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sábado, 2 de março de 2024

Acabo de ler "Sobre el Nacionalismo Español" de Carlos Taibo (lido em espanhol)

 



Esse é o quarto livro que analiso do escritor espanhol Carlos Taibo. É, para mim, uma imensa honra prestar uma espécie de homenagem - mesmo em minha total irrelevância acadêmica - a este grande anarquista espanhol. E espero que, deste modo, possa levar a uma maior divulgação de sua obra no Brasil. Esta é uma obra merece ser lida.


Saindo das bajulações, vamos ao conteúdo do livro: o nacionalismo dentro da conjuntura espanhola em suas dinâmicas próprias. Quando pensamos em nacionalismo espanhol, não pensamos em um "grande nacionalismo". Pensamos numa nação que perdeu a grandeza de super potência. A própria noção de Espanha, e também Portugal, já foi uma nação que "dominou (grande parte d)o mundo" é algo que quase sempre nos escapa. Talvez olhemos a Espanha mais como um país acolhedor ou com maior proximidade linguística do que uma grande nação.


Na Espanha, existem conflitos entre visões distintas de nacionalismos. Tal qual qualquer país. O separatismo de Catalunha não é, por exemplo, uma questão que se poderia ignorar nessa conjuntura. As questões linguísticas que aparecem dentro do território espanhol, que prioriza demais o castelhano enquanto se esquece de outras línguas, leva a uma hostilidade das diferentes regiões internas e comunidades dentro do próprio país.


Existem nacionalistas que pensam que os demais países de língua espanhola - embora esse termo seja questionável, visto que há um debate sobre se deveríamos chamá-lo de "castelhano" - deveriam prestar uma espécie de reverência pela Espanha, por ser sua "pátria-mãe". A noção de Espanha como pátria-mãe da civilização hispânica é, de certa forma, um retorno a uma noção, mesmo que espiritual, do Império Espanhol. E existem os nacionalistas liberais, mais retraídos em suas propostas de grandeza hispanicista e mais ligados a questões de convivência pacífica e harmoniosa no seio da própria comunidade, tratando as ex-colônias como "irmãs" e não como "filhas".


Este é um livro bem pequeno, apenas 49 páginas. Mas garanto que não é, por tal pequeneza, pouco complexo em seu assunto e, muito menos, de menor importância. É  denso.

terça-feira, 12 de setembro de 2023

Acabo de ler "Breve História de Francisco Franco" de José Luis Hernández Garvi (lido em espanhol)

 



Uma biografia não revela tão apenas o objeto subjetivo da pessoa que ela explana, ela igualmente revela ao leitor que a estuda mais sobre si mesmo e as suas aspirações na qualidade de "ser ontológico" e, por tal condição, ligado de maneira intrínseca as pautas transcendentais da busca de significação e felicidade.


Um jovem tímido, leitor assíduos de mágicas heróicas, na contínua ânsia de ser provado, pouco dotado socialmente e incapaz de sustentar boas conversações com o outro gênero. Este homem se conduz numa jornada existencial que o qualifica, pouco a pouco, numa complexa teia relacional que minuciosamente o desenvolve. Poderia ser o autor que vos escreve, mas é Franco.


Como tal figura, despida dos rigores da crueza da vida e infinitamente deslocada, tornou-se um portentoso ditador conhecido por sua mão férrea e impiedosa? Quiçá a diferença entre a humanidade e a desumanidade, nos corações dos próprios humanos, seja mais tênue que nosso otimismo e crenças éticas.


Pessoas muito semelhantes a nós se tornam indescritíveis por sua monstruosidade o tempo todo, qual seria a diferença que nos separa delas? Só teremos respostas vagas e eternas dúvidas quanto a natureza de nosso próprio coração.


Ler a biografia de Franco trouxe mais do que um conhecimento histórico e biográfico, trouxe também um espelho com uma imagem muito familiar que aponta para mim e questiona o estado de minha alma. São nas leituras que nos levam aos mais altos céus infernais da angústia e do desespero que podemos olhar as nossas falhas sem autopiedade e sem as rédeas morais do automarketing e autoenganação idólatra e narcísica.


Talvez tenha encontrado mais semelhanças do que gostaria. Desejando, a cada momento, que eu não me torne tal qual ele se tornou. Esperando alguma sorte, ou graça, que nos distancie e separe. Ou talvez o doce alívio da morte antes que se concretize em mim o que tornou Franco aquilo que ele foi.


Meus contemporâneos adoram adular-se e verem-se como bons, eu tenho permanente suspeita com o que olho quando olho meu próprio reflexo.

domingo, 30 de abril de 2023

Acabo de ler "Historia del Partido Democrata Cristiano de El Salvador" de Hilda Caldera (lido em espanhol)

 



O que fazer num subcontinente em que, devido a fragilidade unitária, está sempre em violentas ebulições sociais e rupturas institucionais? A verdade é que a América Latina é um local bastante hostil.


Desde o momento de sua fundação, analisou Carlos Rangel, estamos com dois problemas básicos:

1. A fundação veio duma ideia retrógrada no campo econômico, profundamente mercantilista, e igualmente retrógrada em todas as outras áreas;

2. O tecido social da sociedade colonizadora (Espanha, neste caso) estava rompido e era impossível que ela se traduzisse numa verdadeira unidade (eu plural).


O caso de El Salvador é a mesmíssima novela latino americana: uma brutal incapacidade de conviver harmonicamente, levando sempre a grupelhos e tiranetes brigando entre si pela hegemonia dentro do país sem se importar com uma real unidade nacional. Não por acaso, El Salvador foi palco duma série de problemas explosivos.


O Partido Social Cristão teve que viver e tentar mudar essa triste realidade, porém como mudá-la se o tecido social é fragmentário desde antes de sua origem? Um pequeno e bom livro, mas de um triste enredo tipicamente latino americano.