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segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Acabo de ler "Philosophy" de Roger Scruton (lido em inglês/Parte 1)

 


Nome:

Philosophy Principles and Problems


Autor:

Roger Scruton


Para que serve a filosofia? Essa é pergunta é extremamente fundamental e extremamente necessária. Ao mesmo tempo que pode surgir de forma completamente instrumental e carregar outro sentido: eu vou ganhar dinheiro com o estudo da filosofia? Ela também pode apresentar outra questão: para que eu usarei a filosofia em minha vida? Todos esses posicionamentos são relevantes e devem ser considerados.


Existe algo muito interessante na filosofia. A filosofia é inevitável. A filosofia é um saber de marca maior, visto que é um saber que se direciona a todas as coisas. Quando fazemos uma pergunta filosófica, fazemos uma pergunta sobre um determinado conhecimento. Ou seja, a filosofia é um saber sobre um saber. Quando entramos num questionamento sobre a filosofia, sobre a sua utilidade ou sobre a sua natureza, já estamos filosofando. Aí é que mora o perigo: a filosofia pode ser um processo que, na sua maioria das vezes, é inconsciente.


A filosofia é tão universalmente praticada que se esquecem que ela existe até mesmo quando a praticam. E isso faz com que esqueçamos que ela existe, pois ela habita o nosso inconsciente, pois estamos imersos na questão filosófica. O ser humano é, por natureza, um ser filosófico.


Entendermos a razão do mundo, entendermos o que essencialmente estamos buscando, essa é a razão filosófica. A filosofia é a busca de sentido. A busca por um sentido que antecede e justifica a ação que tomamos dentro do mundo. Sem filosofia, nada faz sentido. Tudo vira uma aparência na qual estamos imersos. A razão filosófica é sair das aparências.



domingo, 27 de outubro de 2024

Acabo de ler "Heretics" de G. K. Chesterton (lido em inglês/Parte 2)

 


Nome:

Heretics


Autor:

G. K. Chesterton


Se pudéssemos olhar todos os problemas do mundo, talvez chegássemos a algumas questões.  Chegaríamos a essas questões na medida em que olhássemos para o quão problemático o mundo moderno é e o quão imersos em problemas o homem moderno está. Como resolveríamos isso? Há quem diga que o que nos falta é realismo. Só que existe outro apontamento: somos pouco idealistas demais para sermos realistas. Podemos até ter motivos para olhar para a realidade, mas não temos ideias suficientemente fortes para tentar resolvê-los.


Anteriormente a negação vinha acompanhada de uma afirmação. A afirmação era prévia até a propriamente o que se negava. Hoje adentramos, cada vez mais profundamente, numa era em que buscamos atacar os defeitos do mundo sem nada que possamos colocar no lugar. Em outros termos, temos um inferno sem ter a possibilidade de um céu. Todo defeito é destacado com os arroubos meteóricos de uma retórica detalhada, mas toda virtude aparece sem coloração num quadro vago.


Houve um tempo em que aparecia diante se nós uma questão. Essa questão era uma pergunta cósmica acerca do sentido geral da existência. É nessa questão última que se revela cosmologicamende o sentido geral da existência. O sentido geral da existência subordina todas as outras questões, visto que todas as outras questões são secundárias. Com o tempo, quisemos nos libertar do peso da religião. Para tal, chegamos a conclusão de que não importava a filosofia ou a religião de alguém – tudo é relativo. Com isso, pulamos da pergunta para a resposta, resposta essa que seria singular. Essa forma de pensar levou a um não-pensar, visto que era a pergunta em si que possibilitava a nossa capacidade de resposta. Agora o que nos aparece não é a questão e nem a resposta. Estamos apenas por aí, vagando nesse universo de vácuo.


Pense, por exemplo, nas discussões modernas. Perguntamo-nos acerca do que é a liberdade, acerca do que é a educação, acerca do que é o progresso. Só que nos esquivamos, sempre e eternamente, sobre qual é a natureza do bem. Somente a natureza do bem pode nos dizer o que é a boa liberdade, o que é a boa educação, o que é o bom progresso. Sem sabermos primeiramente o que é essencial, não temos uma direção. A ausência de direção nos joga, novamente, ao acaso. Sempre estivemos andando em um labirinto, só que, graças aos nossos modernos sensos, estamos pela primeira vez andando num labirinto com a ausência de uma lanterna.


