não só isso, a própria sociedade ganha em expressar o seu gênero e a sua sexualidade de forma mais livre.

Acabo de ler "Hegemonic Monosexuality" de Angelos Bollas (lido em inglês/Parte 4)

 


A hegemonia é intrinsecamente uma tática de estratificação social. Isto é, ela serve para que o grupo dominante e/ou majoritário mantenha o seu poder e o seu posicionamento. Muitos dos pontos defendidos pelo grupo dominante foram socialmente construídos e não são naturais, mas o próprio domínio do grupo dominante se confunde com a naturalidade. Essa confusão, forjada ou inconsciente, traduza-se em efeitos materiais que beneficiam o próprio grupo dominante.


É o grupo dominante que cria até mesmo o discurso do outro. O outro é obrigado a ser inorgânico. Incapacitado de expressar o que ontologicamente é. A forma expressiva – seja sexual, de gênero, religiosa, racial, cultural – é subjugada e regulamentada pelo grupo dominante. A ausência de poder simetricamente oposto faz com que as normas do grupo dominante regulem sobretudo aquilo que chamamos de espaço público. Em outras palavras, fora dos poucos polos normativos, há o script social que deve ser seguido.


Um grupo que ganhou força ao se adaptar ao script da sociedade foi o grupo "LG" (lésbicas e gays). Que criaram a cultura homossexual de consumo. A mulher e o homem homossexual normal. Essa figura ilustre – o gay e a lésbica normal –, era monogâmica, tinha uma vida estável, uma reverência aos papéis de gênero instituídos por heterossexuais e uma certa docilidade perante os valores reinantes.


O movimento bissexual, pipocando nos anos 90, começa a questionar os valores instituídos e o simulacro desses valores. O que o movimento bissexual queria era basicamente duas pautas: respeito pelas diferenças e aversão a assimilação. O respeito pelas diferenças surge pela própria questão da invisibilidade bissexual, que é até hoje apagada pela cultura monossexista. Já a questão da aversão a assimilação surge pelo esvaziamento do potencial de real oposição política a heterossexuais por causa da assimilação à hétero-matrix por grupos homossexuais.


Para o movimento bissexual, a discussão acerca do desejo sexual ou romântica não era produtiva e, ainda por cima, era ditada por um binarismo antagônico que jogava as pessoas em padrões heteronormativos ou homonormativos. A discussão naquele período era: você pode se relacionar com um homem ou uma mulher. Com alguém do mesmo sexo ou do sexo oposto. Essa binariedade antagônica era marcada por uma autoexclusão das possibilidades de afeto (ou "x" ou "y"). 

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Acabo de ler "Hegemonic Monosexuality" de Angelos Bollas (lido em inglês/Parte 2)

 



A compreensão da produção científica e acadêmica sobre a bissexualidade ajuda a ampliar o conhecimento geral acerca da sexualidade humana. O problema é que a produção generalizada acerca da homossexualidade e heterossexualidade apaga, em muito, a produção sobre a bissexualidade. Ademais, reforça estereótipos binários, reforçando uma percepção monossexista e excludente, na qual as próprias identidades plurissexuais se perdem. A teoria bissexual – produção epistemológica bissexual – corre o risco de se ancorar muito na teoria queer e na teoria feminista, sendo um grupo sem vida e sem representação teórica própria.


Ao mesmo tempo que se reconhece a bissexualidade como uma expressão legítima de desejo, se reconhece a ausência de protagonismo e autonomia do movimento bissexual. A luta bissexual se dá em várias frentes, mas a principal é contra o monossexismo dominante. Essa luta não coloca bissexuais apenas contra heterossexuais, como muitas vezes coloca o movimento bissexual contra homossexuais – embora essa luta se dê numa escala menor. Essa segunda luta, contra monossexistas homossexuais, é uma que se dá não só argumentativamente, mas "identitariamente". O movimento bissexual não pode se diluir inteiramente no movimento LGBT sem se alienar, visto que a identidade homossexual não é e nem pode ser a identidade bissexual.


A bissexualidade, e os bissexuais – nos quais estou incluído –, vem compreender que a bissexualidade não é só um acessório. É a natureza mesma de suas vidas. O ponto de partida de suas visões e construções teóricas em quase todos os temas de suas vidas. Quando a bissexualidade for encarada, dentro de cada bissexual, como um modus vivendi e um modus pensandi, aí que teremos a verdadeira dimensionalidade da bissexualidade. É a construção de uma identidade bissexual pulsante que se situa a luta bissexual. Ou seja, a bissexualidade só poderá ser reconhecida e lutar contra seus inimigos socio-historicamente determinados através duma postura combatente, militante e ativa, construindo a sua própria cultura e desvendando as suas próprias pautas.


