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sábado, 4 de outubro de 2025

Nas Garras do Dragão #2 — Sistema Político Chinês


Aviso: optei por fontes em inglês por elas terem um padrão referencial melhor e mais abundante. Se os termos empregados aqui não baterem com a tradução oficial, saiba que foi graças a minha tradução amadora.


— A estrutura do poder chinês é dividida em:


1. Presidente;

2. Congresso Nacional do Povo;

3. Conferência de Consulta Política do Povo Chinês;

4. Suprema Corte do Povo;

5. Suprema Procuradoria do Povo;

6. Comissão Militar Central do Estado;

7. Conselho do Estado;

8. 28 ministros e comissões.


— Sistema Partidário Chinês:


O sistema chinês não é multipartidário e nem unipartidário, mas sim um sistema multipartidário de cooperação com a liderança do Partido Comunista Chinês. Esse sistema apresenta oito partidos além do Partido Comunista Chinês:


1. O Comitê Revolucionário Chinês de Kuomintang;

2. A Liga Democrática da China; 

3. A Associação Nacional de Construção Democrática da China;

4. A Associação da China para Promoção da Democracia;

5. Partido Democrático dos Camponeses e Trabalhadores Chineses;

6. O Partido Zhi Gong da China;

7. A Sociedade Jiusan;

8. Liga de Autogoverno Democrático de Taiwan.


— Função do Congresso Nacional do Povo:


O Congresso Nacional do Povo tem as seguintes funções:

1. Legislativa;

2. Apontamento e retirada de oficiais;

3. Tomada de Decisão;

4. Supervisão.


— Eleição:


A eleição na China funciona mais ou menos assim:


Votante (Eleição Direta) > Representantes das Assembleias Populares de Nível Base (Vota) > Representante das Assembleias Populares de Nível Médio (Vota) > Representante da Assembleia Popular Nacional.


— Estrutura Organizacional do Partido Comunista Chinês:


O Partido Comunista Chinês possui a sua própria organização interna. Há dois anos atras, o número de seus membros era de 96,7 milhões de membros.


Os membros podem ser vistos em três diferentes setores:


1. Serviço Civil;

2. Empresas controladas pelo Estado;

3. Organização social.


Cada membro do Partido Comunista está dentro de um sistema de level:


1. Nível de entrada e treinamento;

2. Senior funcional;

3. Nível de chefe de setor;

4. Diretor geral;

5. Ministro/governador;

6. Polituburo/conselheiro.


O Comitê Central analisa:

1. A performance dos seus membros;

2. Investiga a conduta pessoal;

3. Faz pesquisas de opinião pública;

4. Promove os melhores;

5. Só os melhores entrarão na alta burocracia;

6. Poderão administrar distritos com milhões de pessoas ou gerenciarem empresas multi-milionárias;

7. Todo esse processo demora duas ou três décadas.


Com seu sistema altamente meritocrático, podemos ver a passagem:

5. Congresso Nacional do Partido, com 2296 membros;

4. Comitê Central, com 360 membros;

3. Politburo, com 25 membros;

2. Comitê do Politburo, com 7 membros;

1. Secretário Geral, com 1 membro.

Nas Garras do Dragão #1 — Socialismo de Mercado




Já era hora de analisar diversas fontes e trazer, para o debate público nacional, mais informações sobre a China. Vou visar pegar informações de diferentes fontes, para depois compará-las. 


— Como a China combina Socialismo e Mercado?


Socialismo e princípios de mercado são centrais no que chamamos de socialismo de mercado. Esse sistema permite mecanismos de mercado funcionando dentro de um framework dominado pela propriedade pública e controlada pelo Estado. O objetivo central é o desenvolvimento do socialismo que se beneficia da eficiência do mercado. O Estado mantém o controle dos setores-chave e dos recursos, logo a propriedade pública é central.


O Estado é dono de todas as terras e tem significante porcentagem de investimento nas maiores empresas do país. Empresas privadas operam com os guias estabelecidos pelo Estado e o Partido Comunista.


Essa mudança de modelo ocorreu nos anos de 1970 com a liderança de Deng Xiaoping. Deng alterou o foco estrito do planejamento central para um modelo econômico mais pragmático, usando mecanismos de mercado para aumentar a produtividade.


Basicamente, o governo chinês estabelece metas estratégicas para a economia e intervém quando necessário. A competição de mercado é encorajada para alocar recursos e para promover inovação. Esse sistema econômico híbrido permite uma direção de crescimento econômico ao mesmo tempo que possibilita olhar as desigualdades e instabilidades.


O controle do Estado permite um direcionamento da riqueza para o desenvolvimento social e para promover o Estado de bem-estar. Ele também é uma prova que o socialismo pode se adaptar as condições correntes e fazer uma efetiva implementação. O socialismo de mercado é visto como uma fase preliminar do socialismo, ele permite princípios de mercado ao lado de propriedades públicas. Ele distancia a China de economias capitalistas, ao mesmo tempo que prioriza a maximição de objetivos sociais.

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Philosophia Iuris #17: Karl Marx e a Lei


 

Aviso: aqui será uma explicação breve sobre uma teoria da lei em Marx, visto que caberá mais aos sucessores do seu pensamento definirem uma teoria legal marxista.


— Karl Marx:


Marx escreveu muito sobre teoria econômica, ele também focou no desenvolvimento de uma teoria política e de uma teoria histórica. Graças a isso, ele não chegou a desenvolver uma teoria sistemática a respeito da lei. Temos que compreender que o esforço de Marx, e também de Engels, está mais correlacionado com uma tentativa de compreender as relações econômicas dentro da sociedade. Para Marx e Engels, as condições materiais da sociedade adquirem uma importância maior no direcionamento do seu pensamento. Para Marx, a lei entraria dentro da superestrutura junto com outros fenômenos culturais e políticos.


