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terça-feira, 7 de outubro de 2025

Acabo de ler "Make Russia Great Again" do Christopher Buckley (lido em inglês)


Nome:

Make Russia Great Again


Autor:

Christopher Buckley


Nem todo conservador é neoliberal, conservadores hamiltonianos ou federalistas creem em um Estado forte. Nem todo conservador é contra o aborto, os Republicanos Rockefeller eram a favor. Nem todo conservador acredita em guerra contra as drogas e é contra o casamento homoafetivo, o próprio Rick Wilson falou sobre a legalização da maconha e o casamento homoafetivo como algo positivo. Nem todo conservador é contra o Estado de bem-estar social, os Red Tories (conservadores vermelhos) veem como algo positivo. Nem todo conservador é pró-capitalismo, Patrick Deneen e Christopher Lasch podem ser consideras anticapitalistas. Nem todo conservador é a favor de jornadas de trabalho excessivas, conservadores como Kevin Roberts viram nas jornadas laborais excessivas como algo anti-família.


Densas reflexões históricas me fizeram chegar onde estou. Cresci com um pai anarquista e um tio comunista. Li Karl Marx, li Proudon, li Lênin, li Bakunin, li Kroptokin, li Stalin. Até hoje leio pensadores anarquistas, socialistas e comunistas. Se tem algo que aprendi na vida intelectual, é a ler de tudo. Se alguém questiona as minhas ações, lembre-se: o liberal Carlos Rangel elogiou Marx em uma entrevista que fez com Friedrich Hayek e assumiu usar parte do seu método de análise; um dos maiores conservadores de todos os tempos, Christopher Lasch, usava métodos neomarxistas e da Escola Crítica para realizar a sua crítica.


Os últimos tempos têm sido radicais. Muitas ações foram feitas, mas poucas reflexões e análises históricas foram tomadas ao lado dessas ações. Durante o período da covid, Bolsonaro tomou os mesmíssimos erros de Reagan na época da AIDS: deixou-se pautar por teorias da conspiração, obstruiu processos que ajudariam a melhor conter a crise, adquiriu uma agenda pseudo-científica e até mesmo anticientífica.


Grande parte do movimento conservador de hoje é crítico do neoconservadorismo. Os conservadores brasileiros até hoje não absorveram plenamente essa lição. O neoconservadorismo, e em grande parte a sua retórica econômica neoliberal, cometeu diversos equívocos que merecem ser recordados:


1. Retiraram a regulamentação antitrust que, por sua vez, fez com que o mercado se tornado extremamente dominado por oligopólios e monopólios, fazendo com que empresários aumentassem o preço dos seus produtos. Um mercado com leis antitrust seria mais descentralizado e competitivo, o que se traduziria em preços menores;

2. A ideia de vantagens comparativas levou a muitos países fazerem aberturas gigantescas e tirassem a intervenção estatal de amplos setores, o que levou a desindustrialização em massa, tornando países menos soberanos em matéria econômica, levando a um desemprego de amplas massas e tornando-os vulneráveis;

3. As guerras no exterior levaram a uma série de mortes, o neoconservadorismo é uma das ideologias mais sanguinárias da história.


Pensava em tudo isso enquanto lia o livro de Christopher Buckley (Make Russia Great Again). Creio que Christopher Buckley traz uma importante lição nesse livro. E, mais do que isso, creio que a lição é exatamente essa: por mais absurda que as coisas venham se tornado, ainda podemos rir da ridicularidade do mundo.


Vim de uma geração que é fruto de outra geração que negou o que a esquerda se tornou. Graças a isso, grande parte da minha geração cresceu alérgica aos movimentos de massa. Se a esquerda foi do "é proibido proibir" para a sua icônica aversão ao liberalismo cultural em nome de um neopuritanismo, a própria direita transfigurou-se em uma versão neopuritana com os eventos históricos mais recentes.


Anteriormente, a ideia de politicamente incorreto era uma resposta a uma esquerda neopuritana — ou woke, em uma linguagem mais moderna. Hoje em dia, a direita é em si mesma tão woke quanto a esquerda. Não por acaso, certos setores do movimento conservador chamam vários setores da direita de direita woke (só pesquisar "woke right" no Google). Vale lembrar: wokeísmo é estrutura comportamental, não uma ideologia.


Com a ascensão de Trump, vimos um momento de transformação na direita. Não éramos mais um movimento qualquer de gatos pingados e soltos. Tínhamos um "movimento" próprio, filmes próprios, gostos próprios. Construiu-se todo um universo. Só que, com ele, toda uma série de populismo e agregação em massa. Toda reflexão do novo conservadorismo, o conservadorismo-populista surge graças a essa mudança.


Acontece que agregar tantas pessoas sem garantir a elas uma formação intelectual adequada é um pecado que ocorre em ciclos de direita e de esquerda. A formação de eleitores "críticos e conscientes" não é desejável para ninguém, visto que o número de exigências e critérios sobem. Também existe o simples fato de que ninguém quer um movimento consciente, mas um rebanho de votantes fidedignos e manipuláveis. Às vezes tal movimento decorre da simples preguiça de estudar e promover o estudo.


Para se popularizar, a direita adotou as palavras de ordem e exigiu um adesismo sem contestação. Todo mundo que era de esquerda ficou de fora, mas não só isso, vertentes menos conhecidas da direita, como é o caso dos Red Tories, dos liberais republicanos, dos neohamiltonianos, dos conservadores anticapitalistas como Christopher Lasch e Patrick Deneen, além de evidentes conservadores não tão alinhados ao trumpismo e bolsonarismo (Christopher Buckley, Rick Wilson, Stuart Stevens, Luiz Felipe Pondé e João Pereira Coutinho), todos ficaram de fora. A lógica da seitização tornou-se imperiosa, uma espécie de dogma grupalista. Hoje em dia acabamos por virar uma seita reacionária, movida por palavras-chaves.


