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segunda-feira, 12 de maio de 2025

Acabo de ler "My Gender Is Bisexual" de Gadea Méndez Grueso (lido em inglês)

 


Nome:

My Gender Is Bisexual: Bisexuality, Trans Politics, and the Disruption of the Western Gender/Sexuality System


Autora:

Gadea Méndez Grueso


Faz um tempo que estudo a teoria queer. Tenho um foco especial pela teoria queer bissexual. Essa predileção se dá pelo fato de eu mesmo ser bissexual. Sempre vejo que posso aprender algo de extremamente interessante nessa investigação. Por exemplo, eu nunca estudaria tanto as teorias do marxista italiano, Antônio Gramsci, se não fosse pela leitura salutar da teoria queer. O mesmo pode ser dito em relação ao feminismo, quase tudo que aprendi a respeito do feminismo vem de uma fonte indireta — a teoria queer é, em parte, baseada nela.


A teoria queer é muito especial para a compreensão dos jogos sociais e de como as relações entre gênero e sexualidade perpassam por uma série de hierarquizações e repressões. Também é a teoria queer que nos faz pensar e repensar todos os papéis de gêneros que são passados e repassados. Muito do que temos por natural, foi na verdade uma construção social que foi naturalizada. E aprendemos por meio da teoria queer a não respeitar aquilo que é um papel social que é imposto para nós como um destino social. A teoria queer é, por assim dizer, uma teoria bastante libertária no sentido que nos leva a repensar o papel social que desempenhamos na sociedade.


A questão da teoria queer é que ela é sempre multidisciplinar. Podemos ver vários setores que perpassamos. Os estudos de gênero, os estudos de sexualidade, as questões históricas, as análises sociológicas, as questões psicológicas, as questões filosóficas, muitas vezes passamos pelo estudo biológico, por outras nos enveredamos no estudo do Direito e por aí vai. Esse ecletismo é extremamente interessante e fascinante. Creio que hoje eu posso afirmar que sem a teoria queer, não seria a mesma pessoa que sou hoje.


Achei esse documento quando estava no Google Scholar procurando algo para ler — sim, estudar arquivos acadêmicos é um hábito meu. Quando eu li o título, achei interessantíssimo. A teoria por traz dele é que a bissexualidade também tem algo a ver com o gênero. Não só isso, a pessoa em questão deixa claro que o gênero dela é bissexual.


Você já percebeu que muitas vezes homens homossexuais performam de maneira efeminada e mulheres lésbicas performam de maneira masculinizada? A questão é, segundo Judith Butler: sexo, gênero e sexualidade são processos co-constituintes. É por esse mesmo motivo que muitos bissexuais adentram a formas andróginas de expressão. Parece estranho, mas esse é um padrão largamente observável.


A conexão com a bissexualidade envolve a entrada e ruptura de mundos. Adentrar diferentes mundos e aderir traços desses múltiplos mundos. Quanto mais uma pessoa se conecta com a sua bissexualidade, mais ela se habitua a quebrar os padrões estabelecidos pelos múltiplos agrupamentos que participa. A personalidade bissexual encontra-se na passagem de múltiplos mundos, na absorção desses múltiplos mundos e na expressão desses múltiplos mundos. Então evidentemente a própria postura em relação ao gênero muda.


Creio que, para todos que se identifiquem como bissexuais e que estudem a teoria queer há um bom tempo, mais linhas são cruzadas conforme o tempo passa. A entrada ao estudo e a aceitação da própria sexualidade leva a um desenvolvimento de uma nova percepção de ser e estar no mundo. E bissexuais mais epistemologicamente consistente são mais bissexuais na sua forma de expressão.

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Acabo de ler "Militância enquanto Convite ao Diálogo" de Dani Vas e Danilo (Parte 2)

 


Nome:

Militância enquanto Convite ao Diálogo: o Caso da Militância Monodissidente



Autores:

Dani Vas;

Danilo Silva Guimarães.

O eu se constrói com o outro e em relação a esse outro. O processo da construção da subjetividade é relacional, isto é, se dá em relação ao outro. Só existe o "eu" por existir o "outro". A percepção do "eu" e do "outro" estão intrinsecamente conectadas. É a intersubjetividade – compartilhamento do espaço em meio ao diálogo, diferenças e contrastes – que determina quem somos.

A relação com o outro se dá no tempo-espaço. Essa relação é marcada por uma tensionalidade. Essa tensionalidade delimita quem pode fazer e o que pode fazer. Grupos hegemônicos estão sujeitos a crítica por terem maior detenção dos meios de produção cultural, podendo assim moldar a cultura e a aceitação dessa cultura.