Cabe lembrar que Marx tinha uma linha de raciocínio histórica. Ele acreditava que a evolução social poderia ser explicada em termos de forças históricas. Estudando Hegel, Marx e Engels desenvolveram a teoria do materialismo dialético. Marx e Engels compreendiam que exista uma relação dialética dentro da sociedade, onde havia uma oposição de classes. Eles compreendiam que os meios de produção, os meios de produção econômica, eram materialmente determinados. E as distintas classes sociais, em suas dinâmicas, tinham um inevitável conflito em relação a esses meios de produção. Havia, para Marx, uma oposição entre quem detém os meios de produção e quem não detém.


— Lei e Ideologia:


A lei tinha, para Marx, uma função ideológica. Vamos nos aprofundar um pouco mais nisso.


Dentro da sociedade, a classe trabalhadora desenvolverá uma consciência da sua condição. Essa consciência se desenvolverá a partir da análise da sua condição material. A classe trabalhora percebe que precisa vender a sua força de trabalho para sobreviver e viver. Enquanto a classe detentora dos meios de produção (burguesia), explora a força de trabalho da classe trabalhadora.


Para Marx, desenvolvemos a nossa consciência e conhecimento a partir das experiências sociais que temos.


O papel da lei, em Marx, existe apenas para manter o estado atual de ordem social:

1. Representa os interesses da classe dominante;

2. Serve para manter o status quo.


Desse modo, podemos compreender que para Marx e Engels a lei serve como veículo da classe dominante para manter o seu poder. Quando há uma transição para sociedade sem classes, o papel da lei se tornaria mais limitado. Em outras palavras, quando a ditadura burguesa (compreendendo como o monopólio do poder da burguesia) fosse substituída pela ditadura do proletariado (compreendido como a tomada do monopólio do poder), a existência do Estado e a necessidade da lei seriam gradualmente menores. 


— Questões da Lei em Marx:


Uma das maiores críticas com correlação a teoria de Marx a respeito da lei é que ela é bastante simplificada. Por exemplo, pode-se argumentar que muitas vezes houve um esforço governamental e legislativo para melhorar as condições de vida da classe trabalhadora. Logo a lei não seria, pura e simplesmente, uma forma de opressão da classe trabalhadora, o que contraria os escritos de Karl Marx. Todavia pode se argumentar, em defesa da tese de Marx, que essas leis apenas atenuam o sofrimento da classe trabalhadora sem, contudo, resolver a raiz do problema.


Do mesmo modo, Marx diz que o protagonismo da lei seria menor depois da revolução. Se analisarmos a União Soviética, por exemplo, a lei ainda existia. Existia com algumas funções diferentes, mas ainda assim existia. Além disso, mesmo em uma sociedade sem classes, seria necessário pensar a respeito da possibilidade de crimes e também de regulamentações de caráter econômico.

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Ephemeris Iurisprudentiae #7: Propriedade em Roma e em Locke

 


Essa aula trata do Direito Romano a respeito da primeira possessão (a quem pertence determinada propriedade). Ele fala das regras romanas em contraste com John Locke.


Os romanos tinham o termo "Occupatio", que em inglês quer dizer "occupation" e em português quer dizer "ocupação". Para os romanos, a "occupatio" requeria duas coisas:

1. Você atualmente ocupa toda essa propriedade particular;

2. Você notificou o resto do mundo de alguma forma ou outra, e eles sabem que você fez essa particular aclamação.


A divisão temporal garante que você está protegido do resto do mundo. Visto que se não há aclamação, demarcação e conhecimento público, pode haver múltiplas disputas entre diferentes pessoas. 


John Lock pensa a respeito de quando uma propriedade pode passar a ser nossa. Será que é no momento em que a pegamos ou será que é no momento em que cultivamos ela? Ele trabalhou com a teoria do valor trabalho. O que pode soar libertário para alguns e precursor do marxismo para outros.


Existe uma procura de um princípio extensivo e neutro de propriedade. A questão central é: se a ideia é de que podemos pegar uma propriedade e cultivá-la para ser nossa (ocupação e uso), a demarcação não se torna inválida? Ou a pura demarcação não pode ser injusta para quem se ocupou e cultivou a propriedade? Aí está o cerne: o sistema todo pode se voltar contra si com base nisso.

quarta-feira, 16 de julho de 2025

Acabo de ler "L'Hégémonisme Américain" de Alain de Benoist (lido em francês)

 



Nome:

L’HEGEMONISME AMERICAIN: ou le sens réel de la guerre contre l’Irak


Autor:

Alain de Benoist


Após ter começado a fazer análises de textos e livros em espanhol, comecei a fazer análises de textos e livros em inglês. Hoje inicio uma nova era desse blog: passo a analisar conteúdo escrito em francês. Como vi que Alain de Benoist chamava muita atenção, sendo chamado de "marxista de direita" ou "gramsciano de direita", resolvi trazê-lo para cá. Assim mantendo a tradição de abrir o debate público para autores pouco conhecidos ou explorados.


Os Estados Unidos após terem vencido a União Soviética na guerra fria, começaram a pensar e a implementar a universalização do seu modelo para o mundo. Essa universalização do modelo americano pode ser chamada de globalização neoliberal. Durante esse período — o texto foi escrito em 2003, atualmente vemos um declínio dos Estados Unidos e questionamentos a respeito do modelo neoliberal —, os Estados Unidos enfrentaram um mundo caoticamente instável, imprevisível, incontrolável e também marcado não só pela globalização do neoliberalismo, como pela globalização dos problemas.


Alain de Benoist fala sobre a vocação universalista de toda ideologia. Toda ideologia quer se impor como modelo universal. A universalização é um período de remodelamento do mundo em prol de um modelo específico. É evidente que se a União Soviética tivesse ganhado a guerra fria, a universalização do modelo de socialismo soviético — existem outros socialismos — seria a mais plausível. Como os Estados Unidos ganhou a guerra fria, existiu um período de remodelamento do mundo. Em alguns lugares, foi um processo mais pacífico. Em outros, mais turbulento.


