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quarta-feira, 16 de julho de 2025

Acabo de ler "L’ACTUALITE DE CARL SCHMITT" de Alain de Benoist (lido em francês)

 


Nome:
L’ACTUALITE DE CARL SCHMITT

Autor:
Alain de Benoist

Nunca pensei que juntaria dois dos intelectuais mais polêmicos de todos os tempos numa mesma análise. E creio que os leitores usuais do blog também não. Porém como é da natureza desse blog analisar os mais diversos intelectuais, pouco importando qual seja o seu posicionamento ou a agradabilidade dele no debate público contemporâneo, lá vamos nos aventurar de novo. Como aumentou muito o número de visualizações do blog, recomendo que leiam o Agnosticismo Metodológico para compreender que o mecanismo de análise desse blog é o de tentar simular o pensamento da obra e do autor que está sendo analisado.

A premissa inicial de Alain de Benoist é a de que existe um aumento de número de traduções da obra de Carl Schmitt e elas vêm se espalhado no mundo inteiro. O que demonstra a atualidade do pensamento de Carl. E essa vitalidade da obra de Carl Schmitt se correlaciona com os seguintes fatos:

1. O desenvolvimento do terrorismo;
2. O aumento das legislações de exceção para combater esse fenômeno;
3. A evolução da guerra;
4. A transformação radical da ordem internacional.

O que vem levado ao fenômeno crescente do terrorismo é a mundialização. Esse fenômeno é encarado como desterritorialização dos territórios. A mundialização é vista como uma ameaça existencial e/ou de ordem ontológica a múltiplos povos e grupos. É nesse contexto que as palavras de Schmitt parecem ressoar bem.

A ordem mundial, constituída pela hegemonia americana, mas fortemente eurocêntrica, adquire certas características especiais no pensamento de Carl Schmitt. Nele há um partidário que tem uma certa conexão com a terra em que está. O partidário é compreendido como telúrico (ligado à terra). A mundialização opõe-se ao telúrico ao dissolver os seus valores em prol de um modelo global.


É compreendendo a guerra dos partidários que podemos compreender as configurações do terrorismo. O terrorista é um combatente irregular e oposto a legalidade. O fenômeno terrorista encontra um fenômeno antecedente, dentro da conjuntura da guerra fria, que era o da guerrilha e do guerrilheiro (que também se opunha a uma legalidade tida por injusta). Seja o terrorista, seja o guerrilheiro, os dois são praticantes da irregularidade e possuem um engajamento político intensificado.

Como os Estados vêm respondido às atividades terroristas? Adotando meios de exceção. O contra-terrorismo transforma a exceção numa norma, visto normaliza-a. A sociedade aberta torna-se gradualmente em uma sociedade de vigilância. A natureza imprevisível vai servindo de munição teórica para o aumento progressivo do Estado de exceção.

É nessa conjuntura que podemos ver a precisão terminológica se dissolvendo nessas palavras: regular-irregular, legal-ilegal, terrorismo-contra-terrorismo. Sanções econômicas aparecem o tempo inteiro e o bombardeamento das populações civis já não são uma grande novidade, mas mais uma exceção que aparece junto a uma série de outras exceções.

Ao mesmo tempo em que isso ocorre, há a instrumentalização de um discurso moralizante, o inimigo é tido como diabólico, como criminoso, como a figura do próprio mal, como um inimigo da humanidade. Tudo isso é feito para justificar uma ordem internacional comandada pelos Estados Unidos e caráter eurocêntrico.

O conflito moderno também apresenta um caráter ontológico. São duas existenciais arquétipicas que se confrontam. Uma de ordem telúrica (atada à terra) e outra de ordem atlântica (atada ao mar). Zygmund Bauman já falava da modernidade líquida, o que se questiona é se essa modernidade líquida é um fenômeno ocidental ou de caráter universal. Se ela for de caráter universal, os oponentes dela são meros reacionários fugindo do inevitável. Se ela for de caráter ocidental, a aplicação geral desse fenômeno é apenas um ato de tirania política disfarçado de universalidade.