Há quem reclame da militância por ela partir de um grupo particular e esse grupo particular estar longe da universalidade. A questão é: qual grupo humano não apresenta uma tendência universalizante para  com o próprio anseio? A realidade, para começo de conversa, não é encarada de forma objetiva. A realidade, e a percepção dessa mesma realidade, sempre implica em uma relação afetiva. Isto é, encaramos a realidade com doses de sentimentos pois essa mesma realidade dita a nossa sobrevivência. A realidade da sobrevivência não pode ser encarada como algo puramente objetivo, temos sentimentos para com a distribuição de recursos dentro da nossa sociedade. Tampouco a realidade cultural pode ser encarada de modo objetivo, visto que a marginalização de certos grupos leva a um sentimento de rancor e revolta – com implicações sociais tremendas.

É graças a essa influência sentimental do meio que todo pensamento é afetivo-cognitivo e que todo pensamento filosófico é, no fundo, psico-filosófico e não é possível chegar a um nível de objetividade completa. Toda análise fenomenológica revela, por mais denso que seja o esforço de quebrantar a sombra do "eu", uma subjetividade que constrói essa mesma análise fenomenológica. Ou seja, o desenvolvimento de algo está atado ao desenvolvedor desse algo em sua desejabilidade e toda argumentação surge com a coparticipação de um afeto. Não somos, e talvez nunca seremos, seres de julgamento imparcial. Visto que todo julgamento implica em nossa sobrevivência e em como seremos julgados – martizados, esquecidos ou aceitos – por nossa sociedade.

A relação de uma militância – um grupo desejante e epistemologizante – se dá por meio de uma série de trocas, tensões e negociações. Toda militância envolve poder, envolve política, envolve cultura, envolve economia, envolve igualdade, envolve justiça, dentre tantas outras questões. Essas relações se dão por meio de um conflito ou semelhança de interesses. Conflitos e semelhanças que surgem da relação com os "outros". É por isso que as pautas muitas vezes não avançam, visto que sempre estamos lado a lado com esse absurdo inigualável que é o outro.

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Acabo de ler "What Is Hegemonic Masculinity?" de Mike Donaldson (lido em inglês/Parte 3)

 


Em relação ao hétero-patriarcado se pode afirmar que a hegemonia é marcada por uma superioridade, essa superioridade recompensa quem é (heteronormativos) ou quem se assemelha (homonormativos) ao padrão de masculinidade hegemônica. A homossexualidade é condenada em três vias: o homem heterossexual vê como fundamental odiar o homem homossexual; a homossexualidade está ligada a efeminização e vivemos numa sociedade machista; o desejo homossexual é considerado subversivo por si mesmo.


O comportamento homofóbico, bifóbico, lesbofóbico e transfóbico provindo de homens heterossexuais é comum e, até mesmo, recompensado. Desde criança, o homem heterossexual é ensinado que será recompensado por ser hétero e atacado se desviar desse padrão. Ser hétero é uma forma de autojustificação e esse comportamento deve ser ressaltado o tempo todo. Não por acaso, uma das principais brincadeiras é acusar outro homem de não ser "homem suficientemente", acusação do qual o homem acusado deve imperiosamente se livrar. Esse mecanismo, feito a exaustão e todos os dias, leva a um condicionamento mental em que o homem deve ter uma vigilância constante em relação a própria masculinidade – e não uma masculinidade qualquer, mas sim a hegemônica.


O comportamento homossexual é considerado um desvio duplo. Um desvio se encontra no gênero (homossexuais são considerados efeminados) e outro na sexualidade (homossexuais possuem relação com o mesmo sexo). O antagonismo entre heterossexuais e homossexuais é claro: se o poder heterossexual advém do hétero-patriarcado, advém por sua vez da masculinidade e heterossexualidade. O homem homossexual é a antítese do homem heterossexual, ele representa a negação sistêmica dos seus valores e modo de vida. Tal radicalidade, sobretudo em nosso meio cultural, leva a um choque óbvio.


A cultura do homem heterossexual é uma cultura da exaltação da força e do domínio. Essa cultura, nociva e tóxica por si mesma, requer uma constante descarga energética entre si e em outros grupos. A "descarga interna" é um meio de regulamentação comportamental entre os próprios heterossexuais, para reforçar o comportamento hétero-patriarcal. Já a "descarga externa" é correlacionada a demonstração de superioridade do homem heterossexual em relação aos outros grupos, sobretudo mulheres e LGBTs.

domingo, 1 de setembro de 2024

Acabo de ler "What Is Hegemonic Masculinity?" de Mike Donaldson (lido em inglês/Parte 2)

 


A natureza da hegemonia é cruel. É a partir dela que a maioria das opressões sociais se estrutura e se aplica. É o grupo hegemônico que pode, com sua força, definir até o que é normalidade. É ele que pautas as relações sociais, culturais e, até mesmo, econômicas. E é a partir dele que vemos o surgimento de vários papéis que devem ser desempenhados por nós performaticamente. A normalidade, em grande parte do tempo, é criada por uma estrutura de poder. Ela é produzida por uma narrativa, por um discurso. O reforço a normalidade em conjunto com a patologização são ferramentas coercitivas para preservar.