Os Estados Unidos da América poderia ter optado por um regime de equilíbrio de poderes, mas optou pela simples hegemonia. O mundo poderia ter sido mais pacífico se fosse multipolar. Em vez disso, os Estados Unidos se proclamou e foi encarado como líder do mundo civilizado e chefe do mundo livre. Copiá-lo era o mesmo que se tornar civilizado e parte do mundo livre.


Essa condição gerou um neoimperialismo, um imperialismo de justificação do modelo unipolar. Esse modelo deveria ser seguido e o mundo deveria ser moldado conforme a vontade dos Estados Unidos da América. A remodelagem do mundo, às vezes vinda com tentativas de balcanização, era justificada pela noção de que os Estados Unidos estava lutando contra o mal e a barbárie. A doutrina neoimperialista, criada pelos neoconservadores, apresentou paralelos com o destino manifesto.


Enquanto os Estados Unidos realizavam o seu papel messiânico no mundo, o déficit comercial americano ia subindo e a desindustrialização ia se tornando cada vez mais grave. As ofensivas neoimperialistas, justificadas por neoconservadores, tornavam-se uma dispendiosa aventura na qual os Estados Unidos voltavam-se para o mundo e esqueciam-se de si mesmos: desindustrializando-se e aumentando o seu déficit comercial.

domingo, 12 de janeiro de 2025

Acabo de ler "How Cultural Marxism Threatens the United States" de Mike e Katharine (lido em inglês/Parte 6 Final)


Nome:
How Cultural Marxism Threatens the United States—and How Americans Can Fight It 

Autores:
Mike Gonzalez;
Katharine C. Gorka.
 

O documento – bastante sucinto – é bem interessante. Antes mesmo do famoso "Project 2025", a Heritage Foundation já fundava as bases atuacionais da direita americana. De fato, as atuações da Heritage Foundation são bem interessantes e muito bem delineadas. É interessante a incrível capacidade da direita americana em comparação a direita nacional.

É um documento altamente estratégico. Fornece formas de organizações. Ensina principais pontos da atuação da esquerda no território americano – embora sua atuação seja semelhante nos países da América Latina e Europa –, ensina como combatê-los, dá um delineamento acerca de táticas e práticas institucionais para quebrar a esquerda na política. Deveras interessante. 

Creio que esse "Special Report" foi bastante interessante para compreender pontos basilares da política dos Estados Unidos da América. Recomendo a sua leitura, visto que a Heritage fornece questões essenciais para a condução política americana.

sábado, 11 de janeiro de 2025

Acabo de ler "How Cultural Marxism Threatens the United States" de Mike e Katharine (lido em inglês/Parte 4)



Nome:
How Cultural Marxism Threatens the United States—and How Americans Can Fight It 



Autores:
Mike Gonzalez;
Katharine C. Gorka.

Estamos dentro de um cenário de guerra. Esse cenário de guerra não é marcado pelo uso de armas, visto que a maior arma utilizada não é a força. Essa guerra é caracteriza pelo poder das letras, pelo poder das falas, pelo poder das batidas do coração e pelo imaginário que se encontra na mente de cada humano que vive e respira.

A esquerda, dentro das universidades americanas, começou seu domínio pela formação dos alunos. Criou um ecossistema em que só os alunos que fossem ideologicamente correlacionados aos seus meios e fins poderiam ser promovidos. Em meio a isso, foi instituindo uma prática de perseguição e censura dentro dos campos universitários. Com o tempo, foi cerceando pessoas que tinham visões não-esquerdistas. O pleno domínio foi se efetuando a passos de tartaruga.

Com o tempo, quase todas as instituições, formadoras de visões sociais, foram sendo levadas para a esquerda por meio de uma tática de contra-hegemonia. Essa contra-hegemonia que foi se institucionalizando, pouco a pouco. Essa contra-hegemonia que foi se tornando hegemonia. Polícias da fala, prevenção contra alunos que não eram de esquerda, ensinamentos sobre uma visão que não era americana, mas anti-americana.

O que viria depois? Organizações sociais dedicadas a aumentar uma imigração massiva de pessoas com visões não-americana ao lado de uma visão anti-americana passada para cada criança, adolescente e adulto americano. Organizações sociais dedicadas a redistribuição de recursos, oportunidades e dinheiro com base em critérios de raça, gênero, sexualidade e nacionalidade. Substituição geral de todos os valores e fundamentos de cima para baixo. A criação de uma cultura do cancelamento para destruir qualquer possibilidade de debate.

O fundamento geral disso tudo é uma estratégia de uma consolidação de uma hegemonia que se constrói e de um poder que se consolida. Consolida-se para metamorfose. A metamorfose de uma nação para algo que é o exato oposto do que ela era. Não de forma democrática, mas por meio de uma estratégia complexa, sutil e perniciosa. 

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Acabo de ler "How Cultural Marxism Threatens the United States" de Mike e Katharine (lido em inglês/Parte 3)

 


Nome:

How Cultural Marxism Threatens the United States—and How Americans Can Fight It 


Autores:

Mike Gonzalez;

Katharine C. Gorka.


Os conservadores chamam de marxistas culturais aqueles que poderiam ser chamados de "New Left" ou, simplesmente, pós-marxistas. Poderíamos catalogar o marxismo cultural como uma reunião de táticas da guerra cultural impulsionadas por uma síntese de esquerda.


Uma das crenças básicas do marxismo é a separação da sociedade em diferentes categorias antagônicas. Algumas beneficiadas socialmente, outras que perdem seus recursos – que deveriam ser de direito – para grupos sociais mais privilegiados por causa da estrutura social. Se os marxistas clássicos dividiam a sociedade em trabalhadores e burgueses, os marxistas culturais dividem a sociedade por gênero, por sexualidade, por raça, por nacionalidade. Todas essas distintas catalogações servem como divisão para o trabalho revolucionário.


