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segunda-feira, 27 de junho de 2022

Acabo de ler "O Napoleão de Nothing Hill" de G. K. Chesterton

 



"E no mais escuro dos livros de Deus está escrita uma verdade que é também um enigma. É das coisas novas que os homens se cansam – modas, propostas, melhorias e mudanças. São as coisas velhas que assustam e intoxicam. São as coisas velhas que são jovens. Não há cético que não sente que muitos duvidaram antes. Não há homem rico e volúvel que não sente que todas as suas novidades são antigas. Não há adorador da mudança que não sente sobre o pescoço o grande peso do cansaço do universo. Mas nós que fazemos as coisas antigas somos alimentados pela natureza com uma infância perpétua"

Eu nunca pensei que me impressionaria tanto com esse livro. Tanto que desisti da leitura umas duas vezes. Só que, dessa vez, resolvi lê-lo do princípio ao fim para ver o que daria. É importante dizer que: Chesterton nunca me decepciona.

O livro se encontra com duas partes dialéticas que descobrimos que se completam. Auberon, um rei que queria apenas rir de tudo. Adam Wayne, que fanaticamente aderia as ideias malucas de Auberon como se fossem verdades absolutas, acreditando que estava cumprindo seu papel com um clássico amor. Auberon é a piada em fatalismo, Wayne é a seriedade em fatalismo. Se você se questiona quem está certo, já errou: o certo é a unidade entre os dois. Para você entender Chesterton nesse livro, terá de sintetizá-los.

Chesterton também traça uma crítica aos intelectuais de seu tempo. Além de nos chamar a sanidade por meio do paradoxo, temos uma crítica bem certeira aos chamados progressistas que, no fim, apenas pegam tendências e dizem que elas vão se radicalizar tenebrosamente. Ele fala sobre a natureza universal do homem, que não é radical quando saudável, mas paradoxal e dialética. O erro do intelectual está em seu fatalismo e em sua crença radicalizada e monótona em algo que se sucederá. E mais uma vez: a humanidade ri do profeta que se acha certo em sua rigorosidade fatálica, já que o paradoxo é a condição do real.

sábado, 25 de junho de 2022

Novas Aquisições



Acabo de receber a coleção de livros cristãos, utilizá-los-ei no meu estudo teológico e edificação espiritual. São eles:

O Homem Eterno - Chesterton

Graça Abundante ao Principal dos Pecadores - John Bunyan

Pecadores nas mãos de um Deus Irado - Jonathan Edwards

Ortodoxia - Chesterton 

Nascido Escravo - Martinho Lutero 

A Verdadeira Obra do Espirito - Jonathan Edwards 

A Imitação de Cristo - Tomás de Kempis

Caminhando com o Peregrino - Charles Spurgeon

Os Pais Apostólicos - J. B. Lightfoot

Praticando a Presença de Deus - Irmão Lawrence

quarta-feira, 16 de março de 2022

Acabo de ler "As Crônicas de Nárnia Vol. 1: O Sobrinho do Mago" de C. S. Lewis

 



"— Riam sem temor, criaturas. Agora, que perderam a mudez e ganharam o espírito, não são obrigados a manter sempre a gravidade. Pois também o humor, e não só a justiça, mora na palavra" (Aslam).
Apesar da aparente simplicidade, o livro é bastante complexo e, como não haveria deixar de ser, esconde uma "mensagem cristã criptografada". O livro tem uma lição moral que quer conduzir o jovem leitor - ou o "velho leitor", como em meu caso - para um entendimento cristão de mundo.
Por um lado, o livro apresenta um conflito quase que cósmico entre uma figura de uma rainha de gelo (Jadis) contra um Leão bem próximo ao fogo (Aslam). Jadis representa não só a figura de Satã, mas bem simboliza a idolatria e o Estado-Deus. Jadis é tirânica e se julga além de qualquer coisa "fortuita" como as emoções e ambições humanas. Já Aslam crê na liberdade, não por acaso uma de suas frases, citada bem no começo, fala sobre o riso e a liberdade de rir. Aslam não se impõe, mesmo sendo imponente, pois crê na liberdade. A salvação traz não somente o paraíso da ausência de escassez, também traz o paraíso do sorriso e do riso. Aslam, tal como Verbo Divino (Jesus Cristo), produz um mundo pelo seu canto majestoso ("no princípio era o verbo", já dizia a Bíblia). Já Jadis representa a gravidade, onde toda ação tem um preço e tudo se correlaciona a um poder gravitacional - lógica da escassez, diferente do paraíso.