No passado, o nosso ódio pela esquerda se justificava pelo seguinte argumento: não queremos concordar automaticamente e diluir a nossa personalidade em uma lógica de bandos. Hoje em dia, o que é ser de direita, na ampla maioria dos casos, se não a concordância bovina com grupelhos? Tornamo-nos uma sátira. Pior do que isso, estamos cada vez mais comportamentalmente parecidos com a esquerda que desprezávamos.


A grande promessa, ao entrar na direita, era de que, por fim, teríamos a liberdade intelectual de ler de tudo e discordarmos pontualmente de vários pontos. A aliança era entre duas ou mais singularidades que protegiam a singularidade uma da outra. Hoje em dia, a aliança é um neopuritanismo mau-caráter (direita woke) e um estranho reaganismo econômico que se mescla com discursos populistas de Donald Trump.


Do outro lado, ergue-se uma esquerda que nos odeia muito mais do que já odiou. Qualquer um que não seja de esquerda é quase que automaticamente um fascista. Não existem conservadores ilustrados, tampouco estadistas. Não vemos um novo Hamilton, não vemos um novo Nelson Rodrigues, não vemos um novo Gustavo Corção.  Mais do que isso: somos sempre confundidos com trumpistas e bolsonaristas.


Grande parte do que aparece hoje em dia é:

— Vou te expulsar do meu movimento!

— Eu me tornei conservador para NÃO TER um movimento.


Eis a grande sacada que as novas gerações não entendem: quando nossa versão do conservadorismo surgiu, o que menos queríamos era ter um movimento. Não queríamos ser um "grupo", um "coletivo" ou qualquer "eu plural" que se ergue de forma semelhante. Queríamos ser apenas nós mesmos, em nossas individualidades, falando livremente e sem medo de punições coletivas que se erguiam nos espaços da esquerda tribalizada.


Essa diferença geracional, que agora é gritante em todos os espaços, fez com que várias pessoas largassem o título de "conservadoras" e privadamente se recolhessem em livros e em comunidades internacionais isoladas. Em outras palavras, os conservadores, portadores de uma consciência pessoal, lavaram as mãos para os coletivistas, sejam esses trumpistas ou bolsonaristas.


Erguem-se campanhas cancelacionistas de toda natureza. Agita-se o empresariado para demitir esquerdistas. Agita-se a população para cancelar a Netflix. Agita-se o povo para atacar esquerdistas gratuitamente. Nunca se faz uma campanha de estudos e diálogo. Nunca se faz uma análise comparada de diferentes escolas do pensamento conservador. Perdoem-me o exagero retórico. O fato é: temos que estudar mais, ler mais livros, sermos mais tolerantes e pautarmos nosso debate por artigos e livros. Temos que dar respostas prudentes. Virar uma seita não é e nunca será a solução.


O movimento politicamente incorreto era, antes de qualquer coisa, um estado de espírito contra-cultural de acadêmicos ou de intelectuais que se erguiam contra uma esquerda que vivia de vieses de confirmação e com o levantamento de um sacro cânon de caráter inquestionável em sua sanha inquisitorial e tacanha. Não um novo dogma que seria levantado para uma luta inter-dogmática, onde duas grandes religiões batalhariam pela verdade universal de suas fés. É evidente que tal movimento foi se tornando um movimento de falsificação histórica em prol de uma leitura hagiográfica de nosso próprio movimento. É evidente que ele abriu margem para o mais bestial reacionarismo. Temos que admitir as nossas falhas, aceitar os erros que cometemos pela história e buscar soluções mais bem pensadas para o presente, preparando assim um futuro de paz e esperança.


Quem leu a obra de Nelson Rodrigues veria ele criticando todo moralismo tacanho de uma classe média hipócrita, as esquerdas e os próprios conservadores. Quem leu Christopher Buckley veria ele atacando republicanos e democratas tal como quem pega uma metralhadora giratória e brinca de gira-gira. Ser conservador não é o mesmo que ser um tradicionalista moral.


Os conservadores brasileiros surpreendem-se com palavrões, conservadores americanos inteligentes, tal como Rick Wilson, usam a rodo. Nunca vi uma mistura tão boa quanto a do senhor Wilson: humor, erudição e sinceridade. No Brasil, como acharíamos tamanha referência? Aqui o coletivismo ainda é maior, inclusive por razões culturais. Se nos Estados Unidos houve o "The Lincoln Project", com conservadores erguendo-se contra Trump, no Brasil poucos gatos pingados tiveram a mesma coragem de se oporem ao Bolsonaro.


A desconstrução do conservadorismo em prol de um horizonte mais coletivo e mais facilmente assimilável pelas massas data desde o reaganismo. Neoconservadores fizeram um exercício estupendo em destruir todas as outras tradições conservadoras e reinterpretar todo o conservadorismo em sua imagem e semelhança. Isso empobreceu radicalmente as distinções entre os mais diversos setores. Exemplos disso são Michael Oakeshott e Theodore Darymple, dois agnósticos. Se toda a história conservadora se resume a uma nota de rodapé do cristianismo, por qual razão esses dois são agnósticos? A resposta é simples: segundo a direita religiosa — mais especificamente a vertente neoconservadora —, eles não podem sequer existir. Ou, pura e simplesmente, estão em contradição.