Para que os marxistas culturais consigam moldar a cultura, eles precisam destruir todos os traços da antiga cultura – que eles julgam pervasiva. Para tal, criam dois aparatos reguladores da atividade cultural:

1. Doutrinação em todos os meios de produção cultural;

2. Regulação da fala em todos os meios possíveis para cercear a possibilidade de discurso de visões alternativas de mundo.


É evidente que se comprovada ou admitida a existência de um marxismo cultural, cabe-se o entendimento lógico de que o marxismo cultural é um projeto de poder totalitário, de rigor tecnocrata e que ameaça qualquer possibilidade de uma sociedade livre por querer moldar toda a sociedade aos seus próprios critérios com base em doutrinação e censura. Não é uma crença, nem uma prática, que possa ser admitida ou tolerada dentro de uma sociedade livre, visto que é um veneno aos próprios critérios de liberdade.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Acabo de ler "How Cultural Marxism Threatens the United States" de Mike e Katharine (lido em inglês/Parte 2)


Nome:

How Cultural Marxism Threatens the United States—and How Americans Can Fight It 


Autores:

Mike Gonzalez;

Katharine C. Gorka.


Marx e Engels acreditavam que o mundo se baseava num conflito de classes. A briga presente da história seria a classe proletária contra a classe burguesa. Para se contrapor ao domínio burguês, o proletariado deveria tomar o Estado e assim exercer o poder em prol do seu favorecimento. Com o tempo, o proletariado criaria uma sociedade sem classes.


Marx acreditava que um país deveria ter sido primeiro capitalista, desenvolvido e industrializado, para depois ser um país socialista. Tal pretensão não se materializou: as revoluções saíram através de países de terceiro mundo, parcamente desenvolvidos. Qual seria a razão desse contraste? A resposta viria de Gramsci: o mundo burguês cria uma falsa hegemonia. Essa falsa hegemonia é forjada pelos meios culturais que moldam a consciência do proletariado e tornam aderentes da mentalidade burguesa.


Pensando na estrutura hegemônica como perpetuadora da mentalidade burguesa, como os marxistas virariam o jogo? A resposta viria a partir da cultura: a partir da dominação dos meios de produção cultural e das instituições, poderia se estabelecer uma contra-hegemonia que daria a consciência que o proletariado precisaria para virar o jogo.


A chave para compreender a movimentação histórica está no entendimento de que o marxismo baseado na economia foi trocado para o marxismo baseado na cultura (marxismo cultural). Esse movimento foi considerado necessário pois a maioria das pessoas eram aderentes da mentalidade burguesa e não da mentalidade socialista. Para criar uma revolução ou um processo revolucionário – mesmo que não violento –, teriam criar uma educação de esquerda e incuti-las nas massas.

sábado, 4 de janeiro de 2025

Acabo de ler "How Cultural Marxism Threatens the United States" de Mike e Katharine (lido em inglês/Parte 1)


Nome:

How Cultural Marxism Threatens the United States—and How Americans Can Fight It 


Autores:

Mike Gonzalez;

Katharine C. Gorka.


O debate cultural nos Estados Unidos é um tema muito, muito longo. Há tempos que se fala de guerra cultural e quais são as táticas de guerra que devem ser tomadas nessa batalha. No geral, há uma confusão acerca dos atores dentro desse palco em que as ideias sangram. Temos, por exemplo, várias versões de feminismo que são colocadas lado a lado numa análise superficial. Existem vários tipos de conservadores, mas são tratados todos em uníssono. Diante de tamanha complexidade, o que podemos fazer?


A história geral vocês já devem conhecer: fim da União Soviética e desesperança geral na esquerda. Muitos creem que o marxismo tinha por fim sido derrotado e seria chutado do debate público. Outros pensam que existe um reducionismo na forma com que os dois lados disparam uns contra os outros. Porém a pergunta geral é: qual direita e qual esquerda está disparando? Nem toda a esquerda americana pode ser resumida como "marxista". Existe diferença entre se basear no marxismo em dado aspecto e ser marxista. Uma modalidade pode ser sintética ou se projetar em forma de síntese, a outra pode adentrar no puro pensamento marxista. Outra menção honrosa é a luta entre diferentes tipos de conservadores e a luta da direita alternativa contra os conservadores. 


Segundo os autores, o novo marxismo se basearia não mais na classe trabalhadora (leia-se proletariado e campesinato), mas em raça, sexo e nacionalidade. Essas teriam correlações com o movimento negro, com o feminismo e com os movimentos das nacionalidades periféricas. As principais influências desse novo método de organização revolucionária seriam Gramsci e Escola de Frankfurt. Uma breve nota é que: até agora não encontrei nenhuma menção a Escola de Paris – essa costuma a ser confundida com a Escola de Frankfurt por suas temáticas.


Uma das principais alegações seria a corrupção do sistema de ensino. A doutrinação teria sido criada a partir de um ecossistema: professores marxistas cuidavam pessoalmente da ascensão de alunos marxistas, esses alunos marxistas eram privilegiados na educação e na carreira acadêmica e posteriormente seriam doutrinadores diretos para continuar a roda do ecossistema. A conclusão evidente seria a exclusão de outros pontos de vista – gradual diminuição das outras escolas de pensamento – junto com a dominação da academia inteira.


É deveras interessante que nessa linha se mesclam conservadores que se sentiram ou foram excluídos da academia junto com toda a crítica da esquerda americana aos Estados Unidos da América. O fato é que muitos americanos não gostam e se ressentem aos ataques contra a imagem dos Estados Unidos da América. Essa imagem, a que é projetada, é que os Estados Unidos é universalmente ruim. Isso estaria ocorrendo em filmes, shows de televisão, livros, revistas em quadrinhos, jogos, mídias sociais e sistemas de pesquisa. Aparentemente a esquerda não considerou o impacto psicológico e sociológico dessa ação. O que fortaleceu não só os argumentos, mas a condução narrativa da direita: "a esquerda odeia a América, basta ver tudo o que ela produz culturalmente".