André, tio do protagonista, mexe com algo que não sabe e acaba por trazer o mal para a Terra. Digory e Polly, nossas duas crianças, em sua pureza, vão acabar por impedir o mal. As ambições de André, o feiticeiro, acabam dando errado e ele acaba por descobrir que o mal é sempre ligado numa lógica dura, numa lógica de coração de pedra em que a ambição do mais forte recai sobre o mais fraco e o mais fraco se curva - diferentemente do bem, movimento pela graça, que ama todas as criaturas em igualdade e as ela quer bem, não por algo prévio e sim pelo amor. De tal modo, Aslam (figura cristã) é o amor e Jadis (figura satânica) quer só o próprio benefício, abusando dos mais fracos. Simples, mas complexo.

terça-feira, 17 de agosto de 2021

Acabo de ler "A Cruz Azul" de Chesterton


 "— Você atacou a razão — disse o Padre Brown. — Isso é má teologia"


    Acabo de ler "A Cruz Azul". Esse é o primeiro conto em que o Sherlock Holmes católico, o Padre Brown, aparece. Ele descobre tudo mais pela introspecção sobre a natureza humana do que por uma metodologia científica - apesar de não negá-la. 


    Na teologia cristã, até a onipotência divina obedece a lógica. E isso se dá por uma razão precisa: a esperança superará o desespero por causa da esperança ser um fim supremo e a desesperança ser só a privação da esperança. A aparente desordem será um dia compreendida e quem crê em Deus crê na ordem, mesmo que esteja na mais profunda noite do espírito, na mais profunda depressão: um dia tudo há de ser salvo. E a salvação da criação é o mais profundo desejo cristão. É por isso que tudo nesse conto não parece ter sentido até chegar ao final. E no final tudo é salvo, tudo é ordenado, por uma boa razão: o fim da humanidade é retornar ao Jardim do Éden, para viver o paraíso da perfeita plenitude.


    Poderia dizer muitas coisas, mas seria privar esse magnânimo conto de falar por si só:


"— Ah! Sim, esses infiéis modernos apelam para a sua razão; mas quem seria capaz de olhar para aqueles milhares de mundos e não sentir que podem existir universos maravilhosos acima de nós, onde a razão é completamente irracional?"


"— Não — disse o outro padre —, a razão é sempre racional, mesmo no último limbo, na fronteira perdida das coisas. Eu sei que as pessoas acusam a Igreja de desvalorizar a razão, mas na verdade é o contrário. Sozinha na Terra, a Igreja torna a razão realmente suprema. Sozinha na Terra, a Igreja afirma que o próprio Deus é limitado pela razão." 


"O outro padre ergueu a face austera para o céu cintilante e disse: — Além disso, quem sabe se naquele universo infinito?..."


"— Infinito apenas fisicamente — disse o pequenino padre, voltando-se com energia energia em seu banco —, não infinito no senso de escapar das leis da verdade"


    O que há de se afirmar é que: o ser é. O sofrimento terá fim. É isso que aprendi com esse conto. O fim é a ordem suprema. O mal acabará. Essa é a razão da esperança e do caminhar. Essa é a fé cristã: o fim de tudo é a felicidade.

sábado, 14 de agosto de 2021

Acabo de ler "O Carisma de São Domingos"

 


"Sua cela é o mundo, e o oceano é o seu claustro"

Mateus de Paris


    Acabo de ler "O Carisma de São Domingos" do Frei M. D. Chenu OP


    Ler um livro - ou, nesse contexto, um livreto - que trata da história da Igreja e a forma como que ela se organiza ou se organizou é sempre um trabalho grato. Já que não ensina tão apenas uma erudição vácua, mas uma possibilidade real de aprendizagem não só histórica, como também evangélica.