Enquanto eu devorava as partes desse livro, fui percebendo o quanto nos perdemos nos últimos tempos. Muita gente entrou no pensamento conservador por não gostar do que a esquerda se tornou, porém moveu-se pela carência. A carência fez com que concordassem e aderissem qualquer coisa. Nota-se que aderiram qualquer coisa. Críticas rasas ao pensamento de esquerda e pura mentalidade reativa — "se a esquerda é a favor, somos contra" — foram fenômenos típicos dos últimos anos.


O dualismo moral que a esquerda tinha era abismal. Hoje em dia, o "conservador" — ou "pseudoconservador" ou "conversador" — erguer-se-a para proclamar o dogma da santidade de Bolsonaro. Tal como se isso fosse típico de uma linha de pensamento que cresceu a base do pessimismo, ceticismo e pragmatismo. Ao mesmo tempo que levanta, contra Lula ou o Partido Democrata, todas as mais extravagantes acusações.


O problema da maioria dos conservadores sempre foi o fato que a "nossa base" — usando um linguajar mais à esquerda — sempre foi fantasticamente mais estúpida que a base da esquerda. Um amigo meu costumava a dizer: "a esquerda chama os imbecis de 'base' e nós chamamos os nossos de bolsonaristas por ausência de um nome melhor". O fato é: pessoas comuns são mais temerosas quanto possíveis mudanças. Graças a isso, há uma tendência natural que pessoas pouco estudiosas sejam conservadoras. Quanto aos conservadores estudiosos, são por serem céticos quanto mudanças rápidas. Ser eclético e ver múltiplas críticas a diferentes sistemas também leva ao conservadorismo. Creio que o que me tornou conservador foi ter lido — e ainda ler — múltiplas escolas de pensamento.


O que gosto de Christopher Buckley é que eu enxergo nele o mesmo que vi enquanto lia a obra de Nelson Rodrigues. Enquanto eu lia as crônicas de Nelson Rodrigues, encontrei nele um homem que defendia a consciência pessoal acima de tudo. Enquanto eu lia os romances de Nelson Rodrigues, encontrei nele um homem que via o reino sutil das contradições humanas de forma ímpar. Enquanto eu lia as peças teatrais de Nelson Rodrigues, encontrei nele um homem que era capaz de ser um assíduo crítico social. Christopher Buckley consegue captar muito das contradicoes humanas.


Se Carlos Lacerda xingava nosso querido Nelson Rodrigues, Christopher Buckley é odiado por vários desses coletivistas que se apossaram do movimento conservador. A sua crítica ímpar, capaz de perscrutar na alma de vários desses homens, nunca sai ilesa de ofender aqueles que ela penetra. Não por acaso, torna-se um dos "excomungados" pela nova direita trumpista. Se Christopher Buckley fosse mais conhecido no Brasil, certamente receberia a "honra" de ser "excomungado" pelos bolsonaristas. 


O motivo de Christopher Buckley ser odiado é pelo fato de ele não se curvar perante ao grupalismo reinante de nossos tempos. Um grupalismo que demonstra toda a infantilidade e panelismo de nosso tempo, onde toda adesão tribal é considerada como a marca de um distinto orgulho e toda singularidade é vista como "ser de outro grupo" ou, até mesmo, "ser o inimigo". O que é surpreendente: grande parte da crítica de Carlos Rangel ao esquerdismo é o fato deles odiarem singularidades e pessoas subjetivas. O que ocorreu com o bom senso? Ou melhor, o que ocorreu com a defesa da singularidade e da consciência pessoal?


Quando leio esse livro, eu posso sentir isso novamente. É a sensação de algo vivo. Algo que demonstra que ainda é possível ser um verdadeiro pessimista, um verdadeiro cético, um verdadeiro pragmático, um verdadeiro prudente. Tudo isso sem perder o bom humor e a capacidade de se afastar das situações ou de apologéticas duvidosas. É o mesmo conservadorismo moveu Eisenhower e o mesmo conservadorismo que moveu Hamilton. O mesmo conservadorismo que é capaz de tomar decisões razoáveis diante das tempestades da crise.


Quando leio Christopher Buckley, sinto um alívio. Vivemos em um mundo em que até a comunidade de ufologia (estudantes de extraterrestres) consegue ser mais razoável que certos setores políticos nacionais. As impressões de certos setores populacionais começa a se pautar radicalmente por teorias conspiratórias e ideias radicais, além de teorias anti-intelectualistas de toda ordem. Atualmente é difícil pensar em uma reaproximação entre setores mais academicizados e setores menos academicizados da sociedade. Se a política em si se torna um palco de ideias cada vez mais extravagantes, o que nos resta? Creio que apenas contar piadas. Isto, é claro, enquanto ainda podemos.


As pautas andam bizarras. Hoje em dia, discute-se novamente a criminalização da traição e, para os mais exaltados, a proibição de divórcio. Fazem-se bastante perseguições as pessoas trans, que são usadas como cortina de fumaça para impedir que as pessoas vejam os verdadeiros problemas nacionais. O desletramento constante da população, o encarecimento das universidades, a ausência de expansão e manutenção da infraestrutura, o aumento de preço da alimentação, jornadas laborais insalubres, a adaptação das cidades em planejamentos para adaptá-las ao moderno tempo, tudo isso é jogado de lado e entramos em questões essencialistas de gênero.


Vivemos na ascensão das mensagens rápidas, da redução memética (redução ao meme) e na época da política do megafone. Quem gritar mais, de forma mais estereotipada e de forma rápida ganha. Trump, em sua tacanha lógica, pode soltar as milhares ou milhões de groselhas da forma que bem entender. Ele não será expulso do debate pela grosseria, mas será cortejado por uma massa anti-intelectualista que vê em cada intelectual como um distinto vilão tecnocrata. Quando Trump sair, outro populista, enormemente favorecido pelo ambiente demagógico e seitizado, entrará. Assim caminhará o Ocidente, confuso e perdido em sua história.