Acabo de ler "Cuba: restructuración económica, socialismo y mercado" de Vários Autores (lido em espanhol)


Nome:

Cuba: restructuración económica, socialismo y mercado


Autores:

- Julio Carranza;

- Pedro Monreal;

- Luis Gutiérrez.


Adentramos numa época em que vemos o fim do socialismo clássico como modelo. Adentramos numa época em que se fala de um novo socialismo, muito inspirado no socialismo chinês.


O que seria ou, melhor, o que foi o socialismo clássico? O socialismo clássico foi um socialismo que se norteava muito pelo papel protagônico do Estado como principal planejador e distribuidor dos recursos. Ou seja, é o Estado que toma o papel de construir o processo econômico. Essa política vigorou por muito tempo, até entrarmos na construção de um novo projeto econômico socialista.


Os autores definem bem: o socialismo é um regime em que o sistema de propriedade, é um sistema de propriedade em que a sociedade controla genuinamente os meios de produção fundamentais e se beneficia do uso desses meios de produção. Ou seja, a aplicação do regime econômico socialista é a propriedade social dos meios de produção fundamentais e não de todos os meios de produção.


Uma reforma econômica em Cuba seria uma reforma que tivesse os seguintes critérios

  • Recuperação do crescimento econômico;
  • Justiça social;
  • Independência nacional;
  • Redefinição das bases sociais de acumulação;
  • Reinserção na economia internacional;
  • Reforma do sistema econômico.
Os países e as experiências que foram observados como base para essa reforma foram:
  • Novo Mecanismo Econômico (Hungria);
  • Reforma Econômica Vietnamita (Vietnã);
  • Reformas de Deng Xiaoping (China);
  • NEP (União Soviética);
  • Perestroika (União Soviética);
  • Transições pós-comunistas (União Soviética e Leste Europeu).

A reforma abarcaria uma redução do papel do plano como instrumento central da assignação de recursos e coordenação econômica.


sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Acabo de ler "How Marxism Works" de Chris Harman (lido em inglês/Parte 5)

 


Nome:

How Marxism Works


Autor:

Chris Harman


Usualmente confundimos a nossa realidade espaço-temporal como uma realidade fixa. A razão disso é pelo fato de que estamos imersos nela, o que a torna imperceptível. O estudo da história e de outras culturas, por sua vez, ajuda na relativização das nossas noções enraizadas e, até mesmo, uma possibilidade de imaginar um outro mundo de possibilidades.


A divisão de tarefas dentro de uma sociedade é um produto recente de nossa história. É evidente que quanto mais tarefas desempenhadas por uma sociedade, maior será o nível de especialização e fragmentação das atividades entre distintos grupos e pessoas. Todo esse desenvolvimento prodigioso leva a melhoras quantitativas e qualitativas. Só que há um porém: essa riqueza que é gerada é concentrada nas mãos de um grupo minoritário da população.


A pergunta que temos que levantar é: como é possível que uma minoria de indivíduos detenham para si grande parcela de uma riqueza produzida por uma sociedade? A resposta é: a natureza das leis, na maioria dos casos, não serve ao interesse geral de uma sociedade, mas ao interesse da classe dominante.


A riqueza é criada pelo trabalho físico de vários trabalhadores. Só que não é a classe trabalhadora que recebe os benefícios da riqueza que ela produz. A riqueza é controlada pela classe dominante.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Acabo de ler "How Marxism Works" de Chris Harman (lido em inglês/Parte 4)

 


Nome:

How Marxism Works


Autor:

Chris Harman


O que diferencia o homem dos outros animais? Talvez as centrais diferenças dos homens para os outros animais está na forma com que vemos o mundo a nossa volta. Temos uma consciência mais elevada não só de nós mesmos, mas do mundo ao redor. Consciência suficientemente boa para poder moldar a realidade por meio da transformação do meio.


A animalidade tende, no geral, a se proteger do meio. A humanidade se distingue da animalidade geral pela alteração do meio. O progresso cultural não é apenas um progresso imaterial, é um progresso da humanidade em relação a alteração do meio. Alteração do meio com o propósito de atender as necessidades, sonhos e ambições dessa humanidade.


A humanidade altera os meios para comportar a própria humanidade. A humanidade transforma desejo em verdade. É evidente que falhamos e erramos diversas vezes nesse processo, mas o fato inegável é que a humanidade continua. Sempre em frente, alterando cada parte em prol dum objetivo.


A interação entre anseios humanos e meios gera diferentes formas de relação. Essas relações são pautadas pela distribuição dos recursos. A distribuição dos recursos é pautada, por sua vez, na capacidade de produzir.  Quando os meios de produção mudam, muda-se também a cultura. As forças de produção alteram sociologicamente as relações de produção.


Os idealistas acreditam que podem mudar o mundo pelos céus, os mecanicistas materialistas acreditam que a natureza humana não é modificável. A história demonstra que os meios de produção alteram a cultura.


A mentalidade também é preocupante nesse caso. A mudança tecnológica é muitas vezes paralisada em prol de um tipo de privilégio que não se quer perder. Então os poderosos se juntam e entravam o desenvolvimento da tecnologia. Não é um fatalismo tecnológico, existe também relações sociais que permeiam o avanço e o entrave.

sábado, 9 de novembro de 2024

Acabo de ler "How Marxism Works" de Chris Harman (lido em inglês/Parte 3)

 


Nome:

How Marxism Works


Autor:

Chris Harman


As ideias, por si mesmas, não possuem força de caráter suficiente para mudar o mundo. O comportamento humano depende muito das forças materiais. É a forma que os recursos são postos a nossa disposição que molda o nosso comportamento. Esse ponto de vista é chamado de materialista.