Hoje em dia se fala muito da noção de que a monossexualidade (heterossexualidade e homossexualidade) são socialmente forjadas em ampla parte dos casos. Isto é, dependem mais de condicionamentos sociais do que aspirações orgânicas ou naturais – sua natureza normativa é fundamentalmente ancorada na submissão ao jugo social e as suas implicações. Bissexuais são forçados a serem heterossexuais ou homossexuais, este é o lado totalitário da cultura monossexista. A cultura monossexista força o condicionamento do desejo a uma binariedade antagônica em que cada um escolhe um ou outro. Quando bissexuais se voltam contra a cultura monossexista lutam uma luta libertacional em prol da liberdade humana, atacando a idolatria social – valores dominantes – em voga. Idolatria social que aparece reconstruída nas políticas homonormativas, que nada mais que são adaptações inconscientes da cultura hétero-patriarcal. Querendo ou não, a homonormatividade é uma adaptação da hétero-matrix. E a hétero-matrix apresenta ordenamentos de gênero (homem/mulher) e de desejo (hétero/homo), regulando atividades não só de heterossexuais, mas como de homossexuais e de bissexuais – que adequativamente devem se curvar a um ou outro grupo. É preciso abrir um "ponto rupturístico". Esse ponto escaparia da regulação binária de gênero (homem/mulher) e de desejo (hétero/homo).


Os bissexuais, em sua militância, são convidados a quebrar a hétero-matrix e as normas homossexuais. Em primeiro lugar, demonstrando a própria existência por meio de uma vida pública. Em segundo lugar, assumindo uma autonomia identitária frente o próprio movimento LGBT. A fixação por um maniqueísmo binário no âmbito do desejo (o maniqueísmo sexual hétero-bi) reduz o desejo num aspecto matematizável, onde um exclui necessariamente o outro. Essa é a marcação social – a hegemonia hierárquica monossexista – na qual plurissexuais estão sujeitos. A hétero-matrix, onde heterossexuais se impõem como modelo existencial. A homonormatividade, onde homossexuais criam regras, espelhados na hétero-matrix, para reger o comportamento da comunidade LGBT como um todo.


São dois elementos que se reforçam estruturalmente: a monossexualidade hegemônica e a monossexualidade forçada. É graças a monossexualidade compulsória que bissexuais se ausentam em se autodeclarar. Visto que a autodeclaração implica cair no jugo – usualmente heterossexual, mas também homossexual – da monossexualidade. Para uma pessoa homossexual, sair do armário é adentrar no terreno da própria existência. Para uma pessoa bissexual, sair do armário é... Adentrar na inexistência, no apagamento, no ataque monossexista. A impossibilitada de existir é o que dita a vida de milhões de bissexuais no mundo todo.

terça-feira, 13 de agosto de 2024

Acabo de ler "Hegemonic Monosexuality" de Angelos Bollas (lido em inglês/Parte 1)

 


O fato da bissexualidade não ser muito estudada leva a um desentendimento acerca da sexualidade humana. Isto é, a construção social visa a priorizar monossexualidades (heterossexuais e homossexuais). Essa construção, que se dá também epistemicamente, acaba por reforçar padrões normativos – como a família nuclear, por exemplo. A vida do bissexual é uma vida de apagamento e de solidão, de marginalização e de exclusão. A maioria de nós caminha com a certeza trágica de que seremos sempre atacados, pelos mais diversos meios, sem nunca ter um local para estar. Para a ampla maioria da sociedade, o normal é ser bifóbico.


A hegemônica monossexualidade não quer dizer, em última instância, um domínio heterossexual. Ela quer dizer um amplo domínio heterossexual e algumas regiões de domínio homossexual que fazem contraponto a essa heterossexualidade majoritária. So que, quer queira, quer não, não há um espaço de legitimidade roxa (bissexual). Para piorar, a heterossexualidade cria uma forma ideológica chamada "heterossexismo". O heterossexismo – usualmente também conhecido como heteronormativo – é a ideia de que a heterossexualidade é natural e superior. Caso não seja "a única expressão natural", ao menos é tida como uma forma expressiva superior. Tal ideologia assume forma mesmo em grupos homossexuais, visto que o referencial heterossexual toma conta e vemos a "homonormatividade" (reprodução do hétero-patriarcado).


A luta bissexual vai além dos critérios heterossexuais, ela vai contra as alienações homonormativas. A forma de expressão romântica heterossexual ou homossexual não combina com a "tonalidade roxa". A ideia do referencial heterossexual ou homossexual como peça central da construção da identidade bissexual apenas demonstra uma incapacidade da comunidade bissexual de criar a sua própria forma expressiva. Ou, em outros termos, elevar-se autoexpressivamente. A chave central da problemática bissexual se dá sobretudo na sua esfera identitária e na forma em que ela se expressa. Bissexuais são convidados a demonstrarem quem são e construir o próprio caminho apesar das mazelas sociais.


A luta bissexual se deu, muito recentemente, em duas vias. Por um lado, bissexuais eram vistos como traidores ou potenciais traidores por parte de lésbicas e gays. Por outro lado, heterossexuais achavam o comportamento bissexual suspeito, visto que viam homossexuais como principais detentores de doenças sexualmente transmissíveis e os bissexuais seriam os responsáveis de levar a doença de um lado para o outro. Se o ódio e o ataque vem de ambos os lados, a luta bissexual deveria ter pauta própria e não se vincular totalmente ao restante da "comunidade dos estranhos", visto que alguns são mais estranhos do que outros.


Outro pontuamento relevante é a monogamia. Só que essa questão é bem mais complexa. Nem todo bissexual acredita ou é aderente da fórmula poliamorista. Aí adentram outras séries de questões. Bissexuais são vistos como inerentemente "traidores", mesmo quando são monogâmicos. Ou são vistos como inerentemente poliamoristas. Existem bissexuais que veem a monogamia como uma forma de expressão romântica condicionada a monossexualidade. Além disso, homossexuais aderiram em massa a monogamia para um efeito de aceitação social maior.