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quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Acabo de ler "Amores Proibidos na história do Brasil" de Maurício Oliveira




Nada melhor do que terminar o ano lendo sobre o amor, não é mesmo? Este livro traz uma perspectiva intensamente interessante: partes da história de nosso país contada através da situação romântica de homens e mulheres que marcaram a história do Brasil. Um prato cheio para quem busca estudar nossa história sem o fardo de se perder no vaivém burocratizante e sonífero que toma conta da nossa história extremamente academicizada e pouco apaixonada.


Aqui o leitor entra em contato com uma realidade que transcende a banalidade oficialesca que é usual nossa forma histórica-narrante, isto é, ele sai das condições do castelo de marfim dos padrões normativos e adentra nos terrenos ocultos e íntimos do amor. O leitor, pouco a pouco, compreende que os grandes homens e mulheres de nosso país não eram tão somente figuras de ação política, cultural ou econômica: eram homens e mulheres normais, infinitamente normais, e, portanto, ligadas ao ato profundamente humano e normal que é o ato de amar.


O que move a história é mais do que uma gigantesca maçaroca de idealidade abstrata. O que move a história é muitas vezes o desejo de amar e ser amado. E esta necessidade leva os seres a grandes ideias. O amor precede tudo. O amor é o guião da inteligência e dos grandes atos. Até mesmo a ciência está envolta deste calor efervescente a qual poderia chamar de chamas do amor. A ideia de que estamos separados do imaginário e da busca do Ordo Amoris em todos os nossos atos nada mais é do que uma construção da própria imaginação humana e a objetividade nada mais é do que um fruto dum desejo subjetivo.


O leitor corre um grande risco ao entrar em contato com esse livro: o de ver-se humano. Quando nos vemos como humanos, apaixonamo-nos e deixamo-nos a mercê dos ventos da impotência da volatilidade do desejo. E, quiçá, em uma época tão dominada pela idealidade vazia dum maquinacismo vil, exato e proporcionalmente desumano, esta ação de se deixar levar seja a nossa principal lição.

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Acabo de ler "Teatro Completo: Peças Psicológicas" de Nelson Rodrigues

 



"E se, todavia, quereis saber, ainda, o que quer dizer 'Viúva, porém honesta', eu vos direi: sua mensagem é demoníaca. Por 'demoníaco' entendo eu esse impulso que vem de dentro, das profundezas, esse grito irredutível contra tudo e contra todos que falsificam os valores da vida. É essa negação da ordem social, política, familiar ou religiosa que já apodreceu ou que representa verdades esgotadas"

Nelson


Já terminei de ler mais e de analisar mais da metade das peças teatrais de Nelson Rodrigues. Não dum tradicional, visto que o faço de "modo abstrato" para evitar dar spoilers ao possível futuro leitor e pelo fato de que o objetivo das análises postadas no Instagram é o de serem curtas, breves e rápidas de serem lidas.


Ler Nelson Rodrigues em sua forma teatral vem mudando toda minha percepção da realidade. Sempre fui muito próximo de sua obra jornalística e a sua obra literária mais voltada ao romance, mas como não fui muito próximo ao teatro, nunca tive muito interesse em ler a sua expressão teatral. Em minha vida, tinha lido poucos textos teatrais. A leitura dessas obras é fruto dum gosto muito recente. Juntei o útil (ler um gênero literário que eu tinha pouco contato) ao agradável (ler a obra de Nelson Rodrigues).


Pretendo, todavia, só terminar a leitura da obra teatral de Nelson Rodrigues ano que vem. Atualmente tenho que terminar uma série de outros estudos e para adiantá-los preciso largar um pouco de minhas chamadas "leituras livres" - que não deixam nem por um momento de serem intelectualmente proveitosas.


Creio que se pudesse dar uma recomendação aos estudiosos, recomendaria a leitura mais acentuada do corpo literário de Nelson Rodrigues. Apesar das diferenças culturais geradas pelo tempo e a suavização dos costumes que Nelson criticava, ainda há um quê que nos escapa profundamente: a angústia da desejabilidade que temos enquanto seres humanos de natureza essencialmente transcendental. O nosso desejo se choca com o mundo e nem sempre o mundo lhe corresponde, e isto leva a um sofrimento e é deste sofrimento (desejo x contradição) que a obra de Nelson trata particularmente bem.

terça-feira, 5 de setembro de 2023

Acabo de ler "O Grande Mentecapto" de Fernando Sabino

 



Li este livro faz um tempão, todavia resolvi escrever sobre ele tão somente agora. A falta de tempo me guiou a isto. Mas como fazia tempo que nada postava, resolvi escrever-lhes agora.


O personagem é chamado de "Viramundo". Tal nome não lhe vem ao mero acaso, o nome surge devido ao fato dele estar sempre envolvido em confusão e de sempre estar alterando o rumo da história mineira com a sua fanfarronice. Quase nunca por escolha própria, mas sim porquê sua habilidade inata - ou seria má sorte? - ou o destino o quis.


Declaro que me identifiquei bastante com o personagem. E o livro é um primor do humor, fazendo que o leitor ria de tempos em tempos e sempre se lembre do livro com um doce carinho.


O livro consegue ser engraçado sem ser clichê, triste sem ser nauseabundo, profundo sem perder o leitor numa miríade de complexidade diabólica que o afasta. Um equilíbrio perfeito conduzido por um grande gênio e autor que goza de profunda erudição sem perder o humor que lhe caracteriza.


