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terça-feira, 11 de novembro de 2025

Memória Cadavérica #25 — Fiscal de Masculinidade

 


Memórias Cadávericas: um acervo de textos aleatórios que resolvi salvar (no blogspot) para que essas não se perdessem.


Contexto: texto originalmente postado em um fórum.


Hoje em dia, um fenômeno cresce na internet: o(a) fiscal de masculinidade.


Frases como:

- Homem de verdade;

- Homem com "H" maiúsculo;

- Homem tradicional;

- Virilidade.


Tudo isso cresce como mato em floresta. Dali por diante, vários cursos vão sendo construídos. Nasce até mesmo a indústria da redpill, que avidamente procura o red money (pessoas que pagam por conteúdo redpill).


Todo mundo quer homens músculos e fortes (ui), reforçando papéis de gênero que muitas vezes não são construídos na base biológica, mas através de construção social. Há toda uma confusão epistemológica entre quais aspectos são biológicos e quais aspectos são sociológicos.


Eu mesmo não posso me enquadrar como "homem tradicional". Nesse Halloween, por exemplo, escrevi um ensaio em inglês chamado "Homo est spectaculum hominis" e fiz drag para celebrar o Halloween "Goth Drag Queen". Em outras palavras, ritualisticamente quebrei o círculo da masculinidade.


O problema da indústria da masculinidade tradicional é que existem pessoas que nunca se enquadrarão nela e muitas pessoas são condenadas a um sistema em que todo mundo deve comprovar a masculinidade o tempo todo, a todo momento. Como bissexual, isso é particularmente problemático.


O que usar saia ou maquiagem tem a ver com a biologia masculina? O que usar rosa tem a ver com a biologia masculina? Absolutamente nada.


Encaixar-se ou não no modelo de masculinidade hegemônico não deveria ser motivo de vergonha, martírio ou medo. Muito pelo contrário, as pessoas deveriam ser livres. E a sociedade não deveria entrar naquilo que Freud veria como repressão desnecessária.

domingo, 25 de agosto de 2024

Acabo de ler "Afeminação, hipermasculinidade e hierarquia" de Mozer e Helder (Parte 1)

 


NOME:

Afeminação, hipermasculinidade e hierarquia

AUTORES:

Mozer de Miranda Ramos;

Elder Cerqueira-Santos.


A cultura é determinada por certos valores que a parametrizam. A parametrização revela uma hierarquia que regulamenta o que é socialmente valorizado e o que é socialmente desvalorizado ou até mesmo rejeitado. A exaltação da masculinidade é um ponto que afeta a todos os homens em nossa sociedade, sejam eles heterossexuais, homossexuais ou bissexuais. Homens masculinos são vistos socialmente como elevados, homens efeminados são rebaixados, desvalorizados e até mesmo discriminados.


Em escritos anteriores eu escrevi bastante sobre gênero e sexualidade. Torno a escrever isso aqui: a sociedade possui um sistema que pode ser determinado como hétero-matrix. Essa "hétero-matrix" valoriza a masculinidade e a heterossexualidade de várias formas: a primeira é como ideal supremo de masculinidade, cabe ao homem ser hétero e másculo. Se não isso, que seja bissexual/homossexual e másculo. Todavia esse segundo posicionamento – ser homossexual/bissexual e másculo – tem menor impacto que o segundo. Homossexuais e bissexuais nunca serão enquadrados no sistema hegemônico e sempre serão tidos como "menos homens". Lembrando até um dito de um amigo meu: "a partir do momento que me vi como homem bissexual, percebi que nunca me enquadraria no modelo vigente de masculinidade".


No sistema hegemônico (hétero-patriarcal), existe uma hierarquia que concede privilégios e punições. No topo, encontra-se o homem másculo e heterossexual. Além dele se encontram várias masculinidades alternativas que são subjugadas e marginalizadas. Sabe-se que um homossexual ou bissexual normativo possui o privilégio ao qual se determina sociologicamente como homonormativo, isto é, homens homossexuais ou bissexuais que se adaptaram a algumas normas – menos a de ser hétero – da heteronormatividade, simulando a sua cultura. Além disso, valoriza-se o homossexual ou bissexual ativo, já que não é tolerado o sexo anal passivo vindo de um homem. Esse quadro de valorização e desvalorização, privilégio e punição, representam uma estrutura de poder que beneficia sobretudo homens heterossexuais másculos. Há o encargo de martírio: aqueles que se distanciam daquilo que é socialmente valorizado são vistos como uma eterna piada e possuem a sua existência negada e sistematicamente atacada.


A masculinidade hegemônica é contraproducente e precisa ser provada ininterruptamente. Visto que o comportamento másculo é uma prova contínua. Essa provação é apresentada de forma multifacetada, aparecendo de forma inquietante, reforçando um condicionamento performático e transformando todos os homens em escravos dessa perpétua tortura sociopsicológica. Aqueles que se negam a jogar o jogo da hétero-matrix são considerados como efeminados e logo martizados socialmente, seja pela agressão física ou verbal direta, seja pela própria exclusão das portas da sociedade na maioria dos locais. Homossexuais e bissexuais jogam esse jogo o tempo todo, internalizando a homofobia e a bifobia, além de uma autocrítica alienante em que aderem a sistemática que lhes odeia. A questão que os autores jogam para os homens homossexuais e bissexuais que participam desse jogo social é: "Se a masculinidade ideal é heterossexual, como ser macho sem ser heterossexual?".