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quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Acabo de ler "Teologia do Domínio" de Eliseu Pereira (Parte 7 - Final)

 


Nome:

TEOLOGIA DO DOMÍNIO: UMA CHAVE DE INTERPRETAÇÃO DA RELAÇÃO EVANGÉLICO-POLÍTICA DO BOLSONARISMO


Autor:

Eliseu Pereira


Creio que descobrimos, tarde demais, a triste ligação do movimento evangélico brasileiro com a Teologia do Domínio. Por mais que, nessa altura do campeonato, queiramos mudar alguma coisa, o poder evangélico é crescente e sobe até mesmo quando setores progressistas da sociedade estão no poder.


Como observado no artigo:

Embora a história da formação dos EUA seja distinta da brasileira, a maioria das igrejas protestantes e evangélicas no Brasil é de origem estadunidense, o que cria vínculo teológico-ideológico entre as igrejas de ambos os países. Essa influência pode ser observada desde o início, como, por exemplo, o envolvimento dos evangélicos brasileiros na luta pela Proclamação da República e pela liberdade religiosa, contra a religião oficial do Império. Os ideais políticos dos EUA já se apresentavam como vantajosos para os evangélicos nativos.


Foi graças a integração entre evangélicos norte-americanos e evangélicos brasileiros que esse último grupo chegou ao protagonismo político. Os anseios de evangélicos norte-americanos para com o Brasil é bem longo e seu projeto no território nacional possui um passado longínquo. Todavia apenas em tempos recentes eles conseguiram estabelecer um poder político notório que muito dificilmente acabará.


A Teologia do Domínio não faz distinção entre o velho testamento e o novo testamento. A aplicação da Bíblia deve assumir uma postura literal. E muitos evangélicos brasileiros creem que estão numa cruzada do bem contra o mal. A derrota de Donald Trump, nos Estados Unidos, Bolsonaro, no Brasil, não demonstram que a Teologia do Domínio foi derrotada em solo americano e brasileiro, mas que estão diante de um pequeno impasse histórico a ser superado.


A ideia de teonomia é, também, uma questão escorregadia. Garantir uma minimização do Estado para que os cristãos tomem poder parece uma ideia boa a curto prazo para determinados grupos cristãos, mas como eles podem prevenir que outros grupos atuem livremente dentro de suas propriedades privadas? Só um crescente poder estatal é capaz de fazer cumprir os anseios teocráticos de reprimir os adversários da Teologia do Domínio.


A Teologia do Domínio, apesar de abarcar distintas visões cristãs, não é capaz de assegurar essa "liberdade" que alguns setores cristãos querem. Ela logo implicaria uma unidade doutrinal entre os cristãos, sobretudo quando estes assumirem de vez o poder do Estado e precisarem dele para reprimir os seus opositores. Logo a liberdade de culto não seria possível, visto que essa se sujeitaria a Teologia do Domínio em todas as igrejas.


Ninguém assume explicitamente a Teologia do Domínio. Seus defensores não professam os seus planos. Corremos risco de ver processos de desdemocratização consubstanciados com processos de teocratização. Como ninguém quer encarar essa "maioria crescente" – optando até por fortalecer o seu poder de tempos em tempos –, o Brasil – e os Estados Unidos – corre um forte risco.

Acabo de ler "Teologia do Domínio" de Eliseu Pereira (Parte 6)

 


Nome:

TEOLOGIA DO DOMÍNIO: UMA CHAVE DE INTERPRETAÇÃO DA RELAÇÃO EVANGÉLICO-POLÍTICA DO BOLSONARISMO


Autor:

Eliseu Pereira


“O Estado é cristão e a minoria que for contra, que se mude. As minorias têm que se curvar para as maiorias” (Jair Messias Bolsonaro)


A ideia de que uma maioria cristã pode colocar "leis compatíveis com as suas crenças" é bastante falha. Em primeiro lugar, não há uma unidade doutrinal dos cristãos brasileiros. Em segundo lugar, isso feriria a própria laicidade do Estado. Em terceiro lugar, isso fere o Brasil enquanto país plural. Em quarto lugar, os não-cristãos seriam oprimidos por uma maioria.


