quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Acabo de ler "Kono Subarashii Sekai ni Shukufuku wo! - Vol 10 - Natsume Akatsuki" (lido em espanhol)

 



Chegamos ao décimo volume. O que significa que estamos mais próximos do fim do que do começo. E quando digo "nós" quero dizer "eu", embora eu prefira dar ao escasso leitor que me acompanha uma sensação de pertencimento, mesmo que falha ou pouca.


Konosuba preza pelo humor, pelas falhas de caráter, idiotice, comportamento duvidoso e dualidade moral de seus personagens. Este volume não falha nisso, porém ainda podemos ver o desenvolvimento dos seus personagens rolando.


Eu não gostei muito do baixo desenvolvimento de nosso protagonista, o Kazuma. Embora já podemos ver um Kazuma bem mais a vontade e proativo no mundo em que se encontra, o que é um excelente sinal.


Aqui vemos um desenvolvimento maior de Iris e mais dados em relação aos nobres. A preocupação que Iris demonstra pelo seu reino, pelo combate ao exército de Rei Demônio e sua tenacidade em seguir lutando é impressionante.


Como já poderíamos pressupor, um personagem já deixa vestígios de que o Rei Demônio não é um mau-caráter e que, provavelmente, revelar-se-á tendo mais caráter que os humanos e demais protagonistas da obra. O que já era esperado, visto que os vilões são melhores que os protagonistas no conjunto geral delineado pelo autor.


De qualquer modo, a pequena novela demonstra sinais de desgaste e já não apresenta a mágica que apresentava no começo. Espero que os próximos volumes melhorem.

terça-feira, 26 de setembro de 2023

Acabo de ler "Amor em Segredo" de Sonia Rodrigues

 



Certos livros nos aparecem com um ar de espanto. Ao pesquisar o nome "Nelson Rodrigues", na biblioteca, deparei-me com essa curiosa obra de sua filha.


A relação "pai-filha" é tratada de forma curiosa, visto que seu pai negou-lhe a paternidade diversas vezes. A sua mãe, uma mulher apaixonada, não quis ir atrás também. A filha teve que seguir uma jornada teimosa até que tudo viesse à tona.


Não é de se espantar que o nome "Nelson Rodrigues", um dos maiores autores da história de nosso país, caísse como um trovão no céu ao ser meramente pronunciado devido a grandiosidade de sua obra que, além de excelente, é recheada de polêmicas de alta qualidade.


O livro trás mais da figura de Nelson como pai. Além de sua relação conflituosa com a filha. Todavia não há unifocalidade no tema: há algo de autobiográfico e um quê de gênero de crônica - característica que puxou de seu pai.


Um livro que vale a pena ser lido por todo legítimo fã da obra de Nelson Rodrigues e, evidentemente, de sua continuidade sanguínea.

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Acabo de ler "Memória Individual, Memória Coletiva, Memória Social" de Jô Gondar

 



Aquilo que chamamos de memória nunca carrega exatidão, mas sempre uma reinterpretação do passado conforme as cargas componenciais de nosso psiquismo no momento em que rememoramos. Logo a memória é uma possibilidade atitudinal de, conforme meditamos, adentramos num novo posicionamento existencial.


Também é fato que a memória sempre se altera. Ela é múltipla e as figuras humanas assumem forma de sustentação, rivalidade ou de modelo. Tudo isto varia de acordo com o nosso estado de espírito e, por tal razão, não devemos nos crer imbuídos de objetividade. Nossa memória é produto de nosso estado mental presente e da anterioridade que nos precede.


A memória se constrói de modo topológica, ligada à estruturação do meio que circunscreve e aprisiona o ser em sua circunstância. Desencadeada a partir de uma teia relacional de indivíduos sociopsicologicamente atuantes e, igualmente, moldados pelo meio que endoculturalmente os moldou previamente em conformidade com suas próprias tradições.


A mnemotécnica (arte da preservação da memória), mesmo zelando pelo cumprimento de sua objetividade, sempre cai na circunstancialidade de seu espaço-tempo e é obra dele. Ligada a uma subjetividade que lhe prende, mesmo que de modo inconsciente e impercetível por aquilo que pratica o ofício da historicidade ou todo homem que, por excelência, é ser social e de comportamento intrinsecamente narrativo.


No fim, a falha da objetividade nos livra do triste fardo de sermos ritualizados como escravos pelo passado. A memória, não sendo objetiva, é a arte de reinterpretar o passado e dar luz para uma nova vida que se abre, portanto é sempre uma arte e, mais do que isso, um arte de liberdade.

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Acabo de ler "Revisionismo, Neuropsicanálise e Fantasma" de Roberto, Fernanda e Tiago

 



Seria Freud um mitomaníaco e a psicanálise uma série de projeções pseudocientíficas para iludir incautos que caem nas mãos duma seita criminosa? Essa ideia, repetida a exaustão, pode levar a uma série de questões espinhosas que, na maioria das vezes, de nada servem.


