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quinta-feira, 28 de março de 2024

Acabo de ler "O Teatro Infantil na Década de 1980: Um olhar para o universo infanto-juvenil" de Carolina Castenheda Moura

 



É preciso criar uma apologética da baderna. Construir uma grossa bandalheira que, num passe iconoclasta, sirva para um desenvolvimento do tônus muscular da mentalidade democrática. O questionamento dos valores, a afirmação da identidade dos excluídos, o grito poético dos atormentados: é nisso que deve estar a arte teatral.


O teatro pós-ditadura se ampliou nas gamas de assuntos: adentrou nos debates da política, em prol da democracia; no campo da sexualidade, para combater os estereótipos de gênero; dialogou amplamente com a cultura circense, em prol da abertura para o questionamento dos valores enraizados. O fazer teatral não é, nem poderia ser, uma aceitação dos valores estabelecidos e tidos como referência. Ele é, antes de tudo, um questionamento e a tentativa de gerar uma possibilidade: a de um novo mundo.


O teatro para a criança tem uma necessidade, tem uma especificidade. Nela se encontra um problema de monumental importância: que tipo de ser queremos formar? Uma síntese entre o campo da educação e da psicologia se faz necessário. E a mera repetição de fórmulas não adianta. É virtuoso que o teatro gere uma postura de inquietação e de questionamento para os problemas sociais e individuais, mesmo que essa virtude consista na quebra do que é padrão.


O teatro para a criança traz sempre dualidade: ludicidade X didatismo; questionamento dos valores vigentes X passagem de valores. É preciso que se brinque ao educar. É preciso que se questione ao mesmo tempo em que se busque algo mais desejável. É preciso caminhar com fé nas próprias dúvidas e rejeitar o conforto dos rituais que a sociedade nos apresenta.


Creio que o artigo apresenta, acima de tudo, uma importante questão: de que o teatro é um caminhar contínuo em corda bamba. E de que os seus defensores são, antes de qualquer colocação de ordem social, questionadores confessos que podem estar sempre na mira dos cultuadores de vaidades.

Acabo de ler "Teatro Infantil: um olhar para o desenvolvimento da criança" de Sandra Márcia Campos Pereira

 



O teatro é a arte da expressão. A sua importância está em ensinar as pessoas a se expressarem. Isto é, num mundo que constantemente nos afronta, é necessário uma posicionalidade. A capacidade de agir dentro do mundo, de chegar onde quer chegar, de ter até uma resistência para com o apagamento da própria identidade em um mundo que constantemente busca uma normalização esvaizadora da potencialidade ontológica de cada alma humana.


Por meio do teatro temos a possibilidade de expressar uma mensagem e, ao mesmo tempo, de entrar em contato com essa própria mensagem que é parte de nós. O processo de construção da teatralidade é o processo de vivência da própria mensagem que se encontra dentro do texto. É dar vida, é dar voz, é dar palpabilidade ao que representamos. Encontrando sempre um nexo de conexão ao que está dentro do texto, visto que o que está ontologicamente escrito também se encontra dentro de cada um de nós.


E é a partir dessa linha que podemos compreender a importância do teatro para cada criança, não só no Brasil, como também no mundo: a capacidade de uma vivência simulada e aproximativa dos grandes dramas da vida humana. E, por meio dessa, o desenvolvimento de sua personalidade para agir em meio ao jogo de conflitos em que está imersa a própria realidade de nossa existência.


É por meio do teatro que somos sensibilizados e podemos novamente ter um reassombramento: é onde há uma construção do mundo não como uma realidade que devemos nos curvar, mas como algo que podemos nos emancipar e reconstruir. Quando ensinamos teatro, nas escolas ou faculdades, queremos que o aluno possa aprender pela alteridade e pela criatividade.


A criança ao estudar e ao praticar o teatro adentra num campo artístico em que o aspecto do diálogo com o outro é salutar, visto que a maior beleza do teatro é dar voz ao outro por meio de si e, com isso, descobrir que também somos parte do outro. O teatro é perigoso pois humaniza e pela humanização faz a sua crítica.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Acabo de ler "Clarita se volvió Invisible" de Graciela Montes (lido em espanhol)

 



Li esse livro com o objetivo de exercitar a tradução, um exercício para aprender mais a língua espanhola. Mas devo confessar que, durante o exercício, gostei bastante dessa infantil, mas encantadora história.

A história se passa narrando as proezas duma garotinha chamada Clarita. Essa menina, bastante sapeca, tornou-se invisível e foi pela casa aprontando diversas confusões. Um enredo bastante simples, todavia recheado duma mágica que, em meu coração, achava-se oculta.

Lembrei-me, diversas vezes, do mundo diminuto e fantástico de minha tenra idade e da relação que nutria com meus pais. As reminiscências dum passado distante que ressurgia a cada página tornou a leitura muitíssimo agradável, proveitosa e deleitosa. Além de que, para minha surpresa, tornou-se mais e mais emocionante com o passar do tempo.

No fim, Clarita volta a ser visível. O afeto de sua mamãe lhe é mais importante do que o fantástico poder de se tornar invisível. O carinho supera, incrivelmente, a especificidade e singularidade de sua experiência com esses poderes tão estranhos e desejáveis. Nisso reside, precisamente, a qualidade da experiência humana que a autora tão fantasticamente transmite.