A hegemonia é criada pela intelectualidade, criada pela cultura. Ela é mantida pelos padrões culturais. No fundo, são as organizações intelectuais que mantêm ou destroem um determinado padrão. É evidente que isso depende da capacidade de dadas organizações intelectuais. Meios undergrounds não conseguem facilmente penetrar a massa e redefinir conceitos. Quem tem tal domínio, tem para si os chamados "meios de produção cultural". Para detê-los, se faz necessário grande poder financeiro ou o suporte do grande poder financeiro.


Em relação a hegemonia na esfera da masculinidade e do gênero, há uma correlação entre "poder masculino" e "heterossexualidade". Existem aqueles modelos de masculinidade que visam preservar as estruturas de dominação hétero-patriarcais e aqueles outros modelos de masculinidade que atuam contra essa estrutura. A grande maioria desses modelos de masculinidade são violentos, dominadores e agressivos. Visam, antes de tudo, a superação pela conquista, pela imposição e uma perpétua luta dos homens pela hierarquia. É absolutamente infeliz que a maioria dos modelos de masculinidade reinantes sejam sobre dominação e subordinação, isto leva a conflitos sociais perpétuos e rodas tautológicas de tortura sociopsicológica.


A estrutura hegemônica da masculinidade é tecida dia após dia. Regulada e gerida para articular: as experiências, as fantasias e as perspectivas. É a partir dela que as relações de gênero e sexualidade são refletidas e interpretadas. Ou seja, é a partir da matrix (homem, hétero, macho e ativo) que se inicia a reflexão do gênero e da sexualidade. Todos os outros pontos são ignorados ou violentamente censurados, seja pela força da lei jurídica, seja pela força da lei social – que, convenhamos, muitas vezes não são o mesmo. É dessa forma que vemos a natureza do movimento queer e do movimento heterossexual. Sendo o que o queer parte do estranho – contra-hegemônico – e o heterossexual parte daquilo que foi naturalizado – polo hegemônico.


São os ideias culturais os reguladores e gerentes, são os ideias culturais que criam e perpetuam. Para encontrar o modelo de homem reinante, basta ler a maioria dos livros, ver a maioria dos filmes, ouvir a maioria das músicas, assistir a maioria dos programas. O mesmo modelo – homem, hétero, macho e ativo – se repete exaustivamente, como num mantra imagético, adentrando imaginários e servindo como base inspiracional. É assim que se mantém, que se preserva, pela moldagem do imaginário, a hegemonia heterossexual. 

domingo, 25 de agosto de 2024

Acabo de ler "Reflexiones sobre el feminismo y la diversidad de género" de Villón e Cedeño (lido em espanhol/Parte 3 Final)




Nome do Artigo: "REFLEXIONES SOBRE EL FEMINISMO Y LA DIVERSIDAD DE GÉNERO: EL PODER DEL DISCURSO EN LA POLÍTICA PÚBLICA"
Escritores:

Villón Rodríguez Nadia Wendoline

Cedeño Astudillo Luis Fernando

Falar sobre gênero e sexualidade é bastante complexo. Ainda mais na América Latina, onde o atraso impera em conjunto a ignorância generalizada. Tivemos e temos uma série de conflitos sociais e teorizações que nos levaram até o momento presente. Apesar disso tudo, vivemos na angústia de um processo histórico que ainda não terminou. O que quero dizer é que: o resultado de tantas lutas ainda se revela incompleto. Assim o é em toda instância o que se determina como "histórica", história (existência) e determinação (essência) estão sempre contrapostas e confusas.

O poder depende da legitimidade e a legitimidade é assegurada através de uma conformância social. Essa conformância social depende da aceitação da maioria. As práticas institucionais estão correlacionadas a uma construção hétero-patriarcal – também chamada de hétero-matrix  –, desconstruí-lo depende de um desenvolvimento das forças sociais em direção a outro sentido. Essas forças sociais, de impulsos transformadores, precisam construir uma nova hegemonia para a consolidação de um novo rumo político. Todavia não é possível pensar nisso sem conquistar a maioria social. Essa mesma maioria está extremamente correlacionada a um processo de endoculturação hétero-patriarcal que estabelece o gênero masculino e a sexualidade heterossexual como dominantes – e veem ambos como corretos.

Na prática, o ambiente em que vivemos é tomado como normal, sendo naturalizado como única realidade possível. Essa naturalização se torna uma espécie de "imperativo oikocrático". As pessoas não compreendem que, muitas vezes, a sociedade em que vivemos são construções históricas e não construções essenciais. O meio serve como mecanismo de validação da hegemonia existente e forças antagônicas devem lutar para a validação das suas teses contra as práticas sociais existentes.

