terça-feira, 13 de agosto de 2024

Acabo de ler "Hegemonic Monosexuality" de Angelos Bollas (lido em inglês/Parte 1)

 


O fato da bissexualidade não ser muito estudada leva a um desentendimento acerca da sexualidade humana. Isto é, a construção social visa a priorizar monossexualidades (heterossexuais e homossexuais). Essa construção, que se dá também epistemicamente, acaba por reforçar padrões normativos – como a família nuclear, por exemplo. A vida do bissexual é uma vida de apagamento e de solidão, de marginalização e de exclusão. A maioria de nós caminha com a certeza trágica de que seremos sempre atacados, pelos mais diversos meios, sem nunca ter um local para estar. Para a ampla maioria da sociedade, o normal é ser bifóbico.


A hegemônica monossexualidade não quer dizer, em última instância, um domínio heterossexual. Ela quer dizer um amplo domínio heterossexual e algumas regiões de domínio homossexual que fazem contraponto a essa heterossexualidade majoritária. So que, quer queira, quer não, não há um espaço de legitimidade roxa (bissexual). Para piorar, a heterossexualidade cria uma forma ideológica chamada "heterossexismo". O heterossexismo – usualmente também conhecido como heteronormativo – é a ideia de que a heterossexualidade é natural e superior. Caso não seja "a única expressão natural", ao menos é tida como uma forma expressiva superior. Tal ideologia assume forma mesmo em grupos homossexuais, visto que o referencial heterossexual toma conta e vemos a "homonormatividade" (reprodução do hétero-patriarcado).


A luta bissexual vai além dos critérios heterossexuais, ela vai contra as alienações homonormativas. A forma de expressão romântica heterossexual ou homossexual não combina com a "tonalidade roxa". A ideia do referencial heterossexual ou homossexual como peça central da construção da identidade bissexual apenas demonstra uma incapacidade da comunidade bissexual de criar a sua própria forma expressiva. Ou, em outros termos, elevar-se autoexpressivamente. A chave central da problemática bissexual se dá sobretudo na sua esfera identitária e na forma em que ela se expressa. Bissexuais são convidados a demonstrarem quem são e construir o próprio caminho apesar das mazelas sociais.


A luta bissexual se deu, muito recentemente, em duas vias. Por um lado, bissexuais eram vistos como traidores ou potenciais traidores por parte de lésbicas e gays. Por outro lado, heterossexuais achavam o comportamento bissexual suspeito, visto que viam homossexuais como principais detentores de doenças sexualmente transmissíveis e os bissexuais seriam os responsáveis de levar a doença de um lado para o outro. Se o ódio e o ataque vem de ambos os lados, a luta bissexual deveria ter pauta própria e não se vincular totalmente ao restante da "comunidade dos estranhos", visto que alguns são mais estranhos do que outros.


Outro pontuamento relevante é a monogamia. Só que essa questão é bem mais complexa. Nem todo bissexual acredita ou é aderente da fórmula poliamorista. Aí adentram outras séries de questões. Bissexuais são vistos como inerentemente "traidores", mesmo quando são monogâmicos. Ou são vistos como inerentemente poliamoristas. Existem bissexuais que veem a monogamia como uma forma de expressão romântica condicionada a monossexualidade. Além disso, homossexuais aderiram em massa a monogamia para um efeito de aceitação social maior.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Acabo de ler "The Case Against Democracy" de Mencius Moldbug (lido em inglês)

  Nome: The Case Against Democracy: Ten Red Pills Autor: Mencius Moldbug Vendo o interesse contínuo na Nova Direita Cultural e no Iluminismo...