O objetivo dos evangélicos no Brasil é colocado numa frase bastante esclarecedora:


“Eles desejam ‘restabelecer’, por meio da conversão individual, da inculcação da moral cristã, do uso da mídia e da participação direta nos poderes políticos constituídos, uma espécie de neocristandade, a dominação cristã do Estado e da vida privada” (Mariano)


O objetivo de construir uma nação evangélica e construir uma neocristandade é um objetivo totalitário. O maior inimigo dos humanistas e democratas no Brasil não é, como muitos creem ser, o fascismo ou nazismo. Esses grupos (fascistas e nazistas) são meramente minoritários e estão perdidos em algumas células de radicalidade. Não entram na maioria da população. Se há um inimigo poderoso o suficiente para arrombar as portas do Estado e remodelar o país num projeto totalitário, esse inimigo seria a Teologia do Domínio.


A Teologia do Domínio se utiliza do chamado "cristianismo cultural". Essa "cultura cristã" se oporia radicalmente aos seus "inimigos mais notórios". Esses inimigos notórios seriam humanistas e comunistas. Entram aí uma série de movimentos que estariam travando a cristianização total da sociedade. Para vencer, se faria necessário uma frente que atacasse os inimigos da "civilização judaico-cristã". É evidente que entre eles estariam LGBTs, comunistas, liberais, sociais-democratas, conservadores céticos e tantos outros.


O Estado seria pouco a pouco dissolvido e em seu lugar o poder seria distribuído a uma série de igrejas que desempenhariam o antigo papel do Estado. A minimalização do Estado se daria em paralelo a maximização das igrejas cristãs em poder e influência política. Logo a velha questão teológica (poder espiritual e poder temporal) seria "resolvida" com as igrejas assumindo o poder temporal.


As ideias da Teologia do Domínio são socialmente complicadas. Uma série de grupos se veriam ameaçados pelo seu poder crescente. Só as ideias de teocracia já ameaçam o Estado Democrático de Direito, criminalizando a própria noção de que a democracia se faz com diferentes ideias. Calar as diferentes ideias é uma forma de calar a própria possibilidade de democracia. Além dessa problemática, nos separamos com o fato de que as igrejas assumiriam o poder ao lado de um patriarcado. O patriarcado é uma ameaça as mulheres e aos seus direitos e liberdades. Com o antagonismo crescente de cristãos e LGBTs, vemos também uma ameaça a minorias de gênero e sexualidade.

Acabo de ler "Teologia do Domínio" de Eliseu Pereira (Parte 4)

 


Nome:

TEOLOGIA DO DOMÍNIO: UMA CHAVE DE INTERPRETAÇÃO DA RELAÇÃO EVANGÉLICO-POLÍTICA DO BOLSONARISMO


Autor:

Eliseu Pereira


Esse artigo responde uma pergunta: quando se deu a aproximação do partido republicano para com o público evangélico? Em 1964, o Partido Republicano (PR) sofreu uma das maiores derrotas da sua história. Para resolver essa questão – num país onde o voto não é obrigatório – um dos públicos a serem conquistados era o dos evangélicos. A conveniência uniu o PR (Partido República) e a TD (Teologia da Dominação).


O plano teocrático teria os seguintes objetivos:

“para tornar ‘todo pensamento cativo a Cristo’; exercer domínio sobre todos os aspectos da vida; e fazer com que a família, a igreja e o governo civil estejam em conformidade com os ditames da lei bíblica”


O leitor ou a leitora devem estar se perguntando qual seria a base que fundamentou esse revés histórico de cristianização da política. A base seria a suposta "decadência moral" dos Estados Unidos da América. Essa "decadência moral" estaria ligada aos avanços dos comunistas e humanistas.


Com um período longo de formação de base – envolvendo vários think tanks –, Ronald Reagan foi eleito e reeleito. Além disso, o senado americano conseguiu a maioria republicana. Com Ronald Reagan, empossado pelos anseios evangélicos, a política neoliberal tomou forma. O que demonstra, mais uma vez, a fusão entre neoliberalismo e teologia do domínio.


A Teologia do Domínio conseguiu estabelecer alguns presidentes nos EUA: Ronald Reagan, George W. Bush e Donald Trump. Esse último, por sua vez, criou institutos para promover os interesses dos Estados Unidos e de Israel na América Latina: "Latino Coalition for Israel". O que demonstra que os interesses da Teologia do Domínio foram exportados para cá. Não é incomum que pastores norte-americanos venham para ministrar cursos aos pastores brasileiros.


O lobby evangélico tampouco precisa ganhar as eleições presidenciais para fazer valer a sua vontade. Pode muito bem avançar em setores menores: governos estaduais, câmeras legislativas e tribunais. Além disso, ocupam setores educacionais, censuram livros e obras de arte. A Teologia do Domínio é exportada para países do hemisfério sul.