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sábado, 4 de outubro de 2025

Nas Garras do Dragão #2 — Sistema Político Chinês


Aviso: optei por fontes em inglês por elas terem um padrão referencial melhor e mais abundante. Se os termos empregados aqui não baterem com a tradução oficial, saiba que foi graças a minha tradução amadora.


— A estrutura do poder chinês é dividida em:


1. Presidente;

2. Congresso Nacional do Povo;

3. Conferência de Consulta Política do Povo Chinês;

4. Suprema Corte do Povo;

5. Suprema Procuradoria do Povo;

6. Comissão Militar Central do Estado;

7. Conselho do Estado;

8. 28 ministros e comissões.


— Sistema Partidário Chinês:


O sistema chinês não é multipartidário e nem unipartidário, mas sim um sistema multipartidário de cooperação com a liderança do Partido Comunista Chinês. Esse sistema apresenta oito partidos além do Partido Comunista Chinês:


1. O Comitê Revolucionário Chinês de Kuomintang;

2. A Liga Democrática da China; 

3. A Associação Nacional de Construção Democrática da China;

4. A Associação da China para Promoção da Democracia;

5. Partido Democrático dos Camponeses e Trabalhadores Chineses;

6. O Partido Zhi Gong da China;

7. A Sociedade Jiusan;

8. Liga de Autogoverno Democrático de Taiwan.


— Função do Congresso Nacional do Povo:


O Congresso Nacional do Povo tem as seguintes funções:

1. Legislativa;

2. Apontamento e retirada de oficiais;

3. Tomada de Decisão;

4. Supervisão.


— Eleição:


A eleição na China funciona mais ou menos assim:


Votante (Eleição Direta) > Representantes das Assembleias Populares de Nível Base (Vota) > Representante das Assembleias Populares de Nível Médio (Vota) > Representante da Assembleia Popular Nacional.


— Estrutura Organizacional do Partido Comunista Chinês:


O Partido Comunista Chinês possui a sua própria organização interna. Há dois anos atras, o número de seus membros era de 96,7 milhões de membros.


Os membros podem ser vistos em três diferentes setores:


1. Serviço Civil;

2. Empresas controladas pelo Estado;

3. Organização social.


Cada membro do Partido Comunista está dentro de um sistema de level:


1. Nível de entrada e treinamento;

2. Senior funcional;

3. Nível de chefe de setor;

4. Diretor geral;

5. Ministro/governador;

6. Polituburo/conselheiro.


O Comitê Central analisa:

1. A performance dos seus membros;

2. Investiga a conduta pessoal;

3. Faz pesquisas de opinião pública;

4. Promove os melhores;

5. Só os melhores entrarão na alta burocracia;

6. Poderão administrar distritos com milhões de pessoas ou gerenciarem empresas multi-milionárias;

7. Todo esse processo demora duas ou três décadas.


Com seu sistema altamente meritocrático, podemos ver a passagem:

5. Congresso Nacional do Partido, com 2296 membros;

4. Comitê Central, com 360 membros;

3. Politburo, com 25 membros;

2. Comitê do Politburo, com 7 membros;

1. Secretário Geral, com 1 membro.

sábado, 4 de janeiro de 2025

Acabo de ler "Cuba: restructuración económica, socialismo y mercado" de Vários Autores (lido em espanhol)


Nome:

Cuba: restructuración económica, socialismo y mercado


Autores:

- Julio Carranza;

- Pedro Monreal;

- Luis Gutiérrez.


Adentramos numa época em que vemos o fim do socialismo clássico como modelo. Adentramos numa época em que se fala de um novo socialismo, muito inspirado no socialismo chinês.


O que seria ou, melhor, o que foi o socialismo clássico? O socialismo clássico foi um socialismo que se norteava muito pelo papel protagônico do Estado como principal planejador e distribuidor dos recursos. Ou seja, é o Estado que toma o papel de construir o processo econômico. Essa política vigorou por muito tempo, até entrarmos na construção de um novo projeto econômico socialista.


Os autores definem bem: o socialismo é um regime em que o sistema de propriedade, é um sistema de propriedade em que a sociedade controla genuinamente os meios de produção fundamentais e se beneficia do uso desses meios de produção. Ou seja, a aplicação do regime econômico socialista é a propriedade social dos meios de produção fundamentais e não de todos os meios de produção.


Uma reforma econômica em Cuba seria uma reforma que tivesse os seguintes critérios

  • Recuperação do crescimento econômico;
  • Justiça social;
  • Independência nacional;
  • Redefinição das bases sociais de acumulação;
  • Reinserção na economia internacional;
  • Reforma do sistema econômico.
Os países e as experiências que foram observados como base para essa reforma foram:
  • Novo Mecanismo Econômico (Hungria);
  • Reforma Econômica Vietnamita (Vietnã);
  • Reformas de Deng Xiaoping (China);
  • NEP (União Soviética);
  • Perestroika (União Soviética);
  • Transições pós-comunistas (União Soviética e Leste Europeu).

A reforma abarcaria uma redução do papel do plano como instrumento central da assignação de recursos e coordenação econômica.


sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Acabo de ler "How Marxism Works" de Chris Harman (lido em inglês/Parte 5)

 


Nome:

How Marxism Works


Autor:

Chris Harman


Usualmente confundimos a nossa realidade espaço-temporal como uma realidade fixa. A razão disso é pelo fato de que estamos imersos nela, o que a torna imperceptível. O estudo da história e de outras culturas, por sua vez, ajuda na relativização das nossas noções enraizadas e, até mesmo, uma possibilidade de imaginar um outro mundo de possibilidades.


A divisão de tarefas dentro de uma sociedade é um produto recente de nossa história. É evidente que quanto mais tarefas desempenhadas por uma sociedade, maior será o nível de especialização e fragmentação das atividades entre distintos grupos e pessoas. Todo esse desenvolvimento prodigioso leva a melhoras quantitativas e qualitativas. Só que há um porém: essa riqueza que é gerada é concentrada nas mãos de um grupo minoritário da população.


A pergunta que temos que levantar é: como é possível que uma minoria de indivíduos detenham para si grande parcela de uma riqueza produzida por uma sociedade? A resposta é: a natureza das leis, na maioria dos casos, não serve ao interesse geral de uma sociedade, mas ao interesse da classe dominante.


