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sábado, 2 de abril de 2022

O Trágico Fulminante #2 - As Garotas Mais Bonitas da Escola




Conte-me mentiras. Diga-me como esconde a sua consistência líquida e superficial por trás de um belo sorriso e um corpo gostoso. Fale-me sobre sua vida niilista que se resume a uma mera relação insertiva e receptiva de dois órgãos um tanto banais. As revistas de moda não escondem, sua vida mental é como a de um inseto que morrerá após um coito infernal. Como se o que bastasse fosse o pouco do pouco do sexo após sexo e mais sexo, seu único élan existencial que mantém a sua vida vazia de conteudismo enquanto tal.

As garotas mais bonitas da escola são como lindas flores de plástico. Belas, cheirosas, eternamente petrificadas como uma estátua humana após o olhar hipnótico de uma sociedade medusada num vácuo existencial. Tão ricas em exterioridades e tão mortas em interioridades. Incapazes de um assunto que toque as faculdades superiores que não pertencem ao corpo, mas a alma. Ordenadas pelas desordenadas duma sociedade antiaristocrática, enternecidas pelo ode ao mediocracismo dum materialismo sem igual. Num Brasil degenerado em que introspecção virou ofensa pessoal.

Pior do que não entender, é viver para nunca querer entender. A troca da picanha pela maestria do palito. A inversão referencial como meta diabólica de uma revolução ultra dionisíaca. O sexo em vez do amor cria o antisexo, a pornografia mata o erotismo como se matasse uma formiga. É ironia, mas o auge da criação se pôs a andar de quatro. Tornou-se um mero cachorro idealizador do cheiramento de nádegas. A civilização, do cume da sua sapiência, entrou em mantra hipnótico e anticivilizatório em ode pela dança da chuva do acasalamento.

Revele-me como você se despiu de toda humanidade que lhe restou apenas para um momento que se esqueceu. Implore-me para que eu faça parte da quantificação do antivalor. Levante o meu pau, já que sou o animal agonizante. Mas a minha alma você não leva, já que ela é por excelência espiritualizante. E depois de todos os fatos vãos, vá embora por um prazer debilitante do mundanismo ocidental antiocidentalizante.

terça-feira, 20 de julho de 2021

Erotismo, Pornografia e Nofap



   
    Muito se fala acerca do erotismo e da pornografia, creio que seja necessário algumas pontuações para um melhor entendimento dessa questão. Esse texto é um compilado de comentários que reestruturei, adicionando mais comentários, tornando alguns mais elaborados e outros mais explicativos para se tornarem de fato um texto coeso e esse tipo de "coisa" é algo que pretendo fazer mais vezes para fins de maior ilustração. Antes da leitura, já afirmo: esse texto é antipornográfico e tem como fim um afastamento da pornografia. Mais do que uma busca só pelo aumento do entendimento, é uma busca pela luta antipornográfica. Espero que gostem. 

    Erotismo e pornografia estão dentro da sexualidade, mas erotismo está ligado a um enredo em profundidade, enquanto a pornografia é algo mais superficial e direto. Se eu pudesse  simplificar, simplificaria na seguinte forma: imagine, por exemplo, um enredo de curto prazo e um enredo de longo prazo. Cada um terá um nível de complexidade necessária. Ilustrando:
A- (Pornografia): um engenheiro chega na casa de uma mulher, a mulher fica "feliz" com ele e dá para ele.
B- (Erotismo): o percurso seria um desenvolvimento de personalidade centrada nas dificuldades e anseios humanos, em que as relações tornam-se cada vez mais completas  e complexas, o desejo é explorado várias vezes até chegar em pontos culminantes de sexo - que não são centrais, mas encaixados numa estrutura que se complexifica em torno de sólidas relações humanas.

    O objetivo do erotismo não é o sexo divorciado da estrutura vivencial, como faz a pornografia, que é a própria superficialização da vivência sexual, mas trazer o sexo com a tonalidade do real. Isso torna o erotismo em algo muito superior a pornografia, o fim da realidade simulada é a proximidade com o real ou a aparência "bruta" do real, quanto mais complexa, mais realística.  