Falamos bastante em progresso e nos julgamos progressistas. Quanto mais progressista é alguém, mais essa pessoa é supostamente boa. Todavia o que define algo como um progresso? Se o progresso não tem uma finalidade, se não estamos caminhando para algum lugar, não podemos sequer medir se estamos indo bem ou mal em nossa caminhada. Não há como acreditar que tudo é relativo e dizer que estamos indo para o progresso, visto que o progresso, em si, seria relativo. Se o progresso é relativo, estamos indo pra qualquer lugar e isso não indica coisa alguma.


Para sabermos o que estamos fazendo, para sabermos para onde estamos indo, para sabermos se estamos bem ou mal, precisamos de um sentido. Progresso não pode significar que estamos mudando de direção a cada brisa de vento, mas precisamente que estamos indo a uma direção. Essa direção indica uma moralidade e indica uma fé quanto a essa moralidade.

segunda-feira, 8 de abril de 2024

Acabo de ler "Proposta ou Abordagem Triangular: uma breve revisão" de Ana Mae Barbosa

 



Quando refletimos sobre a arte devemos refletir de forma contextualizada, relativizadora e desalienante para que possamos ver a nós e aos outros de forma norma, pensando de forma crítica e conscienciosa.


Quando a burguesia criou a sua produção, ela precisava dum público consumidor. Para tal, ela reforçou um modelo de assimilação alienatória. Este modelo tinha muito a ver com a apreensão de objetos culturais - e também normas e valores - produzidos pela burguesia. Criou, com isso, uma dupla condição:

I- A venda de seus produtos culturais;

II- A assimilação de seus valores de forma imperceptível para a maioria das pessoas.


O modelo de cópia ou o mero consumo dos produtos, sobretudo aqueles produzidos pela indústria cultural, pode incorrer numa postura grosseira em que uma série de valores e normas culturais são psiquicamente naturalizadas como a realidade em si mesma e são reproduzidas por uma sociedade de modo acrítico. De tal forma, esse modelo de alienação pode ser aplicado por classes dominantes para arrefecer as classes dominadas ou por países dominantes contra países mais fracos.


A abordagem triangular é um modelo baseado na contextualização, na relatização dos valores e normas que regem o funcionamento das sociedades, na postura que temos diante do outro e de nós mesmos. É um modelo que pensa e age de forma crítica, possibilitando uma percepção social e uma autopercepção. O que vai contra as práticas de alienação e busca uma via de libertação pela arte. Buscando uma vida carregada de sentido, um devir artístico e descobertas múltiplas: sociológicas, antropológicas, geopolíticas, psicológicas, artísticas.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Acabo de ler "Psicoterapia para todos" de Viktor Frankl (Parte 1)

 



O que é o motor primário da ação humana? Viktor Frankl apresenta duas vias que, segundo ele, são errôneas: a via do desejo de prazer e a via do desejo de poder. As duas satisfações, segundo Frankl, são falsas, pois neuróticas. A verdadeira força motriz do ser humano seria a busca por sentido. Quando a via da busca existencial pautada pelo sentido não é realizada, buscam-se soluções alternativas que possuem caráter substitutivo.


O ser humano não busca realizar algo. A pura realização de algo não lhe é suficiente. O ser humano é guiado por algo que transcende o motivo de uma ação. Ou seja, é o motivo da ação que torna a ação enriquecedora. Se não, cai-se numa esterilidade da ação pela ação. Isto é, a ação pela ação busca meramente o efeito sem se dar conta do motivo interno que dá sentido a essa ação. É assim que surge o poder pelo poder e o prazer pelo prazer. E é por tal razão que essas duas buscas, em sentido puro, são neuróticas.


O caminho correto para uma ação é: motivação, ação e efeito. O neurótico ignora o primeiro passo e tem só dois: ação e efeito. Todavia, fique claro, a ação destituída de sentido não pode levar ao efeito almejado. E, quando obtém, obtém tão somente o desejo frustrado. O neurótico, ao burlar o primeiro passo, burla o efeito que almeja ao ignorar o motivo pelo qual age.


Exemplificadamente, a fome acompanhada de motivo tem mais satisfação existencial do que o mero "comer pelo comer". Tal condição não poderia ser ignorada quando se tem em mente uma condição óbvia: o vazio existencial contemporâneo é gerado pela ausência de sentido como norte condutor. O efeito mais drástico duma vida destituída de sentido é uma vida apática em que não se encontra satisfação naquilo que se faz.