A riqueza é criada pelo trabalho físico de vários trabalhadores. Só que não é a classe trabalhadora que recebe os benefícios da riqueza que ela produz. A riqueza é controlada pela classe dominante.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Acabo de ler "How Marxism Works" de Chris Harman (lido em inglês/Parte 4)

 


Nome:

How Marxism Works


Autor:

Chris Harman


O que diferencia o homem dos outros animais? Talvez as centrais diferenças dos homens para os outros animais está na forma com que vemos o mundo a nossa volta. Temos uma consciência mais elevada não só de nós mesmos, mas do mundo ao redor. Consciência suficientemente boa para poder moldar a realidade por meio da transformação do meio.


A animalidade tende, no geral, a se proteger do meio. A humanidade se distingue da animalidade geral pela alteração do meio. O progresso cultural não é apenas um progresso imaterial, é um progresso da humanidade em relação a alteração do meio. Alteração do meio com o propósito de atender as necessidades, sonhos e ambições dessa humanidade.


A humanidade altera os meios para comportar a própria humanidade. A humanidade transforma desejo em verdade. É evidente que falhamos e erramos diversas vezes nesse processo, mas o fato inegável é que a humanidade continua. Sempre em frente, alterando cada parte em prol dum objetivo.


A interação entre anseios humanos e meios gera diferentes formas de relação. Essas relações são pautadas pela distribuição dos recursos. A distribuição dos recursos é pautada, por sua vez, na capacidade de produzir.  Quando os meios de produção mudam, muda-se também a cultura. As forças de produção alteram sociologicamente as relações de produção.


Os idealistas acreditam que podem mudar o mundo pelos céus, os mecanicistas materialistas acreditam que a natureza humana não é modificável. A história demonstra que os meios de produção alteram a cultura.


A mentalidade também é preocupante nesse caso. A mudança tecnológica é muitas vezes paralisada em prol de um tipo de privilégio que não se quer perder. Então os poderosos se juntam e entravam o desenvolvimento da tecnologia. Não é um fatalismo tecnológico, existe também relações sociais que permeiam o avanço e o entrave.

sábado, 9 de novembro de 2024

Acabo de ler "How Marxism Works" de Chris Harman (lido em inglês/Parte 3)

 


Nome:

How Marxism Works


Autor:

Chris Harman


As ideias, por si mesmas, não possuem força de caráter suficiente para mudar o mundo. O comportamento humano depende muito das forças materiais. É a forma que os recursos são postos a nossa disposição que molda o nosso comportamento. Esse ponto de vista é chamado de materialista.


Marx encarava a história com um olhar de suspeita. Os idealistas e os religiosos criavam uma teoria histórica que lhe parecia imprecisa. Marx queria uma visão histórica que fosse mais científica para esmiuçar melhor as mudanças sociais. Uma teoria que não dependesse de "Deus" ou de "mudanças espirituais".


A mudança que Marx propôs seria uma mudança de um ponto de vista misticista do estudo da história para um ponto de vista científico do estudo da história. Uma melhora significativa no fazer histórico.


É evidente que Marx não foi o único materialista a pensar na natureza humana e em seu comportamento. Do mesmo modo que existe uma perspectiva de mudança social a partir de uma teoria mais progressista da história existe algo proporcionalmente inverso. Muitos falaram da natureza humana de modo determinista, sendo o homem agressivo, dominador, competitivo e ganancioso. A mulher, por outro lado, seria mansa, submissa, deferente e passiva.


A existência de múltiplas sociedades com modelos sociais distintos revela que a natureza humana é bem mais diversa e mutável do que inicialmente estamos dispostos a crer. Querer reduzir a sociedade ao nosso modelo é um reducionismo produzido pela nossa ignorância acerca da diversidade humana.


A natureza humana não pode ser imutável e, ao mesmo tempo, tão diversificada. Como a natureza pode ser "una" e "múltipla" ao mesmo tempo? Deve existir, é claro, um ponto de unidade que designamos de "natureza humana", todavia ela não se reduz a uma imobilidade. A "natureza humana" tem um império de singularidades e alternâncias de comprovações históricas múltiplas e irredutíveis.


O problema central de muitas teses materialistas de rivais de Marx está no fato de que eles confundiam a natureza humana com a própria natureza das suas sociedades. Eles entendiam o mecanismo da sociedade em que viviam. Só que eles não compreendiam as mais diversas outras sociedades para compreenderem que a natureza humana é múltipla e pode ser transformada.

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Acabo de ler "How Marxism Works" de Chris Harman (lido em inglês/Parte 2)


Nome:

How Marxism Works


Autor:

Chris Harman


O desenvolvimento do capitalismo industrial trouxe enormes conflitos sociais. Todavia ele veio acompanhado de ótimos benefícios sociais também: pela primeira vez na história poderíamos nos defender de calamidades naturais. O problema é que esses benefícios sociais não estavam disponíveis para a ampla maioria da população. Muito pelo contrário, grande parte dos recursos e melhorias não foi só destinada a parcela mais rica da população, como em vários casos a vida dos trabalhadores piorou muito.


O desenvolvimento da civilização deveria trazer aumento do bem-estar geral, ampliando na vida de todas as pessoas a possibilidade de uma vida permeada de felicidade. Em vez disso, o capitalismo industrial brindou o mundo como uma gigantesca miséria e distorção social. O que era uma contradição: a maior salto de produção de riqueza veio acompanhado do maior salto de miséria.


Marx teve muitos contrapontos, seja na esquerda ou na direita. Muitos dos seus contrapontos de esquerda eram chamados de "idealistas" pelo próprio Marx. Marx chamava-os assim pelo fato de que as suas ideias estavam desvinculadas das condições de vida que as pessoas viviam. Suas propostas não estavam completamente erradas, mas eram isoladas da realidade e isso tirava a substancialidade e possibilidade de concretização real de seus propósitos.


A alienação pode ser descrita como muitos fenômenos. Creio que uma forma de definir a alienação é como uma incapacidade de compreender o processo socioestruturante em que a realidade se move. Para compreender uma estrutura, faz-se necessário uma sistematização do pensamento. Ter vários pontos isolados nos torna incapaz de ver a totalidade de fenômenos que se movem. É preciso um pensamento que se amplie, amplie-se no processo sistematizante duma compreensão cada vez mais rica dos fenômenos sociais. Desalienar-se seria um processo sem fim, tal como uma discussão aporética.


