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domingo, 22 de setembro de 2024

Acabo de ler "Militância enquanto Convite ao Diálogo" de Dani Vas e Danilo (Parte 6)

 


Nome:

Militância enquanto Convite ao Diálogo: o Caso da Militância Monodissidente


Autores:

Dani Vas;

Danilo Silva Guimarães.


Se o grupo hegemônico detém a maioria das estruturas que regem a sociedade, é mais fácil a ela se utilizar dessas estruturas. A luta da contra-hegemonia contra a hegemonia estabelecida não é uma luta entre opostos equivalentes, mas entre grupos que possuem um desnível entre os seus poderes – sendo o grupo hegemônico bem mais poderoso. Não raro, ao ver o seu poder ameaçado, o grupo hegemônico se utiliza dos aparatos da hegemonia para cercear a liberdade discursiva do grupo contra-hegemônico por meio da repressão.

Como dito na análise passada, a busca da militância não é uma busca simples. Ela é uma busca por transformação social e mudança das estruturas sociais. Essa pavimentação – transformações sociais – não pode ser conseguida a curto prazo, mas dependem de um trabalho longo e complexo. Ademais, existe a possibilidade de vitórias de curto-prazo, onde existe uma reversibilidade das conquistas anteriormente feitas.

A questão da militância vai além do que se quer mudar na sociedade e no outro. Ela também se direciona a nós. O que há em nós que reproduz a própria opressão ao qual estamos sujeitos? Não raro, deparamo-nos com racismo internalizado, homofobia internalizada, transfobia internalizada, bifobia internalizada, gordofobia internalizada. Há sempre um fantasma, um fantasma dos velhos hábitos de uma sociedade doente. Uma doença inconsciente que existe em cada um de nós, mesmo no mais dileto dos militantes. Todo o processo de formação endocultural não pode ser "resolvido" de uma hora para outra. A dialética da militância, então, também assume uma condição de processo metanóico dentro do próprio militante. O militante passa para uma desconstrução e vai aprendendo uma nova identidade, um novo modus vivendi e modus pensandi.

A militância também deve encarar uma questão e o militante um autoquestionamento. Ao ver a sociedade como passível de mudanças, podemos cair no erro da proteção egóica. Ou seja, na tentação de mudarmos a tudo sem mudar a nós mesmos, tornando-nos tiranos. Fora isso, a tensionalidade da militância envolve a própria militância em suas diferentes linhas teóricas e estratégicas. Como podemos ver, a militância é um fenômeno complexo e multifacetado, além de multitensional.

quinta-feira, 20 de junho de 2024

Acabo de ler "Palavras para Desatar Nós" de Rubem Alves

 



Ler Rubem Alves é, para mim, algo terapêutico. Isto é, serve-me de auxílio nos momentos mais complicados de minha vida. Este homem tem uma escrita pacífica e bastante densa. Consegue, por meio de tons suaves, traduzir toda uma realidade complexa. Essa capacidade extraordinária é algo invejável.


Rubem Alves é um homem bastante interessante. Vindo do meio protestante, escreveu um livro falando sobre como o catolicismo teve mais protagonismo na cena progressista do que o protestantismo, natural detentor desse termo. O que chega até mesmo a soar uma incógnita: como uma hierarquia dita como altamente hierarquizada e não sujeita à mudanças poderia ser palco duma revolução? Talvez seja pelo inerente costume das massas de terem apego às tradições, mesmo quando elas não consigam sistematizá-las. Sou da tese que o catolicismo foi mais progressista pelo fato de que os sacerdotes, freis e monges têm maior formação acadêmica.


De qualquer modo, esse livro apresenta toda a característica de uma crônica: ele é suave e faz referência a vida cotidiana de Rubem Alves. Sem cair numa gigantesca abstração tipicamente acadêmica ou num vazio de futilidade tipicamente mundano ou corriqueiro.


Em Rubem Alves, simplicidade e academicidade aparecem lado a lado de forma harmônica, sem que uma acabe por ferir uma a outra. Sua erudição, que aparece de forma simples, continua a ser assustadora e encantadora. Um livro que qualquer um poderia ler, mas que também edificaria a vida de qualquer pessoa que lesse.

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Acabo de ler "200 crônicas recolhidas" de Rubem Braga

 



Se existe um gênero que eu particularmente amo ler, esse é o gênero de crônicas. A leitura desse livro de 488 páginas foi-me um deleite de finíssimo grau, dando a minha vida aspecto suave e mavioso. Sou apaixonado por crônicas desde que o autor Nelson Rodrigues adentrou em minha vida.

Confesso que quando recebi esse livro, logo o estranhei. Não achava que me interessaria por inteiro pelo livro, mas logo fui conquistado pela riqueza do autor. A forma com que a simplicidade e complexidade se engendram harmoniosamente é particularmente espantosa e espetacular. O autor consegue colocar todo simples assunto num altar, exaltando a simplicidade e demonstrando-a grandiosa. Toda essa apoteose deixa a vida mais enriquecida e bela, com Rubem Braga aprendemos a referenciar os pormenores da vida.

Creio que a beleza salvará o mundo. Até certo momento, tinha um grande problema em encontrá-la. O quão cego eu era. A cotidianidade pode ser incrível, o comum e o fantástico podem ser encontrados no mesmo lugar. Rubem Braga é uma espécie de Chesterton em sua apreciação pelo comum. Não por acaso, Chesterton é citado em uma de suas maravilhosas crônicas.

Passei dias lendo o livro lentamente, sempre apreciando meu novo método de leitura. Nunca pensei encontrar uma rica espiritualidade numa obra que me viria por acaso. Sinto-me grato de ter recebido esse livro dum grande amigo.

terça-feira, 12 de julho de 2022

Acabo de zerar "The Legend of Zelda: a Link to the Past" do Super Nintendo

 



Fazem anos que não zero um jogo de Super Nintendo, ainda mais um jogo longo e complicado como Zelda. Pra matar minha nostalgia, resolvi zerar esse grande diamante bruto do SNES. Demorei dias, é claro. Só que finalmente consegui zerar.

É incrível como uma franquia pode marcar a nossa cabeça sem que a gente se dê conta. Lembro-me de que, ao receber meu Wii em casa, eu disse a mim mesmo que zeraria Zelda. Dito e feito: o primeiro foi Wind Waker, o segundo foi Skyward Sword e o terceiro Twilight Princess. Hoje coloca mais um em minha lista: a Link to the Past, que optei por zerar num emulador.

É sempre fantástico entrar no complexo e lindo mundo de Zelda. Tudo no jogo é um gigantesco quebra-cabeças no melhor sentido do termo. E a necessidade de pensar faz parte da magia do jogo. Novamente estive a quebrar a minha cabeça para resolver todos os difíceis calabouços. Agora o que tenho é um recompensado orgulho de ter conseguido, mais uma vez, ter encarado tudo e vencido até o final.

O pensamento que tenho é que a vida, em si, é um grande Zelda - complicada e cheia de quebra-cabeças que te deixam com dor de cabeça. Se encararmos tudo até o final, quiçá Demise apareça, tal como em Skyward Sword e diga: "Você é o melhor de sua espécie". A vida é problemática e nisso concordo com Chesterton em uma frase: “Uma inconveniência é apenas uma aventura erroneamente considerada; uma aventura é uma inconveniência corretamente considerada.”