    A imagem de Igreja meramente estática é perfeita e cabível para quem não conhece a sua história. Sim, a Igreja é sempre estática, mas também é sempre nova. Ela é algo sempre velha e sempre nova. Já que o Cristo é o mesmo, mas o homem que caminha com ele é sempre outro. Escrevi em uma de minhas anotações acerca desse pequeno livreto que: tradição é caminhada. E creio que essa frase possa dizer que tradição é transmissão e até mesmo expressão. A tradição não é uma mera expressão ritualística, ela é também uma ideia que pode assumir até mesmo outra forma de ritual. Visto que a essência da tradição é a ideia. E o contato e relação da ideia com o mundo é sempre renovado com uma nova forma de expressão.


    Chesterton define o movimento dos frades como algo revolucionário na sua biografia sobre Santo Tomás de Aquino. O antigo religioso construía o seu mosteiro longe do povo para viver em intensidade evangélica e vivia numa rígida hierarquia. O novo religioso viverá ao lado do povo para convertê-lo, o novo religioso será dinâmico e menos hierárquico. O novo religioso acrescentará o voto de pobreza ao lado do voto de castidade e obediência. Coisa que será encarada como uma forma de heresia e tentará até se proibir, mas logo se foi aceita essa "revolução religiosa". Chesterton diz graciosamente que se tornar um frade era como se anunciar comunista - ao menos para efeito cômico, alegórico e poético. Só que tal piada tem um fundo de verdade amplo e histórico. Os frades eram reformadores sensatos e compreenderam a necessidade histórica. São Francisco e São Domingos são sempre exemplos clássicos por sua eternidade e beleza. Sua "revolução" é eterna, já que é assentada em Cristo Rei.

terça-feira, 10 de agosto de 2021

Terminei de ler "O duelo do Dr. Hirsch"



    É um conto fantástico, tal como o anteriormente lido ("A Ausência de Mr. Glass"), faz parte da série de contos que envolvem o investigador Padre Brown. Um homem, que também é um sacerdote, que possui um grande conhecimento sobre a natureza humana e é capaz de desvendar todo tipo de crime. Se você se pergunta se vale a pena ler esse conto, diria que sim. Vale muitíssimo a pena. É incrível como Chesterton nos conduz num conto em que a gente não sabe qual será o final, mas o final é sempre surpreende. O enredo fascina e a conclusão é sempre recompensadora. Fico sempre feliz de Chesterton ser um dos meus autores prediletos.

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Acabo de ler "A Ausência de Mr Glass" de Chesterton!



    Acabo de terminar de ler esse maravilhoso livreto escrito por Chesterton. É engraçado a forma com que ele desmonta a grande cientificidade do Dr. Orion Hood, personagem de grande severidade intelectual, porém incapaz de se utilizar do senso comum. A própria natureza abstrata de seu pensamento acaba por se tornar porcamente abstrata: se a abstração é a capacidade humana de divorciar objetos de um conjunto estrutural para encará-los sob o microscópio da razão, tal capacidade se perde quando o todo estrutural se perde e se foca só no objeto. O objeto não faz sentido fora de sua estrutura. O abstratista perde-se em sua abstração. Se torna muito capaz de reconhecer um árvore, mas pouco capaz de saber que se encontra numa floresta ao passear por uma floresta - reconhecer-se numa floresta ao caminhar por uma floresta é uma capacidade simples, mas o intelectual preso na abstração não consegue mais perceber o óbvio: ele reduziu o mundo ao conhecimento que abstraiu.


    Esse livro, apesar de cômico, revela uma profunda lição: a inteligência se perde na parcialização. A incapacidade de absorver a estrutura do real por causa de uma simplificação complexa é por demasiado característica em muitos intelectuais. É como, por exemplo, o economicista querendo compreender a realidade do pensamento através unicamente da estrutura econômica; ou do religioso que quer aplicar unicamente um padrão metafísico para compreender o mundo quantitativo; ou, quiçá, daquela galera que acredita fielmente tão apenas no padrão biológico para legitimar as suas crenças - esquecendo do psíquico, do social e do espiritual. De qualquer forma, tudo isso só leva uma simplificação grosseira da realidade total: o saber é dialógico, não só no sentido humano de contato, mas também pelo fato de se comunicar com outros saberes para ser construído de fato. O saber é uma floresta e não uma árvore. O microscópio da razão utilizado para apreender uma árvore é interessante e necessário, mas não devemos pegar uma árvore e pensar que estamos a ver a floresta inteira. Não querendo criar um paradoxo, mas já criando: é preciso reaprender a ser "comum" para ser inteligente sem ser grosseiro.