    A cultura sexual abaixou na medida em que a pornografia tornou-se padrão, pois pornografia é o mais baixo tipo de cultura sexual. A definição de cultura do brasileiro médio é puramente antropológica: cultura é qualquer coisa feita pelo homem. Só que apesar de cultura ser qualquer coisa feito pelo homem, a cultura varia em grau, mas atualmente esse grau é ignorado pela maioria das pessoas. Na ânsia de se legitimar a cultura, na ânsia de democratizar a cultura, acaba-se construindo um mito de que toda cultura possui igualdade epistemológica. E tal mito da igualdade epistemológica nivela tudo por baixo. É por causa disso que alguns equívocos são cometidos e a busca por uma cultura mais qualitativa e de maior "grau de abstração" tende a ser ignorada em nosso país.

    A questão da pornografia, a questão do erotismo, não é problemática por essas duas "serem irreais". O problema não se dá em irrealidade. O problema se dá entre a idealidade, a ideia e a realidade. Podemos tirar bom proveito da ficção se pudermos trazer ela para o âmbito do real. Se entendermos, por exemplo, que a ficção é um conceito apresentado numa realidade simulada, temos aí um bom entendimento. Quando compreendemos que a ficção é, na verdade, a aplicação de um conceito numa realidade simulada podemos compreender o que há de belo e até mesmo aprender com a ficção. Por exemplo, em meu TCC usei o exemplo da HQ "Batman: Piada Mortal" para ilustrar o que era loucura. Acontece que nem todo mundo consegue estruturar a ficção no real por ausência de metodologia intelectual. E parte daquilo que se havia de benéfico na ficção, aquilo que a ficção desejava passar, se é perdido. Um dos principais erros é condenar toda a ficção por simplesmente se juntar a ficção ao lado da baixa ficção. Com a antropologização da cultura, em que tudo tem valor igual, Dostoiévski juntou-se ao Zé da Esquina e com o Zé da Esquina foi desqualificado. Usualmente pessoas que focam na esfera utilitária da vida descartam a alta literatura por não compreenderem que existem níveis de literatura. O problema do erotismo, ou mais exemplificadamente, da literatura erótica, não é o fato dele ser erótico, tal como o problema da ficção não é ela ter um simulacro em vez de realidade: é a forma como o sujeito volta para a realidade depois dela. Se o fim da realidade simulada é apresentar um conceito, uma ideia, que servirá de lição para aquele que a lê: então o sujeito leitor terá que aprender algo ao final de tudo. Essa aprendizagem é o fim da leitura. 

    O problema da pornografia é o prazer imediato ligado a uma experiência com irreal que com o tempo fortalece a necessidade de buscar só o irreal. A pornografia, para se cumprir, sempre exige o mais baixo apelo ao homem. Ela apela aos instintos e tão somente aos instintos. E conforme cumpre a sua função de dar prazer imediato, radicaliza a mente nessa busca de prazer de curto prazo, tornando a mente humana incapaz ou menos capaz de consecução de obras de longo prazo. A grandeza do homem, a principal diferença do homem, está precisamente nessa racionalidade que lhe dá liberdade. Coisas que privam o homem dessa mesma racionalidade acabam por lhes tornar menos homem.

    A ficção é tão alienante quanto pornografia, ler é tão alienante quanto pornografia, orar é tão alienante quanto a pornografia. O problema está na volta da pessoa ao cotidiano: se essa experiência é integrativa na pessoa e no seu mundo global, ela é boa. O problema é que a pornografia não foi feita para participar holisticamente do homem, ela foi feita para tirar esse homem dessa mesma globalidade necessária para toda experiência não alienante. Se uma experiência só serve para o divórcio, se uma experiência só prende para dividir, então ela não é uma boa experiência. A pornografia afasta a pessoa do seu cotidiano, torna-a cega em seu próprio círculo e, portanto, não volta da alienação para a realidade. O fim da alienação é o retorno do ser para a realidade, tornando-o mais integrado a essa mesma realidade. Quando uma experiência se torna determinante e exclusiva, ela atrofia a capacidade de viver a realidade, já que ela se torna uma saída da realidade. 