Hoje em dia temos várias figuras apresentando um caráter partidário e a possibilidade de uma guerra partidária. Elas defendem uma legalidade alternativa (oposta ao que aplicado) ao mesmo tempo em que apresentam um engajamento político intenso. Todavia há mais uma questão: a existência política de um povo não está diretamente ligada a uma identidade substancial e a política não é um reflexo dessa mesma identidade substancial? Se sim, a mundialização orquestrada e entendida como uma dissolução geral de identidades é, por si mesma, imoral. Se sim, a mundialização orquestrada e entidade como uma dissolução geral de identidades é, por si mesma, uma ameaça ontológica a todas as nações do mundo.

Tudo isso esbarra na ordem unipolar americana. E, mais uma vez, esbarra no pensamento de Carl Schmitt. Entramos na questão da ordem multipolar contra o universalismo liberal. Entramos no drama do universum contra o pluriversus. Entramos no mar em sua liquicidade se opondo a terra em sua firmeza. 

Acabo de ler "L'Hégémonisme Américain" de Alain de Benoist (lido em francês)

 



Nome:

L’HEGEMONISME AMERICAIN: ou le sens réel de la guerre contre l’Irak


Autor:

Alain de Benoist


Após ter começado a fazer análises de textos e livros em espanhol, comecei a fazer análises de textos e livros em inglês. Hoje inicio uma nova era desse blog: passo a analisar conteúdo escrito em francês. Como vi que Alain de Benoist chamava muita atenção, sendo chamado de "marxista de direita" ou "gramsciano de direita", resolvi trazê-lo para cá. Assim mantendo a tradição de abrir o debate público para autores pouco conhecidos ou explorados.


Os Estados Unidos após terem vencido a União Soviética na guerra fria, começaram a pensar e a implementar a universalização do seu modelo para o mundo. Essa universalização do modelo americano pode ser chamada de globalização neoliberal. Durante esse período — o texto foi escrito em 2003, atualmente vemos um declínio dos Estados Unidos e questionamentos a respeito do modelo neoliberal —, os Estados Unidos enfrentaram um mundo caoticamente instável, imprevisível, incontrolável e também marcado não só pela globalização do neoliberalismo, como pela globalização dos problemas.


Alain de Benoist fala sobre a vocação universalista de toda ideologia. Toda ideologia quer se impor como modelo universal. A universalização é um período de remodelamento do mundo em prol de um modelo específico. É evidente que se a União Soviética tivesse ganhado a guerra fria, a universalização do modelo de socialismo soviético — existem outros socialismos — seria a mais plausível. Como os Estados Unidos ganhou a guerra fria, existiu um período de remodelamento do mundo. Em alguns lugares, foi um processo mais pacífico. Em outros, mais turbulento.


Os Estados Unidos da América poderia ter optado por um regime de equilíbrio de poderes, mas optou pela simples hegemonia. O mundo poderia ter sido mais pacífico se fosse multipolar. Em vez disso, os Estados Unidos se proclamou e foi encarado como líder do mundo civilizado e chefe do mundo livre. Copiá-lo era o mesmo que se tornar civilizado e parte do mundo livre.


Essa condição gerou um neoimperialismo, um imperialismo de justificação do modelo unipolar. Esse modelo deveria ser seguido e o mundo deveria ser moldado conforme a vontade dos Estados Unidos da América. A remodelagem do mundo, às vezes vinda com tentativas de balcanização, era justificada pela noção de que os Estados Unidos estava lutando contra o mal e a barbárie. A doutrina neoimperialista, criada pelos neoconservadores, apresentou paralelos com o destino manifesto.


Enquanto os Estados Unidos realizavam o seu papel messiânico no mundo, o déficit comercial americano ia subindo e a desindustrialização ia se tornando cada vez mais grave. As ofensivas neoimperialistas, justificadas por neoconservadores, tornavam-se uma dispendiosa aventura na qual os Estados Unidos voltavam-se para o mundo e esqueciam-se de si mesmos: desindustrializando-se e aumentando o seu déficit comercial.