O conservadorismo não deveria ser isso. Muito pelo contrário, deveria ser um pensamento de quem leu os mais diversos pontos de vista e decidiu realizar uma reforma cautelosa após uma série de análises sistemáticas. Algo lento, parcimonioso e cuidadoso. Em outras palavras, caberia ao conservador ler análises de, no mínimo, dez escolas de pensamento e conduzir a sua reforma. A razão é simples: é muito mais fácil destruir do que criar. Eric Voegelin, a seu tempo, defendeu a expansão do horizonte de consciência, isto é, o conhecimento eruditivo que acumula múltiplas escolas de pensamento, histórias civilizacionais e idiomas. Estudar múltiplas escolas de pensamento é ideal para todo conservador.


A primeira lição que aprendemos como conservadores é: "as ideias têm consequências". A consequência da negação das vacinas e das campanhas anti-vacinas foram milhões de mortes. A consequência da cruzada anti-trans são várias pessoas privadas da sua liberdade e um debate não razoável, anti-científico e anti-acadêmico. Precisamos estudar cautelosamente, ver o que é sociologia e o que é biologia. Compreender a autonomia individual e das instituições. Traçar uma regulamentação adequada, respeitando a autodeterminação. O mesmo deve ser feito com a imigração. Atualmente parece que tudo se move para um radicalismo estéril. 


Sim, eu sou conservador. Como Red Tory, defendo forte apoio a programas sociais e bem-estar estatal. Quero garantir uma rede de proteção social e instituições públicas fortes.


Sim, eu sou conservador. Como Conservatário, acredito na defesa ampla da liberdade individual em questões culturais e comportamentais. Quero assegurar autonomia pessoal e limitar a intromissão do Estado na vida privada.


Sim, eu sou conservador. Como Hamiltoniano, acredito no Estsdo ativo no desenvolvimento econômico, com forte amparo à indústria, à infraestrutura e ao sistema financeiro. Quero promover o crescimento e a soberania econômica por meio do planejamento e intervenção do Estado.


Sim, eu sou conservador. Como Rurbanista, busco o equilíbrio e a integração entre o rural e o urbano. Quero reduzir as desigualdades regionais e valorizar a diversidade cultural e econômica do meu país.


Sim, eu sou conservador. Como distributista, defendo a distribuição ampla dos meios e produção. Seja essa de terras, de negócios e de capital. Tudo isso para o maior número de pessoas possíveis. Visto que creio também no aspecto descentralizado e com base familiar e comunitária, quero combater a concentração de riqueza.


Sim, eu sou conservador. Apoio ao BRICS visto que quero fortalecer a autonomia em relações internacionais e o desenvolvimento econômico soberano.


Ser conservador é defender a reforma. É compreender que tudo pode se perder facilmente. É compreender que o raciocínio é melhor quando analisado através de múltiplos pontos. É estudar a história, vendo cada nó de vitória e derrrota, aprendendo com ela em vez de desmerecê-la. É saber olhar para o que está bem e para o que está mal, reduzindo o mal e maximizando o bem. É estar atento ao fato de que as ideias têm consequências, tendo um cuidado legítimo e racional para com cada ideia que se tem.


Na década de 1640, os católicos irlandeses despossados se tornaram guerrilheiros e bandoleiros. Eles eram descritos como "bandidos" e "fora da lei". O que é o conservador se não aquele que se opõe diante dos reacionários e revolucionários, sendo antagônico as duas principais correntes do agir e do pensar? Somos tories pois estamos em oposição a maioria do mundo, opondo-nos à reação e à revolução. Ser Tory é ser antissistema, não no sentido de quebrá-lo ou rompê-lo, mas pelo simples fato de que a maioria das pessoas querem dar vazão a paixão destrutiva por aquilo que elas consideram errado. O conservador navegará contra a corrente, como um Tory que surge fora da lei do pensamento que se ergue a cada tempo e busca reformar o castelo diante da tempestade reacionária e revolucionária.


Ser Tory, ser conservador é um convite a nadar de forma aberta no mar da complexidade. Não damos um manual de respostas fáceis. Valorizamos uma reforma cautelosa em vez de uma reflexão destrutiva. Valorizamos a prudência sobre a paixão. Valorizamos a liberdade individual sobre a ditadura do coletivo.

domingo, 28 de setembro de 2025

Acabo de ler "The Reagan Revolution" de Prudence Flowers (lido em Inglês/Parte 7)

 


Livro:

The Reagan Revolution


Autora:

Prudence Flowers


A briga entre republicanos moderados e republicanos de tendências mais tradicionalistas no âmbito moral continuou. As imagens de Reagan foram se mesclando entre mito, memória, mídia e política.  George H. W. Bush, vice de Reagan, foi encarado como alguém que não se converteu o suficiente para as visões de Reagan. Questionaram se ele seria uma continuidade ou uma disrupção. Além disso, a eleição começou a apresentar a disparidade de gênero e raça nas escolhas políticas.


Depois de sair da Casa Branca, houve a publicação do "Speaking My Mind" que tinha uma coletânea de falas do Ronald Reagan e "An American Life" que tratava mais propriamente do Reagan em si. Reagan foi construindo um imaginário não partidário, o de um líder visionário que reestabeleceu os Estados Unidos. Ele chegou a receber o título de cavalheiro honorário da Rainha Elizabeth II e a visita do ex-líder comunista Mikhail Gorbachev. Prosseguindo mais adiante, Reagan desenvolveu Alzheimer e morreria no dia 5 de junho de 2004 com 93 anos. Ele foi visto como um chefe sonhador e o homem que alterou a política americana, restaurando a confiança da população e a crença do povo americano em si mesmo.