Essa elucubração acerca da alienação não explica a razão do surgimento da alienação. Onde surgiria esse fenômeno? Em que ponto ele surgiria? A alienação é um "ponto" em que a experiência real é ignorada em prol de um prazer momentâneo que não muda a condição precária da vida em si mesma. Ela pode ser forjada socialmente por meio da educação, da mídia, dos influenciadores. Ela pode ser forjada por uma vida dedicada a drogadição como escape da realidade. Estamos imersos num corpo social e esse corpo social determina, em parte, naquilo que creremos.


A última afirmação do parágrafo anterior é, no entanto, inconclusiva. Todos temos uma formação social e estamos dentro de uma sociedade, isso soa determinista. Se estamos determinados sociologicamente, como podemos, então, ter um pensamento fundamentalmente diferente da sociedade que nos originou? A resposta para essa pergunta é: aquilo que nos é passado por meio de uma série de propagandas e aquilo que ocorre na vida do dia a dia sempre se encontram em choque. É por isso que começamos a imaginar e a teorizar um mundo diferente do nosso e das crenças que nos passam.

Acabo de ler "How Marxism Works" de Chris Harman (lido em inglês/Parte 1)


Nome:

How Marxism Works


Autor:

Chris Harman


Qual a necessidade de uma teoria? Quando falamos da necessidade de uma teoria, embora tenhamos que pensar na prática, temos um grande problema em mente. Hoje em dia se acredita que o marxismo é uma teoria obscura deixada apenas para alguns poucos intelectuais privilegiados que possuem uma capacidade intelectual suficientemente forte para compreender toda a sua estrutura em um nível suficientemente claro. Também existe o caso contrário que afirma que o socialismo falhou e falhará, que é um terraplanismo econômico e que está viciado numa mentalidade reacionariamente burocrática e totalitária.


O socialismo é descrito como muitas diferentes coisas. Uma das principais é a de que o socialismo está certo na teoria, mas falha na prática ou no dia a dia. Suas ideias seriam boas, até mesmo bem intencionadas. Só que a sua aplicação seria na melhor das hipóteses complicada e na pior das hipóteses uma loucura que nos colocaria no inferno terrestre.


Estamos envoltos em teorias sociais, algumas com esboços mais complexos em nossas mentes e outras com esboços menos complexos. Não há uma pessoa que tenha uma teoria acerca do funcionamento da sociedade. Todavia quando entramos em um debate nos separamos com aquela velha frase: "ah, mas isso é teoria". Chegamos a conclusão de que ter "teorias" é algo ruim e que deveríamos nos entregar a prática da vida real. Só que toda vida real está permeada por teorias. A diferença é que, na maioria das vezes, não percebemos que existem teorias dentro de nós. Meio que estamos socialmente criminalizando algo que nos é inato, deixando que tudo fique inconsciente e inconcludente dentro de nossas cabeças.


Os meios midiáticos têm, dentro de si, um escopo teorético que norteia o seu agir ideológico. Isto é, os meios comunicacionais não atuam por uma mera prática qualquer. Eles atuam tendo uma visão. Essa visão é, na maioria das vezes, não muito clara. Apresentam-nos visões sem pingos nos "is" como "o mercado reagiu mal", "temos que nos aliar ao Ocidente", "a educação deve ser mais voltada as demandas do mercado para que haja maior garantia de emprego". Tudo isso tem uma teoria por trás, mas esse debate nunca é esmiuçado e é sempre passado com a notoriedade de um bom especialista que diz tudo sem dizer a razão integral que move o seu dizer.


Qualquer pessoa que quer uma sociedade melhor, seja qual for a sua linha de pensamento, precisa de uma teoria. Essa teoria pode se aperfeiçoar com a prática, mas ainda assim se faz necessário uma teoria. Não reconhecer a necessidade de uma teoria é uma falha e impede o desenvolvimento do pensamento para uma condição de melhoramento social. Tudo ficaria como um monte de peças soltas espalhadas em nossa mente.


Quando pensamos no socialismo e em seu desenvolvimento, pensamos no surgimento do capitalismo industrial. Nele várias pessoas foram reduzidas a uma condição precariedade laboral. Dali surgiram uma série de lutas para a melhoria das condições de trabalho. Vários teóricos começam a esmiuçar as questões sociais e a contribuir, pouco a pouco, ao desenvolvimento de uma sociedade socialista em que poderíamos todos ter acesso a condições melhores de vida. Muitos dos nossos direitos foram conquistados com esses desenvolvimentos.

terça-feira, 5 de novembro de 2024

Acabo de ler "Mobilize New Recruits and Conduct Political Work Among Them" de Deng Xiaoping (lido em inglês/Parte 1)



Nome:

Mobilize New Recruits and Conduct Political Work Among Them

Autor:
Deng Xiaoping


Quem poderia ganhar uma batalha contra um inimigo formidável como o Japão naquela época (1938)? A questão não era tão somente encarada a curto prazo, mas a longo prazo. A batalha era também de resistência e de persistência. Mobilizar toda uma população não é tão fácil, mesmo durante um período de guerra. Ao contrário do que se espera, as pessoas não de movem tão facilmente mesmo quando são ameaçadas por um invasor externo.

A problemática chinesa se encontrava em três gravidades. Uma delas era que culturalmente se tinha a crença de que um bom homem não utilizava armas. Em segundo lugar, havia a educação das massas. Em terceiro lugar, o modo em que o recrutamento era executado poderia trazer um questionamento acerca da ética desse recrutamento, sobretudo por parte das famílias que criavam uma resistência ou de pessoas que se sentiam ou eram coagidas para lutar.

Durante esse período, encontraram-se uma série de erros. Um deles era a incapacidade que as pessoas tinham de compreender que o futuro do país estava na balança. A necessidade de combate exigia uma mobilização, não uma fuga. Ademais, o governo se demonstrava incapaz de aumentar a sua capacidade de defesa, o que fazia com que o povo ficasse insatisfeito perante a ausência de resultados.