Frankl, mais uma vez, demonstra uma grande habilidade intelectual em dar discernimento a quem lê. Ele é, propriamente, um homem capaz de ressuscitar ontologicamente outros homens. E essa é a razão pela qual a sua leitura é sempre densa e significativa.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Acabo de ler "Sobre o sentido da Vida" de Viktor Frankl (Parte 5 - Final)

 



A vida é um tabuleiro de movimentos existenciais que se sucedem. Um movimento existencial só pode ser respondido com um movimento existencial correspondente. Não temos controle, graças a nossa finitude, das situações vivenciais que nos serão apresentadas. O mundo é grande e complexo demais para ser controlado e se apresentar aos moldes de nossos gostos. Dito isto, o sentido da vida não pode ser algo escolhido por nós. O sentido da vida é a vida quem dá.


Cada situação apresentada pela vida surge como uma espécie de questionamento. A circunstância nada mais é do que uma questão da existência diante do ser. É pelo questionamento que podemos responder. Responsabilidade é, antes de tudo, dar uma resposta. Ou seja, não devemos nos perguntar qual é o sentido de nossa existência, é a vida quem nos questiona e nos dá as pistas dessa resposta.


O sentido da vida é criado pela circunstância. Isto é, ele não pode ser encontrado de modo meramente subjetivo. Há um quê de objetividade - a circunstância - que se apresenta junto a ele. Logo, o sentido não pode ser "dado", visto que isto é moralismo e, ao mesmo tempo, alienação e totalitarismo. Nem podemos cair no comodismo. Existe, frente a posturas existenciais, dois engodos altamente alienantes que se apresentam: a imposição dum sentido arbitrário - totalitarismo imposto moralmente - e a negação de esforço - comodismo.


A frase "Eu sou eu e minha circunstância" de Ortega Y Gasset cai como uma luva. O sentido da vida é a integração entre a totalidade que a vida apresenta - a circunstância e a existência pregressa - em adição a carga subjetiva de nossa substancialidade enquanto seres concretos. Essa adição sintetizadora é, em última instância, o caminho ao qual cada um de nós, em sua particularidade, deve cursar. Investigar quem é e o que vive é uma das chaves.


Creio que este livro, talvez desconsiderado pela maioria das pessoas que conhecem Frankl, é gigantesco pelo impacto que me causa. Sua leitura me ajudou a enriquecer os recursos de minha consciência e continuar lutando, mesmo que eu quisesse ter desistido há muito tempo.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Acabo de ler "Sobre o sentido da Vida" de Viktor Frankl (Parte 4)

 



Dizer sim a vida, apesar de tudo. Esta é a condição para viver, embora não seja fácil. Sendo a vida a indagadora de tudo, temos que escolher como agir e não questionar as questões da vida. O que podemos questionar, e isso sim nos cabe, é como agir. Somos livres comportamentalmente, mas não somos livres quanto às questões apresentadas pela vida. Ela é, e sempre foi, tal qual o destino.


Frankl nos conta um lado profético, até mesmo poético, do campo de concentração de Buchenwald: "queremos, apesar de tudo, dizer sim para a vida". O que esses prisioneiros fizeram, cantar em meio há tanto sofrimento, transcende qualquer concepção. É aceitação da vida até as últimas consequências. Mesmo com o sofrimento, mesmo com a dor, mesmo com a morte. E a vida existe e tem sentido apesar de todas as realidades conjunturais que se apresentem circunstancialmente. Isto é, o questionamento que a vida apresenta é variável, mas o sentido não. O sentido existe apesar de toda situação apresentada. Tal qual "Deus é", o "sentido é". Pode mudar de figura, de forma, de conjectura, mas não deixa de existir.


É preciso que exista, dentro de nós, um ímpeto de responder tal questionamento. Já que, como disse Frankl, a vida é um jogo existencial e todo esse jogo só pode ser respondido existencialmente. Ser é assumir a responsabilidade e agir. Ser alegre na resposta que iremos tomar, pois toda decisão assume a roupa de eternidade. Toda ação tomada se registra na eternidade. Fazer algo é, em última instância, realizá-lo eternamente. Não fazê-lo é eternamente deixar de o fazer naquele momento em específico que se registrou na eternidade.