Reagan trouxe o Partido Republicano novamente ao cenário político. De 1933 a 1980 apenas três republicanos foram presidentes: Dwight Eisenhower, Richard Nixon e Gerald Ford — sendo só dois desses eleitos. No cenário pós Segunda Guerra, republicanos foram um partido minoritário no âmbito federal. Uma pequena curiosidade, o Bush Filho, um evangélico "nascido de novo", tinha mais aproximação ideológica com Reagan do que seu pai.


Reagan, construído como herói bipartidário, teve uma aprovação pública crescente. Nos seus oito anos como presidente, teve 52.8% de aprovação.  Em fevereiro de 1999, 71% de aprovação. Em novembro de 2010, 74% de aprovação. Além disso, após Reagan ter vencido em 49 estados, os democratas seguidores do New Deal foram substituídos por democratas de tendências mais centristas que adotaram princípios do neoliberalismo. Exemplos concretos disso são Clinton e Obama.


Atualmente se fala do caso "Reagan X Trump". Trump é muito mais populista do que propriamente um conservador. Ele é segue mais uma agenda anti-establishment e é um isolacionista. Além disso, enquanto Reagan era um pró-imigracionista, Trump é contrário à imigração. Após a derrota em 2020, Trump tornou-se ainda mais autocrático, demandando mais lealdade para ele do que ao partido ou à nação. Fora isso, os seguidores de Reagan são vistos como parte do mainstream e Trump ataca os chamados "conservadores reaganianos". Há uma tentativa de Trump de se aproximar do primeiro mandato de Reagan, sobretudo em pautas de gênero, sexualidade e reprodução, o que agrada a direita religiosa. Outra aproximação é o corte de taxas, sobretudo para os mais ricos, e de programas sociais. O afastamento se dá bastante na esfera protecionista, mas a questão do aborto aproxima Trump e Reagan. Os discursos constrastam: Reagan tinha uma oratória extremamente refinada, próxima do povo, patriótica e otimista; Trump tem um discurso menos refinado, mais sombrio e, após a derrota em 2020, adquiriu um tom mais conspiratório e retoricamente violento em 2024. Trump representa muito mais uma política pautada na raiva, no ressentimento e na desconfiança.

sexta-feira, 2 de maio de 2025

Acabo de ler "The Conspiracy to End America" de Stuart Stevens (lido em inglês)

 


Nome:

The Conspiracy to End America - Five Ways my old party is driving our democracy to autocracy


Autor:

Stuart Stevens


O que ocorre nos Estados Unidos? O debate americano tem sido bastante arriscado. No começo, tínhamos uma certa noção sobre o autoritarismo crescente e o nacional-populismo de direita em alta. Hoje temos o Project 2025, um projeto que, se posto, terminaria os dias da democracia americana e a colocaria na misteriosa estrada da autocracia. Surgiu, também, um novo modelo de conservadorismo, o conservadorismo populista que abandona o reformismo e adentra na ideia de "fogo purificador controlado". Esse fogo destruiria certas instituições, radicalizando o processo autoritário e indo em direção a uma construção de um governo totalitário. O que é, em si mesmo, uma afronta a continuidade mesma da própria normalidade democrática e o fim desse mesmo regime.


Quando Stuart Stevens escreveu seu outro grande clássico "It Was All a Lie", a situação era outra — e já era ruim. Anos depois, a situação piorou. Agora, ela piorou ainda mais. Temos um padrão, um padrão de uma direção autoritária crescente que põe um dos países mais poderosos do mundo num caminho sórdido. Mas quem diria isso? Os Estados Unidos da América sempre se marcou por uma permanência interna num regime democrático, numa experiência plural de normalidade da ordem democrática e diversidade dentro do autogoverno — mesmo que essa não se efetivasse para todos os grupos de forma congruente, podemos ainda verificar progressos e retrocessos históricos. A ruptura desse padrão que determinou por muito tempo a própria identidade americana não pode ser encarada como o sinal de força e vigorosidade, mas por um sinal de franca decadência. Os Estados Unidos pode se tornar "antiamericano" para a própria visão que possui de si mesmo e para a sua própria experiência histórica.


O experimento americano, querendo ou não, levou a criação da moderna noção de Estado. O chauvinismo de Trump, pelo contrário, retrata o abandono dessa experiência e adentra num aspecto terceiro-mundista — aqui, evidentemente, no mal sentido do termo. Os Estados Unidos surge da negação ao Antigo Regime, ele surge da ideia de que todos os homens nascem iguais perante a Deus, rejeitando a ideia de uma sociedade em que a hierarquia é determinada ao nascer ou até mesmo antes — o rei e a nobreza estavam num patamar acima da população ordinária. A sua razão é extremamente democrática no âmbito jurídico, todos devem ser iguais perante a lei. Essa normalidade democrática é o que tornou os Estados Unidos o que ele é, uma república que, querendo ou não, tem o mérito da continuidade — o que é uma condição da estabilidade, algo que historicamente carecemos por aqui.


Não estou dizendo aqui que os Estados Unidos está longe de contradições históricas. Há uma ampla bagagem documental sobre casos de racismo e demora em integração de dados grupos sociais dentro da sociedade americana. É particularmente sobressaltante a questão negra e indígena nos Estados Unidos. Mesmo nos períodos em que poderíamos dizer que foram mais pacíficos e em que o americano esteve mais estável dentro da institucionalidade, casos de violência e discriminação para com grupos desfavorecidos eram notórios. Além disso, o fato dos Estados Unidos ter se comprometido internamente com a defesa da democracia, mas externamente ter favorecido golpes de Estado, grupos extremistas e ditaduras ao redor do mundo também é um ponto. Pode-se argumentar que o cidadão americano é um pouco mais alheio ao que acontece no exterior e as ações do seu próprio país fora dele. Isso deve ser mensurado.