As pessoas não compreendiam o que era que movia tantos homens. Elas não compreendiam aquele sentimento que muitos homens compartilhavam na luta contra o inimigo. Elas não compreendiam o amor que eles tinham pela sua nação e por suas famílias. Ou seja, elas não compreendiam a fé que movia as suas almas. A partir dessa descrença, não poderiam compreender a unidade das forças armadas e o povo. As forças armadas, quando bem pensadas, tem uma unidade para com o seu povo: eles querem a proteção do povo e da nação que tanto amam. Muitos não só odiavam as forças armadas, como odiavam ter entrado nelas.

A guerra se trata de variáveis combinações. É preciso ensinar o povo a necessidade de autodefesa. Combater o inimigo interno e externo. Educar sobre a necessidade da luta. Vencer argumentativamente, militarmente se necessário, os colaboradores do adversário. Aumentar os números e vencer através da persistência e da resistência.

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Acabo de ler "The Agony of the American Left" de Christopher Lasch (lido em inglês/Parte 6 - Final)

 


Os Estados Unidos se tornou um local mais radical e dividido. Olhando as condições dessa sociedade já fragmentada e com problemas sempre crescentes, não era de se duvidar que tal problemática uma hora crescesse. A ausência de resolução para problemas estruturais foi se acumulando, tempo após tempo, ano após ano. O que sobrou? Uma mentalidade cada vez mais repressiva de um lado, uma mentalidade cada vez mais radical de outro lado.

O contato dos antigos liberais com os chamados "liberais radicais" nos Estados Unidos é meio tenso, para não dizer ingrato. A realização das pautas dos liberais radicais requer que se faça algo contra grandes corporações estadounidenses. Incapazes de resolverem a questão, aumentam o Estado de bem-estar social como forma de paliativo. Eles não podem simplesmente não manterem o contato com os radicais, visto que a base social dos antigos liberais não mais existe e eles dependem dessa nova base.

Em relação ao socialismo ou da possibilidade socialista, o americano médio não se vê "tentado" a essa hipótese. Ele vê o socialismo como uma série de ditaduras burocráticas em países pobres de terceiro mundo. É evidente que não existe base para o socialismo em um país avançado, visto que o socialismo se instalou em países pobres e subdesenvolvidos.

A nova esquerda, por assim dizer, crê num socialismo descentralizado e fragmentado. Todavia não apresentou ainda uma solução satisfatória que consiga suprir os problemas sociais de forma geral. Não há um sistema que seja "bom o suficiente" para substituir o atual – inclusive sem falir os Estados Unidos no processo.

Os Estados Unidos, sendo uma nação avançada, poderia ter as condições necessárias para um socialismo democrático. A questão que entra é: como apagar da memória dos americanos as noções do socialismo autoritário do século XX? Ademais, como criar uma nova cultura que absorva a antiga cultura, mas que também supere essa antiga cultura? Talvez essa seja a grande questão da nova esquerda.

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Acabo de ler "The Agony of the American Left" de Christopher Lasch (lido em inglês/Parte 3)

 


Naquela altura do campeonato, vendo o triste fim da União Soviética que estava embebida no totalitarismo, a ideia de uma construção social lógica e perfeita era impossível. Logo a possibilidade mesma de um mentalidade revolucionária era impossível. Era preciso ir além dos limites de "esquerda", "direita" e "centro". Se fazia necessário uma visão de mundo mais modesta, menos baseada em abstrações e mais pragmática em seus meios e fins.


A ideia de liberdade total ao indivíduo ou segurança total ao indivíduo eram duas totalidades opostas, uma defendida pelo liberalismo e outra defendida pelo socialismo. Essas duas abstrações marcavam a ferro e fogo o mundo. Era uma pauta muito "tolerante" para a animosidade polarista que tomava o mundo na Guerra Fria. O mundo estava dividido entre "dois grupos" e os grupos opostos tomavam todo e qualquer discurso do lado oposto como uma espécie de propaganda. A neutralidade, advogada por muitos intelectuais, parecia uma espécie de reforço a um dos lados – mesmo que essa não fosse, muitas vezes, a intenção.


O anticomunismo tinha algumas vias. Uma dessas vias era o anticomunismo reacionário, um anticomunismo mais à direita. Só que esse anticomunismo não era a única via anticomunista. Havia – e há – um anticomunista humanitário e mais ao centro ou à esquerda do espectro político. Esse anticomunismo é, muitas vezes, objeto de escárnio ou descrença. Muitos ex-comunistas eram anticomunistas e muitos deles não eram propriamente defensores do "capitalismo", mas sim de uma visão mais equilibrada de mundo, onde o dualismo ficava de fora.


A responsabilidade intelectual, em nome da busca sincera pela verdade, deveria ser maior que o otimismo e o grupalismo. O intelectual deveria estar acima dos interesses mais viscerais e dos grupos mais autolisonjeiros. Em vez disso, muitos buscavam soluções fáceis e tribalizadoras. É por isso que os intelectuais americanos queriam uma vigilância constante para não cair no atavismo. Prescrição essa muitas vezes ignoradas por tribalistas de direita ou de esquerda.


Tal situação de extremismo se tornou ainda pior quando o macarthismo se tornou a palavra de ordem dos Estados Unidos. O comportamento de Joseph McCarthy se tornou algo visceralmente doentio e a mentalidade conspiratória acusou sumariamente várias pessoas. Em nome da liberdade que era atacada pelos países comunistas, criou-se uma censura – muito semelhante a comunista – para acabar com... A conspiração comunista. Os Estados Unidos acabou cerceando a liberdade para acabar com aqueles que supostamente atacavam a liberdade.


A defesa da cultura livre, isto é, a livre discussão, a livre investigação, o livre-exame e o livre debate, eram mais do que nunca atacados numa era de extremos. Além disso, a consciência dos estados em relação aos intelectuais aumentava dia após dia. Os intelectuais são parte fundamental da sociedade, são eles que moldam a forma com que vemos o mundo e profissionalizam uma série de pessoas para várias tarefas. Os Estados queriam que os intelectuais fossem subservientes aos seus propósitos propagandísticos, deixando o "povo" mais dócil aos seus interesses. Só que há diferença entre o "intelectual puro" e o "intelectual propagandista". Um intelectual pode chegar a muitas conclusões, teses, ideias... Mas se seu dinheiro depende se algum grupo, as suas investigações são menos livres e mais condicionadas a interesses que escapam ao livre curso de seus exames.