    Existe uma diferença entre alguém que faz sexo com uma pessoa e alguém que deixa de estudar, de trabalhar, de amar ou qualquer outra coisa para ver pornografia e se masturbar. No primeiro caso, essa pessoa tem uma experiência diluída numa série de outras experiências. No primeiro caso, a vida sexual lhe dá impulso para continuar a viver, já que a experiência sexual lhe integra com uma teia de relações. Enquanto que no segundo caso, uma pessoa tem uma vida que é atrofiada em certo aspecto: a sua sexualidade não é mais parte de sua vida, é em si a própria vida. Para viver a sua sexualidade desordenada, ela precisa se abdicar cada vez mais da própria realidade integrativa da vida. E quando a sexualidade vira uma vida em si mesma, torna-se alienadora: não se pode mais sair dela. O prazer que nos separa da realidade, o prazer que nos impede de viver os múltiplos setores da realidade é um prazer que nos priva de viver. Viver não é sair se masturbando para conteúdo pornográfico.

    Se eu pudesse aconselhar a todo leitor e leitora sobre esse assunto, sobretudo para sair do vício pornográfico, tendo como base o problema do vício em pornografia e o consumo da literatura erótica, eu diria o seguinte:
  1. Não entre em contato com um material erótico se você é viciado em pornografia, ele pode te levar ao retorno do vício, torne-se mais forte antes disso;
  2. Não encare a ficção como algo ruim por ser irreal, mas tente fazer de toda ficção um material concreto para sua própria vida de forma sensata;
  3. O problema não está na viagem, mas sim na incapacidade de integrar essa viagem no restante da vida, se uma viagem é apenas uma fuga, ela deixa de ser boa e se torna razão de uma negação da realidade;
  4. Nem toda viagem é negadora da realidade, nem todo "irreal" é irrealizador;
  5. Dito tudo isso: viva só viagens sadias que se conectem com o restante da vida, aquilo que se conecta com o restante da vida é bom;
  6. Deparar-se com sexo na literatura não é preocupante se o sexo não for objeto idolátrico (idolatria é acreditar pegar algo limitado e o ter por ilimitado), mas sim um mero acidente na obra;
  7. Um "acidente" na obra é algo que existe tão apenas numa trama que envolve muito mais que esse acidente, o acidente não é o núcleo, o acidente não resume a trama em si mesma;
  8. Todavia se você não conseguir escapar desse acidente, se esse acidente como que te "dogmatiza" numa particularidade, se esse "acidente" é para si como que absoluto, você deve evitá-lo, já que ele é "motivo de queda" para você, só que esse motivo de queda só existirá se você for incapaz de controlar o que envolve esse acidente (sexo e pornografia).

    Você não deve se tornar incapaz de, por exemplo, ler um livro de ficção em que em um único momento acontece sexo e, por isso, ir bater uma vendo pornografia. Se você é incapaz de ver um momento erótico numa obra de forma saudável, você deve fugir dessa obra, que no momento é um mal para ti que é viciado em pornografia. Só que o erótico numa obra não deve ser tomado como ruim por si mesmo, nem a literatura deve ser tomada como ruim por ser "irreal". Ter isso em mente ajudará muito no discernimento do espírito.

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Pseudotranscendência e Pornografia

Pornografia e Pseudotranscendência




    Nelson Rodrigues disse uma vez: “todo amor é eterno e, se acaba, não era amor”. Sempre achei essa frase meio estranha. Sempre discordei dela. Hoje creio que ela é tão real quanto o chão sob meus pés: aquilo que amamos, torna-se parte de nós e aquilo que é parte de nós nunca nos deixa. Posso até mesmo não ver mais uma pessoa que esteve comigo, posso até mesmo odiar o seu presente estado, todavia se a amei, ela é parte de mim e sendo parte de mim não me abandona e não acaba.

