Mostrando postagens com marcador Alcorão. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Alcorão. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Diários Cadavéricos #3 - Espírito Celeste

 "Não obstante, eles adoram, em vez d'Ele, divindades que nada podem criar, posto que elas mesmas foram criadas. E não podem prejudicar nem beneficiar a si mesmas, e não dispõem da morte, nem da vida, nem da ressurreição"

(Surata 25:3)


Se eu morresse hoje, estaria completamente insatisfeito. É difícil, meu Deus, não cair na idolatria quando o peso do mundo bate forte. E, se assim o é, é pelo jogo gravitacional das relações humanas e meu parco caráter. Sei que sou moralmente fraco, e minha performace social a isso indica: não sou o que sou, sou a negação do que deveria ser. Só que tão grandes são as vozes sociais que minha mente de Ti distoa por causa de vários gritos.


"15. Pergunta-lhes: Que é preferível: isto, ou o Jardim da Eternidade que tem sido prometido aos devotos como recompensa e destino,"
"16. De onde obterão tudo quanto anelarem, e em que morarão eternamente, porque é uma promessa inexorável do teu Senhor?"
(Surata 25:15-16)

Deus, sou um traidor, mas sei que és glorioso e misericordioso. Só que a sociedade me traz um jugo idólatra, já que a ela sou temente. O sofrimento psíquico se condensa e condena junto com o inferno vindouro, já que o caminho do idólatra nada mais é que o desvio da senda reta. Por temer tanto a sociedade, por ser com ela um covarde, sigo o caminho da vã vanidade. A ela atribuo mais do que é capaz, faço por temor e complacência, mas nada dela vem de modo autogerado, já que só Deus é capaz de criar. Então, pergunto-me: por que temo esse deus de barro e não me aconchego em Ti, verdadeiro Deus?

"[7]Zain. Nestes dias de males e vida errante, recorda-se Jerusalém das delícias dos tempos idos. Agora que seu povo sucumbiu sob os golpes do inimigo e ninguém vem socorrê-la! Olham-na seus inimigos, e zombam de sua devastação."
"[8]Het. Graves foram os pecados de Jerusalém: ela ficou uma imundície. Quem a honrava, agora a despreza porque lhe viram a nudez. E ela geme e esconde o rosto."
(Lamentações 1,7-8)

Lamento agora a vanglória de outrora. Meu pensamento perdeu retitude e atitude. Conforme esmorecia, ajuntava-me a tragédia de minha comédia. A Tua lógica não é dos homens e a lógica dos homens é torta. A Tua senda é reta, mas a senda dos homens engendra tragédias com pratos cheios de aparentes comédias. Se assim é, sou tolo. Guia-me, Alá, a Tua senda reta. Já que sofro mais por ter te esquecido do que por ter te seguido. Se tivesse te seguido, não me surpreenderia com os ventos mutantes que mudam os rumos dos homens e nem edificaria morada em areia movediça. Como assim fiz, vi meu império de areia ruir. Já que o homem abandona e só o Senhor cuida do homem abandonado.

"[18]Sade. O Senhor é justo, porque fui rebelde à sua voz. Escutai todos vós, ó povos, e vede a minha dor. Minhas virgens e meus jovens foram conduzidos para o exílio."
"[19]Cof. Implorei a meus amigos e eles me iludiram. Meus sacerdotes e os anciãos pereceram na cidade enquanto buscavam alimento para revigorar as forças."
"[20]Res. Vede, Senhor, a minha angústia! Tremem minhas entranhas, e meu coração está perturbado por causa de minhas revoltas. De fora mata a espada, de dentro alastra a morte."
(Lamentações 1,18-20)

Deus, Tu bens sabes, a glória ensorbece e a humildade pouco apetece. Não que saiba de modo vivencial, mas sabe pela debilidade que o homem se encontra. O homem, Vossa criatura, sofre por a Ti não te ver mais do que deve. E não vê porquê não é digno. E eu de nada sou útil, já que me desviei de Ti e sou tão impuro quanto aqueles que mal acuso. Decepciono-me com o óbvio: tal como me movo pelo vento, em passo insólito, abrigo-me no sofrimento pelo mundo vão que me decepcionou e assim necessariamente seria. Minha burrice, meu Deus, perdoai. Dai-me um tanto de Sua luz, renovai-me com Teu Espírito Celeste.

terça-feira, 19 de outubro de 2021

Acabo de ler o Alcorão da Introdução à Segunda Surata.




    Acabo de ler o Alcorão da Introdução à Segunda Surata.