A aproximação de Freud com a ciência de seu tempo se deu por uma parte de sua obra, mas não se estende em toda sua dimensionalidade intelectual e tampouco a delimita radicalmente. Freud distanciou-se dessas na medida mesma em que tomou conta da proporcionalidade desproporcional e incondicionável da subjetividade humana.


A psicanálise não é e nem pretende ser científica, visto que seu objeto de estudo escapa à objetividade e delimita-se pelo indelimitado. Acusar a psicanálise de pseudociência é, quase sempre, uma chiste provinciano de quem não entendeu a intencionalidade do modus operandi psicanalítico.


Os autores do artigo em questão reclamam da psicanálise em sua "nova roupagem", visto que esses buscam na neurociência uma resposta objetiva, uma forma de cientificizar, para as questões levantadas pela psicanálise. Se estão corretos nesta empreitada, não é algo que eu, em minha baixa estatura, possa analisar neste momento.


De todo modo, seus escritos são impressionantes e lançam luz neste debate que se apresenta na história recente e vale muito a pena ser lido.

terça-feira, 12 de setembro de 2023

Acabo de ler "Breve História de Francisco Franco" de José Luis Hernández Garvi (lido em espanhol)

 



Uma biografia não revela tão apenas o objeto subjetivo da pessoa que ela explana, ela igualmente revela ao leitor que a estuda mais sobre si mesmo e as suas aspirações na qualidade de "ser ontológico" e, por tal condição, ligado de maneira intrínseca as pautas transcendentais da busca de significação e felicidade.


Um jovem tímido, leitor assíduos de mágicas heróicas, na contínua ânsia de ser provado, pouco dotado socialmente e incapaz de sustentar boas conversações com o outro gênero. Este homem se conduz numa jornada existencial que o qualifica, pouco a pouco, numa complexa teia relacional que minuciosamente o desenvolve. Poderia ser o autor que vos escreve, mas é Franco.


Como tal figura, despida dos rigores da crueza da vida e infinitamente deslocada, tornou-se um portentoso ditador conhecido por sua mão férrea e impiedosa? Quiçá a diferença entre a humanidade e a desumanidade, nos corações dos próprios humanos, seja mais tênue que nosso otimismo e crenças éticas.


Pessoas muito semelhantes a nós se tornam indescritíveis por sua monstruosidade o tempo todo, qual seria a diferença que nos separa delas? Só teremos respostas vagas e eternas dúvidas quanto a natureza de nosso próprio coração.


Ler a biografia de Franco trouxe mais do que um conhecimento histórico e biográfico, trouxe também um espelho com uma imagem muito familiar que aponta para mim e questiona o estado de minha alma. São nas leituras que nos levam aos mais altos céus infernais da angústia e do desespero que podemos olhar as nossas falhas sem autopiedade e sem as rédeas morais do automarketing e autoenganação idólatra e narcísica.


Talvez tenha encontrado mais semelhanças do que gostaria. Desejando, a cada momento, que eu não me torne tal qual ele se tornou. Esperando alguma sorte, ou graça, que nos distancie e separe. Ou talvez o doce alívio da morte antes que se concretize em mim o que tornou Franco aquilo que ele foi.


Meus contemporâneos adoram adular-se e verem-se como bons, eu tenho permanente suspeita com o que olho quando olho meu próprio reflexo.

terça-feira, 5 de setembro de 2023

Acabo de ler "O Grande Mentecapto" de Fernando Sabino

 



Li este livro faz um tempão, todavia resolvi escrever sobre ele tão somente agora. A falta de tempo me guiou a isto. Mas como fazia tempo que nada postava, resolvi escrever-lhes agora.


O personagem é chamado de "Viramundo". Tal nome não lhe vem ao mero acaso, o nome surge devido ao fato dele estar sempre envolvido em confusão e de sempre estar alterando o rumo da história mineira com a sua fanfarronice. Quase nunca por escolha própria, mas sim porquê sua habilidade inata - ou seria má sorte? - ou o destino o quis.


Declaro que me identifiquei bastante com o personagem. E o livro é um primor do humor, fazendo que o leitor ria de tempos em tempos e sempre se lembre do livro com um doce carinho.


O livro consegue ser engraçado sem ser clichê, triste sem ser nauseabundo, profundo sem perder o leitor numa miríade de complexidade diabólica que o afasta. Um equilíbrio perfeito conduzido por um grande gênio e autor que goza de profunda erudição sem perder o humor que lhe caracteriza.


No final, fica marcado uma espécie de grito de excluídos, dando margem a uma ampla crítica social e a estrutura da sociedade da época, sem perder a beleza e o encanto humorístico que denotam todo o percurso da obra. É um livro para se ler e reler, imaginando cada cena com todo carinho.

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 12)

  Essa é a última parte de Emil Ludwig, indo da página 185 à 208. Aqui termina a triunfalmente rica e arguta análise de Ludwig. E talvez sej...