    Em primeiro lugar, esclareço o que é alienação: alienação é sair de si mesmo. Muitas coisas nos levam a sair de nós mesmos, tal é o efeito dos filmes, dos desenhos, dos livros, até mesmo da religião. Alienar-se é, em certo sentido, natural e necessário. Até mesmo quando olhamos a situação de uma pessoa marginalizada, se formos empáticos, alienamo-nos para compreendermos a essa pessoa marginalizada. O problema não é a alienação, é ser alienado – o alienado está continuamente fora de si. Ser alienado é diferente de alienar-se, pois aí se encontra não mais alguém que se aliena através de uma experiência de saída do ser – algo que pode ser enriquecedor –, mas alguém que permanece saído de si mesmo. E quando permanece fora de si, acaba por deixar de viver.
 
    Pseudotranscendência é um contínuo estado de alienação. O estado do alienado é o de pseudotranscendência. A verdadeira transcendência leva o ser a ser-mais-ser, ela está precisamento no ser que acresce, no ser que cresce com a saída e com o retorno a si mesmo. O fim da transcendência é o sublime: é aquele momento em que não somos mais nós mesmos, somos mais do que nós mesmos. É o momento em que a realização vem e nos torna melhores do que já éramos. O sublime é quando ultrapassamos a nós mesmos e tornamo-nos maiores. Aquilo que lhe momentaneamente alienou, agora é aquilo que lhe dá real um retorno ao seu ser, um conhecimento de si ainda mais íntimo e uma capacidade maior de se realizar. O fim mesmo da alienação – a saído do ser de si mesmo – é a volta do ser a si mesmo com o acréscimo.
 
    Toda transcendência é saudável, visto que a transcendência é o desenvolvimento contínuo do ser. Ela é a perfectibilização do ser: ela torna o ser-mais-ser. A humanidade não é perfeita, ela é perfectível. Na medida em que é perfectível, é capaz de se tornar mais feliz. E felicidade é a realização mesma do ser. Só que o ser só se realiza na medida em que se torna mais ser. É no momento em que se quer superar, que se quer progredir, que se quer avançar. Esse contínuo avançar, esse progresso, esse instinto espiritual, essa vocação de toda mulher e de todo homem é o que há de mais belo e o que tem de dever – e isso é um dever na medida em que cumpre a vocação da humanidade: a de ser feliz. Os outros animais conhecidos na natureza, são causas inequívocas: eles seguem uma ordenação instintual. O homem é uma causa equívoca – não equívoca por ser errada, mas equívoca por ser livre –, ou seja: ele não é delimitado por seu instinto, mas livre para percorrer o seu caminho. E, na medida em que prossegue em seu caminho, tem que arcar o peso da liberdade. Todo animal é, quase que naturalmente, realizado em sua mesma natureza. Mas a humanidade não é quase que naturalmente realizada, ela pode escolher ser realizada ou não. E essa capacidade de se realizar ou não é o que define a humanidade.

O problema da pseudotranscendência

    A transcendência naturalmente acopla-se ao ser. Na medida em que se acopla, atualiza esse ser. O ser que anteriormente existia em potência, agora é plenificado – ele não é mais só que era, mas mais do que isso. Ele se torna um ser melhor, tornar-se até “maior”. Ou seja, a transcendência é natural, ela entra e se integra ao ser enquanto ser. E a pseudotranscendência é falsa, pois ela só existe no momento mesmo que o ser se aliena. Logo a pseudotranscendência é como uma alienação-pela-alienação: ela não existe para complementar, ela não existe para atualizar o ser numa versão superior de si mesmo, ela existe para alienar pura e simplesmente. Logo ela é artificial. O ser, para seguir a pseudotranscendência, deve como que se mutilar: deve haver algo de específico, algo de especificado, algo que foge da integralidade de sua vida.