A conclusão que podemos chegar é que os movimentos sociais (sejam feministas ou LGBTs) se encontram em estado incipiente e ainda não conseguem fazer um desenvolvimento social que contraponha a hegemonia hétero-patriarcal e a hétero-matrix. As mulheres e as comunidades LGBTs ainda não conseguiram criar um sistema novo que possa fazer frente, suas tentativas ainda são "marginais" e não adentram ao espaço público com toda potência necessária para se tornar "o novo sistema".

domingo, 18 de agosto de 2024

Acabo de ler "Hegemonic Monosexuality" de Angelos Bollas (lido em inglês/Parte 5 Final)

 


O movimento bissexual surge para atacar o binarismo. Binarismo de gênero, binarismo de sexualidade. Não só isso, o movimento bissexual muitas vezes se opõe a pautas do próprio movimento de lésbicas e homossexuais, visto que muitas vezes esses dois movimentos – mesmo quando unificados – decaem num simulacro dos padrões heteronormativos.


É preciso compreender que os padrões de gênero e sexualidade criam padrões hierárquicos no âmbito sócio-cultural. Os padrões dominantes são naturalizados e normalizados, interiorizados e colocados como  superiores. Essa hierarquização desvaloriza a existência de muitas pessoas. Sejam de mulheres masculinizadas ou de homens efeminados. Seja de homossexuais, seja de bissexuais. Compreender que existem condicionantes sociais que não são naturais, mas construções sociais que pautam nossas vidas é se libertar duma matrix que não pode ser aceita sem que exista a negação sistemática de várias pessoas diferentes por serem diferentes.


A compreensão das pautas bissexuais é de suma importância para os próprios bissexuais, mas também para o movimento LGBT como um todo. Muitos bissexuais falham enormemente em compreender a complexidade do que são e quais são as suas pautas. Ter um movimento bissexual organizado ajuda, em primeiro lugar, os próprios bissexuais e, depois disso, a comunidade LGBT. Não só isso, a própria sociedade ganha em expressar o seu gênero e a sua sexualidade de forma mais livre.

Acabo de ler "Hegemonic Monosexuality" de Angelos Bollas (lido em inglês/Parte 4)

 


A hegemonia é intrinsecamente uma tática de estratificação social. Isto é, ela serve para que o grupo dominante e/ou majoritário mantenha o seu poder e o seu posicionamento. Muitos dos pontos defendidos pelo grupo dominante foram socialmente construídos e não são naturais, mas o próprio domínio do grupo dominante se confunde com a naturalidade. Essa confusão, forjada ou inconsciente, traduza-se em efeitos materiais que beneficiam o próprio grupo dominante.


É o grupo dominante que cria até mesmo o discurso do outro. O outro é obrigado a ser inorgânico. Incapacitado de expressar o que ontologicamente é. A forma expressiva – seja sexual, de gênero, religiosa, racial, cultural – é subjugada e regulamentada pelo grupo dominante. A ausência de poder simetricamente oposto faz com que as normas do grupo dominante regulem sobretudo aquilo que chamamos de espaço público. Em outras palavras, fora dos poucos polos normativos, há o script social que deve ser seguido.


Um grupo que ganhou força ao se adaptar ao script da sociedade foi o grupo "LG" (lésbicas e gays). Que criaram a cultura homossexual de consumo. A mulher e o homem homossexual normal. Essa figura ilustre – o gay e a lésbica normal –, era monogâmica, tinha uma vida estável, uma reverência aos papéis de gênero instituídos por heterossexuais e uma certa docilidade perante os valores reinantes.


O movimento bissexual, pipocando nos anos 90, começa a questionar os valores instituídos e o simulacro desses valores. O que o movimento bissexual queria era basicamente duas pautas: respeito pelas diferenças e aversão a assimilação. O respeito pelas diferenças surge pela própria questão da invisibilidade bissexual, que é até hoje apagada pela cultura monossexista. Já a questão da aversão a assimilação surge pelo esvaziamento do potencial de real oposição política a heterossexuais por causa da assimilação à hétero-matrix por grupos homossexuais.


Para o movimento bissexual, a discussão acerca do desejo sexual ou romântica não era produtiva e, ainda por cima, era ditada por um binarismo antagônico que jogava as pessoas em padrões heteronormativos ou homonormativos. A discussão naquele período era: você pode se relacionar com um homem ou uma mulher. Com alguém do mesmo sexo ou do sexo oposto. Essa binariedade antagônica era marcada por uma autoexclusão das possibilidades de afeto (ou "x" ou "y"). 

terça-feira, 13 de agosto de 2024

Acabo de ler "Hegemonic Monosexuality" de Angelos Bollas (lido em inglês/Parte 1)

 


O fato da bissexualidade não ser muito estudada leva a um desentendimento acerca da sexualidade humana. Isto é, a construção social visa a priorizar monossexualidades (heterossexuais e homossexuais). Essa construção, que se dá também epistemicamente, acaba por reforçar padrões normativos – como a família nuclear, por exemplo. A vida do bissexual é uma vida de apagamento e de solidão, de marginalização e de exclusão. A maioria de nós caminha com a certeza trágica de que seremos sempre atacados, pelos mais diversos meios, sem nunca ter um local para estar. Para a ampla maioria da sociedade, o normal é ser bifóbico.