A questão que aparece é: como que um intelectual mantém a sua vida intelectual? O exercício da sua intelectualidade requer um amparo financeiro. Esse amparo financeiro usualmente vem da burocracia e a burocracia geralmente se correlaciona ao governo – ou é o próprio governo. A ligação cada vez maior de intelectuais com o governo se demonstra mais alta. Essa correlação cria uma dependência e, quiçá, engrandece na medida em que corrompe a própria inteligência.


Vivemos no mais espetacular e grandiloquente processo de fusão entre o "intelectuariado" e a burocracia. Essa fusão está criando um elitismo acadêmico cada vez maior. Alçando o voo de uma classe que toma consciência corporativa cada vez maior. Os frutos dessa relação – além da ausência de uma cultura livre – é o engrandecimento de um poder estranho e invasivo.

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Acabo de ler "The Agony of the American Left" de Christopher Lasch (lido em inglês/Parte 2)

 


O movimento socialista nos Estados Unidos, ao contrário do que inicialmente se espera, foi bem amplo e bem sucedido por um bom período de tempo. O movimento socialista estadounidense tinha, inclusive, uma série de tendências em um debate aberto.


A união socialista, em suas várias tendências, começou a se desunir quando os americanos testemunharam os estrondos da Revolução Russa. Ali também se percebeu a adesão dos "sociais democratas" ao sistema, o que se considerou uma traição ao movimento dos trabalhadores. Dali em diante, haveria aqueles que seriam mais radicais – propondo uma revolução – e aqueles que seriam menos radicais – propondo uma reforma.


Esse movimento seccionista acaba levando a uma perda. Essa perda é a da unidade do movimento socialista. A ausência dessa unidade não levou a uma força maior de um dos grupos (revolucionários ou reformistas), mas sim a ausência de presença e protagonismo político. Isto é, o movimento socialista se tornou marginal e pouco comum ao americano médio.


Outro problema pairou a vista: a mensagem socialista se restringiu ao trabalhador pobre e a classe média intelectual, enquanto o nacionalismo negro se tornou comum no gueto. Fora isso, o movimento socialista não gostava dos intelectuais por esses serem usualmente de classe média. A fracionalidade implicou em ausência de soma para conquista de poder.


A questão se complicou ainda mais: o marxismo se tornou apenas um método de análise e crítica social. Ele não penetrou na cultura estadounidense. Se tornou meramente uma forma de distintos intelectuais analisarem a sociedade enquanto estavam deitados na sua própria solidão. Essa incapacidade dialógica com o restante da sociedade tornou o marxismo estadounidense incapaz de fazer valer as teses marxistas na sociedade.


Os intelectuais marxistas – e também os outros socialistas – nos Estados Unidos, além de serem isolados, não conseguiram criar uma teoria social consistente e nem dispunham de meios de realização política efetiva. Essa era a dupla fraqueza da esquerda americana: incapacidade teórica e social. Em adição a isso: as tensões raciais ainda imperavam nas discussões e houve uma queda de confiança em relação a União Soviética e os seus rumos revolucionários.


Existiram, todavia, várias influências notáveis do movimento socialista na história americana: a exposição da brutalidade stalinista, a introdução dos trabalhos centrais da literatura européia e a criação de uma arte radical. A exposição da brutalidade stalinista levou a uma busca por respostas mais parciais, isto é, uma política mais reformista. O perigo que as ideias radicais – mudanças estruturais na sociedade – poderiam causar levaram a um movimento político mais brando e menos otimista para com grandes abstrações. O movimento não precisa de intelectuais alienados, mas de mudanças concretas para pessoas concretas.

Acabo de ler "The Agony of the American Left" de Christopher Lasch (lido em inglês/Parte 1)



Estamos numa crise sem precedentes? Essa questão é trabalhada por Christopher Lasch ao analisar a então surgente esquerda pós-moderna. Processo fenomenológico ao qual ele chamou de "deserção dos intelectuais". A distância entre as gerações parecia ser muito maior do que em outras eras. É como se, de repente, um abismo se cravasse de uma geração para outra. Além disso, o fenômeno de radicalização – um pouco estranho a história americana – se tornou, a cada dia, um lugar cada vez mais comum.


A sociedade americana foi vivendo diversas crises. A pobreza se espalhou pelas massas. E várias pessoas se viram não integradas as riquezas criadas pela sociedade norte-americanos. Essa ausência de integração causou uma espécie de ressentimento em massa. Ajudando, enfim, ao processo de radicalização da sociedade americana. As pessoas que já não integravam a sociedade industrial não se integrariam também a sociedade pós-industrial. Essa lacunaridade se tornaria uma "ferida aberta na veia da sociedade estadounidense".


O movimento que vai contra o corporativismo capitalista nos Estados Unidos tem várias faces e vários grupos. Poderia ser mais enquadrado no populismo e no socialismo – convergentes em alguns pontos histórico, mas não inteiramente iguais –, ganha força em grupos distintos como universitários, proletários, negros e imigrantes.


O movimento populista – nos Estados Unidos da América – se distingue do movimento socialista. Os populistas creem na descentralização, desconfiam da burocracia estatal, além de uma ligação com a agricultura. Já o movimento socialista quer a sociedade industrial reorganizada, acredita no poder do Estado e na centralização – não todos, mas a maioria.


A questão discutida é: quem é o responsável por essas distorções que levam pessoas a ficarem a margem do sistema? Se as classes tem um autointeresse na condução econômica, conforme o pensamento marxista, é evidente que ela busca uma solução mais vantajosa para ela enquanto portadora de um privilégio estrutural. Logo a ideologia burguesa nada mais é do que uma forma de fortalecer o poder dominante da própria burguesia. Os populistas veriam de outra forma essa questão, existem pontuações em relação as situações sociais, culturais e até psicológicas. O sistema permaneceria intacto só ao acomodar essas questões.


Em momentos anteriores da sociedade americana, o movimento populista e o movimento socialista colapsaram – se não em nosso momento, ao menos naquele momento em que Christopher Lasch analisava. Eles não conseguiram se fortalecer o suficiente para fazer valer os seus interesses. Não só não chegaram a hegemonia, como cessaram de serem forças históricas transformadoras.


