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sexta-feira, 14 de novembro de 2025

NGL #9 — Sobre o legado e as futuras gerações


 

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Vira e mexe alguém vem e me pergunta: "você conhece esse membro da (cite alguma panelinha ridícula de channers mais novos)?". E eu agradeço por não conhecer ninguém. É sempre uma burrada da machosfera ou alguma coisa idiota do movimento red piu-piu. Ver esse tipo de pergunta é um alívio, visto que sei que ela vem de gente da velha guarda e não entusiastas do sensacionalismo.

Quantas histórias e quantas memórias. Estava relembrando isso hoje, li minha troca de mensagens com o antigo ex-administrador do 77chan. Veja como a memória é uma coisa frágil, comecei a usar chans em 2011. Pensei que tinha começado em 2012. Significa que tenho meus 14 anos de experiência. Muito tempo, muita coisa.

Vi de tudo: o BRchan, o 55chan, as indas e vindas dos jorges, as quedas, as ascensões. Sinto um carinho especial pelo magochan (uma época ele foi o maguschan), apesar de eu não lembrar particularmente quase nada do recinto.

Na época em que eu estava conversando com o administrador do 77chan, tinha lá as minhas rixas com o 55chan (a segunda versão). Naquela época, veríamos muitas coisas ocorrendo. A raid contra Godilson (esquerdista e membro da Staff), os ataques repetidos contra a Flower (uma mulher de esquerda que chegou a ser administradora do 55chan) e a onda da alt-right gerada por Qb (staff do 55chan).

O que odiava no 55chan era moldagem de conteúdo. Qb queria censurar a galera da esquerda. Fowler queria censurar todo mundo. Sentia saudades do espírito bananalista e anárquico da Terra de Ninguém (período tão amado e odiado na história do BRchan). O 55chan morreria em 2021.

Naquela época, ainda testemunhávamos a ascensão da alt-right na cena channer nacional. Em grande parte, pelos esforços de Qb. Um tempo depois, tornei-me moderador da Panelinha do Bananal. Para depois fundar a Seita da Banana Invisível e ir embora do grupo que fundei.

A administração da segunda versão do 55chan cometeria uma série de erros. Uma delas foi deixar que os servidores piratas ligados ao 55chan tivessem chats no Discord. Isso daria margem para a criação das padogonelas (panelas dogoleiras), diferentes das panelinhas tradicionais (criadas originalmente por Reptar e seus sucessores), porém essa discussão é quase incognoscível para quem é de fora da cena.

Conheci muita gente graças a esses movimentos. Guardo contato com alguns. Recentemente cheguei a conhecer IHM, uma channer americana conhecida por fundar o 94chan. Além disso, conheci o irmão da fundadora da Encyclopedia Dramatica (wiki satírica channer). Fui também administrador do chat do telegram da Encyclopedia Dramatica por um curto período de tempo. Falei com gente que tem mais de 20 anos de chan, os chamados "originais" ou "anciãos".

Mantenho amizade com o Tiago, grande administrador da Panelinha do Bananal. Atualmente afastado. Esquerdista sangue bom. O que me lembra o quão diferente eu sou dos outros: tenho amigos de esquerda, sou bissexual, leio um bocado de livros e participo de festas liberais. Além de, é claro, ter um posicionamento extremamente contrário ao bolsonarismo e trumpismo.

Eu prometi em 2021 que escreveria um livro chamado Harmonia da Dissonância e que daria o sistema esochannealógico completo (um sistema gnóstico operacional) para as novas gerações. Aí está:


Minha geração cresceu com uma cultura channer brasileira extremamente anárquica para ver ela ser capturada em prol de interesses políticos mesquinhos. Houve um tempo em que víamos marxistas inteligentíssimos dentro do movimento. Vimos um dos mais famosos membros da Panelinha do Bananal (o Rei do Norte) discursar ao lado do Bolsonaro. Em uma época, as panelinhas (as originais que eram no Facebook, não confundir com os padogonelas do Discord) tinham até milhões de membros.

Hoje em dia, cá estou eu. Nunca gostei do bolsonarismo. Essa pesca, a que nunca pude morder, tornou-se algo absurdamente característico da cultura channer brasileira. Sem os esforços da comunidade channer nacional em "memar" Bolsonaro, talvez ele nunca tivesse ido pro Superpop e virado uma "estrela política".

O 4chan, por outro lado, sempre permitiu todo tipo de discurso. Chega até ser impressionante ver todo tipo de gente de esquerda e de direita por lá. Sobretudo no /lit/, mas podemos ver comunistas no /v/. É impressionante o quanto é fácil encontrar pessoas que odeiam o /pol/ dentro das outras boards.

Cumpri o meu objetivo de entregar o sistema esochannealógico para as novas gerações. Hoje em dia, estou muito mais afastado. Não que eu tenha "deixado" de ser channer. Visto que isso faz parte da minha identidade. Mas sim que não me verá dando grandes contribuições ao horizonte cultural. As pessoas devem saber o desgosto que sinto dos incels e redpills. Além do meu orgulho de nunca ter participado desse besteirol cancerígeno que é a betosfera/machosfera ou seja lá como se chame essa porcaria.

