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domingo, 5 de fevereiro de 2023

Acabo de ler "La Edad Media" de Jose Luis Romero (lido em espanhol)

 



Escrever sobre a Idade Média, sobretudo num país tão atrasado em conhecimentos históricos medievalistas como o Brasil, é uma tarefa um tanto quanto ingrata e que possibilita toda uma série de margem para más interpretações e birras geradas após anos de distorções ou má interpretações históricas.


Deve-se pontuar que:

1. Grande parte da interpretação histórica medievalista surge dum período que sucedeu logo após ela e, muitas vezes, com caráter notoriamente negativista sobre todos os seus mais diversos aspectos;

2. Uma nova interpretação acerca da Idade Média vem surgido com uma revisão bibliográfica e dos mais diversos  documentos, todavia é recente e não foi acoplado ao conhecimento acadêmico comum;

3. Parte da história da Idade Média se perde pois o foco eurocêntrico impede uma olhar mais sistemático;

4. Grande parte do mito de "Idade das Trevas" impede um olhar mais atento a esse período que, diga-se de passagem, foram três e não um.


O livro traz uma análise sobre os três períodos medievais. Tratando da dissolução do Império Romano, a forma com que o cristianismo impactou as mudanças do mundo e como o papado tentou recorrentemente reestabelecer um Império - a qual poderíamos chamar de Cristandade. As lutas recorrentes também buscavam cristianizar a cultura e manter o legado civilizacional romano.


Fora isso, vemos o desenvolvimento conflituoso entre muçulmanos e cristãos - e como Mohammed unificou seu povo e, consequentemente, possibilitou seu desenvolvimento. O desenvolvimento da burguesia enquanto classe e como a fragmentariedade territorial causada pela nobreza levou monarcas a fortalecerem a classe burguesa também é tratado aqui.


Esse livro é, mesmo que curto, bastante abarcante das problematicidades que apareciam na época e tenta, em seu curto espaço, apresentar uma exposição metódica da situação. Vale a pena ler.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Acabo de adquirir "Outono na Idade Média" de Johan Huizinga.

 



    A Idade Média é, no Brasil, mal estudada e mal-amada. Na verdade, é vista até mesmo com o mais vigoroso desdém. É como se ela fosse um compilado de crises que, no geral, fazem um grande megazord perverso de caos, ignorância e destruição. Hoje, tal visão, entra em crise com as fontes mais diversas do novo estudo histórico - não sem, é claro, atacarem tal nova perspectiva de revisionismo. E a pergunta que se cai é: a Idade Média foi um tempo de pura treva ou pura luz? Talvez a resposta desaponte ambos os lados.


    Não muito tempo atrás, postava-se um vídeo em que uma mulher dizia que 1 + 1 era igual a 2 e, por ser mulher, era condenada pela Igreja. Já um desenho muito famoso, direto da Netflix, dizia: "como se atreve trazer a lógica para casa de Deus?". Animes de todos os tempos não se deixam levar por qualquer debate saudável e tão logo adentram na lógica circular de que os medievais eram apenas burros e fanáticos. Os mesmos medievais, construtoras de catedrais, eram tidos como burros. Seus métodos de argumentação, cheios de vaivéns e alta abstração, igualmente são condenados. Se medievais são burros, como ousavam ser tão pedantes? A resposta, é claro, é igualmente dúbia: eles eram burros e, por outro lado, eram igualmente pedantes. Gozam, contraditoriamente, de um pensamento extremamente abstrato - típico de pessoas altamente intelectualizadas - e de uma burrice extremamente ignara. 


    Todo mundo salta de dúvida: ora estamos dizendo que a Idade Média viu o florescimento das universidades, ora dizemos que o florescimento científico foi atacado. E para tal "fato" (ou seria factóide?) se fala da condenação de Galileu à morte... Que, adivinhem, nunca ocorreu. Galileu foi condenado a prisão domiciliar, morreu de velho (morte natural). Agora outra dúvida que salta aos olhos: toda forma de ciência foi condenada, de modo absoluto e inigualável, sem tirar e nem pôr por dogmas, já que dogmas são literalmente impostos do nada, não? Não, não é bem por aí. Existem dogmas que demoraram milênios de discussão para serem feitos e quiçá milênios ou séculos não sejam algo que sejam "tirados do nada".