O movimento populista foi sendo substituído na medida em que o capitalismo industrial ia transformando as forças econômicas dos Estados Unidos. Se o movimento populista se baseava muito em questões dos camponeses e a principal força se tornou o proletariado industrial, a principal base do populismo – agrária – não teve forças para se estabelecer como movimento hegemônico. Ademais, o desenvolvimento contínuo da industrialização monopoliza o saber para determinados grupos que cresciam em poder. Seria muito difícil que pequeños grupos agrários pudessem fazer frente a esse poder e a essa produtividade. Em outras palavras, os inimigos já eram poderosos demais para serem derrotados por um grupo pequeno e fraco.


Um dos planos para revitalizar o populismo foi a maior união entre diferentes grupos e um contato maior com os intelectuais. Numa sociedade marcada pela segregação racial, tal união se tornaria mais difícil e o seu processo seria mais delicado. Já era difícil fazer com que os trabalhadores aceitassem migrantes, como fazer com que aceitassem negros? Um processo lento, diga-se de passagem.


Saindo das questões raciais e indo em direção as sugestões de gênero, embarcamos no feminismo. O que se esperava da mulher? Que ela fosse bonita e bem cuidada para que encontrasse um bom marido. Ou seja, que valorizasse a si mesma enquanto produto para ser vendida para um bom homem. A "mulher ideal" não era mais do que uma "prostituta" que era vendida uma única vez. A mulher não podia ter uma liberdade e uma autossuficiência tal como o homem podia. Ela era um ser privado de liberdade e sujeitado ao gênero oposto.


Todos esses movimentos foram crescendo e se ajustando com o tempo, seus líderes/representantes foram sendo eleitos e, a partir de suas eleições, começaram a perder a sua criticidade e capacidade de ver a sociedade americana como injusta. O que foi gerando uma sociedade desintegrada e representantes alheios aos interesses de suas próprias comunidades iniciais. Além disso, vários grupos careciam de voz audível, dentre os quais os negros. Esses grupos marginalizados tiveram as suas pautas esquecidas.

domingo, 16 de junho de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 28)

 


Essa parte foi escrita por W.E.B Du Bois, vai da página 377 à 380. Creio que a perspectiva de W.E.B é bastante interessante. Você veja, a biografia é composta por vários capítulos. E ela não se furta à extrabiografia. Ou seja, a vida dum homem não termina quando ela acaba. As suas ações se movem na história. O que foi desencadeado por ele, continuará ressonando em outras ações de outras pessoas, mesmo que essas pessoas sejam inconscientes desse processo. Você não precisa necessariamente conhecer Napoleão Bonaparte, Stalin ou Hitler para ser Influenciado por pessoas que foram influenciadas por eles. Nem pelas políticas que surgiram a partir deles ou contra as ações deles.


Mesmo que Stalin tenha morrido há muitíssimo tempo, suas ações são até hoje relembradas ou, se não relembradas, ainda possuem um impacto na formação do mundo em que vivemos ou no mundo em que nossos sucessores viverão. O estudo na história, seja qual ela for, ajuda-nos a compreender a formação da história na qual estamos inseridos ou nas quais podemos nos inserir. É o próprio estudo comparado de distintas civilizações que possibilita a capacidade de alterar o ritmo de nossa própria civilização. É por isso que, por exemplo, sugere-se que uma pessoa estude, no mínimo, a história de três civilizações distintas para se livrar do domínio alienante da sua própria civilização. Essa condição, esse estudo, possibilita relativizar uma postura dogmática e rígida ao mesmo tempo que nos torna senhores de nossa própria história e vida. E isso não só como indivíduos concretos, mas como "eu plural" – como sociedade, como nação, como grupo político.


Estudar a União Soviética e a sua forma política não é o mesmo que querer reproduzi-la. Pode até mesmo levar a um impulso contrário. Como é o caso de Jordan Peterson, que se afasta dos regimes socialistas que estudou. Ou o caso de Carlos Taibo que pensa num socialismo libertário e uma posição que é dialógica, mas não concordante com o antigo regime soviético. De qualquer modo, a ampliação da visão é de suma importância para a capacidade de enxergar novas possibilidades.

quinta-feira, 30 de maio de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 22)

 


Voltamos a análise do Instituto Marx Engels Lenin sobre a vida de Stalin (páginas 289 à 304). Aqui estamos no pipocar da Segunda Guerra Mundial e em que se concentrava a União Soviética naquele período de extremos e radicalismos. Ao contrário do que se esperava, a União Soviética buscava a paz – para o seu autodesenvolvimento – e as potências imperialistas estavam divididas: França, EUA e Inglaterra tinham a sua neutralidade e o eixo fascista queria a sua empreitada expansionista. É evidente que a postura das primeiras só reforçou o ímpeto das segundas.


Naquele período, a União Soviética já tinha a sua coletivização e mecanização dos campos. Essa foi uma das pedras angulares que permitiram que a União Soviética tivesse autossuficiência para encarar a agressão nazista. Sem essa preparação, não haveria possibilidade real de que a União Soviética sobrevivesse. O que demonstra que, apesar da turbulência, tal procedimento foi necessário.


É preciso ter em mente que Stalin compreendia a natureza cultural da revolução socialista. Não bastava que o proletariado junto ao campesinato assumisse os meios de produção e criasse o Estado socialista. Para um país socialista se faz necessário uma mentalidade social socialista. Não se trata da mentalidade de um grupo de pessoas socialistas, mas que o próprio povo se faça socialista. É por isso que escrevi "mentalidade social socialista" e não apenas "mentalidade socialista". Logo o povo inteiro se colocaria nos estudos do marxismo-leninismo e tal processo seria ajudado, promovido e impulsionado pelo próprio Estado soviético.


Stalin também falou da necessidade da União Soviética superar todos os outros estados. Só pela superação contínua das potências capitalistas poderia se falar da vitória do socialismo. O socialismo demonstraria a sua superioridade em todos os setores como principal propaganda da superioridade do sistema socialista. Essa seria uma "resposta pacífica" e "propaganda suficiente" da superioridade socialista. É por isso que Stalin promoveu uma espécie de competição de produtividade e qualidade, o sistema que mais oferecesse vantagens ganharia.

domingo, 5 de maio de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 10)

 


Esse trecho ainda é o de Emil Ludwig. Vai da página 161 à 168. Nessa parte, Emil nos dá pistas de suas ideias em relação à União Soviética e Stalin: existe uma dualidade, essa dualidade é entre a alta admiração e, ao mesmo tempo, o desgosto. Emil Ludwig é um anticoletivista e, portanto, não pode ser descrito como um comunista. Emil tinha uma visão bastante complexa, cheia de detalhes, acerca da União Soviética. Sendo admirador de suas proezas e contrário aos aspectos totalitários.