 
    "Não há imposição quanto à religião, porque já se destacou a verdade do erro" Surata 2:256.
A maioria das pessoas que desconhecem o Islã sempre o têm de forma negativa, encarando-o como uma fábrica de lunáticos fanatizados. Alguns chegam a loucura de pensar numa ditadura islâmica de nível global, onde islâmicos dominariam o mundo. Só que isso é longe de ser uma verdade, está mais para o contrário da verdade. O Islã é uma religião fantástica com uma riquíssima teologia e uma grandiosa forma de ver o mundo. O "versículo" que postei já demonstra que: não há, na teologia islâmica, apoio a conversão forçada. Tudo isso é, na verdade, um devaneio duma direita delirante.

    Inicialmente ler livros islâmicos e o Alcorão era uma pequena curiosidade intelectual como outra qualquer, mas ao me deparar com tal cultura, desgustei-a de tal modo que o seu gosto ficou em minha boca e, dentro dela, adentrou suavemente na interioridade de meu coração. Logo meu coração palpitava em amor a essa cultura tão nobre e tão bela. Tornei-me, então, amante de tal cultura que expandiu o horizonte de minha consciência a um mundo tão novo quanto belo. A minha cultura religiosa adquiriu uma nova forma, mais aberta, mais crítica e, no entanto, também mais apaixonada pelo estudo religioso comparado.

    A experiência de ler o Alcorão e escritos muçulmanos transcendem cada vez mais aquele respeito abstrato que se aplica a todas coisas na cultura pós-moderna. A experiência agora não é mais de uma tolerância a qual se admita como melhor forma de ver diferentes culturas no seio duma sociedade aberta. Eu não "tolero" o Alcorão e o muçulmano, eu os amo. Aquilo que se ama está acima daquilo que se tolera, já que só se tolera o mal e eu não vejo o Islã como mal. Eu vejo o Islã como um bem.

    É preciso parar de ver sombras munidas de preconceito previamente postos. Já que essas sombras só garantem a obscurantização da razão, razão que é substituída por uma vontade não-dialogante e seitizante. É preciso aumentar os limites do inteligível para que sejamos verdadeiramente livres.

terça-feira, 17 de agosto de 2021

Acabo de ler "Literacia no Islã"

 


“Lê, em nome do teu Senhor Que criou; Criou o homem de algo que se agarra. Lê, que o teu Senhor é Generosíssimo, Que ensinou através do cálamo, Ensinou ao homem o que este não sabia.” (Alcorão 96:1-5) 


    Acabo de ler "Literacia no Islã". Documento de caráter histórico, mas também teológico. Fortalece ainda mais o meu respeito por essa admirável tradição religiosa e a necessidade de diálogo e abertura.


    A primeira palavra revelada para Muhammad é "lê". A leitura é o primeiro milagre: a importância da leitura se dá como ato primordial no Alcorão. Poder-se-ia dizer que a literacia - arte do letramento, da interpretação, da escrita, da compreensão - é parte constitutiva da religião islâmica. É baseado nesse mandamento divino que Muhammad seguiu a sua vida criando condições de estudo, em diversos círculos, por onde passava para que a religião aumentasse. 


    O Islã é tão impulsionado pela literacia que diz até mesmo que Alá facilitará o paraíso para aquele que estudar. A busca por conhecimento facilita o paraíso. Essa característica marcante fará com que a educação islâmica entre em complexidade constante, sempre aumentando o número de tópicos e aprimorando a técnica intelectual de passagem de conhecimento. Aprendia-se com enfoque no Alcorão, mas também buscava-se o conhecimento em outras partes. Tal fato é tão constante que enquanto o conhecimento no mundo europeu ficava restringido a certos círculos religiosos, Bagdá tinha as suas bibliotecas públicas que possibilitaram o estudo de forma mais comum, abrangente e democrática. 


    Quando Bagdá foi atacada, parte dos livros que ali estavam se perdeu. E muitos de seus moradores tinham livros como aspecto lendário. O amor ao conhecimento era transbordante, transbordante a ponto de se tornar até mesmo uma regra estética da cidade. Uma frase de brincadeira ilustra brilhantemente esse pensamento: “É uma antiga doença no Iraque - as pessoas gastam seu dinheiro em livros, não em comida”. Poder-se-ia dizer que a frase de Cristo: "Jesus respondeu: :Está escrito: 'Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus'" (Mateus 4:4) é aplicada ao mundo islâmico num sentido intelectual-espiritual.