Marx encarava a história com um olhar de suspeita. Os idealistas e os religiosos criavam uma teoria histórica que lhe parecia imprecisa. Marx queria uma visão histórica que fosse mais científica para esmiuçar melhor as mudanças sociais. Uma teoria que não dependesse de "Deus" ou de "mudanças espirituais".


A mudança que Marx propôs seria uma mudança de um ponto de vista misticista do estudo da história para um ponto de vista científico do estudo da história. Uma melhora significativa no fazer histórico.


É evidente que Marx não foi o único materialista a pensar na natureza humana e em seu comportamento. Do mesmo modo que existe uma perspectiva de mudança social a partir de uma teoria mais progressista da história existe algo proporcionalmente inverso. Muitos falaram da natureza humana de modo determinista, sendo o homem agressivo, dominador, competitivo e ganancioso. A mulher, por outro lado, seria mansa, submissa, deferente e passiva.


A existência de múltiplas sociedades com modelos sociais distintos revela que a natureza humana é bem mais diversa e mutável do que inicialmente estamos dispostos a crer. Querer reduzir a sociedade ao nosso modelo é um reducionismo produzido pela nossa ignorância acerca da diversidade humana.


A natureza humana não pode ser imutável e, ao mesmo tempo, tão diversificada. Como a natureza pode ser "una" e "múltipla" ao mesmo tempo? Deve existir, é claro, um ponto de unidade que designamos de "natureza humana", todavia ela não se reduz a uma imobilidade. A "natureza humana" tem um império de singularidades e alternâncias de comprovações históricas múltiplas e irredutíveis.


O problema central de muitas teses materialistas de rivais de Marx está no fato de que eles confundiam a natureza humana com a própria natureza das suas sociedades. Eles entendiam o mecanismo da sociedade em que viviam. Só que eles não compreendiam as mais diversas outras sociedades para compreenderem que a natureza humana é múltipla e pode ser transformada.

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Acabo de ler "How Marxism Works" de Chris Harman (lido em inglês/Parte 2)


Nome:

How Marxism Works


Autor:

Chris Harman


O desenvolvimento do capitalismo industrial trouxe enormes conflitos sociais. Todavia ele veio acompanhado de ótimos benefícios sociais também: pela primeira vez na história poderíamos nos defender de calamidades naturais. O problema é que esses benefícios sociais não estavam disponíveis para a ampla maioria da população. Muito pelo contrário, grande parte dos recursos e melhorias não foi só destinada a parcela mais rica da população, como em vários casos a vida dos trabalhadores piorou muito.


O desenvolvimento da civilização deveria trazer aumento do bem-estar geral, ampliando na vida de todas as pessoas a possibilidade de uma vida permeada de felicidade. Em vez disso, o capitalismo industrial brindou o mundo como uma gigantesca miséria e distorção social. O que era uma contradição: a maior salto de produção de riqueza veio acompanhado do maior salto de miséria.


Marx teve muitos contrapontos, seja na esquerda ou na direita. Muitos dos seus contrapontos de esquerda eram chamados de "idealistas" pelo próprio Marx. Marx chamava-os assim pelo fato de que as suas ideias estavam desvinculadas das condições de vida que as pessoas viviam. Suas propostas não estavam completamente erradas, mas eram isoladas da realidade e isso tirava a substancialidade e possibilidade de concretização real de seus propósitos.


A alienação pode ser descrita como muitos fenômenos. Creio que uma forma de definir a alienação é como uma incapacidade de compreender o processo socioestruturante em que a realidade se move. Para compreender uma estrutura, faz-se necessário uma sistematização do pensamento. Ter vários pontos isolados nos torna incapaz de ver a totalidade de fenômenos que se movem. É preciso um pensamento que se amplie, amplie-se no processo sistematizante duma compreensão cada vez mais rica dos fenômenos sociais. Desalienar-se seria um processo sem fim, tal como uma discussão aporética.


Essa elucubração acerca da alienação não explica a razão do surgimento da alienação. Onde surgiria esse fenômeno? Em que ponto ele surgiria? A alienação é um "ponto" em que a experiência real é ignorada em prol de um prazer momentâneo que não muda a condição precária da vida em si mesma. Ela pode ser forjada socialmente por meio da educação, da mídia, dos influenciadores. Ela pode ser forjada por uma vida dedicada a drogadição como escape da realidade. Estamos imersos num corpo social e esse corpo social determina, em parte, naquilo que creremos.


A última afirmação do parágrafo anterior é, no entanto, inconclusiva. Todos temos uma formação social e estamos dentro de uma sociedade, isso soa determinista. Se estamos determinados sociologicamente, como podemos, então, ter um pensamento fundamentalmente diferente da sociedade que nos originou? A resposta para essa pergunta é: aquilo que nos é passado por meio de uma série de propagandas e aquilo que ocorre na vida do dia a dia sempre se encontram em choque. É por isso que começamos a imaginar e a teorizar um mundo diferente do nosso e das crenças que nos passam.

Acabo de ler "How Marxism Works" de Chris Harman (lido em inglês/Parte 1)


Nome:

How Marxism Works


Autor:

Chris Harman


Qual a necessidade de uma teoria? Quando falamos da necessidade de uma teoria, embora tenhamos que pensar na prática, temos um grande problema em mente. Hoje em dia se acredita que o marxismo é uma teoria obscura deixada apenas para alguns poucos intelectuais privilegiados que possuem uma capacidade intelectual suficientemente forte para compreender toda a sua estrutura em um nível suficientemente claro. Também existe o caso contrário que afirma que o socialismo falhou e falhará, que é um terraplanismo econômico e que está viciado numa mentalidade reacionariamente burocrática e totalitária.