Emil Ludwig, sendo um homem bastante culto, consegue filosoficamente delinear pontos de concordância e disconcordância. Algo que falta aos intelectuais mais inaptos, todavia que não faltaria a um grande intelectual. É desse dissecamento, dessa capacidade de sutileza, dessa visão de traços, que surge uma rica análise. A análise de um doutrinador ou de um doutrinário é sempre simplista, visto que concorda ou discorda dogmaticamente em blocos, como numa unidade de fé. Algo bastante comum em nossos intelectuais mais fracos, mas igualmente comum no mundo todo.


Emil conheceu Stalin e esteve na União Soviética. Ele pôde ver de perto tudo o que acontecia. Esteve livre para analisar tranquilamente. E graças a isso a sua visão é favorecida. Emil via em Stalin as características típicas de um autocrata asiático: a de um ditador parcimonioso e acostumado a uma análise crítica e estratégica da situação política. O Stalin visto por Ludwig não se surpreenderia com seus aliados, com o povo ou com seus admiradores. É da natureza dos homens a volatilidade e tudo pode ir da água pro vinho e do vinho pro abate. Graças isso, confiava mais em manter o bem-estar geral e em manter uma rígida política de controle social.


Manter um progresso contínuo, um bem-estar relativo e uma política de controle social. Essa linha – também vista na China – é a garantia da permanência no poder. Para Emil, Stalin sabia da falsidade de seus seguidores. Essa diferença crucial demonstra a frieza e, ao mesmo tempo, a expertise de Stalin. Algum dia, compreenderão a genialidade da análise política de Emil Ludwig e a genialidade política de Stalin.

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 6)

 



Ainda na parte escrita por Emil Ludwig, estamos nas páginas 87 à 108 do livro. Aqui vemos o governo de Lênin e toda a conjuntura de dar forma ao poder revolucionário. Com os poder em mãos, o esforço não era mais o de promover instabilidade ao poder dominante e sim o de criar um novo poder dominante. Ou seja, o de construir a ditadura do proletariado. Um estado diferente de todos os outros: não sendo mais controlado pelo clero (via religião), pela aristocracia ou realeza (via política) ou pela burguesia (via economia), agora cabia ao próprio proletariado e ao seu fiel amigo, o campesinato, o de ditar o rumo de sua própria vida e engendrar as engrenagens da liberdade que sempre almejou.


Só que havia um problema nesse sonho, o problema era que o sonho não era só de um. O sonho era um sonho compartilhado com várias visões que, mesmo que se juntassem com alguma semelhança, apresentavam-se distintamente. Dentro do próprio partido, existiam rupturas. Não só isso: socialistas revolucionários, anarquistas, mencheviques e tantos outros, também combateram a burguesia e seus aliados na revolução. Cada qual queria ter parte nesse poder que surgia, mas cada qual tinha uma visão distinta sobre esse poder. Partidários de uma mesma classe – ou duas classes (proletariado e campesinato) –, divididos por diferentes ideais.


O poder evidentemente caiu nas mãos dos bolcheviques, isto é, dos comunistas. Inicialmente esse poder foi utilizado para reprimir os teóricos e adversários do poder comunista, garantindo a estabilidade do poder com base na repressão. Depois de terem calado os inimigos "extra-doutrinários", cabia-se estabilizar o poder nas mãos dos comunistas. E como é que eles fariam isso? Concentrando-o nas mãos de um grupo de comunistas em vez de reparti-lo nas mãos de todos os comunistas. Esse repetitivo processo de concentração para estabilização do poder e para manter a revolução seria, a posteriori, um grande problema para o Estado Soviético e um dos principais motivos de seu fim.


De qualquer forma, a rivalidade entre Trotsky e Stalin vai se delineando e uma ruptura definitiva vai surgindo pouco a pouco.

domingo, 28 de abril de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 4)

 



Essa parte do livro é escrita por Emil Ludwig, historiador alemão de ascendência judaica. Ludwig tinha uma teoria histórica baseada numa noção muito específica: não eram os povos que tinham missões a serem desempenhadas, mas sim que as grandes individualidades conduziam o fluxo da história. Se Stalin é analisado por ele, então ele crê que Stalin era portador duma grande individualidade e, com essa substancial personalidade, alterou o fluxo da história com a sua marca. Essa análise vai da página 57 à página 72.


É interessante observar que Ludwig não poderia ser classificado como comunista, muito menos como um partidário de Josef Stalin – Ludwig se classifica como "individualista incondicional". E, mesmo assim, na autonomia da criticidade de seu trabalho, foi um admirador expectante da obra de Stalin. A fundação da União Soviética parecia-lhe o maior acontecimento político do século XX. Dizia até mesmo que: "os russos são o único povo a destruir o reinado do dinheiro".


Ludwig demonstra um Stalin diferente da imagem contemporânea: um homem de profundos estudos, metodologicamente disciplinado, apaixonado pela solitude e duma capacidade oratória e retórica fulminante. Sua atividade revolucionária não foi tímida, só foi típica da sua estrutura comportamental de asiático: silenciosa e parcimoniosa, mas, ainda assim, portadora duma fidelidade férrea e absoluta. A índole de Stalin não é a de um homem apaixonado narcisicamente por si mesmo, tal qual era a de Hitler. A índole de Stalin está, como diz seu próprio nome, no aço. "Stalin" designa exatamente isso: Homem de Aço.


O texto é altamente biográfico, explora a infância de Stalin e o princípio de sua atividade revolucionária. Com uma infância marcada pela mazela da pobreza, Stalin viu muitas vezes pessoas ricas abusarem do poder. O que lhe marcou profundamente, causando-lhe um desgosto para com a situação política da Geórgia e também do Império Russo. Sua vida no seminário lhe deu uma instrução privilegiada, mas o que lhe arrebatou o coração foram as atividades revolucionárias e as mensagens políticas incendiárias que circunstancialmente apareciam.