A hegemônica monossexualidade não quer dizer, em última instância, um domínio heterossexual. Ela quer dizer um amplo domínio heterossexual e algumas regiões de domínio homossexual que fazem contraponto a essa heterossexualidade majoritária. So que, quer queira, quer não, não há um espaço de legitimidade roxa (bissexual). Para piorar, a heterossexualidade cria uma forma ideológica chamada "heterossexismo". O heterossexismo – usualmente também conhecido como heteronormativo – é a ideia de que a heterossexualidade é natural e superior. Caso não seja "a única expressão natural", ao menos é tida como uma forma expressiva superior. Tal ideologia assume forma mesmo em grupos homossexuais, visto que o referencial heterossexual toma conta e vemos a "homonormatividade" (reprodução do hétero-patriarcado).


A luta bissexual vai além dos critérios heterossexuais, ela vai contra as alienações homonormativas. A forma de expressão romântica heterossexual ou homossexual não combina com a "tonalidade roxa". A ideia do referencial heterossexual ou homossexual como peça central da construção da identidade bissexual apenas demonstra uma incapacidade da comunidade bissexual de criar a sua própria forma expressiva. Ou, em outros termos, elevar-se autoexpressivamente. A chave central da problemática bissexual se dá sobretudo na sua esfera identitária e na forma em que ela se expressa. Bissexuais são convidados a demonstrarem quem são e construir o próprio caminho apesar das mazelas sociais.


A luta bissexual se deu, muito recentemente, em duas vias. Por um lado, bissexuais eram vistos como traidores ou potenciais traidores por parte de lésbicas e gays. Por outro lado, heterossexuais achavam o comportamento bissexual suspeito, visto que viam homossexuais como principais detentores de doenças sexualmente transmissíveis e os bissexuais seriam os responsáveis de levar a doença de um lado para o outro. Se o ódio e o ataque vem de ambos os lados, a luta bissexual deveria ter pauta própria e não se vincular totalmente ao restante da "comunidade dos estranhos", visto que alguns são mais estranhos do que outros.


Outro pontuamento relevante é a monogamia. Só que essa questão é bem mais complexa. Nem todo bissexual acredita ou é aderente da fórmula poliamorista. Aí adentram outras séries de questões. Bissexuais são vistos como inerentemente "traidores", mesmo quando são monogâmicos. Ou são vistos como inerentemente poliamoristas. Existem bissexuais que veem a monogamia como uma forma de expressão romântica condicionada a monossexualidade. Além disso, homossexuais aderiram em massa a monogamia para um efeito de aceitação social maior.

sábado, 3 de agosto de 2024

Acabo de ler "Queering Queer Theory" de Laura e Jennifer (lido em inglês/Parte 5 Final)

 


Nome completo do artigo: Queering Queer Theory, or Why Bisexuality Matters


Autoras: Laura Erickson-Schroth e Jennifer Mitchell


Falamos sobre a possibilidade da estranheza. Isto é, um mundo que transcende a normalidade e vai aquém dos domínios delimitados pelas vias usuais. A possibilidade queer, a possibilidade estranha, se choca sempre com o discurso normativista e a imposição normativa. As pessoas confundem a estranheza ou o diferente como uma espécie de doença. Toda anormalidade é tratada como doença. A normalização muitas vezes vem carregada de patologização.

Quando falamos sobre movimento queer queremos falar sobre a possibilidade de escolha. A liberdade atitudinal. A liberdade sobre o próprio corpo, sobre a própria vestimenta, sobre a própria utilização da sexualidade, sobre a própria capacidade de decidir. O movimento queer é sobre não ser condicionado por construções sociais que são postas como indiscutíveis. A discussão de gênero e sexualidade muitas vezes se pauta dogmaticamente por construções históricas e sociais que não são essenciais e muito menos absolutas.

A luta da orientação sexual começou com a construção de uma orientação oposta a heterossexualidade. A identidade homossexual foi posta, assumida e levada a cabo. Porém é preciso pensar na identidade bissexual e como ela se manifesta. É preciso que os bissexuais estejam em diálogo com o movimento queer, mas também pensem acerca da sua orientação sexual em particular.

sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Acabo de ler "Queering Queer Theory" de Laura e Jennifer (lido em inglês/Parte 4)

 



Nome completo do artigo: Queering Queer Theory, or Why Bisexuality Matters


Autoras: Laura Erickson-Schroth e Jennifer Mitchell


A realidade bissexual é a realidade da deslegitimação e apagamento. Muitos creem que a bissexualidade pode ser conquistada ou superada, isto é, adaptando-a a uma via monossexual (hétero ou homo), levando a aguardada "estabilidade". Esse comportamento social é descrito como parte da ideologia monossexista, seja ela provinda do meio homossexual ou do meio heterossexual. Esse dualismo, o maniqueísmo sexual de dois antagonismos que se chocam (heterossexualidade e homossexualidade), levam a uma tensão constante entre esses dois grupos (heterossexuais e homossexuais) e os dois grupos de voltam contra bissexuais (bifobia).