    É nessa diferença transcendental e pseudotranscendental que reside o problema: uma torna o ser melhor, outra o priva de ser. Como a pseudotranscendência é uma alienação pela alienação, é evidente que o ser não volta para si mesmo e se torna uma pessoa maior. E o hábito da alienação-pela-alienação torna o ser incompatível. Um setor de sua vida é pura fantasia, mas não uma fantasia que leva ele a caminhar por ideal melhor, que o torne uma pessoa melhor e sim uma fantasia que existe tão somente para a fuga da realidade. O hábito pseudotranscendental nega o real e é nisso que reside o pseudotranscendental: a alienação-pela-alienação e não a alienação-pela-realização. O alienar só é frutífero na medida em que existe para um realizamento.
 
“O problema da droga não é a viagem, é a volta da viagem, quando então não se suporta mais o cotidiano. O cotidiano que é a imanência, que é a rotina chata, a obrigação diuturna de trabalhar, de levantar, de seguir horários, de pagar contas, tudo isso é estafante e enervante. Então, é muito melhor viajar, saltar para fora dessas limitações, artificialmente, a preço de destruir a liberdade e a vida” (Leonardo Boff, Tempo de Transcendência, pág. 21).

    A característica do alienado não é a recusa do ser, mas a egolatria. E o problema na egolatria não é o ser, mas o ser fechado em si mesmo. Ao mesmo tempo em que o ególatra vive em si mesmo, ele desconhece a si mesmo: a verdadeira alienação lhe é desconhecida, já que a verdadeira alienação é a abertura do ser para o outro, para o conhecimento e a acolhida do outro em si e acolhida do conhecimento em si no fechamento. A pessoa adulta se abre para fechar e na medida em que se fecha, cresce, já que agora ela não é mais só ela mesma, mas mais do que si mesma – o outro, o conhecimento, a completou.
 
Pornografia é pseudotranscendência

    Nem tudo que é “bom para você” é “bom para você”. Um dos efeitos do reboot é a procura por pessoas reais e relacionamentos reais. A pornografia lhe deixa satisfeito demais para a busca por relações concretas e com o tempo isso lhe torna uma pessoa menos madura. Tal característica de satisfação imediatizada se torna alienante: você se desabitua a buscar metas de longo prazo e sempre busca satisfação imediata. Para a consecução de obras de longo prazo se faz necessário o desvio do prazer imediato para um agir contínuo de uma obra que leva mais tempo e só dará satisfação posteriormente.

    Temos uma tendência natural de buscar o mais fácil, mas nem todo relaxamento é bom. É, melhor, por exemplo: caminhar cinco minutos por dia do que ficar o dia todo deitado numa cama. A busca por satisfação imediata pode e deve ocorrer, mas quando ela vira a peça central de uma vida, ela corrói e mata a própria vida. Já que a vida é uma questão de longo prazo. Em questão do uso temporal: uma pessoa que busca tão simplesmente passar no ensino médio e outra pessoa que pretende ser intelectual farão de seu tempo algo determinante. O tempo do intelectual será sempre ligado a estudar todos os dias. E isso pressuporá certos sacrifícios e privações de prazeres imediatos. Só que essa privação é algo bom: a vida intelectual lhe dará uma contínua expansão do horizonte de consciência que com o tempo lhe dará uma vida mais proveitosa. Se a vida é determinada por escolhas, aquele que escolhe conscientemente aproveita mais a vida. E é por esse motivo que estudar é curtir a vida: quem estuda mais, curte mais a vida na medida em que escolhe melhor como se deve viver.

    Os teóricos do relaxamento sempre se esquecem que a vida não é só uma contínua satisfação, mas também é um deserto árido. E se esquecem que se uma pessoa busca uma satisfação maior, deve buscar essa satisfação maior congruentemente. E buscar satisfação maior congruentemente exige tempo e esforço. Tempo e esforço que será dificilmente alcançado por alguém que não consegue sair do prazer imediato. A não satisfação imediata é o pressuposto para a consecução de metas de longo prazo. Tal como poupar dinheiro para comprar uma casa. Na vida, se faz necessário um ordenamento até mesmo para o prazer: se você quer comprar um videogame de última geração, terá que, provavelmente, poupar dinheiro.