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 3)

 


Quem é Josef Stalin? Essa pergunta soa e ressoa, mesmo após um período tão distante. Para responder essa pergunta, debruçamo-nos na visão do primeiro embaixador estadounidense na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas: Joseph E. Davis. Que tipo de visão vocês creem que Joseph nutria acerca de Stalin? Uma péssima, não é mesmo? A resposta é: não. Joseph admirava Stalin e via-o como um homem de notável inteligência e capacidade política. Além disso, acreditava ver nele um excelente homem.


Stalin é aqui relatado como um cavalheiro bastante cordial. Mesmo compreendendo a natureza crua – e por vezes fria – do processo político em sua dimensão real, a famosa realpolitik, Stalin ainda demonstra traços de humanidade e arrependimento dos problemas internos e externos, tentando sempre evitá-los ou atenuá-los na medida do possível. Fora isso, seu contato com os cidadãos da União Soviética é bastante próximo e a sua vida está envolvida numa disciplina que a deixava produtiva e vigorosa.


Hitler também foi analisado, embora numa escala menor, nesse pequeno texto. Hitler é descrito como megalomaníaco e que rouba os créditos do esforço coletivo inteiramente para si. Stalin, por sua vez, demonstra-se mais humilde e compreensivo, valorizando o trabalho coletivo. O único paralelo entre os dois é: a capacidade de realizar grandes planos. Hitler regozijava-se da própria crueldade, Stalin sempre se arrependeu de ter que usá-la.


Um dos pontos sempre falados, mas que hoje salta aos olhos do estudante contemporâneo, ainda mais nessa época de triunfo narrativo do anticomunismo e "antistalinismo": Stalin era um homem bastante metódico, de pouquíssimos prazeres, perpetuamente entregue ao estudo sistemático e ao trabalho contínuo. Ele cumpria ferreamente seus compromissos e estudava os problemas nacionais – além de ter uma compreensão elevada da Europa de seu tempo. Além do mais, admirava os Estados Unidos e não queria um conflito com ele.


Seria um homem assim um monstro tal como hoje se pinta? Talvez os objetivos ocultos da narração contemporânea tenham mais a dizer do que a própria narração que tanto se alardeia.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Acabo de ler "Marx y Rusia" de Carlos Taibo (lido em espanhol)

 



A obra de Carlos Taibo é uma obra muito rica em seus pontos. Sendo ele um exímio estudioso da realidade russa, é também um leitor apaixonado da obra de Marx. Embora o próprio Carlos Taibo seja, por assim dizer, um autor anarquista. Ele faz frente aos vulgares que sendo marxistas ou anarquistas não lêem o conteúdo teórico de outros autores por divergências intelectuais, empobrecendo em muito o conteúdo da própria obra e (auto)limitando a capacidade de expansão do próprio horizonte de consciência.


Percebe-se que Marx, o velho Marx, tornou-se um homem mais sábio e mais aberto. Em vez de se encurralar pelo corpo teórico já construído pelos seus anos de vida intelectual, tornou-se, muito pelo contrário, aberto ao revisamento intelectual de sua própria obra. Estabeleceu novas pontes, construiu pouco a pouco um contato maior com sociedades pré-capitalistas em diálogos teóricos com o futuro anticapitalista. Além disso, estabeleceu um horizonte teórico de maior ecumenicidade com autores anarquistas.


A pesquisa de Carlos Taibo sobre o velho Marx traz uma luz que pode desencadear uma série de estudos que são muito relevantes ao desenvolvimento duma linha de raciocínio mais crítica e, ao mesmo tempo, mais abarcante e, portanto, mais completa. Hoje em dia é soberanamente necessário que não sejamos mais intelectuais dogmatizados e brutalizados pela adesão irrestrita ao bando. Temos que ser pessoas abertas, navegantes do mar de dados que é o conhecimento.


Sem dúvidas, hoje para mim é indubitável que se pode amadurecer intelectualmente sem que, ao mesmo tempo, sejamos pautados por uma rigidez mental tão característica de vários intelectuais que nos predecederam. E, quem sabe, a partir disso: construir uma sociedade mais igualitária, mais justa e mais humana. Que a mesa onde nos assentamos seja a de um diálogo irmão e não a de uma selvageria desavergonhada.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Acabo de ler "Historia de la Unión Soviética" de Carlos Taibo (lido em espanhol)

 



A revolução russa, junto com a construção do Estado soviético, é um período marcado amplamente por uma série de contradições que revelam a própria natureza humana em suas glórias e misérias. Neste livro, o autor passa pelo período pré-revolucionário, revolucionário, pós-revolucionário, o Estado soviético e o período pós-soviético. Embora o livro se centre mais no período do Estado soviético.


O Estado soviético passa por várias transformações. A própria luta socialista se caracterizou por uma série de divisões. Houve o período de luta contra os "não socialistas", a luta dos socialistas contra outros socialistas, o assassinato da oposição socialista dentro do próprio partido, a tentativa de restauração da descentralização democrática, o retorno aos hábitos de tirania despótica, a nova tentativa de democratização e o fim da União Soviética. A anatomia do poder, longe de dar poder efetivo ao proletariado e campesinato, foi construída por uma burocracia altamente centralizada e hierárquica.


A corrupção e o abuso de poder, tão criticada, logo as tornou a configuração mesma do poder que ia surgindo. A burocracia, longe de ser a vanguarda do proletariado na condução do socialismo, tornou-se uma classe própria. A pretexto de edificar o socialismo e calar a possível oposição ao socialismo, criou-se um maquinário de censura e destruição sistemática que pesou na oposição socialista marxista e não-marxista. Tudo foi corrompido pela própria natureza humana que não pode ser, e nem será, moldada inteiramente pelas condições sociais que iam surgindo.


A distribuição de recursos não era uma questão puramente econômica. Era mais uma batalha política em torno dos recursos do que uma gestão sóbria. E tal condição, pouco a pouco, levou à ruína da própria economia soviética. Grupos disputavam entre si os recursos que seriam dispostos sem pensar no todo envolvido. Embora não se possa dizer que a União Soviética falhou em tudo, a eficiência de setores era extremamente desnivelada e contraditória. O socialismo morreu nas mãos dos próprios sonhadores.