Os Estados Unidos também é marcado por uma longa tradição de uso de desinformação e teorias conspiratórias como arma política. Algo tão amplamente usado hoje leva a um entrave ao próprio desenvolvimento do país, sobretudo quando o ensino superior se torna inacessível e grande parte se torna incapaz de distinguir boas fontes de informação de más fontes de informação. Além disso, junte-se a seitização e polarização social que fazem com que cada grupo acredite no que quer — e que seja favorável ao grupo — sem um questionamento real do que é passado (toda essa questão de ser de direita e de esquerda só eleva o problema e cria uma forte miopia intelectual). As pessoas que lerem "American Psychosis" poderão vislumbrar muito bem isso.


O Brasil, como país, não se vê livre da decadência americana — as mesmas raizes já encontram a sua versão nacional ou foram devidamente importadas por objetivos políticos claros. Em relação aos Estados Unidos, tivemos capítulos semelhantes. Vivemos, há pouco tempo, uma tentativa de golpe de Estado. Teorias da conspiração também são usadas como armas políticas por aqui. Em relação a isso, nossa constituição se apresenta como mais favorável para impedir a propagação de desinformação, mas a aplicação da lei nesses casos não se demonstra tão efetiva assim — basta olhar o estado das nossas redes sociais, elas já são uma mistura de nacional-populismo sabor Steve Bannon e guerra memética sabor 4chan e 8chan. Em relação ao que virá depois disso, já podemos entrever o uso de táticas do conservadorismo populista e uma rede de mídias alternativas para a sustentação de um Networking de Propaganda. Há também outra questão: o império das regulações e reguladores remonta a um império burocrático — bem lusitano — que está longe de ser isento de parcialidade e pode muito bem levar a um crescimento de práticas autoritárias para fins políticos.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Acabo de ler "The MAGA Doctrine" de Charlie Kirk (lido em inglês)

 


Nome:

The MAGA Doctrine


Autor:

Charlie Kirk


Tradicionalmente o conservadorismo americano apresentava algumas divisões. Existiam os libertários, os conservatários, os paleoconservadores, os neoconservadores, os anticomunistas, os conservadores sociais, os conservadores fiscais. Várias subdivisões. Com a vitória do Trump, o movimento nunca mais foi o mesmo.


Atualmente surge um novo tipo de conservador na tradição do conservadorismo americano. Esses novos conservadores, um gigantesco movimento de massas, são chamados de "MAGA conservatives" (Make America Great Again [Faça a América Grande de Novo]). Um conservadorismo de uma verve mais populista.


Se perguntarmos de onde surgiu o apoio a Donald Trump temos em vista um cenário em que os grandes partidos (Democrata e Republicano) param de apoiar a população para se ancorar em sólidas relações com grandes corporações. Grande parte do povo americano se sentiu abandonado pelos políticos. Trump é um fenômeno dificilmente ignorável. Ele é, em verdade, o clamor de um povo que vê cada vez mais o seu voto sendo anulado pelas gigantescas correlações dos dois grandes partidos com grandes corporações. Trump vem com uma mensagem, uma retórica, que se aproxima das massas populares e suas crenças.


Não é possível deixar de citar o caso dos intelectuais. Os intelectuais, durante o surgimento do movimento MAGA, estavam mais ocupados em defender as suas próprias pautas do que pensar no que o próprio povo queria. O afastamento, sempre maior, do intelectual médio (aqui em gostos e afinidades) para com o povo se tornou cada vez mais triste. A cada dia que passa, o intelectual médio se torna cada vez mais distante do povo. O intelectual médio é visto como um burocrata que aparece tão somente para ditar regras e acabar com a diversão. Essa separação acaba gerando um sentimento de que intelectuais são contra o povo. E rapidamente o povo se torna contra os intelectuais.


A eleição de Trump e a reeleição de Trump demonstram algo que o mundo inteiro ainda não absorveu ao todo. É demonstrado cabalmente que a aliança entre políticos, corporações e intelectuais gera um rival que é notoriamente anti-político, anti-corporação e anti-intelectual ao menos no que se refere a retórica. Em todo mundo, intelectuais passam a ser vistos como cordeiros ou como cúmplices ou como parte do establishment. Em outras palavras, parte do problema e não a sua solução. Visto que são parte do sistema que simplesmente ataca e zomba do povo.


Num cenário em que o intelectual médio é anticristão, em que o intelectual médio é defensor de "formas alternativas de amor", em que o intelectual médio é a favor de uma regulação cada vez maior do discurso – o que infringe sobretudo as massas populares –, em que o intelectual médio quer controlar e regularizar tudo com base em seus próprios gostos, é natural que o povo crie sentimentos cada vez mais anti-intelectuais. O que não é uma aversão ao intelectualismo ou o academicismo em si mesmo, mas ao intelectualismo e academicismo de esquerda ou qualquer versão que se alinhe a linha a trindade governo-corporação-academia.


Creio que muito dificilmente os problemas serão entendidos. Atualmente a maioria dos intelectuais seguirá uma vida excêntrica, desprezando o povo – e rindo dele –, os políticos continuarão com os seus sólidos laços corporativistas e novos populismos surgirão. Esse século pode ser marcado pela trindade governo-corporação-academia contra o eixo outsider-populista.