Ser-no-outro e ser-com-o-outro

    Há uma diferença entre o ser que é com o outro e o ser que é no outro. O senhor é no seu escravo. O estuprador é na sua vítima. O assassino é no seu assassinado. É a diferença entre aquele que está junto e aquele que se sobrepõe. Ou seja, ser-com-o-outro é buscar ser em igualdade. É buscar a satisfação. É buscar o mútuo acordo, a reciprocidade, a alteridade. E ser-no-outro é impor-se. A plena realização do ser-no-outro é aquilo que chamamos de escravidão. A plena realização daquilo que chamamos de ser-com-o-outro é aquilo que chamamos de igualdade – ou, quiçá, aquilo que chamamos de amor.

    Sabemos que o vício em pornografia torna as pessoas menos empáticas. O viciado vê no outro não um outro ser, mas sim um instrumento para sua “realização”. E tal instrumentação do ser humano reduz a sua dignidade. Já que não há mais igualdade entre humanidades, mas servidão. O outro é reduzido a um mero instrumento e perde a sua capacidade de ser equívoco – ou, como já dito, ser livre. Isso é, de fato, um dos frutos da insatisfação sexual moderna: ela não é fundada na igualdade e na alteridade, mas na busca ególatra de autossatisfação. Logo ela não é o ser-com-o-outro e sim o ser-no-outro, é uma relação de dominação e subordinação.

Pseudotranscendentalidade pornográfica

    Sabemos que a pornografia leva a satisfação imediata e que a satisfação imediata se torna o fim do viciado. Sendo a pornografia autossatisfatória, se há uma diminuição da capacidade do ser de se realizar em longo prazo. Logo qualquer meta mais séria da vida se torna impossível. Visto que o ser está continuamente buscando só a satisfação mais imediata. E isso lhe torna imaturo: ele não conseguirá fazer coisas que levem grande tempo, estará sempre buscando os prazeres mais imediatos. Logo ele será incapaz de manter uma verdadeira vida intelectual, uma verdadeira saúde econômica, uma verdadeira vida amorosa. Até para amar alguém, há tempo para isso: é um processo longo de conhecimento, autoconhecimento, alteridade, desenvolvimento.

    Um exemplo pessoal: eu era incapaz de ter uma leitura ordenada. A leitura ordenada pressupunha um grande tempo de dedicação. Se eu quisesse, por exemplo, ler na ordem correta todos os livros do Paul Tillich ou do Haruki Murakami para uma maior assimilação do seu pensamento ou da sua obra, ser-me-ia impossível. Se você quer ser um intelectual melhor, um intelectual mais capaz de estudar, largue a pornografia. A pornografia lhe mata por dentro na medida em que te torna incapaz de realizar metas de longo prazo. Tudo deve ser reduzido para se encaixar no plano pornográfico. Como, por exemplo, um viciado em pornografia escreveria um TCC? Isso envolveria um planejamento, dedicação, tempo e esforço fenomenal. E tal necessidade de satisfação imediata destruiria a própria possibilidade de uma realização ordenada de longo esforço.

Não tenhais medo

“Portanto, não os temais; porque nada há encoberto que não haja de revelar-se, nem oculto que não haja de saber-se.
O que vos digo em trevas dizei-o em luz; e o que escutais ao ouvido pregai-o sobre os telhados” (Mt 10:26,27)