O socialismo é descrito como muitas diferentes coisas. Uma das principais é a de que o socialismo está certo na teoria, mas falha na prática ou no dia a dia. Suas ideias seriam boas, até mesmo bem intencionadas. Só que a sua aplicação seria na melhor das hipóteses complicada e na pior das hipóteses uma loucura que nos colocaria no inferno terrestre.


Estamos envoltos em teorias sociais, algumas com esboços mais complexos em nossas mentes e outras com esboços menos complexos. Não há uma pessoa que tenha uma teoria acerca do funcionamento da sociedade. Todavia quando entramos em um debate nos separamos com aquela velha frase: "ah, mas isso é teoria". Chegamos a conclusão de que ter "teorias" é algo ruim e que deveríamos nos entregar a prática da vida real. Só que toda vida real está permeada por teorias. A diferença é que, na maioria das vezes, não percebemos que existem teorias dentro de nós. Meio que estamos socialmente criminalizando algo que nos é inato, deixando que tudo fique inconsciente e inconcludente dentro de nossas cabeças.


Os meios midiáticos têm, dentro de si, um escopo teorético que norteia o seu agir ideológico. Isto é, os meios comunicacionais não atuam por uma mera prática qualquer. Eles atuam tendo uma visão. Essa visão é, na maioria das vezes, não muito clara. Apresentam-nos visões sem pingos nos "is" como "o mercado reagiu mal", "temos que nos aliar ao Ocidente", "a educação deve ser mais voltada as demandas do mercado para que haja maior garantia de emprego". Tudo isso tem uma teoria por trás, mas esse debate nunca é esmiuçado e é sempre passado com a notoriedade de um bom especialista que diz tudo sem dizer a razão integral que move o seu dizer.


Qualquer pessoa que quer uma sociedade melhor, seja qual for a sua linha de pensamento, precisa de uma teoria. Essa teoria pode se aperfeiçoar com a prática, mas ainda assim se faz necessário uma teoria. Não reconhecer a necessidade de uma teoria é uma falha e impede o desenvolvimento do pensamento para uma condição de melhoramento social. Tudo ficaria como um monte de peças soltas espalhadas em nossa mente.


Quando pensamos no socialismo e em seu desenvolvimento, pensamos no surgimento do capitalismo industrial. Nele várias pessoas foram reduzidas a uma condição precariedade laboral. Dali surgiram uma série de lutas para a melhoria das condições de trabalho. Vários teóricos começam a esmiuçar as questões sociais e a contribuir, pouco a pouco, ao desenvolvimento de uma sociedade socialista em que poderíamos todos ter acesso a condições melhores de vida. Muitos dos nossos direitos foram conquistados com esses desenvolvimentos.

Acabo de ler "Mobilize New Recruits and Conduct Political Work Among Them" de Deng Xiaoping (lido em inglês/Parte 3 – Final)

 


Nome:

Mobilize New Recruits and Conduct Political Work Among Them


Autor:

Deng Xiaoping


A mobilização de um país é um trabalho político. É criar uma unidade de vontade no meio de uma série de pessoas que estão inicialmente dispersas. Quando pensamos nisso, nos damos conta que é um esforço hercúleo para fazer valer uma vontade geral de realização em meio a uma inércia ou uma dispersão. Tal feito deve ser sempre considerado. Não é fácil pegar pessoas que, mesmo considerando a sua proximidade pela cultura, estão inicialmente longe umas das outras e colocá-las em prol de um objetivo comum.


Um dos maiores problemas que se desenvolveu nesse recrutamento foi o fato de que grande parte dos recrutados eram pessoas comuns. Essas pessoas comuns não estavam acostumadas a vida militar e as batalhas travadas durante a guerra. Houve um exercício educacional para habituar essas pessoas a essa nova realidade. Dando a elas unidade e disciplina.


Foi necessário criar, dentro daquele povo guerreiro que surgia, uma disciplina e um controle racional. Não só isso, era necessário que essas duas faculdades salutares ao exercício da guerra se encontrassem com um trabalho político. Ou seja, a arma não era só um objeto que estava agora em suas mãos, era também uma consciência política do dever que desempenhavam naquela ardua batalha que se travava.


Os comunistas chineses sabiam de algo que transcendia a mera luta em si. Eles sabiam que a consciência política é uma arma. A repressão e a coerção não podem gerar pessoas leais ao cumprimento de uma guerra. Uma luta ardorosa requer um forte compromisso com ideais a serem defendidos. Sem fortes ideais, o compromisso e a unidade são pífios.


Os novos ingressantes da batalha de libertação nacional tinham uma consciência do que enfrentariam diante daquelas trincheiras de sangue. Não só uma consciência da morte que permeava o local, eles também tinham a consciência acerca do grande objetivo que estavam traçando por meio dos seus corpos e mentes. Tornando-se, pouco a pouco, mais capazes de compreenderem a complexidade política da qual estavam envoltos.


Houve também um intercâmbio entre os soldados mais experientes e aqueles que entravam na batalha. Os soldados mais experientes lhes deram o conhecimento das habilidades militares. Também se supriu a necessidade de alimentação e roupa, para que todos se sentissem mais bem dispostos para a batalha. Um esforço de estabilização das forças armadas chinesas.


Pouco a pouco, os novos ingressantes foram aprendendo sobre a disciplina e o controle da racionalidade. A educação e a persuasão eram artes do convencimento daquilo que se almejava deles: a libertação do seu país e a segurança daqueles que amavam. Também foi necessário uma aproximação das famílias, o contato não foi cortado. As famílias os visitavam e os entretinham. Também haviam trocas de cartas de encorajamento. Tudo isso criou uma maior estabilidade mental e social para o prosseguimento daquela batalha.