A bifobia também está entrelaçada a performática de gênero. A performática é a arte de cumprir – e de forçar – papéis sociais determinados. Um homem deve agir como um homem e uma mulher deve agir como uma mulher. Todavia muitas das questões de gênero são confusas: muito daquilo que é encarado como propriamente masculino ou feminino está ligado a uma construção histórica ou cultural determinada, não sendo essencialmente contínua. Isto é, se um comportamento é essencialmente masculino ou feminino, verificar-se-ia universalmente e não em contextos históricos e/ou culturais. A incapacidade de ir além dos limites sociológicos torna a maior parte do discurso normativo uma mera forçação que se justifica como coação.

Na bissexualidade, a realidade do gênero e do sexo se perdem. A performance – seja em grupos héteros ou homos – não pode ser ao todo acolhida ou suportada. A pessoa bissexual, seja quem ela for, está além das barreiras das contingencialidades heterossexuais ou homossexuais. Delimitar-se comportamentalmente por esses dois meios é uma forma de redução da sua personalidade e identidade. A possibilidade bissexual é a possibilidade de ir além dos limites contingenciais dos mundos heterossexuais e homossexuais, cortando não só para os dois lados, como para as duas possibilidades existenciais.

quarta-feira, 17 de julho de 2024

Acabo de ler "Queering Queer Theory" de Laura e Jennifer (lido em inglês/Parte 3)

 




Nome completo do artigo: Queering Queer Theory, or Why Bisexuality Matters

Autoras: Laura Erickson-Schroth e Jennifer Mitchell


A primeira utilização do termo bissexual era no sentido morfológico e não a uma prática sexual. Naquele período, em 1866, o termo "bissexual" era o que hoje seria chamado de hermafrodita. Só posteriormente o termo bissexual se referiria a uma prática.

O desenvolvimento da "bissexualidade moderna", conceitualmente falando, passa por alguns entraves. Anteriormente se especulava que o desenvolvimento do homem era superior ao da mulher e que homens passavam por uma fase feminizada antes de adentrarem na fase masculina. O desenvolvimento insuficiente causaria um aspecto feminizado, isto é, causaria uma vida sexual com pessoas do mesmo sexo (homossexualidade). Um feto imaturo produziria um adulto bissexual.

Avançando mais pelo tempo, chegou-se a conclusão de que homens e mulheres são gêneros opostos e que bissexuais não saberiam vislumbrar a diferença – o antagonismo – entre esses dois gêneros. O que levaria a percepção de que bissexuais estão internamente em conflito, emocional ou psicologicamente imaturos, além de qualquer outra forma de instabilidade. O desenvolvimento teórico diria aos bissexuais que eles deveriam "se decidir". Alcançar a "maturidade", seja pela via heterossexual, seja pelo via homossexual, mas preferencialmente pela vida heterossexual. Bissexuais deveriam receber suporte para "compreender" as distinções entre os "dois sexos" e "seus antagonismos".

A ideia era levar bissexuais a compreenderem as distinções entre "os dois sexos" para que eles se tornassem adultos saudáveis. A ideia de que a preferência pelos dois sexos era contraditória, levando a cisão interna, era o norte da antibissexualidade: o bissexual está eternamente dividido, incapaz de ter relacionamentos e estabilidade mental, até que se cure da bissexualidade. Um pouco dessa mensagem ainda ressoa em tempos modernos.

terça-feira, 9 de julho de 2024

Acabo de ler "Queering Queer Theory" de Laura e Jennifer (lido em inglês/Parte 2)


Nome completo do artigo: Queering Queer Theory, or Why Bisexuality Matters

Autoras: Laura Erickson-Schroth e Jennifer Mitchell


Uma orientação sexual invisível e estranha, presa e atacada por pessoas heterossexuais ou homossexuais, que insistem em encaixar bissexuais em sua ordem binária. A questão é: quando uma pessoa é forçada a ser ou se identificar como algo que não é acaba por sofrer. O sofrimento bissexual se dá ante a negação da sua própria existência, tal como se fosse "proibido de existir". E quando identificam alguém que é bissexual, mesmo no âmbito do debate público, logo insistem que essa pessoa é heterossexual ou homossexual.


Outra questão que surge na bissexualidade é a questão do privilégio. Para alguns homossexuais, as pessoas bissexuais gozam do privilégio de terem relações heterossexuais, elas podem esconder a sua própria bissexualidade. Em outros termos, bissexuais podem ser classificados, para algumas pessoas, como "traidores da causa LGBT". Para alguns heterossexuais, bissexuais escondem a sua homossexualidade ou estão num período de confusão. Existem aqueles que, aceitando a existência da bissexualidade, acusam bissexuais de serem promíscuos ou "levarem as doenças sexualmente transmissíveis de um campo para outro".