Conversei dois anos atrás (ou seria um ano atrás?) com Parallax (ex-Xetrak), um dos maiores membros da Wikinet (wiki de channers e irmã brasileira da Encyclopedia Dramatica). É interessante, ele disse que me conhecia desde o grupo Libertarianismo. Foi ele que apagou minha página na Wikinet, inclusive a pedido meu.

Já estive no bate-papo com vários channers, membros do 4chan, ourchan, 8kun, leftypol, dentre tantos outros. Conheci channers de esquerda e de direita. Além de alguns ocasionais ex-channers. Já conheci channers americanos que são filiados ao Partido Democrata e vários channers americanos que odeiam Donald Trump. Além de ter participado de festas de alguns channers brasileiros.

Eu não me importo que alguns channers brasileiros me vejam como um trumpista vê Rick Wilson. Já passei dessa fase. Creio que essa geração de channers, que vive no r/brasilivre no Reddit ou postando porcaria no X está bem perdidinha. Espero que um dia possam crescer e deixar essa mentalidade rancorosa, conspiratória, por vezes flagrantemente misógina, racista e LGBTfóbica. Porém isso só virá com o tempo, já que a cultura channer é o veneno dos jovens dessa geração.

Deixo que cada um siga seu rumo. Continuarei no meu. Lendo livros, fazendo minhas análises. Afastado das novas gerações. Sem querer saber das rixas e das brigas. Já estou velho demais para isso.

Memória Cadavérica #30 — Sobre Christopher Buckley e Rick Wilson

 



Memórias Cadávericas: um acervo de textos aleatórios que resolvi salvar (no blogspot) para que essas não se perdessem.


Contexto: creio que quando escrevi essa breve nota, estava lendo "Thank You for Smoking" do Christopher Buckley. Realizei algumas alterações, como deixar o texto maior.


A forma satírica e a escrita do conservador Christopher Buckley é extremamente brutal. Ele apresenta tudo que um conservador deveria ser: inteligente, engraçado, cauteloso em suas posições, além de apresentar uma mistura de cultura popular e erudita.


Uma pena que o conservadorismo letrado se afasta cada vez mais do conservadorismo das massas — veja, por exemplo, o bolsonarismo e o trumpismo. Qualquer conservador como Rick Wilson e Christopher Buckley seria chamado de esquerdista no Brasil pela legião de pseudoconservadores desmiolados.


A geração trumpista e bolsonarista afastarão milhares ou milhões de acadêmicos e futuros acadêmicos que poderiam ter sido conservadores, mas que viram no conservadorismo um carnaval sem fim de teorias da conspiração, negacionismos de todas as espécies, sensacionalismos, produção de pânico moral, ódio às pessoas LGBTs e revisionismo histórico.


Negros terão que olhar para a revisionismo histórico sobre a escravidão, ver-se-ão afastados do conservadorismo. LGBTs, sobretudo pessoas transgêneras, verão o espetáculo LGBTfóbico do Project 2025. Olharão para milhões de mortes na época da Covid, e verão o uso obsceno de teorias da conspiração como tática política. Nada disso é, à longo-prazo, positivo.


Caberá aos conservadores intelectualizados construírem um movimento separado e discreto, longe do bolsonarismo e trumpismo. E, acima de tudo, CONTRA o bolsonarismo e o trumpismo. O que atrará meia dúzia de pessoas verdadeiramente interessadas nas escolas de pensamento conservadoras.

terça-feira, 11 de novembro de 2025

NGL 8# — Trumpismo e Bolsonarismo

 


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Não, de maneira alguma. Nem o blogspot e nem eu. Tanto que eu fui um dos únicos a comentar as obras de três conservadores anti-Trump: 


- Christopher Buckley;

- Rick Wilson;

- Stuart Stevens.


Recomendo o The Lincoln Project no YouTube:

https://youtube.com/@thelincolnproject?si=4_nWKQecO591zAxT


Recomendo também que leia os seguintes livros:

- "Make Russia Great Again" do Christopher Buckley;

- "It Was All a Lie" do Stuart Stevens;

- "The Conspiracy to End America" do Stuart Stevens;

- "Everything Trump Touches Dies" do Rick Wilson;

- "Running Against the Devil" do Rick Wilson.


O que eu sinto pelo trumpismo e bolsonarismo poderia ser descrito como um misto de nojo, de horror e de desgosto. Eu tenho uma absoluta rejeição ao bolsonarismo e ao trumpismo. São dois movimentos extremamente incultos, iletrados, incapazes de gerar algo de bom, útil ou proveitoso aos interesses dos seus respectivos países. São movimentos nauseabundos, isto é, que causam náuseas.


O trumpismo e bolsonarismo não são só nocivos aos Estados Unidos da América e ao Brasil, são nocivos — e extremamente corrosivos — para a própria direita e para o conservadorismo. Além disso, possuem um legado que afastará gerações inteiras da tradição intelectual conservadora.

