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sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Acabo de ler "INVISIBLES: PROBLEMÁTICAS DE SALUD-ENFERMEDAD-ATENCIÓN DE PERSONAS BISEXUALES" de Osmar e Edgar (lido em espanhol/Parte 1)

 


Nome:

INVISIBLES: PROBLEMÁTICAS DE SALUD-ENFERMEDAD-ATENCIÓN DE PERSONAS BISEXUALES 


Autores:

Omar Alejandro Olvera Muñoz;

Edgar Carlos Jarillo Soto.


Nota:

Essa pesquisa foi feita no México.


A problemática da saúde da pessoa bissexual se insere em um contexto bastante específico. Esse contexto específico é um processo sociohistórico em que a invisibilização e valoração negativa operam como mecanismos antagônicos para regular o exercício da sua sexualidade. O que faz com que indivíduos bissexuais apresentem maiores danos mentais a sua saúde mental que gays e lésbicas.


Os problemas advindos da bissexualidade são particulares. Se a invisibilização das pessoas bissexuais implica em problemas de saúde específicos, então essa deveria ser tratada a partir de um cuidado com a consciência social. Essa questão deveria entrar no âmbito da psicoterapia. O reducionismo nas práticas dos profissionais de psicoterapia pode levar a um agravamento da questão, levando ao fortalecimento das situações de crise.


Os profissionais de saúde devem compreender que estão dentro de uma estrutura social. Essa estrutura social dá suporte a comportamentos adoecedores. Não tratar essa questão de fundamentação sociológica pode fazer com que os adoecimentos continuem por motivos sociais, levando a um empobrecimento das técnicas e avanços dos próprios profissionais de saúde. O profissional de saúde tem, para si, um dever dentro da sociedade. E esse dever não é puramente biológico, mas também sociológico, psicológico e filosófico: o de combater efeitos sociocolaterais de dados comportamentos sociais. A neutralidade – se furtar ao combate intelectual numa sociedade marcada pela injustiça – é uma forma de fugir do próprio dever enquanto profissional. Em outras palavras, a compreensão sociohistórica da formação patológica e seu combate as desigualdades e opressões reinantes não é um mero acessório ou um esforço adicional, mas deve ser uma prática dentro do próprio ofício do profissional de saúde.


Um olhar de ahistoricidade da formação patológica pode fazer com que se preserve uma sociedade adoentada e adoecedora, levando a inutilidade do próprio exercício e função da saúde. É combater os efeitos e não as causas – e grande parte delas são sociais.  A saúde é uma necessidade humana, e essa necessidade de saúde não é só física, ela também é mental. É por isso que a saúde tem que ter um esforço para compreender e assimilar explicações sociohistóricas do estado mental das pessoas. 


A questão da saúde da pessoa bissexual se aprofunda em múltiplas vias, são essas:

– Invisibilização:

Bissexuais são tratados como inexistentes, o que impossibilita uma identidade socialmente reconhecível. Sendo julgados como homossexuais ou heterossexuais. 

– Rechaço na comunidade heterossexual e LGBT:

Bissexuais são atacados por héteros e outros integrantes da sigla LGBT. Seja sendo vistos como traidores, seja sendo vistos como incapazes de um relacionamento monogâmico, seja sendo considerados como "instáveis" por não entrarem no sistema binário (monossexual).

– Inferiorização e Sexualização:

A mulher bissexual corre o risco de entrar na "caçada aos unicórnios" – casais procurando uma terceira pessoa para ménage – ou homens procurando uma "mulher liberal". O homem bissexual pode ser enquadrado como gay ou ser tido como "menos homem" – a masculinidade hegemônica é um esforço contínuo para reforçar a masculinidade o tempo todo, mas essa masculinidade hegemônica é heterossexual, ativa e "macho" (estereótipo) –, o que pode levar a complicações sociais.


A saúde mental das pessoas bissexuais é atacada sempre. Todos os dias. Em todos os locais. Seja no hegemônico (heterossexual), seja no não-hegemônico ou contra-hegemônico (LGBT). A não compreensão desse fator, além de casos mais graves como tentativa de "cura", pode levar ao desencadeamento de crises. 

domingo, 22 de setembro de 2024

Acabo de ler "Militância enquanto Convite ao Diálogo" de Dani Vas e Danilo (Parte 6)

 


Nome:

Militância enquanto Convite ao Diálogo: o Caso da Militância Monodissidente


Autores:

Dani Vas;

Danilo Silva Guimarães.