Com toda literatura científica do mundo contemporânea acerca da sexualidade, além das comprovações continúas da própria existência da bissexualidade, ainda há quem queira negar a nossa existência. A bissexualidade pode existir, pode até mesmo ser comprovada a cada segundo ou milésimo, mas não pode ser socialmente aceita por causa do discurso dominante. A razão da bissexualidade não ser socialmente aceita foi descrita na parte anterior a essa, mas torno a repeti-la: num mundo estruturalmente projetado para privilegiar heterossexuais, muitos não heterossexuais não querem se ver privados desse privilégio e preferem que a bissexualidade não exista, visto que uma vida pública – e até mesmo privada – heterossexual não seria comprovação autossuficiente de heterossexualidade.


Há uma chave dupla dos problemas bissexuais. O maior problema é a sua invisibilidade – por não ser socialmente aceito como existente – e o segundo maior problema são acusações de alto teor moralista e normativista. A acusação de que bissexuais são "incapazes de serem monogâmicos", imaturos e promíscuos. O fato é bissexuais existem num número igual ou superior ao número de homossexuais. Homossexuais e heterossexuais veem o mundo de forma binária pois isso é inerente a própria sexualidade deles, em outros termos, eles veem o mundo a partir de sua experiência pessoal – de forma empírica –, mas a experiência pessoal não é comprovação das suas teses. É impossível ver o que há dentro do outro, sobretudo a alguns aspectos que não são de natureza reproduzível.


Quando cobram uma estabilidade de bissexuais, cobram uma estabilidade pautada na visão monossexista. Isto é, no binarismo maniqueísta da sexualidade.  Estabilidade seria ser "hétero ou homo", mas isso não faz sequer sentido. Estabilidade é continuidade de algo através do espaço-tempo e quem é bissexual é bissexual a vida inteira, logo a bissexualidade é uma sexualidade tão estável quanto a homossexualidade e heterossexualidade. A negação da bissexualidade é algo muito mais ditado de forma narrativa ou ideológica. E os argumentos não surgem pautados por uma pesquisa séria, mas através de uma linha se raciocínio turva que existe para defender um grupo de outro.


A questão apresentada pela bissexualidade é bem variada. Ela apresenta múltiplos caminhos que escapam ao controle, seja de heterossexuais, seja de homossexuais. É um tabu falar que bissexuais são vistos como inimigos de homossexuais e heterossexuais, mesmo que isso não seja conscientemente admito por nenhum desses grupos – além de certas pessoas que prezam pela sinceridade. Homossexuais precisam de uma visão de estabilidade da sua sexualidade para lutar contra o heterossexismo, mas isso leva a eles a atacarem bissexuais, visto que a bissexualidade pode ou poderia apresentar a hipótese de que a sexualidade é uma escolha e não algo essencial, isso favorecia a narrativa heterossexista e a sua normatização forçada. Fora isso, a visão poliamorista que muitos bissexuais apresentam feriu – e ainda fere – a imagem monogâmica que muitos homossexuais quem passar para tornar a homossexualidade mais socialmente aceita. Há também o fato de que homossexuais veem bissexuais como potenciais traidores pelo fato de que bissexuais podem entrar em relacionamentos heterossexuais.

domingo, 7 de julho de 2024

Acabo de ler "Queering Queer Theory" de Laura e Jennifer (lido em inglês/Parte 1)

 


Nome completo do artigo: Queering Queer Theory, or Why Bisexuality Matters
Autoras: Laura Erickson-Schroth e Jennifer Mitchell

Quando falamos sobre identidade bissexual falamos de uma identidade apagada. Não só apagada, mas também marginalizada e estruturalmente excluída. A esse sistema que tenta apagar a existência bissexual chamamos de "monossexismo". O "monossexismo" prevê uma binariedade sexual (hétero-homo), como uma espécie de maniqueísmo sexual. O monossexismo é praticado por heterossexuais e homossexuais, deslegitimando a existência das pessoas bissexuais.

A narrativa monossexista traz uma vantagem para heterossexuais e homossexuais. Se uma pessoa heterossexual quiser fugir do martírio social da homofobia, basta ela ter uma demonstração de afeto pública com uma pessoa do gênero oposto. Esse "argumento triunfal" é, para essa pessoa, comprovação suprema de sua heterossexualidade. Já nos casos de homossexuais, a bissexualidade é um problema pois pode servir como uma "carta coringa". Isto é, heterossexuais poderiam "comprovar" que a sexualidade é uma questão de escolha ou de boa criação. É também mais prático para heterossexuais fingirem ou acreditarem que a bissexualidade não existe, assim fugindo da fiscalização de normalidade.