Frankl está, para mim, como uma das melhores leituras de 2023/2024. Me ajudou - e me ajuda - em muito nesse processo existencial que tenho passado. Há, em mim, o desejo de viver apesar de tudo que tenho passado, de toda angústia psíquica que venho, nos últimos tempos, sofrido. Tenho o desejo que continuar a caminhar - ou, melhor, marchar -, apesar das circunstâncias desfavoráveis.

domingo, 21 de janeiro de 2024

Acabo de ler "Sobre o sentido da Vida" de Viktor Frankl (Parte 3)

 



Na parte anterior lhes alertei que não somos nós que determinamos o sentido de nossas vidas, mas as ações que tomaremos sobre as possibilidades de sentido que a vida nos oferta. Ou seja, trata-se dum giro de 180 graus. Não mais nos questionamos qual é o sentido, questionamo-nos, isto sim, sobre como agir no horizonte que se nos apresenta.


Frankl nos convida a fazer um giro de questionamento, em vez de perguntarmos o "por que?", nos perguntaremos "para que?". Não nos é permitido, isto pela natureza da vida em si mesma, escolhermos e criarmos um mundo em que toda nossa vontade se projete perfeitamente na realidade e sonhos irrealistas podem acabar por gerar maior frustração existencial. O questionamento, direcionado agora para finalidade (para que?), busca compreender aquilo que está sendo apresentado existencialmente diante de nós e o que podemos aprender - no fundo, extrair - dessa vivência e como nos portaremos diante dela.


A chave "determinismo" e "liberdade" estão encaixadas. A vida é determinada, já que o ambiente externo não pode ser elegido e moldado absolutamente. Todavia temos, em algum grau, possibilidade de agirmos como bem desejarmos sendo bem sucedidos ou não. Frankl fala da vida como um "jogo de Xadrez", cada situação existencial requer, por sua natureza, uma jogada existencial. Tudo que fazemos, em nossa vida, é basicamente uma série de apostas mais ou menos calculadas de acordo com nossas hipóteses.


Viver é ser indagado. A vida nos questiona através de situações existenciais. Não somos nós que questionamos ela, estamos numa situação que revela exatamente o contrário: a vida que, por meio de situações, cria circunstâncias em que podemos ou não agir de tal ou tal modo. Não se trata de perder ou ganhar, trata-se tão apenas de seguir jogando conforme o conhecimento acumulado e força de vontade. E uma perda no mundo exterior não representa, de modo algum, uma perda interior. Muito pelo contrário: a vitória no mundo exterior é quase sempre provisória, a única vitória que podemos garantir é a interior. Faça o que fizer, continue o combate.

sábado, 20 de janeiro de 2024

Acabo de ler "Sobre o sentido da Vida" de Viktor Frankl (Parte 2)


 


Na sua experiência trágica com o holocausto, Frankl perceberia que a câmera de gás deixaria de ser uma ameaça e tornar-se-ia, pouco a pouco, uma espécie de antídoto e esperança. Isto é, estar em uma acumulação trágica tão grande que, quando menos percebe, a morte lhe soa como um doce alívio e não a negação fulminante de qualquer felicidade ou prazer futuro.


Scruton escreveu, em um livro que não me lembro, que em certos casos a existência é tão assustadoramente sombria que a morte é a única possibilidade de alívio do ser. Como, por exemplo, no caso de africanos que eram colocados em navios negreiros para serem escravizados ou para judeus que sabiam que iriam parar no campo de concentração.


O que houve, então, com Viktor Frankl? Mesmo com crises, deu continuidade a sua vida. Decidiu que, em vez de buscar a morte, imperiosamente trabalhou para vida e criou, pouco a pouco, uma escola psicológica que ajudou - e ajuda - várias almas desesperadas ao redor do mundo. Tudo isso graças a uma experiência que, longe de ser animadora, negava seu ser ao todo.  A mais excruciante negação de si, Frankl não se deixou ser dissolvido pelo meio e afirmou gloriosamente a subjetividade de seu distinto espírito.


A afirmação: "o ser é" está dada como definitiva de Frankl. Visto que a aceitação do destino faz parte da vida, tal como a aceitação da morte e do sofrimento. E elas, temos que admitir que, mesmo que amarguradamente, elevam a nossa capacidade ao sobrevivermos e superarmos seus desafios. A existência é, em si mesma, uma indagação. Já que, em Frankl, não somos nós que decidimos o sentido de nossas vidas, é a vida que nos dá o sentido em forma de questionamento.


A situação em que nos encontramos, o que está posto, é uma questão existencial e a nossa possibilidade é, tão apenas, escolher como responderemos a indagação que a vida nos apresenta. Logo, não podemos questionar o sentido da vida, só podemos ver a vida em si mesma revelar-se e nos posicionarmos por meio de atitudes para respondê-la.