Se o grupo hegemônico detém a maioria das estruturas que regem a sociedade, é mais fácil a ela se utilizar dessas estruturas. A luta da contra-hegemonia contra a hegemonia estabelecida não é uma luta entre opostos equivalentes, mas entre grupos que possuem um desnível entre os seus poderes – sendo o grupo hegemônico bem mais poderoso. Não raro, ao ver o seu poder ameaçado, o grupo hegemônico se utiliza dos aparatos da hegemonia para cercear a liberdade discursiva do grupo contra-hegemônico por meio da repressão.

Como dito na análise passada, a busca da militância não é uma busca simples. Ela é uma busca por transformação social e mudança das estruturas sociais. Essa pavimentação – transformações sociais – não pode ser conseguida a curto prazo, mas dependem de um trabalho longo e complexo. Ademais, existe a possibilidade de vitórias de curto-prazo, onde existe uma reversibilidade das conquistas anteriormente feitas.

A questão da militância vai além do que se quer mudar na sociedade e no outro. Ela também se direciona a nós. O que há em nós que reproduz a própria opressão ao qual estamos sujeitos? Não raro, deparamo-nos com racismo internalizado, homofobia internalizada, transfobia internalizada, bifobia internalizada, gordofobia internalizada. Há sempre um fantasma, um fantasma dos velhos hábitos de uma sociedade doente. Uma doença inconsciente que existe em cada um de nós, mesmo no mais dileto dos militantes. Todo o processo de formação endocultural não pode ser "resolvido" de uma hora para outra. A dialética da militância, então, também assume uma condição de processo metanóico dentro do próprio militante. O militante passa para uma desconstrução e vai aprendendo uma nova identidade, um novo modus vivendi e modus pensandi.

A militância também deve encarar uma questão e o militante um autoquestionamento. Ao ver a sociedade como passível de mudanças, podemos cair no erro da proteção egóica. Ou seja, na tentação de mudarmos a tudo sem mudar a nós mesmos, tornando-nos tiranos. Fora isso, a tensionalidade da militância envolve a própria militância em suas diferentes linhas teóricas e estratégicas. Como podemos ver, a militância é um fenômeno complexo e multifacetado, além de multitensional.

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Acabo de ler "Militância enquanto Convite ao Diálogo" de Dani Vas e Danilo (Parte 3)

 


Nome:

Militância enquanto Convite ao Diálogo: o Caso da Militância Monodissidente


Autores:

Dani Vas;

Danilo Silva Guimarães.

A militância bissexual tem como pauta a criação de políticas públicas voltadas as pessoas bissexuais. Essa militância é forjada por várias redes. É um eixo que unifica: (I) experiência pessoal; (II) experiência coletiva; (III) pesquisa. Isso gera uma significação e resignificação. A experiência pessoal se ressignifica a partir do contato com a experiência de outras pessoas, que também se ressignifica com o estudo teorético. O que permitirá gradualmente um avanço na profundidade teórica e prática dessa militância.


É o contínuo avanço da compreensão que possibilita o aumento da capacidade atitudinal. Prática (praxis) se junta a teoria, com uma ressignificando a outra em todos os momentos. A monodissidência possibilita uma outra possibilidade de análise que só é possível por pessoas monodissidentes. Ela permite que seja vislumbrado algo além das sexualidades já exploradas e analisadas a fio, aprofundando distinções importantes. O campo-tema explorado permitirá ver, com o tempo, mais questões não só da sexualidade, como também de tantos outros temas.


A questão central da comunidade bissexual, ainda hoje, é uma questão de identidade. Ou seja, a sua especificidade de se atrair por mais de um gênero. Quanto a isso, muito raramente se contempla a bissexualidade por sua especificidade. Contempla-se mais homens e mulheres homossexuais, mas não bissexuais. A pessoa bissexual é apagada de toda estrutura de pesquisas, de políticas, de grupos. Tendo que viver como uma espécie de fantasma. Sem mundos que se abram e possibilitem uma existência integral ou própria.