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Acabo de ler "Project 2025" de John Madison (lido em inglês/Parte 1)


Nome:

Project 2025

Democracy at Risk: TRUMP and the Future of U.S. Politics.


Autor:

John Madison


Aviso:

Essa análise vai do Capítulo 1 ao 4.


O desenvolvimento do Projeto 2025 tem chamado a atenção não só nos Estados Unidos da América, como também no mundo todo. Por tal razão, resolvi iniciar uma série de leituras para compreender mais sobre o tema. Para quem se interessar, todas as leituras correlatas ao Projeto 2025 serão lançadas com  o marcador "Project 2025", inclusive aquelas que são "expansões" para a melhor compreensão do debate. Recomendo também, antes da leitura de qualquer texto daqui, a leitura do "Agnosticismo Metodológico".


O próximo governo dos Estados Unidos tem os seguintes nortes: liberdade individual, governo limitado e soberania nacional. Existirão uma série de reformas. Sejam essas econômicas, militares, nas leis de migração, no tratante aos trabalhadores do Estado, na educação.


Algumas características:

– Desburocratização;

– Revisão das leis de imigração;

– Redução de impostos;

– Educação sem doutrinação e promotora dos valores americanos; 

– Reforma do sistema de saúde baseada em leis de mercado;

– Responsabilidade individual;

– Modernização das Forças Armadas e da Segurança Nacional;

– Competição com a China.


Uma das principais características que chamam a atenção no documento é a semelhança entre o que foi o governo de Ronald Reagan e o que será o governo de Donald Trump. Além disso, é dito que Ronald Reagan seguiu o planejamento de Heritage Foundation e que Donald Trump também seguirá. Embora sejam planos diferentes, adaptados a realidades históricas diferentes.


Quanto a divisão de poderes, serão estabelecidos limites constitucionais para o legislativo, para o executivo e para o judiciário. Além disso, o federalismo será reforçado para maiores ações locais e autonomia entre as regiões.


Cybersegurança:
Um dos campos mais mencionados no livro é a questão da cybersegurança. A modernização e o investimento nesse setor é crucial para lidar melhor com inimigos/competidores externos, como a Rússia e a China. Além disso, serão analisados crimes virtuais. Outra preocupação que surge é o 5G e a corrida tecnológica com a China. Sem a supremacia tecnológica americana, muito dificilmente os EUA manterá a sua soberania global. Outra questão que entrou é a biotecnologia.


Educação e Trabalho:

Existirá um programa educacional especial voltado a promoção da ciência, da tecnologia, da engenharia e da matemática. Fora isso, se priorizará a maior escolha das famílias quanto a educação dos filhos e uma educação mais voltada as transformações que ocorrem no mercado de trabalho.


Reforma Econômica:
O programa econômico do segundo Governo Trump será muito semelhante ao que chamamos de "nacionalismo liberal" em alguns aspectos. Ou seja, um "livre mercado" mais interno. Terá uma desregulação para maior liberdade empresarial, diminuição de taxas para que os empreendedores ganhem mais estímulos para empreender, promoção de negócios e investimentos que tenham correlação com interesses americanos.


Forças Armadas:
Com o avanço da Rússia na Europa e com o desenvolvimento rápido da China, tornou-se necessário uma renovação das forças armadas americanas. Alguns pontos elencados são:

– Inovação tecnológica para manter soberania;

– Aumento das capacidades nucleares;

– Investimento em tecnologia espacial;
– Investimento em armas avançadas;
– Investimento em inteligência artificial;
– Investimento em computadores quânticos;
– Investimento em robôs;
– Investimento em hipersônicos.


China:

A China vem sido considerada uma crescente ameaça ao domínio americano. Seu desenvolvimento constante e a expansão da sua influência global tem sido não só má vista pelos EUA, como também é um ponto de interrogação quanto ao protagonismo que os EUA exerce no mundo. O documento cita alguns pontos que são observáveis na China e que levam os EUA a uma preocupação constante:
– Rápida modernização militar;
– Aumento da influência econômica;
– Ambições estratégicas;
– Rota da Seda e aumento da influência global da China;
– 5G e corrida espacial.


Segurança interna:

Em relação a segurança interna, a imigração e a infraestrutura adentram. Os EUA têm encontrado um problema constante com imigrantes ilegais e com infraestrutura sucateada. Problemas que se não forem corrigidos, podem levar a ruína do Estado americano. Para tal, o documento pontua algumas necessidades:

– Segurança nas fronteiras;
– Controle da imigração;
– Proteção da infraestrutura crítica;
– Maior capacidade de responder desastres.


Proteção Contra Influência Externa e Informação:

O documento também fala acerca da influência externa e dos serviços de informação para a segurança nacional. Além de não medir esforços sobre uma parceria com os aliados para o aumento da qualidade tecnológica para dar respostas rápidas contra agentes adversários. O autor lembra do período em que os EUA confrontou a União Soviética, também citou a era da guerra contra as ações terroristas e adentra na chamada "Segunda Guerra Fria" contra a China. Para uma maior segurança nacional, os seguintes movimentos serão tomados:

– Procurar a integridade de uma informação;

– Descobrir campanhas de desinformação e propaganda;

– Assegurar um sistema de votos seguro;

– Promoção da cultura da vigilância;

– Maior vigilância em redes sociais para possíveis táticas de subversão de agentes externos.


Respeito aos Direitos Civis:

A constante tensão entre a necessidade de proteger os Estados Unidos e os direitos civis para assegurar a liberdade dos indivíduos requer um questionamento frequente acerca das ações que serão tomadas para não prejudicar os lados dessa balança entre segurança e liberdade. O documento fala sobre transparência e respeito aos padrões de ética.

