Mostrando postagens com marcador Francisco Franco. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Francisco Franco. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 12 de setembro de 2023

Acabo de ler "Breve História de Francisco Franco" de José Luis Hernández Garvi (lido em espanhol)

 



Uma biografia não revela tão apenas o objeto subjetivo da pessoa que ela explana, ela igualmente revela ao leitor que a estuda mais sobre si mesmo e as suas aspirações na qualidade de "ser ontológico" e, por tal condição, ligado de maneira intrínseca as pautas transcendentais da busca de significação e felicidade.


Um jovem tímido, leitor assíduos de mágicas heróicas, na contínua ânsia de ser provado, pouco dotado socialmente e incapaz de sustentar boas conversações com o outro gênero. Este homem se conduz numa jornada existencial que o qualifica, pouco a pouco, numa complexa teia relacional que minuciosamente o desenvolve. Poderia ser o autor que vos escreve, mas é Franco.


Como tal figura, despida dos rigores da crueza da vida e infinitamente deslocada, tornou-se um portentoso ditador conhecido por sua mão férrea e impiedosa? Quiçá a diferença entre a humanidade e a desumanidade, nos corações dos próprios humanos, seja mais tênue que nosso otimismo e crenças éticas.


Pessoas muito semelhantes a nós se tornam indescritíveis por sua monstruosidade o tempo todo, qual seria a diferença que nos separa delas? Só teremos respostas vagas e eternas dúvidas quanto a natureza de nosso próprio coração.


Ler a biografia de Franco trouxe mais do que um conhecimento histórico e biográfico, trouxe também um espelho com uma imagem muito familiar que aponta para mim e questiona o estado de minha alma. São nas leituras que nos levam aos mais altos céus infernais da angústia e do desespero que podemos olhar as nossas falhas sem autopiedade e sem as rédeas morais do automarketing e autoenganação idólatra e narcísica.


Talvez tenha encontrado mais semelhanças do que gostaria. Desejando, a cada momento, que eu não me torne tal qual ele se tornou. Esperando alguma sorte, ou graça, que nos distancie e separe. Ou talvez o doce alívio da morte antes que se concretize em mim o que tornou Franco aquilo que ele foi.


Meus contemporâneos adoram adular-se e verem-se como bons, eu tenho permanente suspeita com o que olho quando olho meu próprio reflexo.

terça-feira, 22 de agosto de 2023

Acabo de ler "Historia Mínima de la Guerra Civil española" de Enrique Moradiellos (lido em espanhol)




Escrever sobre um conflito tão exaustivo e marcante nas poucas palavras que o Instagram permite é uma certa espécie de martírio. Porém não falho ao meu compromisso intelectual de estudar e analisar, mesmo que sem a minúcia necessária, o universo hispânico (seja este em sua origem ou em suas variações).


Quem estudar espanhol terá um mundo a se abrir diante de teus olhos. A história de inúmeros países e, igualmente, muitíssimos autores aparecer-lhe-ão em companhia para que amadureça em visão de mundo, relativizando a estreita visão de outrora e abarcando um novo grau de horizonte de consciência. A história marcar-lhe-á a alma a ferro e fogo, para que tu crenças na medida do mar imenso e profundo que desbrava.


A guerra civil espanhola teve uma configuração muito importante. A  Alemanha e a Itália estiveram ao lado de Franco, porém a União Soviética manifestou-se a favor do regime republicano. A participação de anarquistas, comunistas (marxistas) e socialistas também foi de suma importância. A neutralidade da Inglaterra e a permissividade da França foram pontos graves.


Tratava-se duma guerra entre um lado tradicionalista (católico e monárquico), de tendências fascistas e outro lado de tendências mais laicas, dominado por uma mentalidade mais própria da modernidade ou até mesmo do socialismo ou do anarquismo. Um lado vendo o outro como intolerável.


Todos já sabemos o fim que levou. A vitória de Franco não seria estrategicamente um grande auxílio ao Eixo (Itália, Japão e Alemanha), todavia afastaria a Espanha duma posição energicamente contrária aos seus interesses. Já a União Soviética, neste tempo ainda sem seu gigantesco arsenal militar, não seria suficientemente capaz de sustentar uma revolução socialista ali com sua baixa capacidade produtiva e produtos fora do padrão de excelência que um dia conquistaria. Mesmo que se possa dizer que outra república socialista ser-lhe-ia de grande ajuda.


Uma luta tão multifacetada, tão demonstrativa das contradições históricas não pode ser ignorada por qualquer um que goste e queira estudar seriamente o mundo.