    Se alguém lhe disser que você não vive, argumente acerca da vida a partir da sabedoria que se expande para melhor viver.
- Você não vive, pois não bebe!
- Se beber é viver, o certo seria conhecer as melhores bebidas e aprender a degustá-las. Para tal, há um estudo.
- Você não vive, pois não vê pornografia!
- Se a pornografia é boa, quem dirá a experiência real. Logo é melhor buscar uma pessoa real e, nisso, crescer em vivências sexuais reais com pessoas concretas.
- Você não vive, pois não pega ninguém!
- Se pegar alguém é bom, imagine vivenciar toda densidade humana. Imagina integrar-se com alguém e viver uma relação de pleno desenvolvimento em alteridade, em que essa pessoa e eu vivemos numa crescente relação em que a cada dia nos tornamos mais íntimos.
- Você não vive, pois não joga!
- Se jogar videogame é bom, quem dirá jogar os melhores jogos e quem dirá compreendê-los: imagine jogar um videogame sabendo de seu hardware, sabendo da sua arte, sabendo de sua arte.
- Mas conhecer não é viver, viver é fazer!
- Mas aquele que mais faz é aquele que faz com sabedoria, o teórico não se destrói na prática, pelo contrário, aperfeiçoa. A práxis não é destruída pela teoresis, a práxis é íntima da teoresis. E aquele que não tem teoria, não vivencia a prática. 
- Isso é coisa de velho!
- E seus argumentos são superficiais, tal como a sua pessoa. Você pode até pegar alguém, mas não consegue chegar no mais íntimo contato com essa pessoa. Você pode até jogar videogame, mas não sabe nada de como ele é feito e logo também não sabe como verdadeiramente apreciá-lo. Você pode até beber, mas não sabe o que há de melhor para beber. Tudo que você faz é superficial, tudo que você faz é morno, logo a realidade total nunca é conseguida: sua experiência é tão oca quanto a sua inteligência!

    Não se enganem. Quando você pega um livro, quando você lê um artigo, quando você conversa com aquela pessoa que você ama e descobre mais sobre ela: isso é tão real quanto o real. Nem se enganem por essas pessoas superficiais, pois tudo que elas fazem não é real. O real é profundo, o real é íntimo, portanto todo real exige dedicação, tempo e conhecimento. Não é você que não vive, não é você que é careta: são essas pessoas que são superficiais. Na chuva, não se molham; no calor, não se esquentam; no amor, não são íntimas; no sexo, não dão satisfação.

Conclusão
 
    A pornografia não é só alienadora, é continuamente alienadora. E essa contínua alienação que lhe marca faz com que o ser seja incapaz de se abrir para a realidade. Já que vida é experiência e experiência é se projetar para fora – mesmo que após isso haja uma introspecção de algo ou alguém que se assimila junto ao ser que experiencia. Tornar-se autossatisfeito é se incapacitar: visto que toda vida é um grande projeto de convivência. A vida é um esforço comunicacional. Quem se recusa a se comunicar, recusar-se-á também a crescer. Uma pessoa autossatisfeita é imatura, visto que a experiência nasce de uma insatisfação que quer se satisfazer. E quando melhor e mais sensatamente se satisfaz, mais se torna integralmente satisfeita. Como a pornografia é um mundo a parte e o fechamento nesse mundo a parte que não se integra na totalidade do sujeito – tal como toda alienação – ela é incapaz de propulsionar a realização do ser. Eu não sei se você está satisfeito com o que falei, mas se eu pudesse lhe dizer uma última coisa, essa coisa seria: se você quer ser feliz, largue a pornografia. A pornografia mata o amor e a ausência de amor mata a felicidade.

sábado, 17 de julho de 2021

MANODICAS DE NOFAP!

 


1- Ler antes de dormir:
Toda vez antes de dormir, eu leio. Leio e escrevo, pois não sou um leitor vulgar. E esse hábito de ler faz com que os pensamentos diminuam - ter vários pensamentos é não ter ordem e não ter ordem é não pensar - e o cérebro prepare-se para dormir. Isso ajuda muito no nofap, pois priva do contato com o PC e o celular que podem levar ao fap!
2- Ser produtivo nos estudos e descansar corretamente:
Pense antes de estudar que nem um louco. Insira pausas de vinte minutos após 50 minutos. Se você se desgastar muito, não continuará estudando e isso pode levá-lo ao fim do nofap.
3- Desligue o computador e o celular:
Fique longe da "fonte" de toda pornografia. Adquira novos hábitos. Recomendo acentuadamente a leitura.
4- Jogue videogame:
Muitas vezes eu fiquei jogando 2DS em vez de ficar perto do PC ou do celular.
5- Desligue o PC e o Celular CEDO:
A luz do PC e a luz do celular podem deixar seu cérebro ativo por mais tempo. Uma boa dica é: durma mais cedo. E uma dica já dada para dormir mais cedo é: leia livros.
Só para os religiosos:
6- Ore:
Tenha uma vida espiritual e peça a Deus a cura da pornografia. Faça isso todos os dias. Mas siga o conselho jesuítico: "ore como se tudo dependesse de Deus. Trabalhe como se tudo dependesse de você" - se você achou isso um paradoxo, leia Chesterton e irá entender.