No final, fica marcado uma espécie de grito de excluídos, dando margem a uma ampla crítica social e a estrutura da sociedade da época, sem perder a beleza e o encanto humorístico que denotam todo o percurso da obra. É um livro para se ler e reler, imaginando cada cena com todo carinho.

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Acabo de ler "Fastos da Ditadura Militar" de Frederico de S. (Eduardo Prado)




"Ninguém duvidará então de que quem escreve estas linhas só atacou os dominadores do Brasil porque, como homem civilizado e do seu século, aborreceu a traição, amou a liberdade e detestou a tirania"
Frederico de S. (Eduardo Prado)

A proclamação da República inseriu, no Brasil, uma grotesca ditadura que dava aos golpistas um poder onipotente para fazerem o que bem entenderem da coisa pública. Em vez de ser uma conquista que maximizava os progressos do tempo imperial e dava-lhe novos toques de elevação civilizacional, essa destruiu parte do progresso imperial e adicionou novos males.

A liberdade de imprensa acabou, a economia foi destroçada, o crédito do Brasil no exterior despencou, parte do território foi cedido a Argentina, algozes se autopromoveram galgando em cargos imerecidos e aumentos salariais desproporcionais. Além disso, decretos surgiam aqui e acolá sem o consentimento da população brasileira e por puro capricho de usurpadores e tiranetes onipotentes.

Em meio a toda essa barbárie, um bravo homem vem anunciar as mentiras e retrocessos civilizacionais que os revolucionários positivistas fizeram ao país. Frederico de S. (Eduardo Prado), foi combatente e a favor duma verdadeira soberania nacional - localizada em representantes legitimamente eleitos pelo povo e a ele submissos. Dito isso, nenhuma ditadura pode ter soberania nacional pois seu poder retira o poder decisório do próprio povo.

Nesse brilhante livro, vemos a defesa militante e responsável das liberdades civis e da capacidade soberana de autogestão dum povo. Um ataque frontal as arbitrariedades de homens que, postos no poder, alteram tudo para que tudo caiba na pequeneza de suas estaturas diminutas.

Certamente um dos maiores clássicos da literatura nacional e um livro que, certamente, recomendo a cada brasileiro para o conhecimento mais amplo da história de sua pátria. 

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Acabo de ler "A República das Milícias" de Bruno Paes Manso

 



Uma população aterrorizada pode tomar medidas desesperadas. O descrédito das instituições tão logo se configura numa aceitação de medidas alternativas para o controle efetivo da situação. Graças a ineficiência do Estado, as pessoas migram para meios paralelos que, não raro, aumentam o poder de grupos que cumprem o que o Estado não cumpre.

O Estado democrático, o Estado de direito, a possibilidade de se ter uma vida normal dentro duma sociedade ocidental moderna, tudo isso soa como uma gritante abstração para os mais vastos grupos encontrados dentro do Brasil moderno. Grupos criminosos aproveitam-se do quadro deficiente e logo monopolizam territórios fazendo o que o Estado não faz.

Nesse livro, deparamo-nos com uma realidade hostil em que diferentes grupos, de ideologias mais ou menos distintas, aproveitam-se do vazio criado pela ineficiência do Estado para assim criar o seu próprio poder e legitimar-se por ele. Milicianos, bandidos do crime organizado, políticos, bicheiros... tudo aqui se condensa numa teia complexa de relações que sempre leva a dissolução duma sociedade realmente justa e equilibrada.

Com o fim do regime militar, o povo brasileiro acreditava na solução democrática para seus conflitos. Só que tal coisa não ocorreu, ao menos na inteireza do território nacional - e onde ocorreu, ocorreu deficitariamente. O Brasil enquanto projeto nacional íntegro e soberano se desvirtuou.

No final, a questão que fica é: como solucionar esse problema que se cria pela ausência de um projeto unificado que englobe a vastidão territorial dum país tão grande quanto o Brasil? Enquanto isso não for resolvido, o Brasil será uma eterna promessa de ser "o país do futuro".

sábado, 17 de setembro de 2022

Acabo de ler "Evolução Política do Brasil" de Caio Prado Jr.

 



A história do Brasil é impressionante por suas mazelas e eterna incapacidade de modernizar o país as necessidades do tempo. Não raro, caímos em reformas que seguem tão apenas parcialmente. Essa eterna condição sempre marcou nosso país em seu gradualismo e lenta marcha.

De dimensões continentais, o Brasil tem tudo para ser uma das maiores nações do mundo. Entretanto, perdemo-nos no meio do caminho e não conseguimos assumir o protagonismo da história. Ficamos relegados a ser o "país do futuro". Futuro esse, convém lembrar, que nunca chega. Estamos adiando nossa capacidade sempre, nunca ousando tanto quanto deveríamos.

O caráter social do Brasil se desenvolveu por uma elite que considereva apenas o seu interesse, nunca procurando um entendimento nacional para a condução dum projeto político unitário e verdadeiramente nacional. Quando a Coroa Portuguesa para cá veio, o rompimento entre Brasil e Portugal que poderia ser mais virulento, foi bastante calmo - embora não sem lutas. De qualquer forma, tudo no Brasil se faz com parcimônia e passos de tartaruga. Toda revolução é, em verdade, apenas um golpe de uns poucos gatos pingados.

Tendo em mente as mazelas de nossa história, um país focado no patrimonialismo e incapaz de planejamento de Estado, como poderíamos ser otimistas? Talvez a resposta seja por mais amor a pátria e desejo sincero de vê-la melhor em todos os âmbitos, não só para uns, mas para todos.