Acabo de ler "Mobilize New Recruits and Conduct Political Work Among Them" de Deng Xiaoping (lido em inglês/Parte 2)


Nome:

Mobilize New Recruits and Conduct Political Work Among Them

Autor:
Deng Xiaoping


Para sobreviver ao avanço japonês se fazia necessário uma alteração nos métodos de recrutamento. Não só isso, era necessário um movimento pedagógico para que o povo compreendesse que deveria repelir a agressão japonesa. A compreensão da necessidade da luta e um método de recrutamento para a gloriosa libertação nacional deveriam ser o foco do movimento de libertação nacional.

O movimento de recrutamento deveria ser, nas palavras de Deng, um movimento de agitação e propaganda. Esse movimento de propaganda teria: óperas, músicas, jornais, conversas privadas. Todo esse movimento de conscientização se demonstrou muito mais assertivo que um recrutamento movimento por coerção.

Outro movimento muito interessante foi o fato de que convidavam pessoas para jantares. Nesses jantares militares e civis se encontravam para conversar e compreender mais da natureza da guerra que estava em curso. Foi ali que o povo compreendeu que bons homens poderiam sim entrarem na guerra para defenderem o país e as pessoas que tanto amavam.

Uma das condições necessárias para a vitória da guerra contra o Japão foi a incorporação da guerrilha como uma prática. Isso enriqueceu demais a luta libertacional. O que se juntou a propaganda, a educação e a persuasão.

terça-feira, 5 de novembro de 2024

Acabo de ler "Mobilize New Recruits and Conduct Political Work Among Them" de Deng Xiaoping (lido em inglês/Parte 1)



Nome:

Mobilize New Recruits and Conduct Political Work Among Them

Autor:
Deng Xiaoping


Quem poderia ganhar uma batalha contra um inimigo formidável como o Japão naquela época (1938)? A questão não era tão somente encarada a curto prazo, mas a longo prazo. A batalha era também de resistência e de persistência. Mobilizar toda uma população não é tão fácil, mesmo durante um período de guerra. Ao contrário do que se espera, as pessoas não de movem tão facilmente mesmo quando são ameaçadas por um invasor externo.

A problemática chinesa se encontrava em três gravidades. Uma delas era que culturalmente se tinha a crença de que um bom homem não utilizava armas. Em segundo lugar, havia a educação das massas. Em terceiro lugar, o modo em que o recrutamento era executado poderia trazer um questionamento acerca da ética desse recrutamento, sobretudo por parte das famílias que criavam uma resistência ou de pessoas que se sentiam ou eram coagidas para lutar.

Durante esse período, encontraram-se uma série de erros. Um deles era a incapacidade que as pessoas tinham de compreender que o futuro do país estava na balança. A necessidade de combate exigia uma mobilização, não uma fuga. Ademais, o governo se demonstrava incapaz de aumentar a sua capacidade de defesa, o que fazia com que o povo ficasse insatisfeito perante a ausência de resultados.

As pessoas não compreendiam o que era que movia tantos homens. Elas não compreendiam aquele sentimento que muitos homens compartilhavam na luta contra o inimigo. Elas não compreendiam o amor que eles tinham pela sua nação e por suas famílias. Ou seja, elas não compreendiam a fé que movia as suas almas. A partir dessa descrença, não poderiam compreender a unidade das forças armadas e o povo. As forças armadas, quando bem pensadas, tem uma unidade para com o seu povo: eles querem a proteção do povo e da nação que tanto amam. Muitos não só odiavam as forças armadas, como odiavam ter entrado nelas.

A guerra se trata de variáveis combinações. É preciso ensinar o povo a necessidade de autodefesa. Combater o inimigo interno e externo. Educar sobre a necessidade da luta. Vencer argumentativamente, militarmente se necessário, os colaboradores do adversário. Aumentar os números e vencer através da persistência e da resistência.

domingo, 16 de junho de 2024

Acabo de ler "Em Defesa de Stalin" de Vários Autores (Parte 30 - Final)

 


Termino aqui uma grandiosa jornada serializada de ler e comentar cada capítulo do livro "Em Defesa de Stalin". Um livro que começa a chamar a atenção pelo título – e não só pelo título, como igualmente pelo seu conteúdo. A perspectiva do livro, a sua apologia a Stalin, é brilhante. Sobretudo num país, o Brasil, em que o trotskismo é amplamente majoritário. Sempre me interessei muito mais por Stalin do que por Trotsky, embora não tenha uma firme posição para com nenhum dos lados. De qualquer modo, a obra – não só intelectual, mas também política – de Stalin sempre me interessou muito mais do que as ações de Trotsky e os seus livros. Não me recuso, entretanto, a fazer estudo do trotskismo e do Trotsky.


Ler esse livro foi de fundamental importância para que eu compreendesse mais profundamente quem foi Stalin e o que ele fez. Por uma infelicidade, no Brasil temos uma grande bibliografia trotskista e uma igualmente grande bibliografia antistalinista. No fim, o que temos são dois grandes polos antistalinistas que, mesmo não sendo propriamente amigáveis entre si, atuam conjuntamente para fortalecer uma única visão de mundo: a antistalinista. Ora, é necessário compreender que uma visão puramente apologética ou antiapologética é dogmática e está muito longe daquilo que se poderia considerar propriamente filosófico. A filosofia não é a aceitação duma unidade de crenças e nem a negação de unidades de crenças. A filosofia, o debate filosófico, é a parcialidade que aceita algum ou alguns aspectos e rejeita um ou outro aspecto ou conjunto de aspectos. A negação sistemática ou aceitação sistemática não é filosófica, é teológica. E um estudo dominado por essa mentalidade não é um estudo livre, é um estudo doutrinador.


Creio que falta ao brasileiro uma capacidade de estudar além das fronteiras que os grupos coletivo-normatizantes apresentam em suas crenças cegas e fechadas. Falta ao brasileiro um livre-exame e um desapego para com as coletividades. Visto que a vida intelectual e as lutas no seio da vida intelectual só podem ser comprovadas intelectualmente. A adesão tribal proíbe isso.