SERÁ QUE ME JUSTIFICO DEMAIS?

    

    Acho que um dos pontos que me fizeram recair na pornografia no passado foi o fato de eu me justificar demais para uma aderência normativa.

  1. Já me justifiquei para dizer que "não estudo o tempo todo", como se estudar o tempo todo era algo ruim, como se alguém não pudesse gostar e se divertir estudando;
  2. Isso me levou a uma coisa que me afastou da vida intelectual foi o fato de eu ter contado que às vezes eu chorava quando estudava, tal fato ocorria por eu buscar uma introspecção profunda que me ligasse pessoalmente a vida intelectual. Quando busquei me afastar disso, para supostamente "ser mais homem", afastei-me da vida intelectual;
  3. Já me justifiquei para dizer que não sou religioso - o que anteriormente levou-me à apostasia;
  4. O martírio social é um saco, e todos os dias somos martirizados socialmente para sairmos da autenticidade;
  5. Já me justifiquei dizendo que não sou tão "radical" contra a pornografia.

    Só que eu vi que essa tendência "liberal" e "descomprometida" só me faz voltar atrás. Recentemente percebi que minha cabeça tava tocando funk, uma música de funk sobre sexo por muito tempo - era uma forma de meu cérebro voltar a tendência pornográfica. Agora percebo que certos ambientes levam-me ou induzem-me a comportamentos errôneos. Eu preciso me afastar de coisas que me levem a um comportamento tóxico, tal como alguns fóruns que eu anteriormente frequentava. Parei de seguir uma pá de gente para ter uma vida mais normal e um ambiente mais rico.

AÍ VEM UMA PÁ DE PROBLEMA:
  1. Não pode parar de ver pornografia, pois virou normal pessoas verem pornografia, é só "não exagerar";
  2. Não há problema algum em ver uma mulher como um objeto, já que a visão deturpada pela pornografia se tornou normal;
  3. Certos fatores ficam ainda mais inconscientes do que deveriam, fomos animalizados sem o saber;
  4. Você deve buscar e dizer que gosta de sexo, em todos os momentos, para ser "cool XD";
  5. Se você frequenta fóruns de games, animes ou qualquer outra coisa, você deveria aceitar a galera "liberalniilistaconservadora" (sic) que quer pôr pornografia em tudo e te leva sempre a gatilhos e mais gatilhos de pornografia - saia desses fóruns agora mesmo.

NO FIM, CAÍMOS NA IDOLATRIA SOCIAL!

    Idolatria social? Sim, leiam a "Alma Imoral" do teólogo judeu Nilton Bonder (aliás, é um excelente livro de teologia judaica). A idolatria social é deixar de fazer algo, é deixar de ser, por medo da coação social que muitas vezes parece inofensiva. Você deixa de estudar, mesmo gostando de estudar, por achar que tem que "curtir a vida" - e desde quando estudar não é curtir a vida? -, você deixa de ser religioso por achar que todo religioso é burro e não quer ser mal visto - alô, Santo Agostinho? - e por aí vai. Se seus amigos postam semipornografia no facebook, pare de segui-los. Se você frequenta esses fóruns idiotizantes, caia fora deles.

    Eu tô lendo duas ou três vezes mais do que antes. E tenho lutado contra mim mesmo todos os dias. Esse é o conselho: seja autêntico e sincero para fugir da pornografia. Seja autêntico e sincero para não viver uma vida falsa.