A bissexualidade é uma ameaça a heteronormatividade, tal como a homossexualidade também o é. No entanto, quando começou a se levantar a questão de uma identidade não-heterossexual, apostou-se na existência duma identidade contraposta a heterossexualidade (a homossexualidade). A oposição binária (heterossexualidade vs homossexualidade) é um reducionismo e a radicalização maniqueísta dessa tendência teorética dualista sustenta uma visão monossexista que leva ao apagamento e exclusão das pessoas bissexuais.

A teoria queer bissexual vai contra a teoria binária pois a teoria binária nega a existência da bissexualidade. A teoria queer bissexual defende a possibilidade de uma existência que rompa estruturalmente com a estrutura binária (monossexismo). Isto é, ela ataca fundamentalmente a estrutura classificatória e engessada que é imposta para restringir a liberdade romântica e sexual.

quinta-feira, 14 de março de 2024

Acabo de ler "Dorotéia" de Nelson Rodrigues

 



Por vezes uma sociedade padece, se entristece, pela ausência da liberdade. Essa peça pode ser encarada de uma forma psicanalítica, sobretudo na psicanálise de Reich, por causa do desafio proposto por ela: o que é o ser proibido na esfera de sua sexualidade? Aí é que está a chave que pretendo utilizar nessa análise.


Veja que faz parte do regulamento do ser o orgasmo. A ausência do orgasmo pode ser sublimada por um esforço produtivo, mas será que esse esforço deveria ser compulsório? Sociedades mais fechadas buscam minar a sexualidade e as sociedades fortemente telúricas - como as fascistas - buscam até reprimir a sexualidade com tudo que estiver ao alcance de suas mãos. Não por acaso, a repressão à sexualidade feminina, a minorias sexuais (LGBTs), a busca pela padronização, tudo isso marca o regime fascista. Todavia não estamos nesse contexto, embora seja salutar observar tal parte.


É preciso compreender que a ausência de uma liberdade de desejo, de liberação de desejo, de satisfação pulsional é uma forma de criar uma sociedade adoentada e suscitar nela os mais terríveis delírios. A insatisfação pulsional gerará constantemente crises psíquicas. E essas crises gerarão um estado exacerbação. Esse estado posteriormente poderá ser utilizado metodologicamente para uma missão. E é assim que a sociedade extremo-telúrica se alimenta e retroalimenta: da insatisfação de seu desejo em conjunto com uma condução coercitiva de esforços a um inimigo determinado para o reforço de sua mentalidade coletivo-normativa.


Nelson Rodrigues, ao escrever essa peça, caçoa dos pensamentos bizarros sobre o que é a humanidade e todo o misticismo por trás das proibições e negações que grupos sociais criam para si mesmos para se negarem. O que é bastante interessante, visto que é sociologicamente útil para compreender os dramas sexuais que existiam nessa época.


Como sempre, a obra rodrigueana é marcada por uma capacidade de abertura que possibilita uma análise crítica duma série de conjunturas. Demonstrando a genialidade do grande mestre que é e foi Nelson Rodrigues.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Acabo de ler "Psicologia Aplicada de Freud - Considerações Finais"

 



Chegamos finalmente na análise do capítulo final. Optei por fazer uma análise em forma de série para testar um formato mais expansivo de análise. Um formato em que fosse possível ter "textos maiores" no diminuto espaço que essa plataforma permite. Para tal, selecionei alguns livros em que se poderia aplicar tal formato de "análise em série". (Pretendo fazer outras).


Neste capítulo, somos apresentados a conclusão do que chegou a ser a obra de Freud. Quais seriam as mudanças paradigmáticas apresentadas pela conjunção de sua obra. E, certamente, Freud realmente foi propulsor duma revolução paradigmática em vários campos devido a sua mudança de fontes.


Até no tempo de Freud, a psicologia - além de outras áreas do conhecimento humano - eram reflexos do pensar teológico. A principal mudança que Freud promove é uma psicologia baseada não em fundamentos sobrenaturais, bíblicos ou religiosos. Tal troca foi de fundamental importância para o desenvolvimento da psicologia moderna, não só dela como também de outras partes do conhecimento humano.


Freud também trouxe um olhar mais aprofundado na sexualidade. Tema muito essencial e pouco estudado. O que o colocou numa série de polêmicas devido a mentalidade pouco dialógica da época. Essa também foi uma contribuição de Freud.


Outra, a que mais me encanta, é a noção de que muito de nós nos escapa. E que devemos estudar metodologicamente a nós mesmos para que não sejamos controlados pelas nossas parcelas inconscientes. Esse entendimento possibilita um desenvolvimento rumo à maturidade e maior integração unitária de nossa consciência. 


Esse livro é bastante simples, porém coeso e apresenta uma série de informações que podem levar o leitor ter um olhar mais próximo da psicanálise e, quem sabe, tornar-se um dia um psicanalista.