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Memória Cadavérica #7 — Erros Históricos




Memórias Cadávericas: um acervo de textos aleatórios que resolvi salvar (no blogspot) para que essas não se perdessem.


Nota: texto expandido para efeito de melhor compreensão.


A direita precisa começar a aprender com os próprios erros.


O bolsonarismo tentou trazer o neoconservadorismo, que havia sido atacado por conservadores-populistas e neohamiltonianos nos Estados Unidos. No período em que há o auge do neoconservadorismo no Brasil (Bolsonaro eleito), o neoconservadorismo é massivamente rejeitado pelos próprios ciclos conservadores americanos.


Do mesmo modo, no período da covid, o bolsonarismo trouxe a mesma prática embusteira de Reagan na gestão da AIDS: teorias conspiratórias a rodo e ausência de forte base científica em suas decisões. A mesma procedência duvidosa de uma direita que cresce a margem da academia e se ancora no populismo e no reacionarismo. Os resultados foram milhares de mortes e o afastamento de vários acadêmicos do conservadorismo.


A UDN errou a trazer um liberalismo do século XIX, datadíssimo, nas eleições contra Vargas. Quando perdeu, contestou as eleições. Isso remete ao bolsonarismo trazendo o neoconservadorismo em vez do conservadorismo populista ou neohamiltoniano e ao Aécio e Bolsonaro rejeitando os resultados das urnas. Se a UDN trouxe um liberalismo do século XIX no século XX, Bolsonaro trouxe um conservadorismo do século XX no século XXI.


Existe um nuance: o discurso bolsonarista é populista, estilo trumpista. A prática governamental é neoconservadora e a militância bolsonarista é associada à direita woke. De resto, em relação econômica, ele foge da Nova Doutrina Econômica Conservadora (American Compass), que é um retorno ao conservadorismo hamiltoniano (o chamado neohamiltonianismo).


O bolsonarismo pega os piores elementos da direita do passado e junta com os piores elementos da direita do presente.

Memória Cadavérica #3 — Emburrecimento Reacionário

 


Memórias Cadávericas: um acervo de textos aleatórios que resolvi salvar (no blogspot) para que essas não se perdessem.


Eu estou vendo a história da UDN pela Maria Victoria Benevides (a UDN e o udenismo), posso lhe afirmar que a direita nacional era mais culta em outros períodos, porém sempre cresceu lado a lado com massas reacionários (tal como a direita americana, como demonstrado pelo livro "American Psychosis"). A diferença é que agora só sobrou a massa reacionária. O período de transição entre a direita que se identificava com o PSDB e a direita bolsonarista foi um período de emburrecimento reacionário.

sábado, 5 de outubro de 2024

Acabo de ler "Teologia do Domínio" de Eliseu Pereira (Parte 1)

 


Nome:

TEOLOGIA DO DOMÍNIO: UMA CHAVE DE INTERPRETAÇÃO DA RELAÇÃO EVANGÉLICO-POLÍTICA DO BOLSONARISMO


Autor:

Eliseu Pereira


Um plano de projeto hegemônico tem uma fundamentação: as principais esferas estratégicas da sociedade. É dominando as esferas estratégicas da sociedade que se pode, por fim, dominar toda produção cultural da sociedade e assim moldá-la. Isto é, refazer a sociedade em uma configuração que fortaleça o poder do grupo que quer dominá-la.


O fenômeno do crescimento demográfico dos evangélicos e o seu poder crescente não é um assunto novo no campo das ciências sociais e religiosas. Muito pelo contrário, existe uma ampla análise desse processo que estamos vivendo. A singularidade apresentada nos últimos tempos foi a eleição de Jair Messias Bolsonaro, visto que até aquele ano nenhum candidato tinha conseguido unificar as expectativas das grandes massas religiosas.


Foi com Bolsonaro que os evangélicos se catapultaram para o centro político nacional. O anseio político religioso de muitos cristãos mais à direita não constitui uma novidade. Já não é novidade o medo ou o desgosto que muitos exibem para com o humanismo, a mentalidade conspiradora em relação ao comunismo e o anseio de criminalizar o debate político para fins de autopreservação.


O discurso dos evangélicos bolsonaristas não advém unicamente da teologia do domínio (TD), ele vem com um "pack". Esse "pack" é o da teologia da prosperidade (enriquecimento) e o da batalha espiritual (o que representa não uma batalha espiritual no estilo clássico, mas um cerceamento em relação ao mundo, as várias ideias e a qualquer objeto ou pessoa que se furte a lógica de seita). 


Esse fenômeno não é só nacional. A teologia do domínio é uma velha conhecida nos EUA. A sua relação com a eleição de Reagan e, mais recentemente, de Trump chega a ser até mesmo escandalosa. É evidente que existe uma "missão cristã" dentro da política brasileira – cristãos são, como qualquer outro grupo humano, um grupo que possui aspecto político. O aspecto político – presente em qualquer agrupamento humano – tem pautas próprias, quer queira, quer não.