Tudo impacta em tudo, embora nenhuma parte seja tudo. A bissexualidade não é só uma forma de se enxergar e se relacionar com a sexualidade e o gênero, é também um movimento político. Toda orientação sexual tem uma história, um atravessamento, um tensionamento, uma intencionalidade, uma identidade, um "porquê". A história do movimento bissexual, tal como de qualquer outro movimento, é a história de uma consolidação de uma identidade. Uma das principais questões do movimento bissexual e do movimento monodissidente está na não-homogenização dos diferentes tipos de monodissidência.


A questão da militância dialógica é a questão da via do diálogo e da troca. Diálogo implica em diferença, implica em disparidade, implica também em desencontro. A relação "eu"-"outro" está e estará sempre conectada. Existe o "outro" que possibilita o desenvolvimento e crescimento do "eu". Existe o "outro" que impossibilita o desenvolvimento e o crescimento do "eu". A chave da polícia militante é a união entre aqueles diferentes que podem, junto ao outro, auxiliarem-se em sua missão.


A problemática – e a raíz da problematização – está no fato de que monodissidentes são fluídos. A militância, em seu sentido tradicional, muitas vezes se encontra em identidades bem construídas e bem definidas. A ausência de definição ajuda a levar a um natural apagamento. É por isso que a militância monodissidente não deve ser uma militância fechada, mas um outro tipo de militância. A militância monodissidente é uma militância dialógica. Ela não se encerra, ela tem a característica de apresentar várias pontas soltas, ela tem o detalhe de apresentar lacunas. E essas lacunas apresentam a capacidade de adentrar em variações teóricas que, em vez de reduzirem e impossibilitarem o seu avanço, aumentam a qualidade e sofisticação de sua síntese. Isto é, é pelo fato da militância monodissidente ser tão fluída que ela é tão rica em elementos distintos e essa riqueza de elementos distintos a tornam mais poderosa.


Quanto mais transmutável e permeável algo for, maior é a capacidade de uma articulação dialógica. Essa articulação dialógica aumenta o enriquecimiento teórico e prático. 

sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Acabo de ler "Queering Queer Theory" de Laura e Jennifer (lido em inglês/Parte 4)

 



Nome completo do artigo: Queering Queer Theory, or Why Bisexuality Matters


Autoras: Laura Erickson-Schroth e Jennifer Mitchell


A realidade bissexual é a realidade da deslegitimação e apagamento. Muitos creem que a bissexualidade pode ser conquistada ou superada, isto é, adaptando-a a uma via monossexual (hétero ou homo), levando a aguardada "estabilidade". Esse comportamento social é descrito como parte da ideologia monossexista, seja ela provinda do meio homossexual ou do meio heterossexual. Esse dualismo, o maniqueísmo sexual de dois antagonismos que se chocam (heterossexualidade e homossexualidade), levam a uma tensão constante entre esses dois grupos (heterossexuais e homossexuais) e os dois grupos de voltam contra bissexuais (bifobia).

A bifobia também está entrelaçada a performática de gênero. A performática é a arte de cumprir – e de forçar – papéis sociais determinados. Um homem deve agir como um homem e uma mulher deve agir como uma mulher. Todavia muitas das questões de gênero são confusas: muito daquilo que é encarado como propriamente masculino ou feminino está ligado a uma construção histórica ou cultural determinada, não sendo essencialmente contínua. Isto é, se um comportamento é essencialmente masculino ou feminino, verificar-se-ia universalmente e não em contextos históricos e/ou culturais. A incapacidade de ir além dos limites sociológicos torna a maior parte do discurso normativo uma mera forçação que se justifica como coação.

Na bissexualidade, a realidade do gênero e do sexo se perdem. A performance – seja em grupos héteros ou homos – não pode ser ao todo acolhida ou suportada. A pessoa bissexual, seja quem ela for, está além das barreiras das contingencialidades heterossexuais ou homossexuais. Delimitar-se comportamentalmente por esses dois meios é uma forma de redução da sua personalidade e identidade. A possibilidade bissexual é a possibilidade de ir além dos limites contingenciais dos mundos heterossexuais e homossexuais, cortando não só para os dois lados, como para as duas possibilidades existenciais.