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Acabo de ler "Teologia do Domínio" de Eliseu Pereira (Parte 7 - Final)

 


Nome:

TEOLOGIA DO DOMÍNIO: UMA CHAVE DE INTERPRETAÇÃO DA RELAÇÃO EVANGÉLICO-POLÍTICA DO BOLSONARISMO


Autor:

Eliseu Pereira


Creio que descobrimos, tarde demais, a triste ligação do movimento evangélico brasileiro com a Teologia do Domínio. Por mais que, nessa altura do campeonato, queiramos mudar alguma coisa, o poder evangélico é crescente e sobe até mesmo quando setores progressistas da sociedade estão no poder.


Como observado no artigo:

Embora a história da formação dos EUA seja distinta da brasileira, a maioria das igrejas protestantes e evangélicas no Brasil é de origem estadunidense, o que cria vínculo teológico-ideológico entre as igrejas de ambos os países. Essa influência pode ser observada desde o início, como, por exemplo, o envolvimento dos evangélicos brasileiros na luta pela Proclamação da República e pela liberdade religiosa, contra a religião oficial do Império. Os ideais políticos dos EUA já se apresentavam como vantajosos para os evangélicos nativos.


Foi graças a integração entre evangélicos norte-americanos e evangélicos brasileiros que esse último grupo chegou ao protagonismo político. Os anseios de evangélicos norte-americanos para com o Brasil é bem longo e seu projeto no território nacional possui um passado longínquo. Todavia apenas em tempos recentes eles conseguiram estabelecer um poder político notório que muito dificilmente acabará.


A Teologia do Domínio não faz distinção entre o velho testamento e o novo testamento. A aplicação da Bíblia deve assumir uma postura literal. E muitos evangélicos brasileiros creem que estão numa cruzada do bem contra o mal. A derrota de Donald Trump, nos Estados Unidos, Bolsonaro, no Brasil, não demonstram que a Teologia do Domínio foi derrotada em solo americano e brasileiro, mas que estão diante de um pequeno impasse histórico a ser superado.


A ideia de teonomia é, também, uma questão escorregadia. Garantir uma minimização do Estado para que os cristãos tomem poder parece uma ideia boa a curto prazo para determinados grupos cristãos, mas como eles podem prevenir que outros grupos atuem livremente dentro de suas propriedades privadas? Só um crescente poder estatal é capaz de fazer cumprir os anseios teocráticos de reprimir os adversários da Teologia do Domínio.


A Teologia do Domínio, apesar de abarcar distintas visões cristãs, não é capaz de assegurar essa "liberdade" que alguns setores cristãos querem. Ela logo implicaria uma unidade doutrinal entre os cristãos, sobretudo quando estes assumirem de vez o poder do Estado e precisarem dele para reprimir os seus opositores. Logo a liberdade de culto não seria possível, visto que essa se sujeitaria a Teologia do Domínio em todas as igrejas.


Ninguém assume explicitamente a Teologia do Domínio. Seus defensores não professam os seus planos. Corremos risco de ver processos de desdemocratização consubstanciados com processos de teocratização. Como ninguém quer encarar essa "maioria crescente" – optando até por fortalecer o seu poder de tempos em tempos –, o Brasil – e os Estados Unidos – corre um forte risco.

Acabo de ler "Teologia do Domínio" de Eliseu Pereira (Parte 4)

 


Nome:

TEOLOGIA DO DOMÍNIO: UMA CHAVE DE INTERPRETAÇÃO DA RELAÇÃO EVANGÉLICO-POLÍTICA DO BOLSONARISMO


Autor:

Eliseu Pereira


Esse artigo responde uma pergunta: quando se deu a aproximação do partido republicano para com o público evangélico? Em 1964, o Partido Republicano (PR) sofreu uma das maiores derrotas da sua história. Para resolver essa questão – num país onde o voto não é obrigatório – um dos públicos a serem conquistados era o dos evangélicos. A conveniência uniu o PR (Partido República) e a TD (Teologia da Dominação).


O plano teocrático teria os seguintes objetivos:

“para tornar ‘todo pensamento cativo a Cristo’; exercer domínio sobre todos os aspectos da vida; e fazer com que a família, a igreja e o governo civil estejam em conformidade com os ditames da lei bíblica”


O leitor ou a leitora devem estar se perguntando qual seria a base que fundamentou esse revés histórico de cristianização da política. A base seria a suposta "decadência moral" dos Estados Unidos da América. Essa "decadência moral" estaria ligada aos avanços dos comunistas e humanistas.


Com um período longo de formação de base – envolvendo vários think tanks –, Ronald Reagan foi eleito e reeleito. Além disso, o senado americano conseguiu a maioria republicana. Com Ronald Reagan, empossado pelos anseios evangélicos, a política neoliberal tomou forma. O que demonstra, mais uma vez, a fusão entre neoliberalismo e teologia do domínio.


A Teologia do Domínio conseguiu estabelecer alguns presidentes nos EUA: Ronald Reagan, George W. Bush e Donald Trump. Esse último, por sua vez, criou institutos para promover os interesses dos Estados Unidos e de Israel na América Latina: "Latino Coalition for Israel". O que demonstra que os interesses da Teologia do Domínio foram exportados para cá. Não é incomum que pastores norte-americanos venham para ministrar cursos aos pastores brasileiros.


O lobby evangélico tampouco precisa ganhar as eleições presidenciais para fazer valer a sua vontade. Pode muito bem avançar em setores menores: governos estaduais, câmeras legislativas e tribunais. Além disso, ocupam setores educacionais, censuram livros e obras de arte. A Teologia do Domínio é exportada para países do hemisfério sul.